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3. 10 Tempo de transporte do sinistrado ao Hospital mais próximo

Gráfico 8 Tempo de transporte do sinistrado ao Hospital mais próximo.

Pela análise do gráfico 8, podem os depreender que, em 59% dos recint os que não possuem desfibrilhador, o hospit al mais próx imo fica localizado a uma dist ância superior a 5 minutos. Sabe-se que cinco minutos são considerados o tempo máximo admissível para se realizar a desfibrilhação em caso de paragem cardíaca2. Nest es recint os, para além de não ex ist ir qualquer t ipo de assist ência médica, o hospit al mais próx im o, em mais de met ade da amost ra, fica localizado a um a dist ância superior a 5 minut os, o que, segundo os especialistas, coloca a vida da pessoa afect ada em risco de mort e não reanimável .

Curiosament e, em t odos os recint os que possuem desfibrilhadores, o hospit al localiza-se a uma distância máxima inferior a 5 minutos.

No est udo realizado pelo jornal Público , verificou-se que a dist ância para o hospit al ou para o cent ro de saúde mais próx imo variava bast ant e e, se em alguns casos, apenas algumas cent enas de met ros dist avam de um hospit al ou quart el de bom beiros, nout ros,

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Até 3 minutos Entre 3 e 5 minutos Mais de 5 minutos

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est a ampliava-se para algumas dezenas de quilómet ros (chegando aos 47km numa part ida disputada no Campeonato Distrital de Beja) 18.

Num est udo efect uado em 187 est ádios de 10 países europeus, durant e a época 2005/ 2006, embora a percent agem seja subst ancialm ent e menor, verificou-se que, em 28%

dos casos (53), os recint os não dispunham de desfibrilhadores aut omát icos ex t ernos, mesmo encontrando-se a mais de cinco m inut os do hospit al m ais próx im o. Nesse est udo, refere, ainda, o aut or que, cinco minut os é considerado o t empo máx imo admissível para se realizar a desfibrilhação, em caso de paragem cardíaca2.

Tal como nós, est e invest igador, observou que est es clubes t ambém não possuem nenhum programa de treino de reanimação cardio-pulmonar.

Parece difícil compreender que, num event o com o um jogo de fut ebol, cujas caract eríst icas, especificidade e dimensões são previament e conhecidas, se aceit em os valores que act ualment e ex ist em no que concerne às enormes dist âncias que dist am para o Hospit al mais próx im o2. Est a sit uação t orna-se ainda mais int olerável nos recint os em que não existem meios de socorro do foro cardiovascular.

3.11 Ocorrência de óbitos nos jogadores

Na época futebolística 2009/2010, nos 30 clubes por nós estudados, e que utilizaram a t ot alidade de 607 jogadores, verificamos que não ocorreu nenhum óbit o nest es profissionais.

De referir que em t oda a lit erat ura por nós pesquisada, verificamos que a causa principal de morte súbita dos desportistas é do foro cardiovascular, maioritariamente devido à cardiomiopat ia hipert rófica. Ex ist em vários est udos que abordam est a t emát ica, t odavia opt amos apenas por escolher um que nos parece bast ant e fundament ado. Est e est udo f oi realizado com 1.866 at let as, que morreram de repent e, e foi realizado nos Est ados Unidos da América, ao longo de 26 anos (período compreendido ent re 1986 e 2006). Os aut ores, t ambém, concluíram que as causas mais comuns de mort e súbit a foram as de índole cardiovascular, nomeadament e a cardiomiopat ia hipert rófica (36%) e anom alias congénit as das artérias coronárias (17%) 24.

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3.12 Ocorrência de acidentes cardiovasculares nos jogadores

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o acident e vascular cerebral (AVC) é a segunda causa mais frequent e de mort alidade a nível mundial e a t erceira nos países indust rializados, logo a seguir à doença coronária e ao cancro em geral. Em cada ano, o AVC causa cerca de 5,54 milhões de mortes a nível mundial.

No ano de 1999, por ex emplo, em Port ugal, o AVC chegou inclusive a ser a principal causa de m ort e, sendo responsável por 20,3% do t ot al de óbit os. Com t ax as de mort alidade padronizadas por idade, usando a mesma população padrão mundial da OMS, verificou-se a morte de 129/100.000 para homens e de 107/100.000 para mulheres34.

Com uma padronização por idade feit a para a população padrão europeia, const at ou-se que, para o ano de 2006, o valor da t ax a de mort alidade por doença cerebrovascular em Portugal, por 100.000 habitantes, foi de 80,7 9.

Embora os dados da Direcção Geral de Saúde (DGS) nos most rem que as t ax as de m ort alidade por doença cerebrovascular, em Port ugal, t em vindo a descer ao longo dos últ imos anos, const at amos que os dados est at íst icos, ant eriorment e mencionados, relat ivament e ao risco de mort e súbit a, na população em geral, são bast ant e superiores ao risco de m ort e súbit a nos at let as que est á est imada aprox imadament e numa m édia de 1/100.000.

A comprovar a afirm ação por nós referida no parágrafo ant erior, mencionamos um est udo com parat ivo de at let as de várias modalidades desport ivas ent re a cidade de Minnesota (Estados Unidos) e a cidade de Venet o (It ália), durant e o período compreendido ent re 1993 e 2004. Os aut ores concluíram que as duas regiões não diferiram significativamente nest e período pois, em Venet o, verificaram que o risco de m ort e súbit a é de 0,93/ 100.000 at let as/ ano e, em Minnesot a, é de 0,87/ 100.000 atletas/ano. Neste mesmo est udo, mas num período bast ant e mais abrangent e (compreendido ent re os anos de 1985 e 2007), a média referida no parágrafo ant erior (1/ 100.000/ ano), mant êm-se pois, Venet o, surge com um risco de mort e súbit a de 1,87/ 100.000 ano e, Minnesot a, com 1,06/100.000 ano 24.

Embora a nossa amost ra seja bast ant e inferior, ela parece provar a t al t endência do risco de m ort e súbit a nos fut ebolist as ser inferior à da população em geral, uma vez que, durant e a época fut ebolíst ica 2009/ 2010, nos 30 clubes por nós est udados, foram ut ilizados um t ot al de 607 jogadores e verificamos que não ocorreu nenhum óbit o, nem nenhum acident e cardiovascular nest es at let as. Em cont rapart ida, nos espect adores verificaram-se 2 óbitos e 35 acidentes do grupo cardiovascular.

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Out ro est udo, realizado na época 2005/ 2006, em 187 est ádios de 10 países europeus (Reino Unido, França, Holanda, Espanha, Suécia, Grécia, Noruega, Sérvia, Áust ria e It ália), t ambém, apresent a result ados idênt icos aos nossos. Os aut ores concluíram que, durant e a época analisada, não se verificou nenhum acident e cardíaco ent re os jogadores2. De referir que, nest es 187 est ádios de fut ebol, pelo menos f oram analisados 4.114 jogadores (num mínimo de 22 jogadores por estádio).

3.13 Ocorrência de óbitos nos espectadores

Gráfico 9 Ocorrência de óbitos nos espectadores.

Durant e a época fut ebolíst ica 2009/ 2010, nos 30 recint os desport ivos por nós analisados, verificaram -se 2 óbit os. Esses óbit os ocorreram apenas na Superliga, nomeadam ent e no Est ádio do Dragão (FCP) e no Est ádio AXA (SCB). Saliente-se o fact o do óbit o ocorrido no Est ádio do Dragão, t er sido submet ido a desfibrilhação eléct rica, t endo sido efect uada com sucesso a reanimação no local, t odavia, obt ivemos inf ormação que a vít ima post eriorment e veio a falecer no Hospit al de S. João, não nos sendo possível apurar mais factos. No óbito que ocorreu no Estádio AXA, não se procedeu a reanimação através de desfibrilhação eléctrica, porque apesar de t er sido pront ament e assist ida, informaram -nos que a vít ima já se encont rava cadáver sem nenhuns sinais vit ais, não nos sendo possível

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Superliga Liga Honra 2ª Divisão B 3ª Divisão Distritais

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apurar mais factos.De referir que estes são os dois recintos da zona norte onde afluem mais espectadores.

Result ados, idênt icos aos nossos, foram observados num est udo realizado no est ádio do Barcelona, durant e a compet ição oficial, na t emporada de 2000/ 2001, em que t am bém se regist aram 7 casos de paragem cardio-respirat ória, sendo que, um deles result ou em óbito15. De referir, t am bém, que o est ádio do Barcelona é um dos recint os espanhóis onde se verificam, quase sempre, elevadas assistências de espectadores.

3.14 Ocorrência de acidentes cardiovasculares nos espectadores

Gráfico 10 Ocorrência de acidentes cardiovasculares nos espectadores.

Durant e a época fut ebolíst ica 2009/ 2010, nos 30 recint os desport ivos por nós analisados, assist iram à t ot alidade dos jogos das 30 equipas, 1.522.487 e verificaram-se 35 acident es do grupo cardio-vascular, t endo est es ocorrido no Est ádio do Dragão e no Est ádio AXA. Em apenas um caso houve paragem cardio-respirat ória t endo a vit imas sido reanimadas at ravés de ressuscit ação cardio-pulmonar ut ilizando, para o efeit o, as manobras de compressão t orácica e ainda desfibrilhação com o DAE t endo a reanimação sido bem sucedida no local.

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Superliga Liga Honra 2ª Divisão B 3ª Divisão Distritais

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As rest ant es 34 ocorrências f oram essencialment e devido a sit uações de síncope e não houve necessidade de recorrer a desfibrilhação.

Um est udo realizado na época 2005/ 2006 apresent a result ados semelhant es aos nossos. Os aut ores concluíram que, durant e a época analisada, não se verificou nenhum acident e cardíaco ent re os jogadores ou ent re os responsáveis das equipas, mas isso aconteceu a 77 espectadores, o que significa uma incidência de uma por 589.000 pessoas2.

De Agosto de 2006 a Maio de 2007, 800.000 pessoas assist iram aos jogos de fut ebol no estádio do AZ Alkmaar, na Holanda. Ocorreram 4 eventos cardíacos e a reanimação com desfibrilhadores foi bem sucedida em t odos eles. Para o sucesso dest a operação, a presença de equipas de emergência médica, assim como os DAE, foram de vit al im port ância para o atendimento imediato de pacientes e para a sua reanimação no local20.

Nout ro est udo, envolvendo 20 estádios do campeonat o profissional de fut ebol holandês, durant e as épocas 2006/ 2007 e 2007/2008, verificou-se que quase 13 milhões de espect adores assist iram aos jogos e foram det ect ados 93 event os cardíacos (0,73/ 1.000.000). Est es invest igadores, embora sem apresent arem dados concret os, referem que a ocorrência de event os cardíacos nos espect adores, que se deslocam aos estádios da Holanda, é mais baixo do que o da restante população 33.

No est ádio do Barcelona, durant e a compet ição oficial, na t emporada de 2000/ 2001, embora não saibamos a quant idade de espect adores, t ambém se regist aram casos de paragem cardio-respirat ória, sendo que um deles result ou em óbit o. Nest e est udo, verificaram-se 7 casos de paragem cardio-respirat ória. Dest es 7 casos, 1 pessoa veio a falecer, 4 t iveram enfart e agudo do miocárdio e 2 angina inicial15. De salient ar que o Est ádio do Barcelona é uma dos maiores de Espanha e onde por norma est ão present es bast ant es espectadores por jogo.

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