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1 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

1.3 TECNOLOGIA MÓVEL: O CELULAR

É sabido que os aparelhos de celular estão entre os itens mais consumidos no mundo e, no Brasil, não é diferente. Segundo dados divulgados pela Teleco (Inteligência em Telecomunicações4), o número de celulares no país em janeiro deste ano, 2020, foi de 226,7 milhões, acrescentando dados da Anatel indicando uma densidade de 107,25 celulares para cada 100 habitantes. Caracteriza-se basicamente por ser um telefone portátil, capaz de realizar ligações e enviar mensagens via SMS, além da conexão com a internet. Evoluíram, porém, para os modelos smartphones, com tecnologias mais avançadas, maiores no tamanho, telas com sensibilidade ao toque e sistemas operacionais complexos como Android, Windows Phone ou

iOS, assemelhando-se aos computadores. Esses modelos também possuem navegação livre na

rede tanto através de wifi quanto por conexões 3G e 4G, além do acesso a aplicativos que oferecem programas avançados, jogos, músicas, filmes e livros com alta definição.5

Lemos (2007, p. 25) discute o celular a partir de uma perspectiva de sociabilização

3 Vale destacar que essas reflexões se referem ao momento anterior à pandemia, pois certamente a necessidade de

isolamento social obrigará as redes de ensino a utilizarem outras tecnologias digitais. 4 Disponível em <https://www.teleco.com.br/ncel.asp>. Acesso em 20/03/20.

5 Disponível em <https://www.techtudo.com.br/artigos/noticia/2013/03/qual-e-diferenca-entre-smartphone-e- celular-entenda.html>. Acesso em 20/03/20.

urbana, do estabelecimento de contatos midiatizados e define o aparelho como “a ferramenta mais importante de convergência midiática hoje”, acrescentando que pode ser citado como:

instrumento para produzir, tocar, armazenar e circular música; como plataforma para jogos on-line no espaço urbano (os wireless street games); como dispositivo de “location based services”, para “anotar” eletronicamente a localização de um espaço ou para ver “realidades aumentadas”; para monitorar o meio ambiente; para mapeamento ou geolocalização por GPS; ou para escrever mensagens rápidas (SMS), tirar fotos, fazer vídeos, acessar a internet. (LEMOS, 2007, p. 25)

Por isso, o autor afirma que não se trata apenas de um telefone, mas sim de um dispositivo híbrido. Dispositivo por ser um artefato de comunicação e híbrido por agregar várias funções, desde telefone e câmera fotográfica até computador e GPS. Porém, além disso também é móvel, apresentando mobilidade de funcionamento por redes sem fio, o que configura sua capacidade de conexão. Por último, define-se também como multirredes, ou seja, capaz de empregar outras redes como “Bluetooth e infravermelho, para conexões de curto alcance (...) celular, para as diversas possibilidades de troca de informações; internet (Wi-Fi ou Wi-Max) e redes de satélites para uso como dispositivo GPS.” (LEMOS, 2007, p. 25). Dessa forma, Lemos (2007) define o aparelho celular como um Dispositivo Híbrido Móvel de Conexão Multirredes, denominando-o DHMCM e expandindo, assim, sua simples materialidade como telefone.

Fonseca (2013), inserida no viés educacional da tecnologia do celular, define-o como aparelho convergente, multimídia e portátil, representando uma alternativa para o processo de aprendizagem denominado “Mobile Learning- M-Learning” (Aprendizagem Móvel). Além de classificá-lo como popular e acessível, a autora comenta ainda outras justificativas para seu uso escolar, que seriam a familiaridade, por tratar-se de “uma tecnologia amigável e comum no cotidiano” (FONSECA, 2013, p. 164); “mobilidade; portabilidade; cognição, já que permite o acesso a vários recursos e em diferentes formatos e a conectividade, utilizando a internet para ampliar e diversificar os meios de informação e comunicação”.

De acordo com Santos (2016), poderíamos entender o M-Learning como forma de interação com o uso de dispositivos móveis, como smartphones, tablets, câmeras de vídeo ou computadores portáteis, por exemplo, configurando-se como um desenvolvimento do chamado

e-learning, ou seja, aprendizagem via meios eletrônicos. Sánchez (2016), ancorado em Laouris

e Eteokleous (2005), afirma ser o Mobile Learning uma nova possibilidade de ensino e aprendizagem. Segue com Oliveira (2015) explicando que o M-Learning é uma forma de ensino em que os dispositivos móveis são utilizados tanto em sala de aula como fora dela, com o

propósito de auxiliarem no processo de aprendizado.

Fonseca (idem), porém, alerta que seu potencial não reside na tecnologia que possui em si, mas na capacidade que o homem apresenta para interagir com ela. É preciso atentar para suas limitações como falta de bateria ou acesso à banda larga, no caso da Aprendizagem Móvel, por exemplo, para que o trabalho possa ser desenvolvido. No entanto, reconhece algumas vantagens que tornam o aparelho um dispositivo atrativo para o uso, como o design e as funcionalidades encontradas nos novos modelos, permitindo “a execução de toques que reproduzem sons com vocais e instrumentos musicais ao mesmo tempo, a qualidade (resolução) e tamanho dos displays (visor), tornando-os também coloridos e touchscreen (tela sensível ao toque).” (FONSECA, 2013, p. 167)

Santaella (2007), numa abordagem mais reflexiva acerca do celular, corrobora as ideias até aqui apresentadas. Para a autora, esses aparelhos

ligados à câmeras fotográficas e sensores meteorológicos, químicos, médicos, e de raio gama, tornaram-se pequenas criaturas sensíveis, quase vivas. (...) uns verdadeiros mimos, vão para onde vamos, pequenos objetos de estimação, nos bolsos, nas bolsas, colam-se ao nosso rosto, e por meio de protocolos simples de uma interface amigável, seus infinitos fios invisíveis nos põem em contato com pessoas de qualquer parte do mundo. (SANTAELLA, 2007, p. 232) Tal afirmação reforça as percepções atuais sobre a representação dos celulares em nossas vidas. Os mesmos têm sido percebidos como verdadeiras extensões de nossos corpos e habilidades, sendo levados juntos para onde vamos e presentes em grande parte de nossas atividades diárias. Passamos a utilizá-lo como forte meio de comunicação, visibilidade pessoal e profissional, atualização de informações, pesquisas, estudos, entretenimento e fonte de recursos para uso pessoal e no trabalho, todos em um único aparelho.

Santaella (idem) ainda discorre sobre algumas modificações percebidas nos comportamentos dos indivíduos inseridos nessa ampla utilização do celular, como a sensação de onipresença causada pela quebra de limite entre a presença e a ausência físicas das pessoas nos lugares; o apagamento entre o público e o privado, já que mesmo em multidões pessoas conseguem se manter conectadas a um único sujeito via celular; segregação e dispersão, abordando a ideia da divisão da atenção entre o ambiente físico circundante e aquilo que é ofertado via celular; a assincronicidade, ou seja, a pessoa escolhe e controla os momentos e os tipos de interação que deseja realizar nos espaços e tempos que possui (por exemplo, separa momentos dos dia para interações mais sérias, como ligadas ao trabalho e outros apenas para se distrair, em bate-papos) e, por fim, a questão da oralidade e escrita na hipermídia, em que os

indivíduos interagem com mensagens multimídias assim em qualquer lugar ou tempo, culminando na hibridização da linguagem como mais uma característica desse meio de comunicação.