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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Fatores que afetam a fertilidade de varrões

2.1.7 Temperatura final de armazenamento do sêmen

O espermatozóide suíno é particularmente sensível ao resfriamento para temperaturas inferiores a 15ºC, principalmente quando o sêmen fresco é resfriado rapidamente, o que resulta em uma redução da sobrevivência espermática. Os efeitos do resfriamento sobre a célula espermática incluem uma série de mudanças nos espermatozóides, quando o sêmen é exposto a temperaturas abaixo de 15ºC (Pursel et al., 1973; Althouse et al.,1998).

Essas mudanças em conjunto, têm sido denominadas de choque pelo frio ou “cold shock”. O choque térmico caracteriza-se pela presença de espermatozóides com movimentação atípica, perda prematura de motilidade, alterações nas membranas acrossômica, plasmática e mitocondrial, resultando em mudanças bioquímicas envolvendo o metabolismo celular, perda de enzimas intracelulares e distribuição de íons (Amman e Pickett, 1987; Zeng e Terada, 2000).

A severidade do choque térmico depende da taxa de resfriamento e da amplitude da temperatura mínima mantida durante a conservação do sêmen, sendo o seu efeito mais severo para os espermatozóides suínos no intervalo de 12ºC a 2ºC (Watson e Plummer, 1985; Weitze, 1990a).

Visando-se identificar a temperatura crítica em que ocorre o choque térmico, Althouse et al. (1998) avaliaram o efeito de diferentes temperaturas de armazenamento (8, 10, 12, 14 e 17ºC), utilizando doses de sêmen de 80 mL contendo 4x109 espermatozóides, durante 48 horas. Verificou-se que o choque térmico ocorre in vitro quando o sêmen diluído é armazenado à temperaturas inferiores a 12ºC, resultando em queda significativa da motilidade, que atingiu índices inferiores a 70% nas primeiras 12 horas, para o sêmen armazenado a 8ºC, e em 48 horas, para o sêmen armazenado a 10ºC. A motilidade foi superior a 75% para o sêmen armazenado a 12, 14 e 17ºC durante todo o período, sem que houvesse diferenças significativas entre esses tratamentos. Não houve efeito do período de armazenamento nem da temperatura de conservação sobre a morfologia espermáti ca, principalmente do acrossoma, possível mente, pela presença de BSA no diluidor utilizado.

No estudo in vitro conduzido por Paulenz et al. (2000), estudou-se o efeito de um período de 96 horas de armazenamento do sêmen diluído em BTS à diferentes temperaturas, sobre a motilidade e integri dade acrossômica. Após 96 horas de estocagem, a motilidade inicial (77,8%) foi reduzida significativamente para 52%, 59%, 51% e 43% nas temperaturas de estocagem de 25, 20, 15 e 10ºC, respectivamente, sendo as percentagens de acrossomas intactos reduzidas significativamente de 96% para 92, 91, 81 e 68% para as mesmas temperaturas de estocagem mencionadas anteriormente. Neste estudo, o efeito do choque térmico ocorreu à temperatura de

10ºC, com uma queda significativa da motilidade e integridade acrossômica, após 24 horas de armazenamento.

Chun-Xia e Zeng-Ming (2000) avaliaram a qualidade espermática da fração rica do ejaculado submetida à diferentes tempera turas de armazenamento (39, 20,15 e 4ºC), durante 48 horas, e observaram que, decorridas oito horas, a motilidade caiu significativamente para todas as temperaturas, apresentando o sêmen armazenado a 20ºC uma motilidade de 70%, que contrasta com a de 54%, observada no sêmen armazenado a 4ºC. Os percentuais de acrossomas normais foram de 86%, 82%, 64% e 39% para as temperaturas de 20, 15, 4 e 39ºC, respectiva mente.

Bamba e Cran (1992) observaram uma melhor retenção da motilidade (50 vs 45%) e de acrossomas normais (73 vs 69%) para o sêmen armazenado a 5ºC, durante seis dias, após diluição com BTS e BTS associado ao butilato de hidroxitolueno, respectivamente.

2.1.7.1 Uso do sêmen diluído e preserva do a 5ºC

A adequada avaliação do sêmen é um pré- requisito necessário para estabelecer estratégias de manejo visando aumentar a eficiência reprodutiva do plantel. Os testes mais comumente utilizados para avaliação da qualidade do sêmen envolvem estimati vas visuais da percentagem de motilidade e de defeitos morfológicos das células espermáticas, incluindo o percentual de acrossomas normais (Colenbrander e Kemp, 1990). Na tabela 6 estão apresentados alguns resultados de trabalhos de pesquisa envolvendo a preservação “in

vitro” do sêmen à 5ºC.

Há poucos estudos envolvendo a preser vação do sêmen suíno a 5ºC visando avaliar a sua eficiência “in vivo”, através da mensuração dos parâmetros de fertilidade, tais como das taxas de prenhez, de parto, de retorno ao cio e do tamanho da leitegada. Kasuya e Kawabe (1977) utilizando o sêmen diluído em um diluidor contendo leite em pó desnatado, glicose, bicarbonato de sódio, tris e glicina, armazenado a 5ºC e preservado por 7 dias, inseminaram 17 porcas e 13 leitoas e obtiveram 10,2 e 5,2 leitões nascidos vivos, respectivamente. Posteriormente, Park et al. (1996) utiliza ram o sêmen diluído em um diluidor lactose-gema de ovo com 2% de glicerol, preservado por 6 a 7 dias a 5ºC e obtiveram uma taxa de parto de 85%, com 10,4 leitões nascidos vivos por leitegada.

Foote (2002) utilizou o sêmen diluído em um diluidor a base de gema de ovo, resfriado a 5ºC e preservado por 48 horas para inseminar 70 leitoas e 55 porcas, obtendo uma média 10,1 leitões nascidos. A taxa de parto foi de 63%, sendo que as porcas pariram 1,5 leitões a mais em relação as primíparas.

Corrêa et al. (2006) propuseram um novo diluidor (PigPel-5) para diluir e armazenar o sêmen a 5ºC. Nesse experimento, avalia ram a manutenção de características físicas e a taxa de fertilização do sêmen resfriado após 24 horas de preservação, verificando uma motilidade média de 67,9 %, com uma maior freqüência (70,8%) de vigor igual a 4. Foram inseminadas 30 fêmeas e verifi cados o número e a taxa de óocitos fertiliza dos, que foram de 4,3 e 87,3%, respectiva mente, e não diferiram (p<0,05) dos resulta dos obtidos no grupo controle (sêmen diluído no BTS e armazenado a 17ºC).

Tabela 6. Avaliação da qualidade do sêmen suíno diluído em vários diluidores, submetido a diferentes períodos de incubação e estocado à diferentes temperaturas

Incubação Armazenamento Autores Diluidor ºC horas ºC Horas Mot. % NAR* %

Pursel (1972) 20% gema de ovo 30 5 5 10 min 55,00 49,30

0 33,00 65,00 2 42,00 65,00 4 52,00 70,00 6 55,00 72,00 Werber (1989) Androhep® 20 8 5 48 62,00 72,00 BTS® - - 5 48 42,00 73,00 Kotzias-Bandeira (1999) Androhep® - - - 48 42,00 72,00 Nascimento (1997) Mínima Contaminação - *RL 5 72 37,50 - - - 8 48 <70,00 - - - 10 48 <70,00 - Althouse (1998) Androhep® - - 12 48 >75,00 - Chuan-Xia e Zeng (2000) Sêmen fresco - - 4 48 12,00 31,00 Paulenz et al. (2000) BTS® - - 10 96 43,00 68,00

Foote (2002) 20% gema de ovo Ambiente 4 5 48 >70,00 -

Lactose-gema - - 5 48 51,43 69,80 Modena® - - 5 48 6,32 18,57 Lairintluanga (2002) Kiev® - - 5 48 6,57 20,23 24 5 72 65,60 80,10 Katzer (2002) BTS® 17 RL 5 72 62,80 78,50 BTS® - RL 5 36 43,13 - Roner (2003) X-Cell® - RL 5 36 55,00 - 24 5 72 68,40 71,40 12 5 72 65,70 68,10 15 3 5 72 52,20 70,10 Pérez-Llano (2005) Acromax® - - 5 72 24,10 44,40

*RL = Resfriamento Lento (7 a 8 horas); NAR = Percentual de células com reação acrossômica. Fonte: Adaptado de Katzer (2002).

2.1.8 Duração da estocagem do sêmen –