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O termo tecnologia, conforme apresentado no primeiro capítulo, tem amplos significados. Serão, aqui, analisadas suas ramificações relacionadas à informação e à comunicação. A transmissão e a circulação da informação permitem uma dada interatividade,17 que a cada dia está mais presente na

escola. O aluno chega à sala de aula ouvindo músicas no seu ipod ou mostrando uma foto tirada pelo seu “telefone celular inteligente” ou, por que não, mostrar o vídeo do youtube, disponível online em seu tablet, que ganhou no final de semana. Apesar de ser uma realidade comum no cotidiano de muitas escolas brasileiras, temos de analisar criticamente essa realidade.

O fácil acesso aos diferentes recursos digitais móveis, acima citados, faz parte de uma lógica capitalista de uso e de consumo. Uma acumulação de objetos considerados, socialmente, de valor. O consumo de “equipamentos tecnológicos”, mídias, softwares e informações dão “giro” à produção capitalista. Sobretudo, conforme apresenta Tavares (2010), o capitalismo imprime à escola uma função social de “formadora de hábitos de consumo necessários para a expansão de uma produção capitalista crescentemente mediatizada” (p.102), através de uma aliança de papéis formadores – mídia e escola – fomentando toda uma indústria de bens de capital tecnologicamente

17 Consideramos a interatividade como algo além da potencialidade técnica oferecida por

alguma máquina ou meio tecnológico, mas por ações de reciprocidade e compartilhamento de conhecimentos e experiências, conforme Silva (2003).

sofisticada. Assim, os sujeitos em formação, de certa forma também são preparados para adquirir o hábito do consumo.

Há hoje, uma unidade intrínseca entre tecnologia e educação. Essa unidade tem sido muito importante para o avanço do sistema capitalista. Com base nessa unidade, analisamos uma reportagem apresentada na revista eletrônica semanal Fantástico18.

Uma escola localizada em uma grande favela do Rio de Janeiro, durante o período de férias escolares, teve sua estrutura física reorganizada. Novos mobiliários, carteiras, cadeiras, quadro branco e uma multiplicidade de cores, somados a um espaço adaptado às novas tecnologias: computadores, projetores, tablets, celulares, lousas digitais e outros equipamentos. Com esta chamada “sala de aula do futuro”, cheia de instrumentais tecnológicos, o aluno aprende mais e melhor? Se, sim, em que sentido?

Se tomarmos como ponto de partida a reportagem, consideraríamos que esses “instrumentais” possibilitariam uma efetiva aprendizagem aos alunos. Mas o que a reportagem enfatiza é a facilidade e a viabilidade do uso meramente instrumental das TIC na educação, uso planejado de acordo com o capitalismo para a formação de trabalhadores com capacidades mínimas de operacionalização futura dos recursos tecnológicos no mercado de trabalho. Essa é a grande intencionalidade implícita na inserção das TIC na educação.

Assim como M. N. Oliveira (2001) afirma, a presença das tecnologias da informação e comunicação na educação e os recursos da internet “não são em si fatores de equalização social, nem uma condição suficiente ou mesmo necessária para formação crítica e ativa do aluno” (p.106), mas sim uma “conexão com o modo de desenvolvimento informacional com a denominada sociedade do conhecimento, que não se pauta por valores de justiça e inclusão

18 Fantástico - Revista eletrônica brasileira apresentada aos domingos à noite. Reportagem:

Tecnologia invade sala de aula da rocinha e muda processo de aprendizado. Disponível em: <http://globotv.globo.com/rede-globo/fantasTICo/v/tecnologia-invade-sala-de-aula-da-rocinha-e- muda-processo-de-aprendizado/2438497/> Acesso em 15-05-2013.

social.” (idem p.106) A autora acrescenta que os recursos tecnológicos e sua oferta no cenário educacional cumprem funções mais ligadas ao consumo do que à intenção de construção da cidadania e do respeito aos direitos humanos. Entretanto, para a mesma autora, a educação também assume um “papel crucial na socialização e construção do conhecimento e da cultura, podendo ultrapassar o caráter instrumental do conhecimento” (OLIVEIRA, 2001 p.106). Nesse sentido, seria possível a apropriação e utilização dos recursos tecnológicos de outra forma, com a possibilidade de que eles conduzam o sujeito a aprender mais e a se apropriar de novos conhecimentos?

Pelo exposto, algumas questões são fundamentais para maior entendimento da relação entre tecnologia e educação. Seria possível utilizar as TIC na educação para que o sujeito possa aprender mais, de forma emancipadora, e não só com o propósito capitalista de habilitá-lo para o mercado de trabalho? De que forma usar essas tecnologias em tal perspectiva? Como se dá o trabalho docente mediado pelas tecnologias da informação e comunicação? Estariam os docentes em exercício tendo uma formação adequada para o trabalho com as TIC, ainda que somente em termos instrumentais? Esses docentes têm clareza das intencionalidades políticas e econômicas das TIC na educação? Como podem aplicar, no seu trabalho, práticas pedagógicas que se utilizem das tecnologias educativas19 a favor do

conhecimento e de uma emancipação?

Coscarelli (1998) fala da importância de deixar claro que os “bons resultados das TIC na escola, depende do uso que se faz dela, de como e com que finalidade ela esta sendo usada” (p.41). Nessa perspectiva, entramos no campo da educação tecnológica. De acordo com Miranda (2007), a educação

tecnológica é um conceito mais amplo do que um conjunto de conhecimentos,

19 Tecnologia Educativa (TE): recursos técnicos usados no ensino envolvendo todos os

processos de concepção, desenvolvimento e avaliação da aprendizagem. Para maior compreensão, consultar Miranda (2007).

competências e atitudes em relação ao uso dos computadores. É “saber usar a tecnologia e ainda analisar sua evolução e repercussão na sociedade. Supõe ainda desenvolver um discurso racional sobre as tecnologias.” (p.43) Assim, a verdadeira educação tecnológica age no sentido de “ensinar aos estudantes a história das diferentes tecnologias e seus efeitos econômicos, sociais, psicológicos e ainda de como elas refizeram o mundo e continuam a refazê-lo.” (p.43) Ou seja, o que a autora nos apresenta como educação tecnológica perpassa por significados maiores do que apenas os relativos ao uso técnico do equipamento, mas também um conjunto de práticas e saberes que devem compor a formação humana em uma mobilização transversal dos conteúdos curriculares.

Para Oliveira (2005), a educação tecnológica é uma educação ampla, envolvendo uma formação intelectual, cultural, científica e técnica, ligada a uma compreensão histórica do desenvolvimento tecnológico e societário. Para a autora

[...] educação tecnológica pode se referir à natureza, ao conteúdo de um dado processo educativo que tenha aquelas características mencionadas de integração entre cultura e produção, ciência e técnica, educação geral e educação profissional (Oliveira, 2005, p. 16).

Mas, para tanto, analisamos que a forma de organização do trabalho do professor, na sociedade atual, não possibilita uma educação tecnológica nos sentidos acima apontados. Mesmo porque, neste trabalho, o papel central das tecnologias da informação e comunicação é o de potencializar o ensino ou de torná-lo mais produtivo em termos capitalistas, como veremos adiante.