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Capítulo 3 – Análise de Conteúdo

3.3 Tema 1: A adolescente antes da gravidez

O conhecimento da situação da adolescente na época que antecede à gravidez é importante porque permite uma melhor compreensão dos aspectos sociais, psicológicos, educativos, culturais, econômicos, entre outros, da adolescente grávida.

Pretende-se conhecer basicamente dois aspectos, como era o ambiente familiar e na escola da adolescente, e por outra parte ter uma idéia do dia a dia da adolescente no período que precede a gravidez. O objetivo é caracterizar se nesse período tanto o ambiente bem como o cotidiano da adolescente estava sendo propício ou não para uma gravidez não desejada na adolescência. Inicialmente, tem-se a idéia que a gravidez na adolescência é o resultado de um número de condicionantes relacionados, por exemplo, com a família, com a escola, com os amigos, com o aspecto econômico, entre outros. Um outro ponto de vista é que a adolescente ainda não tem plena maturidade para compreender os riscos de ter uma vida sexual ativa que pode levá-la a engravidar sem assim desejá-lo. Além disso, considera-se que a adolescente que já tem iniciado a sua vida sexual, ainda não está conscientizada da absoluta necessidade da prática e utilização de métodos contraceptivos que previnem da gravidez e de doenças sexualmente transmissíveis. Da mesma forma como se questiona paternidade e maternidade

responsável, deve-se falar em adolescência. Segundo isso, a adolescente responsável deve conhecer os principais contraceptivos e, fundamentalmente, deve ter a responsabilidade de que o fato de não usá-los pode gerar problemas como gravidez não desejada, DST, aborto, entre outros. O ambiente em que a adolescente desenvolve o seu dia a dia vai levar consigo condicionantes favoráveis ou desfavoráveis com influência direta nas idéias mencionadas. Dentro desse ambiente, que envolve a família, a sociedade e a escola, torna-se de particular importância o acesso à educação sexual e saúde reprodutiva da mulher, que a adolescente tem o direito e o dever de conhecer.

3.3.1 Categoria 1: O entorno da adolescente e o seu dia a dia

Considerando os depoimentos das entrevistadas e o observado no decorrer das entrevistas, foi possível delinear algumas características do ambiente em que vive a adolescente. A família e a escola são os ambientes em que a adolescente se desenvolve, igualmente os amigos, a vizinhança. Em alguns casos a família não estava completa, no sentido de que o pai não morava na casa porque tinha formado uma outra família ou porque tinha abandonado a casa anteriormente. A ausência do pai pode resultar em algum tipo de falta de controle e apoio para a adolescente. Em diversos estudos ao respeito do papel do pai na formação dos adolescentes, destaca-se a necessidade do pai para uma família, de forma a oferecer o melhor ambiente familiar para o desenvolvimento dos filhos na adolescência. Há casos em que a ausência do pai é suprida pela mãe, obtendo bons resultados sociais.

Uma característica comum a todas as adolescentes grávidas é que, no momento da gravidez, elas estavam estudando normalmente, evidenciando que, de todas maneiras as famílias das adolescentes entrevistadas faziam o necessário para elas melhorarem na vida. As

adolescentes entrevistadas deixavam transparecer, coincidentemente, que eram estudantes normais, talvez não eram as melhores alunas, mas estudavam com o objetivo de ser alguém na vida.

A maioria das entrevistadas pertencia a famílias que enfrentavam dificuldades econômicas e, inclusive, algumas das famílias não tinham o pai morando com elas. Lembre-se que a tendência da pesquisa está voltada principalmente para as adolescentes grávidas de baixa condição econômica. Apenas uma das adolescentes entrevistadas é de uma família com uma boa condição econômica.

De acordo com os depoimentos, as adolescentes possuíam uma vida diferente antes da gravidez. O conhecimento dos momentos prévios à gravidez é uma etapa inicial da dinâmica de fenômenos psicológicos, sociais e culturais que caracterizam as causas da gravidez e aborto nas adolescentes. A seguir alguns trechos nos depoimentos das adolescentes entrevistadas que irão ajudar na compreensão de algumas das inúmeras causas que formam parte da complexa realidade da gravidez na adolescência.

Na maioria dos casos as adolescentes não tinham algum tipo de controle por parte dos pais quando elas saiam para se divertir as noites com os amigos, sendo esse um hábito quase comum hoje em dia.

Glória, 18 anos, 1ª. gravidez.

“[...] A renda da família varia muito, a mãe vende comida, café, bolo, torrada no Portinho, perto do Desterro. Às vezes, ela vende tudo, mas às vezes ela não tem nem um real para passar o dia.”

“[...] Passamos muita dificuldade, o pai manda uma pensão mas é pequena e é repartida para todos os filhos ...”

“[...] Antes de engravidar eu só estudava não tinha nenhuma responsabilidade, saia a tarde e só voltava à noite, porque estava estudando no turno vespertino no Liceu Maranhense e à noite fazia o Curso de Magistério no Colégio Vicente de Paula. E os finais de semana curtia a vida, saia com meu namorado e as festas”

[Nota do autor - NA] “A garota falou que a sua primeira vez, a primeira experiência sexual aconteceu na sua casa quando ela estava com 15 anos. Ela saía durante o São João, em uma dança junina chamada Dança Portuguesa e o seu namorado também, e disse que eles chegavam de madrugada. Como ele a deixava em casa, ela sempre dizia para ele dormir lá, em uma noite dessas aconteceu a primeira relação sexual com o atual pai de sua filha.”

[NA] “Ela namorou outras pessoas, mas sempre que se encontrava com o primeiro namorado ficavam juntos.”

Alina, 1ª. gravidez aos 17 anos.

“[...] Aqui em casa só trabalha o meu pai, ele conserta relógio, trabalha por conta dele mesmo. Por mês acho que ele ganha cento e cinqüenta reais.”

“[...] Aqui em casa moram 11 pessoas.”

“[...] Eu sou evangélica, da igreja do Evangelho Quadrangular”

“[...] Antes de engravidar minha vida era diferente, não tinha muita responsabilidade como tenho agora, antes só estudava e cuidava de meus sobrinhos, filhos de uma irmã que mora em Fortaleza, ia à igreja com mais freqüência.”

Edilea, 1ª. gravidez aos 14 anos, 2ª. gravidez aos 16 anos.

[NA] “Ela estava cursando a 7ª série do Ensino Fundamental e estudava no Colégio Sotero dos Reis, uma escola pública localizada na Rua São Pantaleão, no centro da cidade.”

Júlia, 2ª. gravidez aos 19 anos.

“[...] Antes de engravidar eu só estudava, e ajudava a minha mãe em casa, as responsabilidades não eram muitas como agora, de certa forma mudou minha vida.”

Gabi, 1ª. gravidez aos 17 anos.

“[...] Eu sou católica. Eu moro com a minha tia... A casa é da minha tia... Eu sempre morei com ela”.

“[...] Antes de engravidar eu estudava e ajudava a minha tia, saia com minhas amigas a festas, namorava, agora minha vida mudou não saio mais como o fazia antes, agora penso só em trabalhar para cuidar da minha filha”.

Cláudia, 1ª. gravidez aos 18 anos.

“[...] Minha vida mudou demais depois da gravidez, acabou a liberdade”.

Ruth, 1ª. gravidez aos 19 anos.

“[...] Antes de engravidar minha vida era diferente, não tinha muita responsabilidade como tenho agora, antes só estudava e cuidava de meus sobrinhos... ia na Igreja com mais freqüência”

Marcela, 1ª. gravidez aos 15 anos.

“[...] Antes da gravidez eu era totalmente diferente, meu comportamento era diferente, lógico que era mais criança que adulta, quando engravidei foi diferente, comecei a amadurecer mais e tomar uma determinação mais certa para mim, é por isso que tomei essa

decisão de abortar, hoje em dia não me arrependo do que eu fiz, mas também não pretendo voltar a fazer, por que com tudo que me aconteceu serviu para olhar a vida de uma outra forma, si não teria acontecido essa gravidez quem sabe ate agora meu pensamento continuaria sendo infantil”.

Paula, 1ª. gravidez aos 19 anos.

“[...] Antes de engravidar, eu só estudava e não tinha responsabilidade de nada, quando saia do colégio nem me importava a hora de eu chegar para casa, saia muito com minhas amigas, com o pai de meu filho, e também saia todo final de semana para jogar futebol, e quando fiquei grávida mudou meu dia a dia, comece a sair menos, e com o nascimento de meu filho mais ainda, a vida mudou totalmente.”

Carina, 1ª. gravidez aos 19 anos.

“[...] Antes de engravidar como eu falei eu namorava outro rapaz, que minha família não gostava por que ele não trabalhava, e eu saia bastante a shows com minhas amigas, mais quando engravidei deixei de sair, ficava mais em casa, é lógico que a vida muda, até a maneira de pensar é diferente, e mais ainda eu que queria ter meu filho, comece a me cuidar e ficar em casa, saia só para estudar.”

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