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2 CONFIGURAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

2.2 ESCALA DE TEMPO, MUDANÇAS CLIMÁTICAS E CLIMA

2.2.1 Tempo Cíclico

A ideia de tempo cíclico, conforme pautado anteriormente, foi incorporada à geomorfologia à medida que se dava sua evolução como ciência, contudo, adquiriu novas interpretações a partir do momento que se compreendia mais profundamente as mudanças climáticas quaternárias. Tais mudanças tornaram-se mais palpáveis com o advento dos métodos de datação absoluta, como os utilizados nos projetos GRIP e GRIP 2 (Datação dos núcleos de gelo do lago Vostok (Antártida) e fundo do oceano, buscando uma cronologia de eventos). Neste sentido, o trabalho de THOMAS (2004); ADAMS et al. (1999) e DANSGAARD, et al. (1993) demonstraram haver uma grande variabilidade climática de curto prazo no planeta com importantes implicações sobre as formas de relevo.

A partir dessas novas contribuições a cerca da dinâmica climática recente (Cenozóico Superior) tornou-se possível escalonar 9 (nove) importantes eventos ocorridos no planeta terra nos últimos 10 milhões de anos (Figura 02), sendo estes: Início das glaciações no hemisfério norte; Revolução do Pleistoceno médio; Interglacial entre 410 e 125 mil anos; Eventos cíclicos Heinrich e Dansgarrd-Oeschger; Deglaciação e o evento Younger Dryas; ENOS e as ocilações no Atlântico Norte, e por fim um futuro aquecimento global.

Figura 2 – Arranjo de mudanças climáticas em intervalos de tempo no Quaternário.

Para Adams et al. (1999) e Thomas (1994), dos eventos elencados acima, destacam-se 5 (cinco), os quais ocorrem em escalas distintas, cujo o intervalo de tempo varia do presente até 10 milhões de anos. São estes: Ciclos tectônicos; Ciclos orbitais de Mylankovitch; Evento Dansgarrd-Oeschger; Ciclo do ENOS e ciclo anual.

Para Selby (1992), os ciclos tectônicos são os responsáveis pela formação das maiores feições terrestres (Placas Tectônicas, cadeias de montanhas etc.), com escala de duração acima de 10 milhões de anos. Sua dinâmica processual está relacionada à migração de placas tectônicas e diante da escala de atuação seu resultado só é observado na escala de milhões de anos.

Os Ciclos orbitais de Mylankovitch são relacionados às variações no formato da orbita terrestre, e inclinação do eixo de rotação do planeta em relação ao sol, apresentando 3 (três) ciclos; Excentricidade, o maior, com aproximadamente 10 mil anos; Obliquidade, com 41 mil anos; e Precessão com 18 mil anos (ADAMS et al., 1999; DANSGAARD, et al., 1993).

Os Ciclos Dansgarrd-Oeschger (“Interstadials” e “Heinrich Events”) ocorreram após o fim do Eemian (ultimo interglacial), últimos 120 mil anos, com ciclicidade de 15.000 anos, com intervalos de aproximadamente 1.470 anos. Apresentam-se na forma de mudanças subidas de temperatura, cerda de 5°C a 10°C, em escala global, ou ao menos regional, com duração de 10 a 15 anos.

Suas fases quentes são denominadas de “Interstadials”, ocorreram entre 110 e 10 mil anos, e surgiram fortemente nos registros de gelo da Groelândia, e entre 115 e 14 mil anos atrás. Os “Heinrich Events” são conhecidos como o oposto aos

“Interstadials”, ou seja, são eventos extremos de frio e de curta duração. Ocorreram

no contexto geral do clima glacial, mas também se apresentam como intervalos frios e áridos. Para Adams et al. (1999), os “Heinrich Events” podem ter sido globais, embora a variação climática tenha sido maior no Atlântico Norte.

De acordo com este mesmo autor, até o momento há 25 eventos comprovados, tendo o ultimo evento sido registrado no Pleistoceno Superior (15.000 A.P.) As analises dos registros de gelo sugerem que os Ciclos Dansgarrd-Oeschger tiveram início e fim abruptos, embora seja comprovado que apesar da ciclicidade, estes tendiam ao resfriamento.

O El-Niño-Oscilação Sul (ENOS), chama atenção neste contexto haja vista sua imprecisão cíclica e conceitual. A literatura metodológica trata este fenômeno como anomalia que altera o padrão climático (NÓBREGA e SANTIAGO, 2014). Entretanto, a literatura geomorfológica o considera como um sistema de circulação perturbada que atua de forma cíclica na escala de décadas, com evidencias de sua ocorrência no Pleistoceno Inferior (ADAMS et al., 1999). Acerca do efetivo inicio de sua atuação, alguns trabalhos apontam para o Pleistoceno Superior (últimos 130.000 anos), outros propõe que o inicio de sua atividade coincide com as oscilações no Atlântico Norte há cerca de um milhão de anos. Apesar de imprecisão de seu início o ENOS se apresenta atualmente com uma variabilidade cíclica de 2 a 8 anos (SARACHIK e CANE, 2010). É importante destacar a influencia do ENOS para o semiárido brasileiro, local de inserção da área de estudo, já que este tem por característica aumentar ou diminuir as médias pluviométricas regionais, interferindo diretamente no padrão de transporte e sedimentação.

O ciclo anual consiste na variação de inclinação da terra ao longo do ano, resultando em alteração do balanço de energia no planeta, tal ciclicidade é a mais frequente e menos variante (AMORIM, 2016).

Para Gutierrez (2005), nas escalas de curto prazo, dentro das aplicações geomorfológicas, as mudanças ambientais estão relacionadas à atuação combinada e/ou isolada de três dinâmicas: geológica, climática e antrópica. Sendo necessário compreender que tais dinâmicas não necessariamente se comportam como cíclicas, ou atuam isoladamente, bem como é necessário compreender o tempo como uma variável passiva, que não adiciona nem remove matéria ou energia do processo geomorfológico.

Knox (1972) expõe a ideia de ciclicidade não atrelada a uma escala de tempo definida na evolução da paisagem, e apresenta que a ocorrência de tais ciclos desencadeia um padrão de resposta da cobertura vegetal e dos processos geomorfológicos relacionado a mudanças climáticas repetitivas, mas não necessariamente obedecendo a uma sequência de intervalos de igual duração. O modelo prevê que um aumento na precipitação provoca um aumento relativo da cobertura vegetal e, portanto, uma diminuição no potencial de erosão das encostas, e vice-versa (Figura 3).

No entanto, Araújo (2013) ressalta que as transições de úmido para seco e de seco a úmido são assimétricas em relação a uma quarta variável, qual seja, o trabalho geomórfico relativo, ou a produção de sedimentos. Em condições normais, a produção de sedimentos em áreas vegetadas é menor do que em áreas semiáridas devido à falta de proteção do solo contra chuvas torrenciais nestas últimas. A transição de um período seco para úmido irá produzir um pico na produção de sedimentos porque o solo estaria desprotegido, e a precipitação seria alta. Esta situação vai perdurar até que a vegetação se ajuste às novas condições. A situação oposta, de úmido para seco, tende a produzir uma diminuição na produção de sedimentos, uma vez que o solo já se encontra recoberto e a precipitação torna-se baixa. Mais uma vez, esta situação vai perdurar até que a nova vegetação (ou falta dela) prevaleça, e a produção de sedimentos, normalmente elevada em ambientes semiáridos, seja estabelecida.

Figura 3 – Modelo cíclico de processo de modificação na paisagem.

Fonte: Knox (1972)

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