• Nenhum resultado encontrado

TEMPO DE GRAVAÇÃO 09 minutos e 14 segundos

(INÍCIO)

[00:00:00]

M1: Já está gravando aqui. Metodologia de trabalho em grupo. Eu dei uma olhada nas suas respostas e eu não sei se eu posso concluir que você tem uma certa restrição com o resultado dos trabalhos em grupo. Eu não sei. Olhando as suas respostas eu pude notar um viés um pouco para esse lado, é isso?

P 04: É isso mesmo. Uma certa restrição não, muita restrição a respeito de trabalho em grupo, tanto em sala de aula quanto fora da sala de aula.

M1: Está bom. Eu queria entender esse motivo, porque quando eu li aqui eu pensei: preciso tirar essa dúvida com ele.

P 04: Não, é muita restrição. Você quer saber o porquê?

M1: Isso. Na verdade, eu não sei se é porque não é possível acompanhar o processo, porque uma coisa é: formei o trabalho em grupo, dei as orientações e o pessoal sai fazendo. Eu só vou ver esse resultado no final e eu não tenho como avaliar o processo.

188

P 04: Quando você tem uma sala de aula na qual os alunos vão confeccionando o trabalho, vão lhe mostrando periodicamente esse trabalho, o qual você acompanha e anota as dificuldades, anota quais são as capacidades que eles apresentam na elaboração do trabalho, vai sanando esses problemas e vai, ao mesmo tempo, elogiando aquilo que está de acordo com o que você espera, com o objetivo que você propõe, o trabalho tem um bom resultado. Eu acho que tem um aprendizado muito grande por parte dos alunos durante esse processo de construção do trabalho, mas isso não é o que ocorre na prática. O que ocorre na prática é assim: você dá o trabalho, você deixa aberto, tanto no começo quanto no final da aula, para atender os grupos, para aqueles grupos que quiserem vir conversar sobre a elaboração do trabalho, e os alunos não vêm lhe procurar, os alunos não vêm mostrar o que eles estão fazendo. "Professor, dá uma orientação, como é que está? É por aí que a gente tem de ir? Isso aqui está certo? O que está faltando?" Essa dinâmica eles não têm quando você deixa em aberto.

M1: Entendi. Essa dinâmica está ligada, necessariamente, ao próprio interesse em eu me desenvolver e também ver o trabalho como: "isso aqui não é para mim, eu preciso me livrar logo disso"?

P 04: Eu acho que tem alguns contextos nos quais os trabalhos se dão. Eu tenho um contexto muito grande, qual é? É a própria dificuldade que os alunos dessa faculdade têm a respeito do tempo.

M1: Entendi.

P 04: Eles não têm tempo. Tempo hábil para estudar, cuidar de casa e trabalhar, e dar conta das tarefas, dar conta dos textos, dar conta da leitura, das atividades cotidianas que eles têm durante as aulas da semana. Então eles não têm esse tempo hábil. O que acaba acontecendo é que eles deixam a feição do trabalho para o final. Por isso que eles não gostam durante. Eu não estou programando o trabalho no decorrer do bimestre. Eles não fazem isso, eles deixam para sentar e fazer esse trabalho próximo à data de entrega.

M1: Mais uma dúvida. Acho que entendi o problema do trabalho em grupo, mas acho que você traz um outro ponto que não é, necessariamente, uma

189

característica da atividade, do trabalho em grupo, é de outras também, em função do perfil do aluno dessa universidade.

P 04: Sim. M1: É isso.

P 04: É isso. O trabalho em grupo não é ruim, na medida em que ele for feito dentro desses parâmetros de acompanhamento, ele é uma atividade enriquecedora para o aluno. Não só para ele poder aprender a expor, a expressar as ideias, a compreensão dele e ele discutir aquilo que está escrevendo, mas também é uma atividade na qual o aluno aprende a elaborar um trabalho. Tipo uma orientação, mas por conta desse contexto que fala mais alto, esse aluno não tem essa condição. O que ele faz? Muitas vezes ele esquarteja.

M1: Essa seria a minha próxima pergunta, porque você até entende que pode contribuir para o aprendizado, mas o problema é a interação, relacionamento, conflito e, principalmente, na hora de apresentar um trabalho.

P 04: Ele esquarteja um trabalho, então você faz uma parte, o outro faz outra, o outro faz outra e aí junta tudo e vira um (inint) [00:05:26].

M1: E não faz sentido quando se juntam as partes.

P 04: Não faz sentido nenhum, porque cada um faz uma parte e não tem conhecimento do todo do trabalho. Então quando você pega o trabalho e lê o trabalho, ele tem altos e baixos. Quando você vai dar uma devolutiva não tem conexão. Você fala: essa parte eu não entendi, dá para me explicar? Aí aquela pessoa que está na sua frente não consegue, porque ela não elaborou aquela parte. Quem vai explicar? A outra. "Não, essa parte não é minha, essa parte não foi eu quem fiz." Então não é um trabalho em grupo, efetivamente.

M1: Entendi. Eu tendo a acreditar, mas eu não tenho experiência para confirmar, de que não é um problema do perfil do aluno que tem muitos afazeres. Acho que é uma característica mesmo, não sei se posso dizer, até do próprio ser humano mesmo, de não querer estar envolvido no desenvolvimento integral de um trabalho, não se sente parte. Eu não sei por que, exatamente.

190

P 04: Eu acho que não tem aprendizado, desde lá de trás, de ter um hábito de elaboração de um trabalho, de ter uma troca, de colaboração para a elaboração de um trabalho em grupo. Acho que não tem esse aprendizado lá atrás, não é? Mas também eu acho que a questão maior é: não há tempo hábil para que isso ocorra.

M1: Entendi.

P 04: Não tem. Sábado, domingo? É muito pequeno para todos os trabalhos que eles executam no decorrer do semestre.

M1: Até para a gente caminhar no fechamento, eu acho que entendi os principais pontos que você trouxe. Eu vim do mundo corporativo, trabalhei em uma empresa que se pegava estagiários e trainees de faculdades de primeira linha, mas a dificuldade deles se relacionarem e trabalharem em equipe é tão grande, e escutando o que você está falando, eu fico em dúvida em relação ao tipo de perfil e atividade, porque são alunos que às vezes passaram a universidade sem trabalhar, só fizeram isso. Entram em uma organização e tem muita dificuldade em desenvolver um trabalho colaborativo, são extremamente competitivos. Eu tenho esse ponto de dúvida com relação ao que você está trazendo, mas com relação também ao que eu vejo nas empresas. Então acho que é só esse o viés, mas acho que tem um dado de realidade no que você traz e tem uma característica do perfil dessas pessoas que saem dessas faculdades.

P 04: Eu não vejo essa característica que você está apresentando, essa de competitividade e de não saber colaborar, não querer colaborar.

M1: Você não percebe então?

P 04: A dificuldade é: "não sei colaborar, não aprendi a fazer, como é que faz isso? Como é que eu faço um trabalho, como é que eu construo um trabalho em grupo?"

M1: Entendi. P 04: Entendeu?

191 P 04: É, o não querer e o não saber. É. M1: Perfeito.

P 04: Eu acho que é isso. Eu acho que elas até querem colaborar, mas dado esse contexto elas não têm condições de e não sabem fazer.

M1: Legal. Está bom. P 04: É isso?

M1: É, consegui tirar as minhas dúvidas. P 04: Que bom.

M1: Ok, vou parar aqui. [00:09:14] FIM

ENTREVISTA 6: REALIZADA EM 02/10/2018

PARTICIPANTES

Vozes masculinas identificadas: M1 (Pesquisador Mousar Casanova) Professor entrevistado: P 05

TEMPO DE GRAVAÇÃO