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OKAMURA NA CIDADE DE

CUIABÁ/ MT

RESUMO

Esta pesquisa tem como objetivo geral avaliar a sensação térmica dos usu- ários do Parque Massairo Okamura, localizado em Cuiabá/ MT, sob as in- terferências dos diferentes tipos de revestimentos do solo e proximidades das vegetações nativas de cerrado, a partir das percepções e preferências térmicas em horários variados e em dois meses do ano, que compreen- dem a estação quente-úmida. O método empregado é indutivo, por meio de levantamentos de campo de variáveis microclimáticas ambientais, apoiado por métodos dedutivos, por meio de comparações entre os re- sultados levantados nas diferentes formas de sensações térmicas da área de caminhada no Parque Massairo Okamura, localizado na região norte na cidade de Cuiabá/ MT. Considerando o modelo preditivo de sensação térmica e a representatividade dos dados em função da condição climá- tica local, o levantamento foi realizado nessa área verde, por ser um local aberto de permanência e passagem de pedestres, com presença de espé- cies nativas do cerrado, que são preservadas nessa área dentro da cidade. Os dados foram coletados no período quente-úmido, e através do levan- tamento qualitativo foi possível realizar uma análise comparativa, estabe- lecendo-se relações entre os dados encontrados nas entrevistas durante o período de coleta no local da pesquisa e as variáveis microclimáticas: temperatura do ar e umidade relativa do ar. Comparando-se os resulta- dos em diversos pontos do transecto móvel e apresentando uma variação nos diferentes tipos de cobertura do solo, verifica-se como a vegetação interfere no microclima local e nas sensações térmicas dos usuários. Ape- sar de alguns pontos estarem arborizados e outros não, a grande maioria da população preferiu os locais de sombra por trazerem, em geral, maior sensação de conforto térmico para os pedestres. Portanto, para cidades de clima quente-úmido, a vegetação é um diferencial para melhoria da sensação térmica das ilhas de calor em ambientes abertos.

ABSTRACT

The main objective of this research is to evaluate the thermal sensation of users of the Massairo Okamura park, located in Cuiabá/MT, under the in- fluence of different types of soil coating/covering and the proximity of na- tive cerrado vegetation based on the thermal perceptions and preferen- ces in different times during two months, in the hot-humid weather. The method used in the present research is inductive, through field surveys of environmental microclimate variables, and supported by deductive methods through comparison between the results of surveys applied in different forms of thermal sensation at the hiking area of the park, which is located in the northern region of Cuiabá/MT. Considering the predic- tive model of thermal sensation and the representativeness of the data according to the local weather condition. The survey was conducted in this park, a green area within the city, due to its permanent open spaces and its pedestrian paths, with preserved native species of cerrado vege- tation. The data was collected during the hot-humid period and throu- gh qualitative survey, it was possible to perform a comparative analysis, stablishing a relationship between the data found and the microclimate variables, air temperature and relative air humidity. Comparing the re- sults in several points of the mobile transect with different soil coating, it is possible to verify the vegetation effects on the local microclimate and thermal sensation of users. Although some points are forested and other do not, the majority of people preferred shadowed locations due to its greater thermal comfort sensation for the pedestrian. Therefore, in cities with hot-humid weather, vegetation plays a crucial role regarding the im- provement of thermal sensation in heat islands of open spaces.

1 INTRODUÇÃO

O conforto térmico em ambientes externos às edificações tem uma importância relevante para a qualidade e o uso dos espaços urba- nos abertos, especialmente para as cidades de regiões com clima tropi- cal quente-úmido. Nas avaliações das sensações de conforto térmico, por exemplo, os ambientes externos são muito mais complexos para serem pesquisados, devido às variações temporais e espaciais que os envolvem.

Nos espaços abertos, além de realizarem medições das variáveis microclimáticas, também é importante saber a opinião das pessoas que ocupam aquele espaço, seja em nível de trabalho, ou não. Para saber- mos como cada indivíduo está sentindo o ambiente, é importante termos uma resposta qualitativa, obtida através das influências adaptativas, ou seja, físicas, fisiológicas e psicológicas na sensação de conforto térmico dos usuários, e podemos destacar a adaptação psicológica onde os fato- res comportamentais e psicológicos afetam a satisfação dos usuários em ambientes abertos (NIKOLOPOULOU & STEEMERS, 2003).

A adaptação térmica está relacionada com experiência térmica, percepção de controle térmico, cultural e duração de exposição. Já a va- riação do conforto térmico se relaciona com as estações do ano (FONTES & DELBIN, 2003).

Com o crescimento urbano, é possível perceber essas interferên- cias climáticas nas cidades, e, em decorrência disso, são importantes as preservações das áreas verdes, seja através das criações de parques e praças, com a preservação das áreas verdes nativas dentro das cidades. Quando isso acontece, é possível observar a sensação de conforto por parte dos usuários, tornando assim clara a necessidade de que haja um crescimento urbano aliado ao ambiente natural, de forma que se levem em consideração as variáveis climáticas de cada região, garantindo as- sim o conforto térmico dos habitantes da cidade.

Com a presença de árvores e de outros tipos de vegetações na cidade, é possível observar um impacto físico sobre as características ambientais, sendo que os efeitos mais claramente percebidos são a tem- peratura e umidade do ar. E um dos efeitos da vegetação é o resfriamento

do ar por meio do aumento da umidade proveniente do processo de eva- potranspiração (NICODEMO & PRIMAVESI, 2009).

Esse fenômeno do aumento da temperatura em regiões centrais das cidades em relação ao entorno denomina-se Ilha de Calor Urbana (ICU), que possui um comportamento variável de acordo com o perfil urbano: a temperatura urbana pode ser considerada elevada em áreas centrais, ilhas de calor, e, reduzida, à medida que aumenta a altitude (GARTLAND, 2010).

Em consequência desses efeitos nas variáveis microclimáticas, Shinzato (2009) desenvolveu um experimento onde apresenta as interfe- rências positivas da vegetação presentes e uma melhoria do conforto tér- mico nas condições microclimáticas urbanas, nas diferentes formas de distribuição das áreas verdes na cidade. Wong et al (2007) estudaram o efeito da quantidade de vegetação na temperatura ambiente resultante.

Existem duas formas de incrementar os efeitos e resultados das vegetações em espaços abertos: uma é a densidade de vegetação, onde a variável principal é o IAF (Índice de Área Foliar), e outra é o aumento da área verde, ou seja, o aumento da área de vegetação nos ambientes abertos (JUSUF, 2009).

Shahidan et al (2012) apud Maciel (2014), avaliaram o efeito res- friativo de árvores em combinação com a modificação dos materiais de cobertura do solo, em mitigar as ilhas de calor urbanas, com o objetivo de melhorar o desempenho térmico de edificações em climas tropicais. Como resultado, os autores afirmam que, para mitigar o efeito ilha de calor, altos valores de densidade de copa (IAF 9.7) juntamente com mate- riais frescos (albedo 0,8) foram responsáveis pela maior redução na tem- peratura urbana, da ordem de 2,7°C, quando comparado com a situação atual. Além disso, ambas as modificações resultaram em um potencial de economia da demanda de resfriamento para os edifícios de até 29%.

Para amenizar os efeitos negativos das ilhas de calor, existem, além da presença da vegetação, algumas estratégias nos sistemas cons- trutivos para ambientes abertos: pode-se citar o uso de materiais frescos (para cobertura e grandes áreas de estacionamento) e vegetação com variações de espécies arbóreas e aumento das áreas dos espaços con-

siderados (GARTLAND, 2010). Em estudo recente, realizado na cidade de Londres, Reino Unido, que apresenta clima temperado, Kolokotroni et al (2013) examinaram o impacto da aplicação de pintura reflexiva em um telhado plano em um edifício de escritórios naturalmente ventilado, mo- nitorando o conforto térmico antes e depois da aplicação da pintura, e obteve resultados positivos, apresentando uma melhoria no albedo de 0.1 antes para 0.7 após a aplicação da pintura reflexiva.

Com todas as pesquisas realizadas sobre ilhas de calor, outro fa- tor que interfere no desenvolvimento do desconforto está relacionado com os tipos de revestimentos do solo, e já existe pesquisa que apresenta estudos iniciais sobre transectos móveis, iniciado, em 1927, por Schmi- dt referenciado por Oke (1984) apud Assis (2007), em decorrência da 2° Guerra Mundial. Após a guerra, os países da América do Norte e Japão desenvolveram pesquisas sobre as variáveis climáticas, em especial a temperatura do ar.

Essas estratégias, no que diz respeito às variáveis microclimá- ticas, vêm contribuindo para que se obtenham melhores informações sobre o conforto nas ilhas de calor urbanas para as regiões de clima tro- pical, e assim observar a resposta dos usuários, que são os mais interes- sados quando esses ambientes abertos ficam designados para parques, praças ou locais públicos, sejam eles de diversão e entretenimento com a família em finais de semana, ou um próprio estacionamento em pátios de escolas ou shoppings. Serão estas estratégias as avaliadas no presen- te estudo, sendo suas características vistas em detalhes a seguir.

2 METODOLOGIA

Esta pesquisa foi desenvolvida na área urbana da cidade de Cuiabá/ MT. A capital mato-grossense se localiza na porção Centro-Sul do Estado de Mato Grosso, constituído pelo cerrado, pantanal e floresta amazônica. Atualmente, possui cerca de 551.310 habitantes (IBGE, 2015) e 3.538,17 km2, sendo que 254,57 km2 correspondem à área de macro- zona urbana e 3.283,60 km2 à área rural; as altitudes variam de 146 a 259 metros (IPDU, 2009).

O clima predominante é do tipo semiúmido (classificação Aw de Köppen) com constantes de temperaturas elevadas, registrando média anual em torno de 25 a 26°C, com duas estações bem definidas: seca (ou- tono-inverno) e uma chuvosa (primavera-verão), o índice pluviométrico anual varia de 1250 a 1500 mm e a direção do vento predominante é N (norte) e NO (noroeste) durante grande parte do ano e S (sul) no período do inverno (CAMPELO JÚNIOR et al., 1991)

Figura 1 - Localização da região do estudo

Figura 2 - Mapa de indicação das regiões (Norte, Oeste, Leste e Sul) da cidade de Cuiabá-MT

Fonte: Franco, 2013

Figura 3 - Parque Massairo Okamura

Realizaram-se medições no período de fevereiro-março (quen- te-chuvoso/ 2015). A área urbana selecionada para estudo foi o Parque Massairo Okamura e se localiza na cidade de Cuiabá/ MT.

Nesta pesquisa, foram marcados 18 pontos, Figura 4, e a finalida- de foi escolher diferentes tipos de revestimentos do solo e sombreamen- to arbóreo para realizar as entrevistas sob o ponto de vista da sensação térmica dos usuários do parque. Os pontos, cujos dados geográficos fo- ram obtidos pelo Google Earth (2015), estão assim caracterizados: am- bientes sombreados e não sombreados com revestimento do solo em folha, pedra, concreto e grama.

Figura 4 - Locação dos Pontos no Parque Massairo Okamura

Fonte: Google Earth (2014)

Os pontos estão locados na planta do Parque Massairo Okamu- ra, conforme Andrade (2005) apud Nince (2013) distinguiu os fenômenos urbanos – em três classes quanto à extensão: microescala (até 2 km); me- soescala (2 a 2.000 km) e macroescala maior que 2.000 km. Assim, esta pesquisa tratará de dados coletados na microescala.

Na coleta dos dados, foram aplicados questionários aos usuários do Parque que estavam praticando caminhadas, de forma aleatória e agrupados aos dezoito pontos das medições segundo suas proximidades aos respectivos pontos. Os questionários foram aplicados com perguntas abertas e fechadas.

Foram realizados os levantamentos através das entrevistas e fei- tas as tabulações; o questionário foi aplicado para 19 pessoas, as entre- vistas foram aplicadas às 08h e às 14h.

Seguindo a ISO 7730 (1984), adotou-se para os tipos de vestimentas dos entrevistados o valor de 0,5 clo, correspondendo ao indivíduo usando vestimenta leve, usualmente para cidade de clima quente, tais como: rou- pas íntimas, calças longas leves, bermudas, camisa aberta no pescoço com mangas curtas, meias e calçados. Para as atividades, o valor adotado foi de 135 W, que corresponde a um indivíduo caminhando a 4 km/h.

Com esses resultados obtidos nas entrevistas, fica possível en- tender as condições de sensação térmica dos usuários do Parque Massai- ro Okamura na cidade de Cuiabá/ MT, região de clima tropical.