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3 CARACTERÍSTICAS DO JORNALISMO PARA

3.3 TELEVISÃO E TELEJORNALISMO UNIVERSITÁRIO

transmissão de programas educativo-culturais22, a televisão universitária é caracterizada pelo vínculo com a instituição de ensino superior, tanto no que concerne à produção quanto no que se refere à abordagem de temas relativos à universidade ou de interesse da comunidade acadêmica. A Associação Brasileira de Televisão Universitária (ABTU) compreende a tevê universitária como

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A televisão educativa é definida como aquela destinada “[...] à transmissão de programas educativo-culturais, que, além de atuar em conjunto com os sistemas de ensino de qualquer nível ou modalidade, vise à educação básica e superior, à educação permanente e à formação para o trabalho, além de abranger as atividades de divulgação educacional, cultural, pedagógica e de orientação profissional” (LOPES, 2011).

[...] aquela produzida no âmbito das IES ou por sua orientação, em qualquer sistema técnico ou em qualquer canal de difusão, independente da natureza de sua propriedade. Uma televisão feita com a participação de estudantes, professores e funcionários; com programação eclética e diversificada, sem restrições ao entretenimento, salvo aquelas impostas pela qualidade estética e a boa ética. Uma televisão voltada para todo o público interessado em cultura, informação e vida universitária [...] (ABTU, 2004, p. 5). Atualmente, é possível identificar três modelos distintos de produção da tevê universitária: 1) aquele que é feito por profissionais contratados e por estudantes estagiários; 2) aquele modelo no qual somente profissionais contratados atuam; e 3) aquele que é feito prioritariamente por alunos. Embora as tevês universitárias sejam um espaço de ensino e aprendizagem, o que se percebe nos modelos convencionais (1 e 2) é que elas acabam muitas vezes repetindo ou tentando se aproximar de um modelo de produção de uma emissora comercial, impondo um espaço rígido de regras que muitas vezes os alunos, e até mesmo alguns profissionais que atuam nessas emissoras universitárias, não se permitem a experimentar novas possibilidades narrativas. A maioria das tevês universitárias está ligada ao gabinete da reitoria das suas universidades de origem, o que limita o que pode ou o que não pode estar nessa televisão e a forma como um programa deve ser feito. Em relação ao modelo 3, elaborado sobretudo por estudantes, o que se percebe é que este tipo de produção não ganha visibilidade na televisão, mas sim, nos cursos, canais de reprodução internos desses cursos e, atualmente, por meio da internet. Aliás, espaços on-line como o YouTube e outros sites constituíram-se como locais potenciais para a divulgação destes materiais, tendo em vista que ainda não há restrições de abordagem, tempo e formato narrativo.

Nos modelos convencionais de tevê universitária, um dos principais meios de difusão é a transmissão a cabo. De acordo com as leis23 que orientam o serviço no país, os canais universitários que operam através do cabo não devem ter caráter privado, o que significa que estes não podem veicular anúncios, comercializar intervalos ou transmitir publicidade comercial, exceto os casos de patrocínio de programas, eventos e projetos veiculados sob a forma de apoio cultural (BRASIL, 1995; 2011).

Avançando nesta direção, Porcello (2002), salienta que a televisão universitária é regional e segmentada por natureza: “[...] ela não é e nunca será uma emissora de grande audiência. Tampouco será uma rede nacional com as TVs abertas no Brasil, que sufocam a produção regional. Ela será segmentada e voltada para as realidades locais” (PORCELLO, 2002, p. 82). Complementar a isto, o autor destaca o potencial destas emissoras de oferecer mais espaço para o debate dos temas, assim como a tarefa de divulgar o conhecimento produzido dentro da academia e buscar a construção da cidadania através das pautas e conteúdos trabalhados.

A relação entre televisão e universidade no Brasil teve início na década de 1960, com o lançamento da TV Universitária de Pernambuco, em 1968, ligada à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) (ABTU, 2004). Apesar de estar relacionada a uma instituição de ensino superior, a TV Universitária de Pernambuco é considerada uma emissora educativa, como explica Magalhães (2013):

Ela surge em pleno exercício da ditadura do governo militar, com o objetivo de ser a primeira de uma série de TVs que integrariam um sistema nacional de emissoras educativas dentro de um plano nacional de alfabetização e educação básica através dos meios de comunicação em massa (MCM) (MAGALHÃES, 2013, p. 8).

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O impulso para o surgimento de tevês universitárias, voltadas à difusão de informações relacionadas ou de interesse da comunidade acadêmica, ocorreu apenas nos anos 1990, com a promulgação da Lei do Cabo em 1995 (Lei nº 8.997) (BRASIL, 1995). A Lei tornou obrigatória às operadoras a disponibilização de um canal universitário para compartilhamento entre as instituições do(s) município(s) da área de prestação de serviço da operadora, o que contribuiu para a expansão do segmento no país. A TV Campus, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul, foi o primeiro canal universitário a operar através do cabo após a promulgação da Lei, ainda em 1995 (MAGALHÃES, 2013).

Logo após o lançamento da TV Campus, outras universidades brasileiras investiram na produção televisual com difusão por meio do cabo. Em 1997, um grupo composto por nove instituições fundou o Canal Universitário de São Paulo (CNU), seguido por iniciativas de universidades do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais (MAGALHÃES, 2013). O Mapa da TV universitária Brasileira (RAMALHO, 2011) mostra que em 2004 existiam 85 tevês universitárias; já em 2010, o número de instituições com produção televisual subiu para 15124. Estes canais tornaram-se espaços potenciais para o ensino do telejornalismo e também para a divulgação dos acontecimentos produzidos na e pela universidade.

O desenvolvimento da internet a partir da segunda metade dos anos 1990 também contribuiu para o surgimento de novas tevês universitárias no Brasil. Em 2001, é lançado o primeiro telejornal universitário on-line, o TJ UERJ, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O professor e pesquisador Antônio Brasil (2011), que coordenou o projeto, lembra que o programa era produzido e exibido diariamente por uma equipe de estudantes, professores e técnicos da UERJ e, ainda, que a primeira fase do telejornal alcançou seu ápice em 2002, quando o

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O levantamento desconsiderou as produções divulgadas através do YouTube ou de outras mídias sociais (RAMALHO, 2011).

noticiário passou a ser transmitido ao vivo. Neste ano, a equipe também lançou outros dois novos programas, alterando o nome do canal para TV UERJ (BRASIL, A., 2011).

Mesmo diante de limitações técnicas e financeiras, Antônio Brasil (2011) ressalta que a TV UERJ investiu na inovação e na criatividade, buscando, através dos recursos disponíveis, experienciar diferentes linguagens e formatos televisuais. O autor enfatiza que as tevês universitárias devem ser um espaço para o ensino e a prática do telejornalismo, um lugar onde é possível errar ao testar novas ideias: “Além disso, acredito que a universidade não deveria ser mera formadora de mão de obra para o mercado ou repetidora de modelos estabelecidos. Universidade é lugar de experimentação, inovação e difusão de conhecimento” (BRASIL, A., 2015, p. 125).

A internet caracteriza-se como um ambiente privilegiado para a criação e divulgação de tevês universitárias, diferenciando- se de outros meios de difusão especialmente devido ao custo, visibilidade, liberdade editorial, ampliação do espaço para o ensino do telejornalismo e possibilidade de recepção através de diferentes suportes. Atualmente, os cursos de Jornalismo podem transmitir sua produção audiovisual, ao vivo ou gravada, por meio de sites, canais como o YouTube, aplicativos para dispositivos móveis e, até mesmo, em páginas e perfis nas mídias sociais. Além de reduzir os custos para a transmissão, já que a maioria destes espaços é gratuita e exige poucos aparatos técnicos para sua manutenção, a internet também expande a visibilidade das tevês universitárias, antes restritas à sala de aula e à área de abrangência do sinal televisivo. A tevê universitária pode então aumentar a sua audiência, ter um público cativo e receber retorno destes espectadores para aprimorar o conteúdo, funcionando como um produto que está no mercado, mas apresentando uma proposta diferenciada.

A internet permite, ainda, maior liberdade editorial na seleção, abordagem e divulgação das pautas, já que ainda há poucas regras relativas à publicação de conteúdo no ambiente on- line e é possível seguir um modelo alternativo ao adotado no mercado televisivo, de grade de programação fixa. Há, também,

um envolvimento maior dos próprios estudantes, que podem aprender a prática telejornalística participando de todo o processo de produção e divulgação das informações, experienciando a rotina e as tarefas diárias dos profissionais de televisão. Complementar a estas perspectivas, destaca-se a ampliação na quantidade de suportes para acesso aos materiais (computador, notebook, smartphones, etc.) e a interatividade proporcionada por estes. Em um levantamento realizado em outubro de 2009, Teixeira (2011) identificou a existência de 36 propostas de disponibilização de conteúdos audiovisuais por universidades na internet. Dentre estas, porém, a maioria (42,4%) apenas reproduzia a programação da tevê da instituição, com poucas iniciativas originais para o ambiente on-line.

Na internet, o YouTube configura-se como uma plataforma oportuna para a difusão de conteúdos audiovisuais. Como destacado anteriormente, o canal é líder em acessos a vídeos on- line no Brasil (COMSCORE, 2014), possui mais de um bilhão de usuários cadastrados em todo o mundo e atrai mais adultos com idades entre 18 e 49 anos do que os canais pagos nos Estados Unidos (YOUTUBE, 2016). Qualquer indivíduo com conexão à internet, conhecimentos básicos em navegação e edição de vídeos e domínio de algumas ferramentas pode lançar a sua própria “televisão” no YouTube. O site, inclusive, disponibiliza uma seção com dicas para os criadores de conteúdos, sugerindo métodos para atrair fãs e tornar o canal rentável financeiramente. Para as tevês universitárias, o YouTube pode ser um modo eficaz de aproximação com o público mais jovem e multiplataforma. Atualmente, tevês universitárias como a TV Campus, TVU Recife e TV UFSC, que transmitem através do sinal aberto ou do cabo, também disponibilizam suas produções em canais no YouTube. Identifica-se, ainda, iniciativas originais para a plataforma, como o TJ UFSC, telejornal de curta duração que serve de base para os indicativos para um modelo de telejornal para as plataformas móveis e que será apresentado no próximo capítulo.

Após a abordagem sobre as tevês universitárias, na próxima seção, apresenta-se as principais especificidades das

plataformas smartphone e tablet, bem como características da produção jornalística para esses suportes e dados sobre o uso destes dispositivos pelos usuários.

3.4 PRODUÇÃO JORNALÍSTICA PARA SMARTPHONES E