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Ao tecer as considerações finais deste estudo, enfatizo que investigar o fenômeno da interação do binômio mãe-pai com o filho, que se encontra no período de indefinição do diagnóstico para o HIV, ampliou o conhecimento e a compreensão deste período, e apontou implicações que podem alimentar áreas que envolvem a prática e o ensino de Enfermagem.

Neste aspecto, as mães e pais do grupo estudado assinalaram o preconceito e o estigma como principais fontes estressoras, acarretando sofrimento e sentimento de culpa, porém encontram refúgio e auxílio na espiritualidade e na fé religiosa, na dedicação ao filho e no apoio no interior do núcleo familiar. As estratégias de enfrentamento sustentam a situação e são incorporadas no cotidiano desses pais e mães para superação ou minimização dos conflitos.

O Projeto Transmissão Vertical Zero mostrou-se adequado à atenção oferecida ao núcleo familiar da mulher soropositiva ao HIV que gestou uma criança exposta ao vírus da aids. Nos primeiros quatro a seis meses de vida do lactente, a dupla mãe-pai não apontou lacunas no atendimento recebido neste serviço, por outro lado, aspectos sociais de seu cotidiano levaram a situações para as quais houve necessidade de enfrentamento.

Por outro lado, as informações geradas pelo estudo revelam possibilidades para melhorar a assistência aos portadores e suas famílias, desde que os profissionais da área da saúde estejam preparados e dispostos para explorar as situações da assistência que prestam às pessoas, buscando melhor compreender o

significado das experiências relativas ao processo saúde-doença.

Os significados construídos demonstraram que é necessário, de modo geral, tornar mais abrangente o foco de atuação dos profissionais da área da saúde, principalmente da enfermagem, objetivando ampliar a visão do corpo biológico do indivíduo e incluir a compreensão dos referenciais adotados pelas pessoas envolvidas no processo, uma vez que se convivem no campo das relações humanas e afetivas. Devem ser considerados e incorporados em sua agenda, para a assistência e cuidados à saúde das mulheres, principalmente no período pós-parto, quando se encontram mais sensíveis e necessitam de apoio, privilegiando além do aspecto biológico, o envolvimento emocional e o contexto sociocultural.

As implicações para a Enfermagem são significativas e de grande extensão. As enfermeiras podem imprimir em suas atividades a perspectiva cultural, permitindo prestar um cuidado culturalmente embasado, com possibilidade de intervenções mais adequadas à clientela, serve igualmente como mecanismo para aumentar a consciência dos gestores e profissionais da saúde para o aperfeiçoamento das estratégias educativas, de aconselhamento e cuidados aos portadores do HIV/Aids.

Para tanto, há que se trabalhar nos dois pólos de formação profissional concomitantemente, na graduação dos profissionais da área da saúde, e na educação permanente, com conteúdos e abordagens que extrapolem os contemplados no atual modelo biomédico de formação e assistência. Na interação profissional-cliente, alguns ingredientes são necessários para que tal interação se estabeleça, sendo uma delas o processo de comunicação, especificamente a habilidade de escuta e de atitudes atenciosas, que têm potencial para influir substancialmente, na relação entre clientes e profissionais, propiciando intervenções eficazes, que poderiam melhorar a qualidade da assistência, uma vez que há o ponto de vista das pessoas.

Nesse contexto, é fundamental a participação de todos os profissionais da área da saúde na promoção de fatores de proteção e de resiliência, considerando o papel de extrema importância desses profissionais para os portadores da infecção pelo HIV. Tratar os temas que envolvam o Enfrentamento, a espiritualidade, a religiosidade nos currículos de Enfermagem e demais áreas da saúde é uma situação que clama para uma implantação e implementação, com a finalidade de resgatar a dimensão espiritual que é uma das formas apontadas pelos colaboradores desta

pesquisa que confirmam a dimensão espiritual e a fé religiosa para minimizar o sofrimento.

Essa atuação corrobora as ações institucionais estabelecidas para a área, tanto as implantadas pelos gestores, como as da rede de apoio, representados pelas ONGs, que trabalham voltadas para a HIV/Aids. Dessa forma, a manutenção dessas ações para a redução da transmissão vertical do HIV no Brasil são importantes, avalizadas na assistência ao pré-natal, parto e nascimento, e no período pós-parto. Apesar dos objetivos valorosos dessas estratégias governamentais, o seu alcance ainda é restrito, suscitando o conselho/observações para que a testagem rápida seja oferecida universalmente às parturientes na maternidade na ocasião do parto, resguardando sempre seu caráter voluntário e confidencial; medida que acredito ampliar as chances de prevenção da transmissão vertical do HIV.

Não descuida das ações de prevenção, as quais deverão ter ênfase, tanto nos aspectos específicos da prevenção ao HIV, incluindo a vulnerabilidade das mulheres, as repercussões sobre a gravidez, e também em suas famílias, como de operar com recursos que encorajem a discussão dos temas do preconceito, agir como pontes entre os portadores e os profissionais/cuidadores de saúde por meio da estimulação ao diálogo aberto e implementando programas de esclarecimento que possam atenuar os prejuízos advindos do preconceito e estigmatização.

Ao trabalhar nesta linha há chances de demolir os temas relacionados à aids, tais como: estigma, discriminação, saúde reprodutiva prejudicada. Estes devem fazer parte do esforço de promoção de saúde, na construção de ambientes encorajadores para eliminar o sofrimento desnecessário causado por ser portador do HIV, e ao procurar envolver toda a sociedade nessas atividades para desenvolver um padrão de convivência com os portadores. As estratégias de enfrentamento podem ser sugeridas e estimuladas em um contexto sociocultural. Há uma lacuna na utilização do conceito de enfrentamento/resiliência na área da Enfermagem, contribuindo para um redimensionamento do cotidiano profissional.

Em adição, esta visão resgata uma concepção do ser humano como alguém que busca a sua felicidade, bem-estar e saúde, tendo potencial para desenvolver estratégias para conseguir esse objetivo. A situação de infecção pelo HIV/Aids pode ser de extrema adversidade, mas pode ser (re)significada e até vivida como fonte potencial para a mudança e para novas oportunidades diante da vida.

Os achados deste estudo também evidenciam a necessidade de as intervenções para a prevenção da transmissão do HIV serem culturalmente embasadas, considerando as crenças, as informações e as necessidades do grupo-alvo e, dessa maneira, despertá-lo para reflexões e para provocar alterações de comportamento diante da epidemia da Aids.

Ao finalizar este estudo, reforço a importância de uma ação contínua para a construção do conhecimento da Enfermagem sobre a aids e a participação do enfermeiro atuando, em equipe multidisciplinar, em programas de intervenção que propiciem a redução do número de infectados pelo HIV e prestando assistência adequada, levando em conta os aspectos socioculturais.