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2. OBESIDADE

2.5. TECIDO ADIPOSO

A identificação do tecido adiposo como órgão endócrino conferiu-lhe o status de tecido fundamental produtor de uma complexa rede de fatores capazes de influenciar inúmeros processos metabólicos e fisiológicos. Algumas adipocitocinas, como a leptina e a adiponectina, exercem efeitos benéficos sobre o balanço energético, a ação insulínica e a proteção vascular. Contrariamente, a produção excessiva de outras adipocitocinas pode tornar-se nociva ao organismo. TNF-a, IL-6 e resistina podem deteriorar a ação da insulina, enquanto PAI-I e angiotensinogénio envolvem-se em complicações vasculares associadas à obesidade.(Matafome & Seiça, 2017)

O tecido adiposo é um tipo de tecido conjuntivo que se caracteriza por possuir uma grande quantidade de gordura no interior das suas células, que recebem o

nome de células adiposas ou adipócitos, tipo de células que acumulam gotículas

de lípidos no seu citoplasma. Podemos classificar o tecido adiposo em dois tipos principais, o unilocular e o multilocular. No tecido adiposo unilocular, as células apresentam-se grandes e podemos observar uma única grande gota de gordura no interior de cada célula que acaba se deslocando do núcleo para uma região mais periférica.(Sidossis & Kajimura, 2015)

Os adipócitos seguem duas vias de diferenciação celular, uma via resulta da formação da gordura branca, a outra origina a gordura castanha.(Algire, Medrikova, & Herzig, 2013).Assim é importante considerar que existe uma grande diferenciação fisiológica e heterogeneidade de células adiposas dependendo da localização do tecido. O órgão adiposo é composto por dois tipos funcionalmente distintos – o tecido adiposo castanho (TAM) e o tecido adiposo branco (TAB).(M. Coelho, Oliveira, & Fernandes, 2013a)

27 De forma geral, o tecido adiposo (TA) é um órgão heterogéneo composto por uma fração adipocitária e uma fração estromal-vascular. Esta inclui pré- adipócitos, células endoteliais, fibroblastos, células estaminais, macrófagos e outras células do sistema imunológico.(Suganami, Tanaka, & Ogawa, 2012)

A principal função da gordura branca é armazenar energia, enquanto a função da gordura castanha serve para disseminar energia ao contrário de armazená- la. O tecido adiposo castanho sendo o primeiro mais abundante, e o segundo, que desempenha um importante papel na termogénese, apenas encontrado nos humanos durante a infância quando participa na manutenção do calor corporal(García, Pazos, Lima, & Diéguez, 2018; Sidossis & Kajimura, 2015)

O tecido adiposo tem uma função metabólica bem estabelecida com consequências clínicas muito significativas, o aumento da adiposidade visceral está associado a um alto risco de resistência à insulina, dislipidemia e doença cardiovascular.(Giralt & Villarroya, 2013; Villarroya, Cereijo, Gavaldà-Navarro, Villarroya, & Giralt, 2018)

Reconhecido hoje como um órgão endócrino, o TA é uma importante fonte de hormonas e citocinas denominadas adipocinas nomeadamente: TNF-α, IL-6, IL- 1β, inibidor do ativador de plasminogénio (PAI-1) leptina, adiponectina, resistina, entre outros (M. Coelho, Oliveira, & Fernandes, 2013b). A expansão do tecido adiposo é caracterizada pela hipertrofia do adipócito, seguido de infiltração de células imunológicas, superprodução de matriz extracelular e produção de adipocinas pró-inflamatórias. (Suganami & Ogawa, 2013)

O risco de desenvolvimento de complicações relacionadas é proporcional ao grau de obesidade, mais especificamente à acumulação de gordura visceral. Entretanto, a presença desses distúrbios metabólicos varia amplamente entre indivíduos obesos (Kelly & Jones, 2015a)

Diferentes estudos sobre obesos metabolicamente normais têm sido publicados, entretanto, não existe classificação uniforme para esse fenótipo, o que o que reflete em faixa ampla de incidência da população de obesos, de acordo com os

diferentes critérios de classificação, sendo necessário consenso de classificação até o momento não estabelecido(Pataky, Bobbioni-Harsch, & Golay, 2010).

Os macrófagos são uma parte importante da função secretora do tecido adiposo e são a principal fonte de citocinas inflamatórias, como a resistina, fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e a interleucina 6 (IL-6). (Moon, Choi, & Kim, 2016)

Os principais mecanismos moleculares e hormonais têm vindo a ser alvo de atenção em particular a sua relação com outros órgãos e sistemas, visando compreender a regulação entre o consumo e o gasto energético.(Grigoraş et al., 2018)

Alterações na quantidade de tecido adiposo, como ocorrem na obesidade, afetam a produção da maioria desses fatores produzidos pelos adipócitos. Ainda que essas alterações estejam frequentemente associadas às inúmeras disfunções metabólicas e ao aumento do risco de doenças cardiovasculares, permanece sob investigação o envolvimento do tecido adiposo no desenvolvimento de neoplasias. Muitos autores postulam haver uma considerada relação entre obesidade e CaP.(Pérez-Hernández, Catalán, Gómez- Ambrosi, Rodríguez, & Frühbeck, 2014a)

2.5.1. Tecido adiposo como órgão endócrino

Uma das mais importantes descobertas no âmbito da obesidade deu-se em 1994 com a descoberta da leptina. (Francisco, Pino, Campos-Cabaleiro, et al., 2018) Atualmente é-lhe atribuído um papel preponderante na regulação central do apetite, na inflamação crónica, regulação metabólica, entre outras funções endócrinas.(Rhee, Vela, & Chung, 2016)

Entre as segregações do TA contam-se os ácidos gordos, que são libertados durante períodos de balanço energético negativo (particularmente o jejum). Em adição, várias outras moléculas lipídicas bioativas são excretadas pelos adipócitos; entre elas incluem-se as prostaglandinas (derivadas de gorduras polinsaturadas) sintetizadas pelo próprio TA, bem como o colesterol e o retinol, que não são sintetizados no adipócito, porem são armazenados e libertados por esse tecido.(Calder, 2015)

29 O desenvolvimento de sofisticadas técnicas moleculares tem contribuído de forma considerável para a identificação dos produtos produzidos pelo TA. Atualmente existe forte evidência de que o TA segrega múltiplos peptídeos bioativos, que influenciam não apenas a função adipocitária (função autócrina e parácrina), mas também afetam várias vias metabólicas.(Grigoraş et al., 2018) Cada adipócito produz uma pequena quantidade de substâncias, porém, como o tecido adiposo pode ser considerado o maior órgão do corpo, o pool desses fatores produz um grande impacto nas funções bioquímicas.(Suganami & Ogawa, 2013)

Muitos destes fatores parácrinos são citocinas produzidas por adipócitos e macrófagos. A obesidade está associada com o aumento dos níveis circulantes de citocinas, e estes níveis são reduzidos com a perda de peso.(Francisco, Pino, Gonzalez-Gay, et al., 2018)

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