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A temática lusófona na base SciELO

reGina piresde Brito rhbrito@mackenzie.br

Universidade Presbiteriana Mackenzie Resumo

O objetivo deste estudo é apresentar uma revisão bibliográfica de artigos que tratam da temática “lusofonia”, tendo como referência os artigos publicados na base de dados SciELO (essencialmente do Brasil e de Portugal) até o segundo semestre de 2013. As pesquisas de caráter bibliográfico têm como finalidade mapear a produção acadêmica dos diversos campos do conhecimento, contribuindo para o aprimoramento das reflexões a respeito de um dado tema no âmbito do seu próprio campo de pesquisa, além de tornar possível detectar o debate de ideias, as perspectivas, tensões e conflitos no processo de produção dos saberes de uma área. Neste caso, foram feitas buscas sistemáticas na base de dados SciELO (www.scielo.br e www.scielo.pt), utilizando-se descritores como: lusofonia, lusófono, estudos lusófonos, CPLP, PALOP, Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste), para, em seguida, focalizar: instituição dos autores, revistas que publicaram os artigos, ano e local de publicação, palavras-chave, assunto, área do saber a que se vincula, classificação Qualis. A análise desses dados permitirá que se delineie um painel da produção científica no âmbito dos estudos da lusofonia no eixo Brasil-Portugal, disponibilizada por meio eletrônico.

Palavras-Chave: Lusofonia; base SciELO; cibercultura

A palavra lusofonia é de registro recente nos dicionários: surgiu entre meados dos anos 80 e início dos 90 do século XX, em estudos vinculados, por exemplo, à economia, à crítica literária, à sociopedagogia, à sociologia da cultura e, ainda, à área linguística galaico-portuguesa. Desse modo, apesar dessa veiculação recente, o conceito que a palavra compreende teve seu nascedouro séculos antes, ainda no movimento das grandes navegações marítimas (séc. XV), sendo cultivado ao longo do tempo. São referências ora o tom profético do Quinto Império (com os portugue- ses: Gonçalo Annes Bandarra (com suas Trovas), Padre Antonio Vieira (com História do Futuro), Fernando Pessoa (com Mensagem) e Agostinho da Silva, ora os projetos de fixação de uma unidade linguístico-cultural dos países e comunidades de língua portuguesa - por exemplo, com os brasileiros: Sílvio Romero (1902), Barbosa Lima Sobrinho (1958), Celso Cunha (1964), Sílvio Elia (1989) e o português Eduardo Lourenço (2001).

Como refere Brito (2013a: 5), ao pensar em lusofonia, não há como não referir, também, o sociólogo brasileiro Gilberto Freyre e títulos como Casa grande & Senzala (1934), O mundo que o português criou (de 1940), Aventura e Rotina e Um Brasileiro em Terras Portuguesas (ambas de 1953). Deixando de lado questões que envolveriam

sua colaboração com o regime salazarista, o luso-tropicalismo1 de Freyre, funda-

mentando-se na idéia da miscigenação (que, no caso do português, teria feito toda a diferença com relação aos outros colonizadores europeus) não apenas como fenô- meno racial, mas, sobretudo, considerando sua dimensão sociocultural, acentua a condição original que tinha levado o povo português a promover a interpenetração racial, linguística e cultural, combinando a cultura européia com a cultura tropical (Magalhães, 2003: 101).

Tratar do tema traz também aspecto de natureza semântica e etimológica que subjaz ao substantivo abstrato lusofonia – que não pode ser desprezado –, pois a forma luso remete tanto a lusitano, quanto ao que é relativo a Portugal (além da alusão à Lusitânia, província romana pertencente à Hispânia, habitada pelos lusi- tanos). Nesse sentido, fora do espaço “Portugal”, esse fator semântico acarreta, por vezes, certo desconforto pela evocação que faz à centralidade da matriz portuguesa em relação aos sete outros países de língua oficial portuguesa (Brito & Bastos, 2006; Brito, 2013b).

Muitas ressalvas são feitas acerca do emprego do termo – especialmente por conta de discursos de tom nostálgico associados a um neocolonialismo ou vincu- lados a um sentimento de “Portugalidade” por conta do étimo “luso” que nele se explicita. No entanto, se a designação ainda não desfruta de consenso, nem se pôde libertar de fantasmas e desconfortos, também não se tem, ainda, outra denomina-

ção que dê conta de traduzir a multiplicidade de traços culturais que, por razões

históricas, associam oito países de língua oficial portuguesa e muitas comunidades na diáspora que, na diversidade de seus cotidianos, têm a língua portuguesa como elemento partilhado.

Assim, a “lusofonia” tanto carrega uma noção etimológica inevitável e uma histórica construída, quanto é um processo dinâmico, marcado pela heterogeneidade espacial (que é também social, demográfica, política, econômica...) e pela aproxima- ção cultural mediadas por uma língua, que se enriquece pela diversidade de ser uma e de se ver múltipla, acentuada pelos contatos com outros sistemas, que o traçado geográfico e as implicações da história propiciaram.

A fim de perceber como a comunidade científica tem representado a produção de saberes na temática da lusofonia, esta pesquisa apresenta uma revisão biblio- gráfica de artigos que tratam do tema, tendo como referência artigos publicados na base de dados SciELO até o segundo semestre de 2013. Pesquisas como esta, de natureza bibliográfica, objetivam mapear a produção acadêmica de um ramo do conhecimento, contribuindo para o aprimoramento das reflexões sobre um tema no âmbito do seu campo de investigação, além de possibilitar detectar debates, pers- pectivas e tensões no processo de produção dos saberes de uma área.

A biblioteca eletrônica SciELO, Scientific Electronic Library Online, resulta de projeto da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), em parceria com a BIREME (Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação

em Ciências da Saúde). A partir de 2002, passou a contar com o apoio do CNPq

(Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). A base2 atual-

mente abrange 15 países (África do Sul, Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Espanha, México, Peru, Portugal, Venezuela e, em desenvolvimento: Bolívia, Paraguai e Uruguai), totalizando 1.149 periódicos, 32.087 fascículos, 469.957 artigos e 10.355.923 citações.

Para o recorte que aqui apresentamos, foram feitas buscas sistemáticas na base de dados SciELO do Brasil (SciELO Br - www.scielo.br) e de Portugal (SciELO Pt - www. scielo.pt), recorrendo-se aos seguintes descritores: lusofonia, lusófono, estudos lusó- fonos, CPLP (e sua forma expandida: Comunidades dos Países de Língua Portuguesa), PALOP (e sua forma expandida: Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste. As buscas tomaram os descritores mencionados individualmente, na entrada “Artigos”, associados ao campo Assunto, tendo sido realizadas, num segundo momento, também com a combinação de descritores, o que não produziu resultados diferenciados. Por conta da disparidade numérica dos resultados obtidos em ambas as bases com os descritores “Brasil” e “Portugal”, excluímos esses dados da presente análise. Não houve limitação temporal para a data de publicação, mensurando as referências incluídas nas bases até dezembro de 2013. O quadro (1) a seguir ilustra o procedimento adotado para as buscas:

Quadro 1 – procedimento de busca na base sciELO: pesquisa em “Artigos”, por “Assunto”

O formato obtido nos resultados está exemplificado abaixo (Quadro 2), quando se fez a busca a partir do descritor “lusofonia”.

A base SciELO Br dispõe de 330 periódicos, tendo sido destacados 45 (13,7%) em nossa pesquisa; já a base SciELO Pt, com 48 periódicos, referiu, pelos nossos filtros, 12 (25%) dessas publicações – a maior parte classificada com o padrão Qualis- CAPES A1, A2 e B1. Considerando os descritores válidos, encontramos 72 ocorrências em artigos na SciELO Br e 61 referências na SciELO Pt. O quadro 3 mostra a quanti- dade de artigos, de 2000 a 2013, referenciados nas duas bases, por ano.

Quadro 2 – apresentação de resultados de busca na base SciELO

Quadro 3 – total de artigos, por ano, nas bases Scielo Br e Scielo Pt

Com relação à explicitação dos descritores em ambas as bases, encontramos a distribuição conforme o quadro 4:

Quadro 4 – descritores nas bases SciELO Br e sciELO Pt

Há restrita utilização dos termos lusofonia, lusófono, CPLP e PALOP (e formas expandidas). Assim, a pesquisa indica que o tratamento da temática ocorre, embora mais comumente referenciado pela indicação do nome dos países que adotam o

português como língua oficial. A observância das áreas dos periódicos em que os

descritores foram encontrados revela a amplitude da temática3.

Os 12 periódicos portugueses (quadro 5) cobrem áreas como Antropologia, Artes e Música, Ciências Agrárias, Ciência Política e Relações Internacionais, Educação, Letras e Linguística, Sociologia, História – com maior incidência nos periódicos Cadernos de Estudos Africanos (17 artigos – Antropologia), Análise Social (10 artigos – Sociologia, Antropologia, Letras e Linguística, ora Interdisciplinar) e Etnográfica (9 artigos – Artes, Antropologia, Sociologia, Letras e Linguística):

Periódico Quantidade de artigos

Cadernos de Estudos Africanos 17

Análise Social 10

Etnográfica 09

e-JPH (e-Journal of Portuguese History) 05

Sociologia 05

Economia Global e Gestão 04

Relações Internacionais 04

Rev. de Ciências Agrárias 03

Ex aequo 01

Rev. Portuguesa e Brasileira de Gestão 01

Silva Lusitana 01

Tékhne 01

Quadro 5 – Periódicos portugueses e quantidade de artigos

Já os 45 periódicos brasileiros pertencem, além dessas, a outras áreas, como: Administração, Ciências Ambientais, Direito, Enfermagem, Engenharias, Filosofia e Teologia, Medicina, Planejamento, Psicologia. No caso da base brasileira (quadro 6), há uma distribuição equilibrada da presença de artigos da temática nos periódicos, oscilando entre 1 e 3 artigos (com duas publicações com 4 artigos cada: Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia – de área Interdisciplinar - e Vibrant - da Antropologia):

Periódico Quantidade de artigos

Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia 04

Vibrant 04

Afro-Ásia 03

Estudos afro-asiáticos 03

Estudos históricos (RJ) 03

História, Ciências, Saúde-Manguinhos 03

Pro-Posições 03

Cadernos Pagu 02

Educação e Pesquisa 02

3 Para esse levantamento, consultamos cada periódico no sistema WEBQUALIS – SISCAPES, disponível em http://qualis.

Horizontes antropológicos 02

Mana 02

Physis, 02

Revista Brasileira de Ciências Sociais 02 Revista Brasileira de Ciências do Esporte 02 Revista Brasileira de Política Internacional 02

Revista Estudos Feministas 02

Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 02

Saúde e Sociedade 02

Anuário da Academia Brasileira de Ciências 01

Anais do Museu Paulista 01

Arquivos do Instituto Biológico 01

Braz. J. Oceanografia 01

Caderno CRH 01

Cadernos de Saúde Pública 01

Ciência Rural 01

Ciência e saúde coletiva 01

História 01

Intercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação 01

J.Brasileiro de Pneumologia 01

Memórias do Instituto Oswaldo Cruz 01

Motriz : Revista de Educação Física 01

Paidéia (Ribeirão Preto) 01

Pesquisa veterinária brasileira 01

Revista Brasileira de Zootecnia 01

Religião e Sociedade 01

Revista de Antropologia 01

Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho

Humano 01

Revista Brasileira de Ciências do Esporte 01 Revista Brasileira de Estudos Populares 01 Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária 01 Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil 01

Sociedade e Estado 01

Tempo 01

Trabalho, Educação e Saúde 01

Varia história 01

Quadro 6 – Periódicos brasileiros e quantidade de artigos

Neste momento, com a pesquisa ainda em curso, estamos procedendo à leitura dos resumos dos 133 artigos, categorizando-os de acordo com: instituição dos auto- res, localidade, nome do periódico, local e ano da publicação, área central de inte- resse do texto, objetivo geral e palavras-chave. Por fim, referimos que, neste extrato da investigação, não mencionamos outros termos que compõem o plano geral do quadro que tencionamos traçar da presença da temática “lusofonia” em bases de dados de formato eletrônico, no caso a SciELO – coleção de caráter multidisciplinar, em acesso aberto. Com esse percurso, poderemos evidenciar o que, de fato, tem se

caracterizado como matéria da lusofonia (nas diferentes áreas do conhecimento) e, a partir disso, será possível traçar um panorama da produção científica no âmbito dos estudos da lusofonia no eixo Brasil-Portugal, potencializado pelo compartilhamento e disseminação de informações que uma base de dados acionável em qualquer tempo e lugar possibilita.

referêncIAs BIBlIográfIcAs

Brito, R. P. de (2013a). “Sobre Lusofonia”. Verbum – Cadernos de Pós-Graduação PUC-SP, 5, 4-15. Disponível em: http://revistas.pucsp.br/index.php/verbum.

Brito, R. P. de (2013b). Língua e identidade no universo da lusofonia. Aspectos de Timor-Leste e Moçambique. São Paulo: Terracota.

Brito, R. P. de & Bastos, N. B. (2006). Dimensão semântica e perspectivas do real: comentários em torno do conceito de lusofonia. In H. Sousa & M.L. Martins (orgs), Comunicação e Lusofonia (pp. 65-78). Porto: Campo das Letras.

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Elia, S. (1989). A língua portuguesa no mundo. São Paulo: Ática. Lourenço, E. (2001) A nau de Ícaro. São Paulo: Cia das Letras.

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Qualis CAPES - http://qualis.capes.gov.br/webqualis/publico/pesquisaPublicaClassificacao.seam Base SciELO - http://www.scielo.org

Base SciELO Brasil - http://www.scielo.br Base SciELO Portugal - http://www.scielo.pt

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