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T EMPO DE F ORMATURA E E XPERIÊNCIA DE M AGISTÉRIO (A NOS )

No documento ANA BEATRIZ DOS SANTOS CARVALHO (páginas 77-80)

C APÍTULO III – A C OLEÇÃO NA S ALA DE A ULA: D IZERES S OBRE

T EMPO DE F ORMATURA E E XPERIÊNCIA DE M AGISTÉRIO (A NOS )

tentei lecionar em escolas de lá por um ano e meio... [pausa] Só que em cidade pequena a realidade é bem diferente: tem poucas escolas, poucas vagas abertas. Aí optei por voltar para cá. (Professora Vânia)

O tempo médio de atuação dos professores na E. E. Segismundo Pereira é de 4,8 anos, sendo os professores José e Beth os mais antigos na Escola, com 14 e nove anos respectivamente.

Os professores foram unânimes ao afirmar que os profissionais de educação devem saber selecionar, elaborar e usar, sob o ponto de vista didático-pedagógico, todos os recursos possíveis de utilização na sala de aula, sobretudo, o livro didático. No entanto, durante as entrevistas, ao perguntarmos como eles realizam as atividades propostas nos livros da coleção didática adotada, as respostas contradizem, de certo modo, as respostas dos questionários. O professor Paulo assim se posicionou

Acho as atividades e as oficinas de trabalho muito interessantes, mas fazer os meninos [alunos] participarem é difícil. Eles não querem saber de nada. Uma aula é pouco para desenvolver as oficinas e aí, se a gente gasta mais que isso, atrasa o conteúdo. Eu prefiro trabalhar da forma tradicional porque aí é certeza de conseguir cumprir o planejamento. Quando fico mais folgado com aulas adiantadas, faço uma dinâmica baseada no livro. (Professor José)

A professora Vânia narrou sobre uma prática semelhante à do professor José, porém percebemos que ela procura explorar as sugestões didáticas disponibilizadas nos livros. Vejamos o qe ela informa:

Eu procuro intercalar as aulas expositivas com atividades do livro, principalmente as Oficinas de Trabalho, que são muito boas. Os alunos gostam, mas reconheço que tenho dificuldade em mantê-los focados no que precisa ser feito. Não posso gastar muitas aulas com essas atividades, senão não cumpro o programa. (Professora Vânia)

Entendemos as atividades, exercícios, oficinas, e outras propostas dos livros como guias e sugestões, e não como roteiros a ser seguidos ipsis literis. Não nos parece ser possível adaptar o conteúdo e as atividades à realidade dos alunos, se adotarmos uma postura radical de aplicar a proposta das autoras, sem nos preocupar em contextualizá-la à realidade da comunidade escolar. O professor de História transforma seu conjunto de saberes em conhecimentos efetivamente ensináveis, fazendo com que

o aluno não apenas compreenda, mas que assimile, incorpore e reflita sobre estes ensinamentos de variadas formas. Isto exige dos futuros docentes, das instituições e do Estado um investimento na formação continuada, com o objetivo de re/construir as relações entre os saberes adquiridos na formação universitária e a complexidade dos saberes mobilizados no cotidiano da sala de aula.

Dessa maneira, é necessário romper com o paradigma de formação aplicacionista a favor de uma epistemologia da prática, conforme definida por Tardif, pois, assim, será possível

revelar esses saberes, compreender como são integrados concretamente nas tarefas dos profissionais e como estes os incorporam, produzem, utilizam, aplicam e transformam em função dos limites e dos recursos inerentes às suas atividades de trabalho. (TARDIF, 2000, p.5-24 apud FONSECA, 2001, p. 13-14)

A nosso ver, as oficinas de trabalho propostas nos livros são fontes de idéias, proposições, que testemunham a favor da necessidade de incentivar uma praxiologia que destaque a importância do conhecimento aplicável. É proveitoso rever esaas oficinas, recriá- las, reescrever de forma que os alunos se sintam parte do universo de produção, de criação dos saberes ao longo da das atividades.

Houve situações, por exemplo, em que transfomamos uma atividade sugerida de representação teatral em uma gincana, sem prejuízo algum dos objetivos pedagógicos da atividade: pelo contrário, entendemos que, quando os alunos se envolvem e se veem no processo educacional, a aprendizagem acontece, ao passo que a reprodução de um roteiro pré- elaborado, a mera adpatação e transposição, conferem um aspecto artificial às atividades.

Essa aparente “imobilidade” que antevemos nas entrelinhas das respostas dos nossos colaborades não se restringe à execução pedagógica de atividades extras. Detectamos traços de “comodismo” ou resistência em outros aspectos, como no uso de recursos didáticos e fontes adicionais ao livro didático.

Apesar de alguns dados escritos compilados nos questionários apontarem numa direção, alguns professores reconheceram e narraram, nas entrevistas, que continuam fazendo uso de materiais e metodologias tradicionais, embora reconheçam que “haja um aumento na quantidade de recursos e de estímulos que possibilitem a prática de aulas diversificadas” (Professora Vânia).

Ao analisarmos essa evidência conjuntamente com o tempo médio de magistério e o uso de recursos adicionais em sala de aula, percebemos que os professores mais antigos de magistério e de trabalho na E. E. Segismundo Pereira são os que menos utilizam os recursos adicionais ao livro didático. Além disso, os meios que utilizam são os mais convencionais: lousa, mapas e filmes. As seguintes figura e tabela mostram a quantidade de recursos adicionais utilizados pelos professores e quais são estes.

Figura 11 – Quantidade de recursos adicionais utilizados em sala de aula

A lousa e os mapas são os suportes adicionais ao livro didático mais utilizados pelos professores. A este respeito, a professora Helena nos declarou:

A D. Nilva61 se esforça para deixar recursos didáticos e tecnológicos à nossa disposição, mas tem coisas que ficam paradas e poucos colegas se mexem para aprender como usar, como facilitar o trabalho e tornar as aulas mais interessantes para os alunos. Um exemplo disso é o datashow, que estava parado esperando para ser inaugurado [risos]. Entre os colegas da História, se não sou eu e a Zélia para montar aulas em Powerpoint e levar os alunos para os laboratórios, aquilo lá [o data

show] estaria parado até hoje, e olha que já tem uns dois anos que ele foi comprado. Acho um absurdo essa aversão que os mais velhos de casa têm da tecnologia, de aprender coisas novas, de inovar. Se não sabe usar e tem interesse, a gente que usa há mais tempo ensina com prazer, mas aí depende do interesse de cada um, (Professora Helena)

A tabela, a seguir, mostra-nos que a afirmação da professora Helena é respaldada pelos dados, uma vez que apenas ela e a professora Zélia utilizam rotineiramente o datashow e a internet em suas aulas.

Beth Paulo Dalila Helena Vânia José Zélia

Lousa Lousa Lousa Lousa Lousa Lousa Lousa

Mapas Mapas Filmes Mapas Mapas Mapas Mapas

Filmes Retroprojetor Retroprojetor Filmes Filmes Filmes

Retroprojetor Slides Data show Slides Data show

Internet Internet

Tabela 3 - Recursos didáticos adicionais ao livro didático utilizados por cada professor

Os professores José e Zélia são os únicos que também atuam na rede privada de ensino da cidade, onde segundo eles, utilizam os mesmos recursos adicionais. O professor José nos afirmou:

61 Nilva Lamounier é a atual diretora da escola. 2 4 4 5 4 3 5 0 1 2 3 4 5 6

Beth Paulo Dalila Helena Vânia José Zélia

No documento ANA BEATRIZ DOS SANTOS CARVALHO (páginas 77-80)