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11.340/2006) – NATUREZA , TIPOS E FORMAS DE FISCALIZAÇÃO E GARANTIA

5.2 T IPOS DE M EDIDAS P ROTETIVAS DE U RGÊNCIA

Adentrando-se agora sobre os tipos de MPU, foi utilizado como balizamento para elaboração, por parte do legislador, das medidas protetivas, as atitudes comumente realizadas pelos autores da violência doméstica contra a mulher no contexto de convivência do casal ou de ruptura da relação. Saliente-se que a comum ausência de testemunhas externas (em geral, são filhos/as que presenciam o fato) contribuem para a reiteração e naturalização da violência, dificultando, por parte da mulher, a ruptura da relação, por vezes mantida para evitar a dissolução do lar, em benefício de seus/suas filhos/as.

Quanto aos tipos de MPU, as medidas que obrigam o agressor visam a garantir a integridade física, psicológica, moral e material da mulher e de sua família. Correspondem a: i) suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003; ii) afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; iii) proibição de determinadas condutas, entre as quais:

a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor; b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação; c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida; iv) restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar; v) prestação de alimentos provisionais ou provisórios.

Essa lista, porém, não é exaustiva, podendo o juiz adotar outras providências previstas em lei sempre que a segurança da ofendida ou outras circunstâncias o exigirem, sendo possível, também a implementação de novas medidas não previstas na Lei, com a necessidade apenas de comunicação ao Ministério Público (BELLOQUE,2010). Podem também ser adotadas durante e em qualquer fase da persecução penal, desde a instauração do inquérito policial até a fase judicial.

De modo específico, a suspensão de posse de armas é medida fundamental quando o agressor é policial civil, militar ou agente público cuja atuação possibilite a posse e o porte de arma de fogo. Aqui, a vulnerabilidade da mulher é mais latente, e não se faz necessária a utilização da arma na violência que enseja a concessão da medida, pois esta tem caráter preventivo e visa a evitar a utilização da arma, cuja existência é suficiente para efeitos de intimidação (BELLOQUE, 2010).

A aquisição e o registro de armas de fogo estão previstos e regulamentados na Lei nº 10.826/2003, sendo que o porte é proibido em todo território nacional, salvo os casos previstos em Lei. No caso de a posse ou o porte estar fora desses limites estabelecidos na legislação, configurando-se enquanto irregular e caracteriza-se a conduta criminosa, de tal modo que a apreensão e a retenção pelas autoridades policiais devem ser imediatas. Assim, a medida direciona-se aos agressores que possuem regular registro e posse de arma de fogo, principalmente agentes com atuação na segurança pública. O superior imediato ficará responsável pelo cumprimento da determinação judicial e a negativa de cumprimento se configura em crime de prevaricação ou desobediência (BELLOQUE, 2010).

A segunda medida direcionada ao agressor é a do afastamento do lar ou local de convivência com a ofendida. Anteriormente à Lei Maria da Penha, já era comum a aplicação dessa medida em processos de divórcio ou dissolução de união estável que envolviam contexto de violência (artigos 1.562 do Código Civil). Porém, as audiências de conciliação comprometiam a efetividade da medida. Em 2002 e, portanto, também antes da Lei Maria da Penha, a Lei nº 10.455 introduziu o parágrafo único no Art. 69 da Lei 9.099/1995 – Lei dos

Juizados Especiais Criminais, instituindo a possibilidade, à época, de o/a juiz/juíza determinar o afastamento do agressor do lar nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher.

Porém, essa medida também não surtiu efeitos, basicamente pelo fato de que o agressor precisaria comparecer presencialmente no Juizado após a lavratura do Termo Circunstanciado, pela carente regulamentação e falta de estrutura ou mesmo pela predominância da conciliação nos crimes de menor potencial ofensivo, como era considerado esse tipo de violência antes da LMP. Também o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069/1990, previu implementação de medida semelhante, quando institui, no Art. 130, a possibilidade de a juíza/o juiz afastar o agressor da moradia comum, nos casos de maus-tratos, opressão ou abuso sexual pelos pais ou responsáveis.

Além do afastamento, pode também a/o magistrada/o estipular uma distância de aproximação, pois a identificação de uma lista de lugares a serem evitados e proibidos por parte do agressor poderia ser facilmente burlada, e implicaria, também, uma limitação à liberdade de locomoção da mulher. Ao impedir a aproximação do agressor da mulher que requereu a medida, pretende-se evitar também humilhações públicas, impedindo a aproximação do local de estudo, de trabalho, de lazer, de culto religioso e quaisquer espaços de convivência comunitária. O acompanhamento dessa distância e garantia de seu cumprimento tem sido mensurada em alguns estados, como é o caso de Pernambuco, por meio do Monitoramento Eletrônico do Agressor (tornozeleira eletrônica), como se verá adiante.

Ainda, quando houver indícios de intimidação à mulher com base na ameaça das/os filhas/os do casal, ou outras violências contra eles, será possível requerer restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, sendo que, neste caso, será sempre necessário ouvir a equipe multidisciplinar.

Por fim, quanto aos alimentos provisionais ou provisórios: serão fixados com base nas possibilidades do alimentante e das necessidades dos alimentandos, como afirma o Art. 1.695 do Código Civil e seguintes. Dependem da comprovação da relação de dependência econômica, mas sem necessidade de larga produção probatória. Essa situação é comum mormente nos casos em que a opção adotada pelo casal é de a mulher dedicar-se aos cuidados do lar e da família, pois o uso de poder econômico por parte do agressor pode ser usado para intimidação da mulher.

De outro lado, o patrimônio material da casa também é resguardado. Isso porque são comuns os casos de o agressor destruir pertences da mulher ou documentos pessoais, como

forma de controle e tolhimento de sua liberdade e autodeterminação. A perspectiva, diretamente vinculada à proteção contra a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades, prevê ainda a restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor; a proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial; a suspensão das procurações conferidas pela vítima ao agressor; e a prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar. Essas medidas, de caráter cível, estão previstas nos Artigos 23 e 24 da LMP.

Porém, ainda que tais medidas estejam teleologicamente vinculadas ao contexto cível, e as medidas que obrigam o agressor do Artigo 22, incisos I, II e III, vistas como de caráter penal, qual a finalidade ou importância desse tipo de diferenciação? Antes mesmo disso, é possível fazê-la com base na dicotomia de medidas protetivas de caráter penal e cível ou essas medidas têm natureza jurídica singular, própria de uma teleologia protetiva integral baseada no reconhecimento da desigualdade de gênero?

Aqui, faz-se interessante notar, antes de tudo, que para assegurar os direitos previstos na nova legislação, que não se restringe à maior punição dos agressores, pois estabelece medidas de caráter cível, trabalhista, assistencial e psicossocial, para as quais se faz necessária a articulação entre os Poderes da República, o investimento em estruturas adequadas para o atendimento da demanda e a formação de profissionais especializados para atuar em casos de natureza complexa e multidisciplinar. Aqui, saliente-se que, embora não esteja prevista na sessão de “Das Medidas Protetivas de Urgência”, da Lei Maria da Penha, a proteção do vínculo de trabalho da mulher em situação de violência, presente no Artigo 9ª, § 1º, que determina a inclusão da mulher em situação de violência doméstica e familiar no cadastro de programas assistenciais do governo federal, estadual e municipal.de caráter assistencial e do § 2º, incisos I e II, que determinam, respectivamente a prioritária remoção para a servidora pública e a proteção do vínculo laboral de mulheres em situação de violência, enquadram-se interpretativamente nos critérios das medidas protetivas, o que reforça o caráter sui generis das medidas, vez que essas possuem natureza assistencial e de trabalho.

Assim, resumidamente, tem-se, abaixo, quadro com as MPU, por direcionamento da ordem:

TABELA 9MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA