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Tanucci e Pombal: Pela pena dos Diplomatas

Capítulo 3- Representação diplomática napolitana em Portugal

3.9. Tanucci e Pombal: Pela pena dos Diplomatas

A investigação que deu origem a este trabalho não conseguiu encontrar nenhum vestígio de uma troca epistolar direta entre os governantes Tanucci e Pombal, no entanto as fontes diplomáticas (especialmente as fontes napolitanas) conseguiram provar que mesmo que o nível relacionamento e conhecimento entre estes dois políticos não tenha suscitado um trato interpessoal que justificasse um troca de correspondência, Tanucci e Pombal não foram totalmente indiferentes um ao outro, existindo também a opinião pessoal que os diplomatas iam formulando nos seus ofícios e todo um revelar de acontecimentos políticos que ajudavam a que ambos os governantes pudessem formular uma ideia sobre a personalidade e capacidade de governação um do outro.

A via diplomática foi o meio que possibilitou um respetivo reconhecimento das figuras de Pombal e Tanucci, por ela se enviaram mensagens de Tanucci para Pombal e de Pombal para Tanucci. O primeiro ofício que mostra uma troca de atenções mais manifesta é redigido por Michele Pignatelli, numa resposta a Bernardo Tanucci: “Este

Sr. Conde de Oeiras recebeu com sentimento de perfeitíssima estima os cumprimentos que V. Excelência me encarregou de dar-lhe.”583

Cerca de um mês mais tarde, o mesmo diplomata participa uma visita que fez a Carvalho e Melo, que permanecia, por aqueles dias, retido em casa devido a um problema numa perna, e que o mesmo lhe perguntou pela saúde de Tanucci.584 A este “intercâmbio” de saudações juntam-se, ainda, as seguintes constatações de Pignatelli para Tanucci: “pode viver bem persuadido de que o Sr. Conde de Oeiras, não só é

amigo como adorador,”585ou “O Sr. Conde de Oeiras acolhe sempre com igual

582 ASN, Esteri, Busta 923, de Vespasiano Macedonio para Bernardo Tanucci, de 18-06-1771. 583 ASN, Esteri, Busta 920, de Michele Pignatelli para Bernardo Tanucci, de 08-09-1761. 584 ASN, Esteri, Busta 920, de Michele Pignatelli para Bernardo Tanucci, de 21-10-1761. 585 ASN, Esteri, Busta 920, de Michele Pignatelli para Bernardo Tanucci, de 29-12-1761.

reconhecimento os atestados de amizade que V. Excelência lhe exibe e se corresponde com outros tantos protestos sinceríssimos de estima.”586

Anos mais tarde, este género de mensagens permanecia. Em maio de 1775, Bernardo Tanucci escrevia ao seu representante em Lisboa a respeito de Pombal. “Devo dizer-lhe

que esse muito vivo reconhecimento demonstra a particular bondade, que demonstra por mim um ministro tão iluminado e tão sábio, e desejo que ele saiba também, este meu sentimento de verdadeira estima e respeito que eu tenho pelo seu distinto mérito.”587

Vamos, agora, concentrar-nos na opinião que os diplomatas napolitanos acreditados em Lisboa foram articulando sobre Pombal e as suas políticas, convicções que variam consoante os assuntos abordados.

Michele Pignatelli, ministro plenipotenciário em 1761, foi o primeiro, dos diplomatas enviados de Nápoles para a corte portuguesa, a proferir uma opinião sobre a necessidade de se manter Pombal no poder, em prol do progresso da nação portuguesa. A 29 de Dezembro de 1761, escrevia a Bernardo Tanucci as suas suposições:

“Se o Sr. Conde de Oeiras tiver vida longa, como é desejável, se verá, certamente, no espaço de alguns anos, esta nação à altura da felicidade e esta coroa em plena glória. Não obstante todas as tragédias passadas, não tem o seu zelo negligenciado muitas instituições, é na verdade admirável em favor das reais finanças, das ciências, do comércio, da cultura dos campos e da educação da juventude: mas estas instituições para atingir o seu fim necessitam da assistência e da proteção da eficácia e do valor do seu instituidor.”588

Durante a sua permanência em Lisboa, Pignatelli não descuidou de retratar a Tanucci a sua visão, ou a visão de outros, sobre Pombal e as suas atuações políticas. Se, por um lado, o diplomata napolitano considerava necessária a vontade reformista do poderoso ministro português, por outro, admitia um certo ambiente de “terror” que ajudava Carvalho e Melo a manter-se no poder, sem que os seus opositores lhe fizessem frente.

“Este governo é suportado por dois princípios: um de amor pela casa real, outro de um

586 ASN, Esteri, Busta 920, de Michele Pignatelli para Bernardo Tanucci, de 13-04-1762. 587 ASN, Esteri, Busta 936, de Bernardo Tanucci para Niccola Piansante, de 20-05-1775. 588 ASN, Esteri, Busta 920, de Michele Pignatelli para Bernardo Tanucci, de 29-12-1761.

extremo temor ao Ministro”, explicava Pignatelli, num ofício secreto e cifrado, para

Tanucci.589

O historiador Kenneth Maxwell cita palavras do próprio Pombal, que, numa carta para Luís Pinto de Sousa Coutinho, lhe dizia: “Quando a razão o permite e é preciso desterrar abusos e destruir costumes perniciosos…aja com muita prudência e moderação; que o medo vença mais que o poder…”590 Serve esta passagem para

demonstrar que o conceito de temor apontado por Pignatelli era um recurso político, do qual o ministro fazia uso consoante os seus interesses.

Não se quer com isto afirmar um desagrado do diplomata napolitano a respeito de Carvalho e Melo. Pignatelli era, aparentemente, algo eclético na sua opinião sobre Pombal. É certo que usava palavras como: “É uma miséria incrível, mas a maior, é

aquela que nasce, da opressão e violência que a cada instante se vê”591; porém,

também usava outras de exaltação do estadista português, descrevendo-o como “digno e

dotadíssimo Ministro. “592

Através das notícias que lhe chegavam de Lisboa, Tanucci pôde conceber, em carta para Pignatelli, a 2 de Fevereiro de 1762, a sua própria visão da vasta obra reformista pombalina, para a fazenda real, para a promoção das ciências, para a cultura dos campos e para outras sábias disposições “do Sr. Conde de Oeiras, que é sim zelante, sim ativo,

sim esperto e sim penetrante. Desejo tranquilidade, e felicidade, e gloria ao soberano e ao Ministro.”593

Anos mais tarde, em 1767, o poder e influência de Pombal sobre o reino apresentava-se aos olhos do ministro plenipotenciário napolitano, Vespasiano Macedonio, como sendo um domínio inigualável, fomentado pela confiança sem limites do rei e pela lealdade e submissão das restantes personagens políticas às suas vontades.

Este diplomata deixa bem claro, num dos seus ofícios para Tanucci, quais os cargos públicos de Pombal, mas também a sua influência integral em pastas pertencentes,

589 ASN, Esteri, Busta 921, de Michele Pignatelli para Bernardo Tanucci, de 19-04-1763. 590 MAXWELL, Kenneth, O Marquês de Pombal, Lisboa, Editorial Presença, 2001, p.111. 591 ASN, Esteri, Busta 921, de Michele Pignatelli para Bernardo Tanucci, de 25-10-1763. 592 ASN, Esteri, Busta 920, de Michele Pignatelli para Bernardo Tanucci, de 27-10-1761.

593 TANUCCI, Bernardo, Epistolario, 1761-1762, a cura di M.G.Maiorini, Roma, Istituto Poligrafico e Zecca Dello Stato, 1988 p.509.

oficialmente, a outros secretários de estado. “Sobre o Sr. Conde de Oeiras que tem a

inspeção das finanças e da graça e justiça, são outros dois Ministros destinados por este soberano ao governo do reino, e de todas as conquistas ultramarinas. Um é o Sr. D. Luís da Cunha o qual suporta a direção dos negócios estrangeiros e da secretaria de guerra, o outro é o Sr. D. Francisco Xavier de Mendonça, irmão do mesmo Conde, que tem a intendência geral da Marinha. Estes, porém, agem com sujeição e dependência tal da vontade do primeiro, que estão bem longe de poder executar livremente as funções do seu emprego…Este a quem a superioridade e talento fez merecer a consideração e a inteira confiança do seu patrono e ganhou a subordinação dos seus colegas, chamou a si o universal manejo de todos os assuntos. O político, o militar, o civil e o económico, tudo depende absolutamente dele e assim a resolução do senado desta cidade e a procedência da Inquisição não fogem ao seu exato conhecimento, obteve do rei, que se nomeasse Presidente do primeiro e Vice Inquisidor no Tribunal da segunda, outro dos seus irmãos D. Paulo de Carvalho.”594

Um dos métodos usados por Pombal para conseguir controlar e dispor à sua vontade em todas as áreas do aparelho de estado português foi, como já se viu, a promoção de pessoas da sua confiança para os mais altos cargos públicos do reino. A ascensão dos seus irmãos, Francisco Xavier de Mendonça Furtado e Paulo de Carvalho e Mendonça é um exemplo manifesto; o primeiro nomeado para a secretaria do Ultramar e o segundo para o Santo Oficio, onde agia como Inquisidor - Geral, embora oficialmente não o fosse.595

Era inegável, e parecia claro a todos, o poderio exercido por Carvalho e Melo, apesar de, aos olhos de Vespasiano Macedonio, a concentração da autoridade numa só pessoa impossibilitar o regular tratamento de muitas questões de governo. “Entre estes três

irmãos por conseguinte está distribuído o inteiro governo de Portugal de cá e de além- mar, e da sua direção depende também o interior económico da casa real. Grande é a mente do Conde e em cada uma das suas providências demonstra possuir ele profundamente a ciência do bom governo. Mas como? Uma vez que não pode ser tudo em tudo e por outro lado, não quer deixar para os outros a execução das coisas, o mais

594 ASN, Esteri, Busta 922, de Vespasiano Macedonio para Bernardo Tanucci, de 19-09-1767.

595 MONTEIRO, Nuno Gonçalo, D. José na Sombra de Pombal, Rio de Mouro, Circulo de Leitores, 2008, p.184 e 258.

comum e trivial sucede, que a maior parte dos assuntos permanecem imperfeitos e quase em desordem, e Deus quis, que o próprio interesse não prevalecesse a maior parte do tempo ao útil e à vantagem comum deste povo, e não demonstrasse que toda a beleza do seu pensamento e obra termina só na aparência do bem, sem aquele efeito que o público esperava. Sábias são as suas providências, e merecem atenção, mas uma vez que os objetivos e a razão que o promovem não são notórias senão a ele mesmo, não é possível formar outro sistema que as máximas por ele adotadas na sua administração, fora aquela de conservar-se a absoluta autoridade de dispor e regular tudo como melhor lhe agrada.”596

Seria também interessante trazer aqui um conjunto de opiniões articuladas pelos ministros plenipotenciários portugueses, que residiram em Nápoles, em relação às políticas de Tanucci e à sua forma de governo. Mas, por comparação com os escritos da diplomacia napolitana acreditada em Lisboa, esta prática de expressão de juízos de valor político perde vida nos ofícios da diplomacia lusitana.

A parca manifestação da opinião pessoal dos diplomatas que representaram Portugal em Nápoles entre 1753 e 1777 pode, contudo, derivar de razões como o desinteresse ou falta de curiosidade por parte do governo de Lisboa (diga-se Pombal) em relação a Tanucci, ou o fato de prevalecer a ideia de que Tanucci não passava de uma “marionete” manuseada consoante as deliberações de Carlos III de Espanha, ou, ainda, porque as ocorrências políticas em Nápoles não causavam, em comparação com o caso português, o mesmo nível de interesse além-fronteiras.

Do pouco que se conseguiu apurar nos ofícios da diplomacia portuguesa em Nápoles, a figura de Carlos de Bourbon acaba por ser mais destacada, sendo ele a verdadeira fonte de poder decisório no reino de Nápoles, mesmo após a sua partida para Espanha, em 1759. Sobre este monarca, o ministro plenipotenciário José da Silva Pessanha escreveu: “Deus o dotou de um grande talento e de um juízo claro, e de uma reta justiça, para

distinguir o falso do verdadeiro e para não apoiar senão o que é justo.”597

No contexto da queda política de Tanucci, em 1776, não passava despercebido aos diplomatas portugueses, nem a ninguém, que praticamente toda a ação política de

596 ASN, Esteri, Busta 922, de Vespasiano Macedonio para Bernado Tanucci, de 19-09-1767.

Tanucci passava pelo aval do rei Católico, o que acabou por ser um dos motivos da sua despromoção, por desagrado do monarca Fernando IV, que via entravadas algumas das suas vontades pela influência do rei de Espanha, seu pai. Segundo o que escreveu em ofício o diplomata José de Sá Pereira, “principiava também o mesmo Ministro

(Tanucci) a fazer-se pesado ao próprio soberano, tanto pela oposição que nele encontrava em algumas coisas do seu génio e próprias da sua idade como porque estava persuadido de que as relações particulares, que Tanucci dirigia todas as semanas a El Rei Católico lhe atraiam de tempo em tempo algumas admoestações da parte do mesmo seu augusto pai.”598

Os diplomatas portugueses expuseram muito pouco a sua opinião pessoal acerca de Tanucci e dos seus métodos de governo. Contudo, deve relembrar-se que transmitiam nos seus ofícios as medidas governativas mais relevantes e, em certos casos, anexavam à sua correspondência para Lisboa algumas leis ou alvarás régios publicados no reino de Nápoles, o que significa que as práticas políticas de Tanucci acabavam por ser conhecidas em Portugal, também através dos ministros acreditados em Nápoles, e não apenas por intermédio da diplomacia napolitana residente na corte portuguesa.

Em maio de 1769, o diplomata Vespasiano Macedonio informa Bernardo Tanucci da boa impressão que causaram em Lisboa algumas ordens redigidas por Tanucci contra as Regras de Chancelaria Romana, uma medida tão bem aceite por Carvalho e Melo, que acabou por ser traduzida, impressa e divulgada em Portugal. “Chegou às mãos deste Sr.

Conde de Oeiras a ordem de V. Excelência passada a 7 de Março próximo passado à Camara Real de Sta. Clara e à Junta dos Abusos, tocante às Regras de Chancelaria Romana, o considerou sábio e apropriado que o fez traduzir em língua portuguesa, palavra por palavra… o remeteu ao Supremo Tribunal do Palácio com ordem de obedecer inteiramente a quanto está nesse sabiamente disposto de S. M. Siciliana, e mandou ao mesmo tempo cópias com cartas circulares a todos os Bispos do reino.”599

Vamos aqui deixar transcrito o documento elaborado por Tanucci, que consta da tradução portuguesa divulgada em maio de 1769:

598 ANTT, MNE, Caixa 780, de José de Sá Pereira para Aires de Sá e Melo, de 5-11-1776. 599 ASN, Esteri, Busta 922, de Vespasiano Macedonio para Tanucci, de 16-05-1769.

“Cópia do Decreto que o Rei das Duas Sicílias fez expedir à Camara Real de Santa Clara/ em Portugal Mesa do Supremo Tribunal do Palácio (Desembargo do Paço), no dia 7 de março de 1769 do seu Primeiro-ministro D. Bernardo Tanucci. Comanda o Rei que a Camara de Santa Clara sem ordem de Sua Majestade não faça menção nem uso das Regras da Chancelaria Romana, as quais sendo regras vitalícias de cada Papa, e expirando com ele; quer El Rei que se o novo Pontífice as vier a suscitar, se examinem, e precedendo a vista do procurador da coroa, se lhe consulte o que parecer à mesma Camara: parecendo que a maior parte das ditas regras sejam contrárias ao nativo direito dado espírito santo aos Bispos e ao bem comum dos Estados católicos.”600

Conclusão

Tal como já se havia verificado no capítulo antecedente, também pelo presente capítulo se pode concluir que as relações entre Portugal e Nápoles não eram consideradas, por nenhum dos dois países, como tendo uma importância prioritária para a sua política externa. No entanto, o contacto entre as duas cortes era mantido e revelava-se dinâmico, mesmo antes da acreditação de diplomatas ser oficializada em 1753. Aliás, neste capítulo fica demonstrado que antes de Nápoles enviar para Lisboa o seu primeiro ministro plenipotenciário já existia uma ligação e troca de informações entre os dois estados através do embaixador de Espanha em Portugal. Embora não o fizesse oficialmente, o diplomata espanhol desempenhava as funções de um representante napolitano, ao corresponder-se frequentemente com o secretário de estado dos Negócios Estrangeiros do Reino de Nápoles.

A iniciativa de estabelecer uma diplomacia oficial entre Portugal e Nápoles coube à corte portuguesa, (como se confirma nas instruções passadas a Carlos de Guevara, primeiro representante diplomático de Nápoles em Lisboa)601que entendia ser importante estreitar as relações bilaterais, invocando para o efeito os vínculos familiares entre as duas casas reais, dado a rainha consorte de Portugal, Mariana Vitória, ser irmã do rei Carlos de Bourbon de Nápoles, futuro Carlos III de Espanha.

600 ASN, Esteri, Busta 922, Real Despacho 7-03-1769. 601 ASN, Esteri, Busta 918, carta de instruções, 21-10-1752.

Constata-se igualmente que as instruções passadas a qualquer dos ministros plenipotenciários napolitanos radicados em Lisboa entre 1753 e 1777 eram claras no que respeitava à proximidade que deveriam manter com os embaixadores espanhóis e ao alinhamento que deveriam manter relativamente aos interesses e política do governo dos reis católicos.

No período em estudo, todos os diplomatas enviados da corte de Nápoles para Lisboa e da corte portuguesa para Nápoles detiveram o mesmo carácter de ministro plenipotenciário, o que demonstra que, durante mais de duas décadas, a importância das relações diplomáticas entre os dois reinos no contexto da política externa oficial, apesar de não ser prioritária, se manteve intacta e não regrediu.

Apesar de todos os diplomatas acreditados pela corte napolitana em Portugal terem sido nomeados com o mesmo carácter, registam-se algumas diferenças de preparação e experiência na carreira diplomática, verificando-se que em certos casos a enviatura para Lisboa era a sua primeira missão diplomática. Obviamente, as escolhas recaíam em sujeitos com um certo estatuto social adquirido ao longo da sua atividade profissional ou pertencentes a famílias nobres ou influentes.

Para alguns destes diplomatas napolitanos a estada em Lisboa foi um ponto de partida ou de evolução da carreira. Verifica-se, aliás, que alguns dos ministros napolitanos colocados na corte portuguesa seguiam após concluírem a sua missão para a corte de Londres – Inglaterra era a grande aliada de Portugal no espectro das monarquias europeias de então – ou para outros estados italianos. Dos diplomatas napolitanos abordados neste estudo apenas um foi exceção, ao não seguir o percurso referido: o Príncipe de Raffadali, que tinha sido embaixador em Copenhaga antes de ser acreditado em Lisboa, seria nomeado embaixador em Madrid após a sua missão em Portugal. Embora detivessem o mesmo carácter junto do rei português, os ministros plenipotenciários enviados pela corte de Nápoles para Lisboa assumiram diferentes condutas no desempenho das suas funções. A quantidade e a importância dos assuntos abordados nos seus ofícios revelam que uns demonstravam maior interação e interesse que outros na divulgação de notícias relevantes sobre a política (interna e externa) portuguesa.

Tornou-se também evidente que Michele Pignatelli foi o ministro plenipotenciário que mais interagiu de acordo com as instruções que lhe foram transmitidas pela sua corte, enquanto o Príncipe de Cimitile foi aquele que se mostrou menos produtivo.

Este capítulo revela igualmente questões de natureza privada sobre os diplomatas napolitanos, como a ligação (ou afiliação) de alguns à maçonaria, que, apesar de proibida no reino de Nápoles, se foi expandindo com a passagem dos anos. Como parece indicar o facto de figuras influentes desobedecerem às ordens reais para se juntarem às lojas maçónicas.

Com efeito, dois dos diplomatas de Nápoles enviados para Lisboa estiveram ligados aos ritos maçónicos. No caso do Príncipe de Raffadali as certezas são absolutas: este diplomata já era maçon antes da sua instalação em Portugal. Ainda que nos seus ofícios não conste qualquer indício sobre a sua ligação à maçonaria, sabe-se que pertenceu a diversas lojas ao longo da sua vida e que foi ascendendo como pedreiro livre. Pignatelli, por seu turno, poderá ter iniciado a sua participação em ritos maçónicos em Lisboa, no período da Guerra Fantástica, no entanto, não é possível aferir se continuou ligado a estes ritos após deixar Portugal.

Importa também referir a existência do consulado de Nápoles em Lisboa, nunca antes mencionada pela historiografia, que justificou a necessidade de conhecer a instituição deste consulado e o seu funcionamento, de forma a enquadrá-lo como mais um posto de ligação e relação entre os reinos de Portugal e Nápoles. Neste capítulo é igualmente provada a existência do consulado napolitano na capital portuguesa antes de diplomatas de Nápoles se acreditarem em Portugal.

Outro ponto relevante consiste na diferença do estilo de representação entre o cônsul e os ministros plenipotenciários. Verifica-se que os diplomatas seguiam um protocolo mais rigoroso, pautando-se o deu desempenho pelo cumprimento das normas inscritas nas suas instruções. Não manifestando os cônsules o mesmo interesse dos diplomatas

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