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Leo Pessini e Christian de Paul de Barchifontaine descrevem as técnicas de reprodução assistida (TRA) como “[...] o conjunto de técnicas que auxiliam o processo de reprodução humana”. (2005, p. 295).

No mesmo norte, Reinaldo Pereira e Silva (2002, p. 53) conceitua essas técnicas como “[...] um conjunto de procedimentos em reprodução humana no qual o

aparato biomédico interfere de alguma forma, ora manuseando gametas, ora manipulando pré-embriões”.

As principais técnicas de reprodução assistida são “a inseminação artificial; a fertilização ou fecundação in vitro (FIV); a transferência de gametas para as trompas (GIFT); e a transferência de zigoto para as trompas (ZIFT)”. (CAMARGO, 2003 apud MADALENO, 2011, p. 505).

3.4.1 Inseminação artificial

Silvia da Cunha Fernandes (2005, p. 28, apud Madaleno, 2008, p. 387) discorre sobre a inseminação artificial:

representa a união do sêmen ao óvulo por meios não naturais de cópula, objetivando a gestação diante da deficiência pelo processo reprodutivo normal. É a introdução do esperma masculino diretamente no útero da mulher, ausente o ato sexual. A inseminação ou a introdução do sêmen no útero feminino em procedimento laboratorial não garante a fecundação, porque o óvulo e o espermatozóide podem não se fundir. É dos procedimentos mais simples, com poucos recursos tecnológicos, onde os espermatozóides do marido (inseminação homóloga) ou de um banco de esperma (inseminação heteróloga) são coletados, selecionados, preparados e transferidos para o colo do útero.

A inseminação artificial pode ser homóloga ou heteróloga.

3.4.1.1 Inseminação artificial homóloga

Guilherme Calmon Nogueira da Gama (2003, p. 724) conceitua a inseminação artificial homóloga como uma técnica que não envolve ato sexual, em que os gametas utilizados para a reprodução são do próprio casal, ou seja, sêmen do marido e óvulo da mulher e, desse modo, a criança gerada portará a herança genética de ambos.

Esta técnica é indicada para casos de anomalias masculinas e alterações orgânicas femininas, exemplos:

[...] disfunções sexuais que impedem a ejaculação no lugar adequado, anomalias de plasma seminal (escasso ou excessivo volume de espermatozóide), ou diante da impossibilidade de fertilidade pelos tratamentos esterilizantes recebidos como: vasectomias, cirurgias, esterilizações por radioterapias e quimioterapias, tendo o varão a possibilidade de fecundar através do sêmen congelado, anteriormente. É

indicada nos casos de alterações orgânicas femininas, como: esterilidade cervical, vaginismo, malformação do aparelho genital. (MACHADO, 2006, p. 36).

A eficácia da gravidez mediante essa técnica está fundada em dois parâmetros, um masculino e outro feminino, quais sejam: o sêmen adequado para a fertilização deve ser no mínimo 3,5 milhões de espermatozoides móveis após a capacitação; e o parâmetro feminino é que a anatomia pélvica assegure a integridade funcional das trompas de falópio (SILVA, 2002, p. 56).

No inc. III do art. 1.597 do CC/2002 que trata de inseminação homóloga, a cláusula ‘mesmo que falecido o marido’, dispõe que só poderá utilizar o sêmen deste, se o houver autorização expressa do uso após seu falecimento. Observa-se que “[...] sem tal autorização, os embriões devem ser eliminados, pois não se pode presumir que alguém queira ser pai depois de morto”. (DIAS, 2007, p. 330).

3.4.1.2 Inseminação artificial heteróloga

De acordo com o entendimento de Rolf Madaleno (2008, p. 392), inseminação artificial heterológa é aquela em que é utilizado o sêmen de um terceiro, ou seja, um doador estranho ao casal, “sendo imprescindível o expresso consentimento do parceiro.” (MADALENO, 2011, p. 392).

No mesmo norte, Guilherme Calmon Nogueira da Gama (2003, p. 724) acrescenta que essa técnica pode ocorrer tanto na doação de espermatozoides, como na doação de óvulos, em virtude de o homem ou a mulher estarem impossibilitados de fornecerem os próprios gametas.

Ensina ainda:

[...] É importante notar que no caso das técnicas de reprodução assistida heteróloga, é possível a ocorrência de três seguintes situações: a) o emprego do óvulo da mulher (esposa/companheira) solicitante, que vai ser fertilizado por sêmen de terceiro-doador; b) o emprego do óvulo de terceira- doadora, que será fertilizado pelo sêmen do homem (marido/companheiro) solicitante; c) emprego do óvulo de terceira-doadora, que será fertilizado pelo sêmen de terceiro-doador. Nas duas primeiras alternativas, a criança a nascer carregará metade da informação genética do casal, não havendo qualquer informação genética do casal, daí a necessidade das duas primeiras serem consideradas assemelhadas à doação unilateral, enquanto que a terceira será assemelhada à doação bilateral [...]. (GAMA, 2003, p. 725).

A manifestação, expressa no art. 1.597, V do CC/2002, do marido/companheiro corresponde a uma adoção do filho, pois demonstra o desejo de se tornar pai. Porquanto esta “[...] autorização não pode ter duração infinita [...], separado o casal, é necessário reconhecer a possibilidade de revogação do consentimento, contanto que ocorra antes da implementação do embrião no óvulo da mulher”. (DIAS, 2007, p. 332).

Assim, a I Jornada de Direito Civil nos traz o Enunciado 104 com o objetivo de nos nortear quando nos deparamos com esse método de reprodução assistida (VILAS-BÔAS, 2011), in verbis:

104 – Art. 1.597: no âmbito das técnicas de reprodução assistida envolvendo o emprego de material fecundante de terceiros, o pressuposto fático da relação sexual é substituído pela vontade (ou eventualmente pelo risco da situação jurídica matrimonial) juridicamente qualificada, gerando presunção absoluta ou relativa de paternidade no que tange ao marido da mãe da criança concebida, dependendo da manifestação expressa (ou implícita) da vontade no curso do casamento.

O nascimento de uma criança oriunda da inseminação artificial heteróloga, determina que a paternidade “não terá base biológica, mas sim fundamento moral em prestígio à relação socioafetiva posteriormente estabelecida entre os dois (chamada desbiologização, ou seja, a substituição da ligação genética pela ligação afetivo-psicológica)”. (RAPOSO E SILVA, 2002, p. 315).

Essa desbiologização da paternidade se caracteriza por vincular a filiação não apenas pelo liame biológico, mas também pela relação de afeto, base da filiação socioafetiva.

3.4.2 Fertilização in vitro

De acordo com Maria Helena Machado (2006, p. 39) a fertilização in vitro consiste “[...] em permitir o encontro entre o óvulo e os espermatozóides fora do corpo da mulher, e depois de um a três dias mais tarde, em colocar no útero dessa mesma mulher, o embrião obtido, para que ele possa ali se desenvolver”.

Raquel de Lima Leite Soares Alvarenga (2004, p. 232) elucida que essa técnica tem por finalidade que “[...] os espermatozóides fecundem os óvulos fora do corpo da mulher, quando não há a possibilidade de realização deste processo em seu lugar natural, a trompa de Falópio”.

A mesma autora continua o estudo e dispõe:

[...] é realizado em laboratório, mantendo óvulos e espermatozóides em uma placa de Petri com meio de cultivo (líquido que simula o fluido tubárico) e sob o controle de condições ambientais como temperatura, umidade, concentração de oxigênio, gás carbônico, entre outras. As pacientes que se beneficiam da FIV são mulheres cuja função de ambas as tubas uterinas tenha sido irreversivelmente prejudicada. Além de contornar as tubas lesadas, a FIV pode ser indicada, com bons resultados, para pacientes com outras causas de infertilidade, como a endometriose, distúrbios ovulatórios, fatores masculinos e na infertilidade sem causa aparente. (ALVARENGA 2004, p. 233).

Nesse procedimento pode ser utilizado tanto o sêmen do marido, quanto o sêmen de um doador anônimo, ou seja, fertilização homóloga ou heteróloga, respectivamente (MADALENO, 2011, p. 514).

Importante salientar que as fertilizações in vitro “[...] dão origem aos denominados embriões excedentes, ou seja, aqueles que concebidos em laboratório não chegam a ser implantados no útero”. (BARBOZA, 2004, p. 227).

Maria Helena Machado (2006, p. 40) relata que: “Não existe limite biológico conhecido para o tempo de duração da conservação de um embrião. O embrião congelado poderá permanecer por cinco, dez anos ou séculos em hibernação.”

3.4.2.1 Transferência de gametas para as trompas (GIFT)

Conhecida também como a transferência intratubária de gametas (GIFT, sigla em inglês), sendo:

[...] idealizada pelo médico argentino Ricardo Ash, consiste [...] na captação dos óvulos da mulher, através de laparoscopia, e o esperma do homem, colocando-os ambos os gametas em uma cânula especial, devidamente preparados, introduzindo-os em cada uma das Trompas de Falópio, lugar onde se produz naturalmente a fertilização. (OMMATI, 2001, p. 948, apud WELTER, 2003, p. 220).

Essa transferência possibilita a fecundação in vivo, ou seja, o sêmen é introduzido no organismo da mulher no exato momento em que seus óvulos são captados por laparoscopia e reintroduzidos diretamente na Trompa de Falópio, e não para o útero, o que torna o processo de fecundação mais natural (MACHADO, 2006, p. 47).

De acordo com Rolf Madaleno (2011, p. 514), a GIFT é uma variante da fertilização in vitro, porém como já dito anteriormente acontece in vivo, e “tem maior aceitação sob o aspecto ético e religioso” por acontecer de forma mais natural do que as outras técnicas de reprodução humana assistida.

3.4.2.2 Transferência de zigoto para as trompas (ZIFT)

A transferência de zigoto para as trompas (Zibot Intra Fallopian Transfer) consiste na retirada de óvulos da mulher para fecundá-lo na proveta, com sêmen do marido ou de outro homem, para depois introduzir um ou mais em suas trompas, este óvulo fecundado chama-se zigoto (WELTER, 2003, p. 221).

Esse método é o mais artificial dentre os outros, pois o embrião, depositado no interior do corpo da mulher, sofre anteriormente uma divisão celular encontrando com duas a oito células, isso tudo acontece in vitro (HATEM, 2002, p. 198).

Necessário que se tenha as trompas saudáveis, pois serão colocadas nelas os embriões entre vinte e quatro e quarenta e oito horas depois da fecundação que se dá em laboratório, combinando “[...] as vantagens da fertilização in vitro com as da transferência de gametas”. (LOYARTE; ROTONDA, 1995, p. 127 apud MADALENO, 2011, p. 515).

De acordo com Roberto Senise Lisboa (2006, p. 370), “os zigotos não introduzidos no organismo feminino são congelados e conservados nessa condição até que o casal delibere a respeito”.

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