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3 UM OLHAR PARA O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM E SUA

4.1 Tempo de conhecer

Ao lermos o Projeto de Gestão da escola, compreendemos que, a instituição faz parte da rede estadual e fica localizada na periferia de uma cidade do interior de São Paulo, atendendo estudantes de famílias de classe social baixa. A escolha dessa escola se deu pelo fato de ser uma instituição que está aberta a projetos e propostas que venham de diversas instituições, dentre elas, a universidade. Outros projetos e pesquisas, dentre eles a pesquisa de Prates (2011), já haviam sido desenvolvidos no local, o que facilitou o contato.

O primeiro contato com a escola foi realizado no início do ano de 2016 (mês de abril) por telefone, quando foi apresentada, de maneira bem resumida, a proposta de pesquisa e solicitada pela pesquisadora a marcação de uma reunião com a coordenadora pedagógica. Desde esse momento a escola se mostrou bastante interessada na proposta marcando uma conversa da pesquisadora com a coordenação pedagógica.

A proposta foi apresentada à coordenadora que aceitou e se mostrou bastante interessada, principalmente por se tratar da disciplina de Matemática, oferecendo sua ajuda e dando sugestões tanto das turmas, quanto da professora que poderíamos desenvolver o trabalho em conjunto. A sugestão inicial era que a pesquisa fosse realizada nas turmas de 9º ano. Segundo a coordenadora, essas turmas necessitavam de ajuda, ainda mais nessa fase em que eles deveriam passar por avaliações de desempenho vindas da Secretaria de Educação do Estado. Acatamos as sugestões e nos mostramos flexíveis ao trabalho que seria desenvolvido na escola. Vale ressaltar que deixamos claro desde o início que a intenção do trabalho de pesquisa não era “atrapalhar” o planejamento da professora naquele ano, mas sim contribuir com os trabalhos que já eram desenvolvidos sem comprometer o cronograma da escola.

No mesmo dia da conversa com a coordenadora foi apresentada à professora, de maneira resumida, a proposta de trabalho. A professora se mostrou interessada e “abriu as portas” de suas aulas para que a pesquisa acontecesse. Marcamos de conversar melhor em outro dia e definirmos a dinâmica de trabalho.

Uma semana após a apresentação da proposta, em uma conversa com a professora, ela sugeriu que o trabalho fosse realizado em uma das turmas de 6º ano que, segundo ela, seria melhor para o desenvolvimento da pesquisa já que se tratava de estudantes mais comprometidos e participativos.

Os trabalhos de pesquisa em sala de aula deram início no mês de abril e finalizados em dezembro. Mesmo estando programado o desenvolvimento das SDA apenas para o segundo semestre do ano, a escolha de ir para sala de aula logo no início do ano se deu para que a pesquisadora pudesse conhecer os estudantes, a dinâmica das aulas de Matemática, bem como interagir com esses estudantes e com a professora a fim de compreender esses sujeitos e suas relações naquele ambiente. Acreditamos que o trabalho ficaria mais complicado se chegássemos à sala de aula apenas no segundo semestre e já com gravadores e propostas de atividades, essa atitude poderia causar certo estranhamento e, até mesmo, comprometer o desenvolvimento das SDA e da pesquisa. No segundo semestre, quando foram desenvolvidas as SDA, percebemos como esse tempo anterior foi importante; os estudantes já estavam acostumados com a presença da pesquisadora, como também, a própria pesquisadora

conseguia compreender melhor alguns sentidos que os estudantes davam aos conteúdos matemáticos.

Inicialmente, a pesquisadora participou das aulas uma vez por semana observando a dinâmica das aulas e posteriormente, sob a orientação da professora, desenvolveu com os estudantes algumas tarefas em sala de aula. Durante esse tempo foram criados laços de confiança, dos estudantes para com a pesquisadora, como também da professora com a pesquisadora.

A turma escolhida era do 6º ano do ensino fundamental, composta por, em média, 27 estudantes, dois desses vinham transferidos de outra escola; na lista de presença constavam mais nomes, mas alguns estudantes foram transferidos. Havia, ao total, duas turmas de 6º ano, alocadas no período da manhã, sob responsabilidade da professora Vera5. A escolha de apenas uma turma se deu a partir do número de estudantes (as atividades de pesquisa em duas turmas se tornariam um pouco inviáveis) e também pelos horários de aula dessa turma, que eram mais favoráveis.

A professora da turma estava na escola há dez anos. Depois de ter trabalhado por 25 anos, o ano de 2016 estava previsto para a aposentadoria da professora, mas como o processo se estendeu a professora acabou ficando o ano todo na escola. Durante o ano a professora precisou tirar alguns dias de licença por motivos de doença, por isso em algumas semanas houve a presença de outro professor em sala de aula.

O horário das aulas era dividido de forma que haviam duas aulas seguidas por disciplina; assim, por dia, a turma tinha aula de apenas três disciplinas. No sexto ano escolhido para pesquisa, as aulas de Matemática aconteciam todas as segundas, terças e quartas-feiras, sendo que na terça e quarta-feira as aulas eram antes e depois do intervalo e as aulas de segunda-feira aconteciam nos dois primeiros horários. Desta forma, na terça e quarta os estudantes ficavam um tanto agitados nas aulas, esperando o intervalo e depois retornando dele.

Na primeira aula em que a pesquisadora esteve presente os estudantes ficaram curiosos querendo saber qual era seu trabalho, ainda que a pesquisadora tenha sido apresentada pela professora no início da aula, questionavam se a pesquisadora era professora assistente ou estagiária. A partir da segunda aula já estavam mais a vontade e não questionaram tanto.

Conforme fora combinado com a professora da turma, a pesquisadora estaria presente em sala de aula uma vez por semana (no primeiro semestre todas às quartas-feiras e no segundo semestre todas às terças-feiras e quando houvesse necessidade de mais algum dia).

Como comentado anteriormente, as aulas de terça-feira e quarta-feira aconteciam no terceiro e quarto horários (antes e depois do intervalo). Geralmente, a turma era bem agitada. Considerando-se a faixa etária dos alunos pode-se dizer que se comunicavam muito durante a aula. Falavam de vários assuntos e por este motivo alguns não faziam as tarefas propostas ou faziam outras tarefas que não estavam relacionadas aos conteúdos matemáticos. A dinâmica das aulas não se modificava tanto; a professora entrava na sala, tentava organizá-los em seus lugares (perdendo um pouco o tempo da aula) e retomava o que tinha trabalhado no dia anterior. Após o intervalo a cena se repetia, mas os estudantes estavam ainda mais agitados. De maneira geral, não eram muito participativos, poucos questionavam tirando as dúvidas ou faziam considerações durantes as aulas. Nas tarefas propostas alguns se recusavam a fazê-las, outros a realizavam com certa dificuldade e alguns conseguiam acompanhar.

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