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3.2 RESULTADOS DE APLICAÇÃO DA ABA

3.2.2 TEACCH e Son-Rise: um comparativo com a ABA

O método TEACCH (Treatment and Education of Autistic and related Communication handicapped Children) em português (Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com Déficits relacionados com a Comunicação) foi criado nos Estados Unidos, na Universidade da Carolina do Norte, por Eric Schopler, no ano de 1966, devido à observação de comportamentos disruptivos em indivíduos com TEA, objetivando minimizá-los.

Baseia-se na organização de um ambiente estruturado em um modelo visual autoexplicativo, este ambiente é separado em setores que são destinados para atividades diversas, como: descanso (colchões e almofadas), tarefa (mesinha, cadeira, lápis de cor), rotina diária (painel com imagens) dentre outros. Podemos observar nos exemplos que os elementos que compõe cada setor já apontam, como uma espécie de dica, para qual atividade será realizada. Devido ao seu caráter visual, torna-se imprescindível que essas características não se tornem distratores, de forma que desviem a atenção do indivíduo.

As estratégias detrabalho do método devem ser precedidas de uma avaliação criteriosae um plano terapêutico individual com constantes reavaliações, nas quais se buscam fundamentalmente favorecer as condutas que estão emergindo, ou seja, condutas que ainda não estão completamente adquiridas, mas já apresentam uma proximidade topológica com a açãoesperada. Busca- se explorar as áreas de maior habilidade, os pontosde interesse do indivíduo e os hábitos de atividades, com objetivo dese observar se existe uma rotina estabelecida pela criança e qual o seu nível de organização, atenção, motivação e independência (ROLIN, et al, 2016, p. 27).

Pode-se observar que essa avaliação visa compreender as habilidades que o indivíduo já possui, em detrimento das que são necessárias adquirir.

O TEACCH utiliza o mesmo Sistema de Comunicação por Troca de Imagens (PECS), já citado como meio de comunicação alternativa para amenizar o comprometimento na

linguagem verbal e até mesmo desenvolvê-la. A imagem a seguir ilustrará cartinhas contendo atividades, lugares, comidas e uma rotina representada pelos dias da semana que permitirá apresentar as atividades que deverão ser realizadas em cada dia, sendo este um modelo visual de comunicação. Por exemplo, o indivíduo solicitará seu pedido quando entrega a carta, dirá que quer suco quando retira a carta com a imagem do suco e entrega ao pai que, para estabelecer a comunicação, imediatamente entrega o suco, esse processo pode aumentar seu grau de dificuldade quando o indivíduo passa a discriminar imagens e formular frases.

figura 1: Sistema de Comunicação por Troca de Imagens

Fonte: Lagarta vira pupa

Já o Programa Son-Rise ou SRP criado por pais de criança com TEA, também desenvolvido nos Estados Unidos, muito embora na década de 1970, geralmente é aplicado pelos pais da criança que são orientados e capacitados por profissionais habilitados, assim como, por “facilitadores” que podem compor a equipe juntamente com os pais.

O programa é realizado na casa da criança em um espaço organizado especificamente para a execução do atendimento, chamado de “quarto do brincar”, sendo que este é estruturado de forma a evitar distrações para que haja o máximo de interações possíveis entre os aplicadores e a criança (SCHMIDT et al, 2015, p. 416).

Para que o Son-Rise seja aplicado, é necessário que o indivíduo seja observado e avaliado em suas habilidades, tanto as que já possui quanto as que podem ser adquiridas, a partir disso, monta-se um currículo com programas e metas e assim, o programa poderá ser iniciado.

Nesse programa é a criança quem direciona o adulto a fazer algo, ou seja, a iniciativa é tomada por ela, o procedimento utilizado é a interação por meio da imitação por parte do adulto para com a criança em seus movimentos, ecolalias e inclusive nas estereotipias de forma que se torna possível se aproximar da criança, reconhecendo quem ela é e como se comporta, afastando qualquer tipo concepção acerca desta (SCHMIDT et al, 2015, p. 416). Quando a criança a partir de seus movimentos começar a interagir e se aproximar do facilitador por meio de um olhar ou toque, então chega o momento deste redirecionar a atividade para algo social e tão estimulante quanto o que realizava.

A ABA e o TEACCH são modelos de intervenção com princípios comportamentalistas que podem inclusive serem aplicados paralelamente um ao outro pois possuem semelhanças entre si e são direcionados pelo aplicador. Já o Son-Rise possui princípios desenvolvimentistas e é a criança quem dá início para que os procedimentos sejam aplicados. No entanto, esses três modelos de intervenção apresentam como finalidade, a apropriação e desenvolvimento de novos aprendizados e habilidades que vão desde o autocuidado a habilidades acadêmicas, além de concordarem na utilização do procedimento de premiação como um princípio da aplicação. O programa Son-Rise afirma que os interesses restritos da criança acometida pelo transtorno são os “portais” que transportam o adulto para o mundo dela de forma que se torna possível se conectarem. Já a ABA busca oferecer funcionalidades para estes, de modo que o indivíduo não realize o movimento pelo movimento.

O que embasa os modelos comportamentalistas são sua base de evidências científicas com pesquisas e estudos aprofundados que trazem dados que comprovam sua eficácia, mas ainda há aqueles que não são adeptos desses métodos por considerarem que são formas de adestramento. Entretanto, ressalto a importância de intervenções no comportamento dos indivíduos com TEA, em específico, devido ao comprometimento que os comportamentos desregulados e estereotipados trazem para sua socialização e aprendizagem.

O programa Son-Rise não apresenta relevantes literaturas e as pesquisas sobre o método são escassas, mas possui um leque de relatos informais de pessoas que utilizaram e apontam ganhos significativos, muito embora, tais relatos não possam ser considerados como fonte de pesquisa. Este método é apresentado como uma espécie de “cura” ou “milagre” para indivíduos com TEA, dando ênfase aos progressos como sendo apenas resultados de sua aplicação, deixando a parte o desenvolvimento natural da criança e outros fatores relevantes.

Os métodos apresentados são, consideravelmente recentes, porém apresentam resultados positivos em suas aplicações. O Son-Rise requer uma maior disposição de literatura

com evidências confiáveis na aplicação para com o indivíduo com Transtorno do Espectro do Autismo. Contudo, indiscutivelmente afirmamos que as intervenções aqui apresentadas não são “milagrosas”, possuindo então, suas fragilidades e limitações.

Portanto, quanto mais os métodos forem estudados e aprimorados, mais trarão novas oportunidades e possibilidades de aprendizado e desenvolvimento pleno da pessoa com o transtorno considerando sua posição diante do espectro.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Transtorno do Espectro do Autismo ainda não possui causa definida, mas muitas são as pesquisas que visam alcançar esse objetivo de forma a compreender o transtorno de maneira mais precisa e tornar esse conhecimento acessível. Sabe-se que a pessoa com TEA além de apresentar estereotipias e comprometimento na comunicação e interação social, pode apresentar algumas comorbidades como: deficiência intelectual, epilepsia, hiperatividade e ansiedade, encontrando-se desamparada até que políticas públicas e leis fossem criadas para assegurá-la.

Os indivíduos com TEA carecem de uma metodologia capaz de amenizar os impactos que o transtorno impõe sobre o comportamento e os prejuízos na aprendizagem. Assim, apresentamos a ABA, um procedimento de ensino recomendado no país a cerca de 40 anos que propõe precocidade e intensidade nas horas dedicadas a terapia para o ensino-aprendizagem desses.

No decorrer do trabalho foi possível analisar os objetivos, de forma a empenhar-se no desenvolvimento até que estes fossem atingidos. O trabalho teve o propósito de verificar as leis que dão suporte ao indivíduo com TEA, além de analisar as que asseguram o indivíduo com TEA, assim como, apresentar a ABA e seus princípios metodológicos como agentes no processo de desenvolvimento da pessoa com TEA e outras metodologias direcionadas a este público.

Sendo assim, foi possível apresentar as adversidades enfrentadas e as décadas que se passaram para que os direitos dos indivíduos com o Transtorno do Espectro do Autismo fossem garantidos por lei, assim como, debruçou-se sobre as bases que fundamentam a metodologia comportamental da ABA, que visa modificar o comportamento, tornando-o funcional e a partir de suas metas e programas, aprimorar e desenvolver habilidades de comunicação, imitação motora fina e ampla, acadêmicas, atenção, linguagem receptiva, autocuidado, dentre outras. Tal

metodologia utiliza a premiação como fundamento e, dessa forma, tornou-se possível notar que esse princípio é tão habitual quanto vemos em nosso cotidiano, pelo qual, um comportamento é fortalecido na medida em que obtêm consequências positivas, da mesma forma que, este é enfraquecido quando obtêm resultados negativos.

Devido aos dados com legitimidade científica, a ABA torna-se uma abordagem validada para o ensino de pessoas com TEA pela intensidade de horas que devem ser dedicadas para que o aprendizado seja consolidado e pelo direcionamento precoce tendo em vista que os indivíduos com TEA também carecem de diagnóstico e tratamento para que as possibilidades de avanços venham ser aumentadas diante do transtorno, bem como, de uma metodologia diferenciada, pois na maioria do casos, os métodos tradicionais de ensino não são capazes de conduzi-los ao aprendizado levando em consideração as áreas que o Autismo afeta.

Para que essa abordagem seja aplicada com a pessoa com TEA, é necessário que o profissional seja capacitado e habilitado para tal, com isso, realiza-se uma avaliação com o indivíduo visando realizar o levantamento das habilidades que este já possui e as que necessitarão ser apreendidas. Com isso, monta-se um currículo essencialmente individual (partindo do princípio de que as pessoas possuem graus de desenvolvimento diferenciado) com metas para serem alcançadas e, na medida em que estas são atingidas, outras vão sendo acrescidas com um grau de dificuldade mais elevado.

No desenvolvimento do trabalho deparamos com dificuldades como a de encontrar bibliografias em fontes confiáveis que abordassem a temática proposta, entretanto, a apropriação do conhecimento tenha se sobressaído de forma a proporcionar o aprendizado sobre o processo para se chegar à elaboração das políticas e leis, assim como, inteirar-se sobre outras metodologias destinadas a pessoa com o Transtorno de Espetro do Autismo e a relevância dessas na área.

Foi possível perceber as dificuldades para aplicar essa abordagem na sala de aula regular, como a falta de conhecimento dos profissionais sobre a mesma, de forma que esta pode não ter aceitação no meio escolar, salas com demandas excessivas de alunos ocasionando descontrole e ruídos que podem incomodar a pessoa com TEA, além de possibilitar o desvio de atenção dos demais alunos.

Devido a esses entraves, seria importante o desenvolvimento de literaturas na área que vislumbrassem estratégias de superação ou amenização das situações descritas, além da temática ser conhecida superficialmente e precisar de aprofundamento para ser compreendida.

Consideramos que essa pesquisa contribuirá para a expansão do conhecimento de modo que proporcionará o desenvolvimento de novas pesquisas e produções científicas que abordarão esse conteúdo e suas variáveis, assim como, possibilitará que pais, professores e a sociedade como um todo ampliem o pensamento a respeito do indivíduo com TEA, conheçam sua trajetória e compreendam os progressos que a ABA proporciona como uma abordagem de ensino para este.

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