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Curso Técnico em Edificações – Prática Aliada à Teoria Destaca-se aqui a atuação do extinto Curso Técnico em

A UTFPR Uma história de ensino tecnológico

2.3.1. Curso Técnico em Edificações – Prática Aliada à Teoria Destaca-se aqui a atuação do extinto Curso Técnico em

Edificações, do antigo CEFET-PR, principalmente pelo ensino- aprendizagem do curso, que relacionava a teoria à prática, o qual colaborou com as bases do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UTFPR.

No início de 1943, o Curso Técnico em Edificações foi inaugurado na então denominada Escola Técnica de Curitiba. O curso foi ofertado por 53 anos, até sua extinção em 1996 - de acordo com a Lei Federal nº 9.394/96, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBE), e seu Decreto Federal nº 2.208/97, Art. 5º - que não permitia mais a oferta dos cursos técnicos integrados, conforme visto anteriormente nesta tese.

Dessa forma, ao longo destes anos, o curso acompanhou a evolução da Instituição, que, em 1959, transformou-se em Escola Técnica Federal do Paraná e em 1978, em Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (CEFET-PR).

O ensino prático aplicado, aliado à teoria, era referência na cidade, devido ao alto nível profissional dos egressos do curso. O setor industrial da construção da civil, sem dúvida, era o que mais absorvia estes profissionais. Diante destas constatações, visando à melhoria do ensino na instituição, a Diretoria de Ensino e o Departamento de Ensino de 2° Grau do CEFET-PR13 prepararam um documento, denominado Currículos

das Habilitações do Ensino de 2° Grau (1989)14. Este documento

foi aprovado pela Resolução 11/88, de 04/10/88, do Conselho de Ensino e pela Deliberação 03/89, de 06/03/89, do Conselho Diretor da Instituição.

A ordenação das disciplinas dentro do currículo foi estabelecida visando proporcionar duas opções de terminalidade aos estudantes: (1) Habilitação em Técnico em Edificações, para os estudantes que concluíssem os oito períodos totais do curso, ou seja, quatro anos; e (2) Auxiliar de Escritório Técnico em Edificações, para os alunos que optassem por concluir em seis períodos, ou seja, em três anos. Era assegurado ao egresso Auxiliar Técnico continuidade de estudos e/ou sua colocação no mercado de trabalho a este nível.

O curso era integrado, pois oferecia disciplinas curriculares do 2° Grau, atual ensino médio, integradas às disciplinas profissionalizantes. As disciplinas curriculares do 2° Grau eram ofertadas até o sexto período. No último ano, para 13 Na ocasião eram responsáveis pelo setor de ensino da Instituição, o Diretor de Ensino, o Prof. Claudio Taborda Ribas e o Chefe do Departamento de Ensino de 2° Grau, o Prof. Arildo Dirceu Cordeiro. O Diretor-Geral do CEFE- T-PR era o Prof. Artur Antonio Bertol.

14 CORDEIRO, A. D.; RIBAS, C. T. Currículos das Habilitações do Ensino de 2°.Grau CEFET-PR, 1989.

o sétimo e oitavo períodos, eram ofertadas somente disciplinas técnicas profissionalizantes. Alargava-se a visão dos materiais de construção pela relação que guardava com solos, estruturas, laboratórios e especificações e orçamentos. Este era o diferencial que atribuía aos seus egressos o título de Técnico em Edificações. Distribuídas assim na grade, as disciplinas capacitavam ao futuro técnico desenvolver atividades em nível de supervisão, controle de projetos na construção civil, possibilitando-lhe executar tarefas, tais como (Tabela 14):

Tabela 14: Tarefas que o egresso do Curso Técnico em Edificações poderia executar

Fonte: Currículos das Habilitações do Ensino de 2° Grau (1989), organizada pela autora.

Para que o egresso se habilitasse profissionalmente, deveria realizar o Estágio Supervisionado de, no mínimo, 360 horas.

Na ocasião, os cursos possuíam disciplinas do Núcleo Comum, e as específicas de cada habilitação técnica, com a

grade curricular, conforme a Figura 15.

Figura 15: Grade Curricular geral do Curso Técnico em Edificações

Fonte: Currículos das Habilitações do Ensino de 2° Grau (1989).

As disciplinas do domínio comum eram: Língua Portuguesa e Literatura Brasileira (LPLB), Matemática, Física, Química, Biologia, Educação Moral e Cívica (EMC), Geografia, História, Educação Artística (teatro, dança, cinema, artes plásticas e música), Programa de Saúde, Educação Física, Organização Social e Política do Brasil, e Orientação Educacional.

No domínio específico de Auxiliar Técnico em Edificações, as disciplinas eram: Desenho Técnico, Materiais de Construção, Métodos e Técnicas de Execução, Desenho Arquitetônico, Resistência dos Materiais e Estabilidade das Construções, Ensaios Tecnológicos, Introdução ao Processamento de Dados e Topografia.

Para adquirir o nível de Técnico em Edificações, além das disciplinas já listadas, ministradas do primeiro ao sexto período, o

aluno ainda deveria cursar mais dois semestres, conforme citado anteriormente, para complementar seu conhecimento com as disciplinas de: Projetos Arquitetônicos, Máquinas e Equipamentos para Construção Civil, Instalações Elétricas Prediais, Instalações Hidráulico-Sanitárias, Estruturas de Edificações, Especificações e Orçamentos, Administração de Obras, Mecânica dos Solos e Projeto Hidráulico-Sanitário (Figura 16).

Figura 16: Grade Curricular para formação especial do Curso Técnico em Edificações

Fonte: Currículos das Habilitações do Ensino de 2° Grau (1989).

A carga horária das disciplinas profissionalizantes do Curso Técnico em Edificações apresentava 15% de aulas teóricas, 33% de disciplinas práticas e 52% de disciplinas que integravam teoria e prática (Figuras 17 e 18).

Figura 17: Carga horária profissionalizante do Curso Técnico em Edificações

Fonte: Currículos das Habilitações do Ensino de 2° Grau (1989).

Figura 18: Carga horária: teoria x prática

Fonte: Organizada pela autora.

Observa-se assim, que a maioria da carga-horária do curso contemplava a integração da teoria à prática em seu currículo (Figura 19).

Figura 19: Teoria e prática

Laboratórios existentes no curso (Figura 20): - Laboratório de Processos Construtivos; - Laboratório de Ensaios Tecnológicos; - Laboratório de Mecânica dos Solos;

- Laboratório de Hidráulica e Sanitárias Prediais; - Laboratório de Concreto;

- Laboratório de Estruturas e Resistência dos Materiais; - Laboratório de Topografia;

- Laboratório de Computação;

- Laboratório de Elétrica (utilizava-se o laboratório do Departamento Acadêmico de Eletrotécnica (DAELT); - Laboratórios de Física, Biologia e Química para as

disciplinas do Núcleo Comum (pertencentes a outros departamentos, como o de Física e Química).

Figura 20: Laboratórios do Curso Técnico em Edificações

Laboratório de Processos Construtivos (Canteiro de Obras)

Laboratório de Topografia Laboratório de Elétrica (DAELT)

Laboratório de Estruturas e Resistência dos Materiais

para as aulas de instalações elétricas, utilizava-se o laboratório do Departamento Acadêmico de Eletrotécnica (DAELT)

Laboratório de Ensaios Tecnológicos

Fonte: Acervo UTFPR.

Os alunos desenvolviam a parte prática no canteiro de obras, nas aulas de topografia em campo e no acompanhamento de obras em visitas de microestágio (Figura 21).

Figura 21: Aulas práticas do Curso Técnico em Edificações Aulas de campo de topografia

Acompanhamento de obras - com o Prof. Ely Aguiar

Fonte: Acervo UTFPR.

A parte prática em que, além das atividades de laboratórios havia a participação em obras reais em prédio da instituição (Figura 22).

Figura 22: Alunos participando de obras reais na Instituição.

Fonte: Acervo Setor Histórico da UTFPR

Existiam salas ambientadas, como exemplo a Sala de Materiais de Construção. A sala dispunha de prateleiras muito bem organizadas com amostras de diversos materiais de construção. Foi organizada pelo Prof. Kloss, o qual publicou um livro, que era muito utilizado pelos alunos. O Laboratório de Ensaios Tecnológicos era integrado ao de Processos Construtivos (Canteiro de Obras). Os alunos preparavam a brita, areia, cimento e água para misturar na betoneira. Com isso faziam os campos de prova (Figura 23).

Figura 23: Ensaios Tecnológicos

Aula de Ensaios Tecnológicos - com a Profa. Stella Bezerra

Fonte: Bezerra (2017).

preparo dos componentes para fazer corpo de prova

Os alunos faziam muitas viagens técnicas para acompanhamento de obras. Todas acompanhadas por professores (Figura 24). Eram realizadas também viagens anuais a Feiras Internacional de Construção (FEICON). Visitavam também o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), ambas em São Paulo.

Figura 24: Visitas técnicas

Barragem de Itaipu (1986) Ilha Solteira: construção da eclusa (1987)

FEICON (SP), com o Prof. Kloss (1986) IPT (SP), com o Prof. Laertes (1986)

Barragem de Três Irmãs (s/data) Fonte: Bezerra (2017).

No tocante à prática de projeto e representação gráfica, o curso técnico partia dos fundamentos do desenho geométrico e da geometria descritiva como estratégia de desenvolvimento da visão espacial e aquisição de habilidades para a aprendizagem do desenho arquitetônico.

O ensino do desenho arquitetônico procurava enfatizar a sua importância na comunicação da proposta do projeto e sua utilidade na execução da obra, de modo a acentuar a sua condição de parte de um processo maior.

Neste sentido, os estudantes eram sempre estimulados a dirimir dúvidas sobre escala, dimensões, componentes e detalhes construtivos, etc., nos conteúdos e práticas das demais disciplinas técnicas, no canteiro de obras e nos ambientes construídos que frequentavam.

O benefício dos cursos da instituição, ao longo de sua história, foi a herança da Escola de Aprendizes Artífices. A escola tinha o objetivo de ensinar a meninos carentes, cursos profissionalizantes, os quais eram oferecidos quase que totalmente em oficinas. As oficinas evoluíram para laboratórios. Isto ficou gravado no DNA da Instituição. O benefício é a grande carga-horária prática nos diversos cursos da Universidade.

Neste contexto, o grande diferencial do Curso Técnico em Edificações eram os 52% de disciplinas teóricas e práticas integradas, com apenas 15% de disciplinas apenas teóricas. Importante também destacar, mais 33% das disciplinas práticas, que eram as de Desenho Técnico, Desenho Arquitetônico e de Projetos. Estas disciplinas proporcionavam uma excelente

representação gráfica aos alunos, pelas altas cargas-horárias de desenho técnico básico e geometria descritiva. Isto culminava nos detalhes arquitetônicos representados nos projetos. Neste contexto, o curso apresentava 85% de disciplinas que primavam pela prática.

O conhecimento dos materiais de construção era outro fator predominante no curso Técnico. Isso era possível pela união da teoria e da prática, com um ambiente preparado para isto, com as amostras de diversos materiais. Somado a isto, as visitas técnicas às empresas de materiais e as palestras de técnicos das empresas em sala de aula.

Outro diferencial era o contato dos alunos com o Canteiro de Obras desde o primeiro período. Isso era evidente nas disciplinas de projeto, pelo conhecimento técnico que os estudantes apresentavam na hora de projetar.

Os laboratórios apresentavam um funcionamento relativamente simples. Não dispunham de um almoxarifado central, mas cada um apresentava seu próprio armazenamento de matéria-prima, assim como a guarda de seus equipamentos. Os professores de cada disciplina que usavam os laboratórios eram responsáveis pelos mesmos. A figura do Chefe de Laboratório e de um Técnico-Administrativo davam aos professores o apoio necessário para as manutenções dos mesmos. Existia, também, os alunos monitores, que também ajudavam os professores das disciplinas. Quando eram necessários reparos mais específicos nos equipamentos, eram realizados por empresas especializadas, por meio de licitações.

Outro fator positivo na escola era o uso de laboratório de outros departamentos, como exemplo do Laboratório de Instalações Elétricas, utilizado do Departamento Acadêmico de Eletrotécnica (DAELT). Assim como os Laboratórios de Física, Química e Biologia.

O Curso de Arquitetura e Urbanismo da UTFPR herdou a cultura dos laboratórios do Curso Técnico de Edificações e absorveu grande parte dos seus professores também. Atualmente, o curso apresenta em seu corpo docente 15 professores que ministraram aulas no Técnico, cinco arquitetos e dez engenheiros. A tarefa destes 15 professores é deixar registrado no curso seu diferencial: a integração da teoria com a prática.

2.3.2 Programa para a melhoria da qualidade de vida nas