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Os dados de tempo de passagem das sementes, distância de dispersão e habitat de defecação representam uma continuidade do trabalho anterior e foram reunidos para a publicação (Lapenta & Procópio-de-Oliveira, submetido).

Neste trabalho, assim como no trabalho realizado anteriormente (Lapenta, 2002) também não foram encontradas correlações entre as medidas das sementes engolidas e o tempo de passagem pelo trato digestório ou distância de dispersão das sementes. No entanto deve ser ressaltado que algumas medidas de distâncias e de tempo de

Capítulo 5 – Dispersão Secundária e Predação de Sementes

passagem das sementes podem estar subestimadas, pois muitos dados foram desprezados por não se saber exatamente quais fezes estavam relacionadas à quais árvores e determinados períodos de consumo. As diferenças na estimativa podem ter sido maiores em espécies que apresentam distribuição agregada como Miconia spp e outras, do que em espécies de distribuição isolada. Além disso, os micos-leões- dourados costumam retornar várias vezes nas mesmas árvores ao longo do mesmo dia, ou por dias seguidos, o que poderia explicar a falta de correlação entre o tempo de passagem das sementes e a distância de dispersão. Outro fator não analisado nesse estudo é a interferência da polpa. Algumas espécies como Sarcaulus brasiliensis e outras da família Sapotaceae apresentam uma grande quantidade de látex no fruto, que poderia influenciar o tempo de passagem das sementes pelo trato digestório do mico-leão-dourado.

Animais que defecam rapidamente podem apresentar uma adaptação às dietas baseadas no consumo de frutos maduros ricos em carboidratos e lipídeos que são extraídos no trato digestório (Link & Di Fiore, 2006). Além disso, um menor tempo de manuseio do fruto permite que as sementes sejam engolidas e passem intactas pelo trato digestório, representando uma vantagem para a planta, que dispersa suas sementes, e também para o frugívoro, que permanece menos tempo vulnerável a predadores.

A dispersão de sementes em grandes distâncias pode evitar altos índices de predação sob a árvore parental, devido aos efeitos de densidade. Mesmo que em baixos níveis, a dispersão a longas distâncias já será desproporcionalmente benéfica, se reduzir a competição no novo habitat (Nathan & Muller-Landau, 2000). Howe et al. (1985) estudando processos de dispersão de Virola surinamensis concluíram que sementes da espécie escapam mais facilmente da predação se forem dispersas, sendo que os insetos predaram mais sementes sob a copa da árvore parental, enquanto os mamíferos predaram mais, a uma distância de 40-50 m. Forget (1993) estudando a predação pós-dispersão por roedores no Panamá, não encontrou efeitos da distância na taxa de predação, mas houve influência do período de frutificação e abundância de frutos. A sobrevivência de sementes de Astrocaryum murumuru no Peru, também não foi afetada pela distância da árvore parental, mas sofreu influências do número de sementes presentes, enquanto as sementes de Dipteryx micrantha apresentaram efeito inverso (Cintra, 1997). Se os recursos estiverem localmente distribuídos, a probabilidade de a semente encontrar um local adequado para o estabelecimento irá decrescer com o aumento da distância do parental. Caso os recursos estejam

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distribuídos aleatoriamente, não há relação com a distância do parental, e a planta favorece a estratégia de dispersão (Chapman & Chapman, 1996).

Além dos efeitos de predação, a dispersão de sementes a grandes distâncias pode aumentar a velocidade de colonização de microhabitats não ocupados, aumentar o fluxo gênico entre habitats ocupados (Soons & Ozinga, 2005) e permitir que plantas pioneiras invadam clareiras na floresta de interior, onde a densidade de adultos é baixa (Fleming & Williams, 1990; Gathua, 2000). A área de uso dos micos-leões, dentro da Rebio União, apresentam uma grande diversidade de microhabitats, com áreas mais degradas e em estágio pioneiro de regeneração. Essas áreas apresentam grandes concentrações de espécies com distribuição agregada como Miconia latecrenata e Cecropia spp. Ao consumir essas espécies, que apresentam um elevado número de sementes pequenas, os micos contribuem para o melhoramento da qualidade do seu habitat, pois essas sementes são levadas a grandes distâncias e podem germinar ao encontrarem clareiras e outros locais em regeneração.

A dispersão de sementes em longas distâncias pode ser crucial para a troca genética e sobrevivência de espécies vegetais ameaçadas, que ocorram em áreas fragmentadas (Trakhtenbrot et al., 2005). Mesmo a dispersão em distâncias menores, já pode resultar numa sobrevivência de plântulas mais elevada do que sob a árvore parental (Gathua, 2000). Segundo Fuentes (2000), o recrutamento de muitas espécies vegetais é limitado mais intensamente pela falha das sementes em atingir locais apropriados do que pela falha no estabelecimento depois da chegada aos locais de germinação.

A dispersão de sementes em distâncias muito grandes pode ser prejudicial para a germinação de algumas espécies que são específicas quanto ao microhabitat de ocorrência, pois quanto maior a distância da árvore parental maior a chance de variação no microhabitat. No presente trabalho a maioria das sementes foi depositada entre 10 e 100 metros, o que representa uma distância importante para fugir da sombra da árvore parental, mas não tão grande para ser depositada em habitats inadequados. Além disso, a maior distância de deposição de fezes encontrada neste estudo (635 m) ocorreu para Sarcaulus brasiliensis, sendo que os frutos foram consumidos na baixada e as fezes foram depositadas no mesmo ambiente.

Em alguns casos a distância de dispersão também estará relacionada ao tamanho da área de uso do dispersor e à disponibilidade de cada microhabitat dentro da área de uso. Os habitats para estabelecimento das sementes dispersadas podem variar no espaço e no tempo (Gathua, 2000). As áreas protegidas onde os micos-leões ocorrem

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não são uniformes, e mesmo que estes não percorram grandes distâncias já contribuem para o aumento do fluxo de sementes entre os vários microhabitats. Além disso, o mico-leão-dourado também ocorre em outras áreas mais degradas e fragmentadas que apresentam um empobrecimento de espécies vegetais de grande porte (Carvalho, et al., 2004). O papel dos micos como dispersores de sementes é fundamental para a regeneração natural desses fragmentos.

Neste estudo foram medidas as distâncias de dispersão das sementes em relação à árvore parental, mas não foram consideradas as distribuições de outras árvores das mesmas espécies defecadas ao redor do local de deposição. Se as árvores próximas estiverem produzindo frutos, irão atrair predadores pelo efeito de densidade, além da competição por recursos para a germinação e estabelecimento. Portanto, essa distribuição pode influenciar tanto na sobrevivência, germinação ou predação das sementes defecadas pelos micos, como a própria sombra de sementes da árvore onde as sementes foram consumidas.

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