• Nenhum resultado encontrado

2. O DISPOSITIVO TECNOLÓGICO NA TROCA DE CONHECIMENTO INTERGERACIONAL E

2.4 A tecnologia nos processos de troca de conhecimento entre avós e netos

Em especial quando do relacionamento intergeracional dificultado pelo distanciamento físico, diversos estudos e plataformas foram criadas para a facilitação do contato e da troca de conhecimento (Forghani & Neustaedter, 2014; Lee et al., 2015a; Nag et al., 2016; Rodriguez et al., 2015; Sawchuk & Crow, 2012). Inclusive, neste momento é comum que haja troca de conhecimento para o manuseio das ferramentas, como netos (ou outros membros da família) auxiliando os indivíduos mais velhos com a utilização dos dispositivos (Forghani & Neustaedter, 2014).

Em estudo especifico para relatar a troca de conhecimento entre avós e netos quando no manuseio de computadores. Aferiu-se um fluxo constante de conhecimento, onde avós e netos, combinam seus recursos para completar as tarefas a eles designadas. Observou-se, ainda, uma constância em que avós forneciam a seus netos informações e conhecimento em alfabetização e matemática e, em contraponto, os netos ajudavam no manuseio da ferramenta tecnológica. Além disso, um interessante fator foi observado em todas as famílias estudadas: os avós, para além da ajuda técnica educacional, auxiliavam seus netos a manterem o foco e concentração para completar a tarefa (Charmian Kenner et al., 2008).

Ainda em Kenner et al. (2008) durante a análise dos vídeos das interações pode-se notar o constante contato físico e o olhar dos avós e netos sempre a prestarem atenção e cuidado com o próximo. Além do papel de orientadores e apoiadores durante o processo de troca, os avós mostraram-se grandes incentivadores, recompensando seus netos a cada etapa realizada, fosse com gestos ou falas. A troca de conhecimento dava- se de maneira muito clara quando os netos se apoiavam, sempre, no conhecimento didático e histórico dos avós e, em caminho contrário, os netos davam suporte no uso das ferramentas especificamente.

TECNOLOGIA E RELACIONAMENTO INTERGERACIONAL: DISPOSITIVOS TECNOLÓGICOS NA TROCA DE CONHECIMENTO DE AVÓS E NETOS

21 Como o estudo realizado por Abdullah et al. (2011) que, através da introdução de um dispositivo tecnológico criado para este fim, pode constatar a presença de filhos e netos como transmissores de conhecimento, no auxílio de seniores. Ainda, no estudo de Colombo et al. (2014) em que, ao avaliar o consumo de TICs entre seniores, especialmente mulheres, pode-se verificar a participação de familiares mais novos no aprendizado da utilização das mesmas. Verificou-se, ainda, que a troca de conhecimento está diretamente relacionada à qualidade de vida dos avós.

Contudo, nem sempre a tecnologia é instrumento de aproximação, podendo ser o distanciamento intergeracional uma outra consequência possível à introdução das TIC. Nas sociedades modernas a utilização de novas tecnologias é feita como ferramenta de aproximação e distanciamento do outro, especialmente outra geração. E neste contexto os dispositivos tecnológicos são também figura de meio e motivo de troca de conhecimento, desempenhando papel de aproximação, mas, também de afastamento quando em relacionamento (Nag et al., 2016).

Com o passar dos anos, especialmente nos últimos 100, diferentes experiências moldaram a sociedade atual, guerras a migração do campo para as cidades, de modo que as gerações que cresceram e vivenciaram este período, passaram por profundas transformações. O processo e hábito de armazenamento de memórias, por exemplo, mudaram consideravelmente nos últimos anos. O que antes trazia-se em fotografias, cartas e na memória em si, hoje traz-se em HDs externos e alguns arquivos de computador. Mesmo o sentimento de dever guardar a memória por sua riqueza simplesmente, atualmente se percebe perdido (Braez, 2012).

A troca de conhecimento, contudo, é uma via de mão dupla e pode-se notar contributos em ambos os lados. Naturalmente tende-se a crer que avós ensinam aos netos apenas coisas não tecnológicas, já que a geração mais nova seria já fluente nesta questão. Contudo, há caso que se destaca em que o conhecimento pode ser transmitido em via contraria: uma neta criou interesse por um assunto específico e desejava criar um website para falar sobre este assunto; sabendo que sua avó tinha um blog, pediu a ela conselhos e dicas sobre o assunto. Claramente, neste exemplo, percebe-se que o domínio de um tema não, necessariamente, exclui contributo de outros para sua compreensão (Forghani & Neustaedter, 2014).

TECNOLOGIA E RELACIONAMENTO INTERGERACIONAL: DISPOSITIVOS TECNOLÓGICOS NA TROCA DE CONHECIMENTO DE AVÓS E NETOS

22 Muitas vezes, inclusive, o pré-conceito com a idade e a possível falta de conhecimento pode limitar ou até impedir a contribuição mutua. Em questionário de graduação do papel dos avós na vida dos netos, Hurme, Westerback e Quadrello (2010) observam uma parcela de avós que se consideram muito velhos para contribuir de alguma maneira na vida dos netos. Contudo, esta perspectiva pode ser contraposta com estudos como António (2010) no qual os netos jovens descordam com a afirmação de que avós podem ser antiquados para ajuda-los ou ensina-los algo.

A troca de conhecimento acontece com intensidade e significado entre avós e netos e, considerando as TIC e dispositivos tecnológicos mais especificamente, é possível afirmar que a troca acontece quando cada um dos participantes possui ferramentas uteis ao processo. Avós, ainda que em alguns momentos, não estejam tão familiarizados às novas tecnologias passam a seus netos lições e aprendizados que adquiriram com a experiência e o passar dos anos. Da mesma maneira, netos, para além de poderem fornecer a seus avós informações técnicas dividem conhecimento e reconhecimento frente à questões (C Kenner et al., 2008; Lee, Liang, Park, & Yan, 2015b; Nag et al., 2016). Avós, em diversas culturas e por muitos anos são vistos como importantes figuras na transmissão de conhecimento (Lee et al., 2015b). Contudo, a modernidade e a introdução das TIC no cotidiano das pessoas entregam aos netos uma valiosa ferramenta de troca, onde, neste momento, passam a ser detentores de conhecimento e, por sua vez, transmissores do mesmo. Neste contexto – ainda mais se tratando de netos adolescentes – os avós podem acabar por perder poder de troca quando, em uma sociedade moderna, a internet e as TIC podem, em teoria, fornecer o conhecimento que, outrora, só se adquiria com a vivência (Nag et al., 2016; Rempusheski et al., 2012). Aprendizado e ensinamento são a quinta característica prazerosa apontada pelos avós no desempenho de seus papeis, os mesmos percebem-se como professores primariamente, mas, aos poucos, começam a reconhecer em seus netos detentores, também de conhecimento. Neste sentido, percebe-se que vem de seus netos os maiores ensinamentos sobre manuseio com a tecnologia e o mundo atual (Mansson, 2016).

TECNOLOGIA E RELACIONAMENTO INTERGERACIONAL: DISPOSITIVOS TECNOLÓGICOS NA TROCA DE CONHECIMENTO DE AVÓS E NETOS

23