• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 4 – MAIS TEMPO NA ESCOLA, MENOS TEMPO NO

4.3 TEMPO INTEGRAL PARA A EDUCAÇÃO: novos contextos de articulação

As primeiras experiências de escolas em tempo integral no Brasil foram realizadas, de forma esparsa ao longo do século XX. “A diferença entre elas e os internatos e semi-internatos foi marcada pelo discurso pedagógico da Nova Escola, sendo Anísio Teixeira quem mais se dedicou a escrever e agir para a implantação de algumas delas.” (CAVALIERE, 2007, p. 1028).

108 As outras ações (ou projetos) que compõem Fundescola são: ações Planejamento Estratégico da Secretaria (PES), Sistema de apoio à elaboração do plano de carreira do magistério público, Sistema integrado de informações gerenciais (SIIG), Sistema integrado de informações gerenciais (SIIG), Escola Ativa, Programa de gestão e aprendizagem escolar (Gestar), Programa de apoio à leitura e à escrita (Praler), Programa melhoria do rendimento escolar, Microplanejamento, Espaço educativo, Padrões Mínimos de Funcionamento das Escolas (PMFE), Levantamento da Situação Escolar (LSE), Projeto de Adequação do Prédio Escolar (Pape), Mobiliário e equipamento escolar.

Influenciado pelas ideias de John Dewey110, acreditava Anísio Teixeira que a educação escolar deveria voltar-se para a formação integral da criança. Para isso, no seu entender, fazia-se necessário romper com o ensino tradicional e adotar uma prática educativa que considerasse os interesses, as aptidões, as habilidades e a realidade social de cada aluno.

Em seu livro Educação não é privilégio, escrito em 1953, Anísio Teixeira, contrário ao que ele chamou de “democratização da escola” referindo-se à extensão do acesso à escola primária em detrimento do tempo escolar111, ocorrido nas décadas de 1920 e 1930, comenta:

[...] não podemos ser uma escola de tempo parcial, nem uma escola somente de letras, nem uma escola de iniciação intelectual, mas uma escola, sobretudo, prática, de iniciação ao trabalho, de formação de hábitos de pensar, hábitos de fazer, hábitos de trabalhar e hábitos de conviver e participar em uma sociedade democrática, cujo soberano é o próprio cidadão [...]. Não se pode conseguir essa formação em uma escola por sessões, com os curtos períodos letivos que hoje tem a escola brasileira. Precisamos restituir-lhe o dia integral, enriquecer- lhe o programa com atividades práticas, dar-lhe amplas oportunidades de formação de hábitos de vida real, organizando a escola como miniatura da comunidade, com toda a gama de suas atividades de trabalho, estudo, de recreação e de arte. (TEIXEIRA, 1999a, p. 63-64).

Percebe-se, assim, que a defesa de Anísio Teixeira não era simplesmente por uma escola de tempo Integral, mas, principalmente, por uma educação integral. Uma educação, conforme descrito em seu livro Educação e a crise brasileira (1956), capaz de:

[...] dar-lhe seu programa completo de leitura, aritmética e escrita, e mais ciências físicas e sociais, e mais artes industriais, desenho, música, dança e educação física. Além disso, desejamos que a escola eduque, forme hábitos, forme atitudes, cultive aspirações, prepare, realmente, a criança para a sua civilização – esta civilização tão difícil por ser uma civilização técnica e industrial e ainda mais difícil e complexa por estar em mutação permanente. E, além disso, desejamos que a escola dê saúde e alimento à criança, visto não ser possível educá-la no grau de desnutrição e abandono em que vive. (TEIXEIRA, 1999b, p. 79)

110 Anísio Teixeira se formou na Universidade de Columbia, onde teve como professor de Filosofia da Educação John Dewey.

111 O Estado de São Paulo, que liderou o movimento, chegou a sugerir uma escola de dois anos, e com esforço é que alguns educadores conseguiram elevá-la a quatro anos de estudo, no meio urbano, e a três, na zona rural. (Anísio Teixeira, 1999a).

Destarte, acreditando na possibilidade de uma escola integral em tempo integral, Anísio Teixeira, na ocasião Secretário de Educação da Bahia, cria, em 1950, o Centro Educacional Carneiro Ribeiro, conhecido por Escola-Parque.

A Escola-Parque, projetada para atender a mil alunos, compunha-se de quatro prédios e de sete pavilhões. Nos prédios funcionavam as escolas-classes de ensino primário e nos pavilhões (escola-parque) as atividades denominadas práticas educativas, ou seja, as atividades desenvolvidas em horário oposto ao das escolas-classes. A escola oferecia também alimentação e atendimento médico e odontológico aos alunos. (NUNES, 2009).

A ideia de uma escola de tempo integral no país é retomada após a ditadura militar, mais precisamente no período da “redemocratização”, tendo a frente Darcy Ribeiro, secretário do Programa Especial de Educação (PEE), do Estado do Rio de Janeiro, nos dois governos de Leonel Brizola. A cargo dessa secretaria, Darcy Ribeiro cria centenas de Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs), sendo, em 1990, adotados pelo então presidente Fernando Collor de Mello, com o nome de Centros Integrados de Apoio às Crianças (CIACs).

De acordo com Bomeny (2007), independente da avaliação que se faça da aproximação entre Brizola e Collor, “não há como negar que os CIEPs se tornaram referência e inspiraram a criação de escolas em tempo integral em todo o país. Esta foi uma associação que o tempo não desfez: CIEP é, ainda hoje, sinônimo de escola em tempo integral.” (BOMENY, 2007, p. 3).

E, por assim dizer, escola de tempo integral, tipo CIEPs, é sinônimo de escola redentora das mazelas do capital, a exemplo da colocação abaixo proferida por Darcy Ribeiro:

Ao invés de escamotear a dura realidade em que vive a maioria de seus alunos, proveniente dos segmentos sociais mais pobres, o CIEP compromete-se com ela, para poder transformá-la. É inviável educar crianças desnutridas? Então o CIEP supre as necessidades alimentares dos seus alunos. A maioria dos alunos não tem recursos financeiros? Então o CIEP fornece gratuitamente os uniformes e o material escolar necessário. Os alunos estão expostos a doenças infecciosas, estão com problemas dentários ou apresentam deficiência visual ou auditiva? Então o CIEP proporciona a todos eles assistência médica e odontológica. (RIBEIRO, 1986, p. 48)

Para Bomeny (2007, p. 52), o projeto de educação em tempo integral, defendido por Darcy Ribeiro apoiava-se, sobretudo, no “argumento político da intervenção social pela assistência à infância, ao menor abandonado, às famílias desestruturadas, enfim, pela compensação à população carente pela falha do Estado em prover políticas públicas”. Ainda, não menos importante, “apresentava-se como antídoto à violência anunciada pela perda dos menores para o crime e para a rua”.

Não escondendo à dimensão compensatória do programa de educação integral, Darcy Ribeiro em defesa dos CIEPs para as crianças pobres assevera: “A maioria delas [...] necessita de ajudas compensatórias da pobreza em que vivem e do atraso de suas famílias, que não tiveram escolaridade prévia, nem têm casas e facilidades para que seus filhos estudem orientados por algum parente letrado.” (RIBEIRO, 1986, p. 45).

Após o desmonte dos CIEPs, dada a sua precariedade, o assunto sobre a educação de tempo integral reaparece, a partir de 2002, “por força da LBD e da difusão da ideia de que a oferta do ensino estaria já universalizada, tratava-se, agora de buscar a qualidade dos sistemas de ensino”. Em busca dessa almejada qualidade “a bandeira da educação de tempo integral esteve empunhada pelas mais diversas facções político-partidárias” nas campanhas eleitorais para governos estaduais, realizadas em 2002 e 2006, “e também nas campanhas presidências.” (CAVALIERE, 2007, p. 1028).

A esse respeito vale destacar o discurso proferido pelo senador Cristovam Buarque, em 28 de junho de 2006, no Senado Federal, uma semana após a morte de Leonel Brizola, considerado o pai dos CIEPs:

[...] quero falar dos Cieps do Presidente Lula, um projeto que tem passado despercebido, mas que tem a mesma ambição, e talvez até maior, do que aquela dos Cieps de Brizola. [...] os Cieps do Presidente Lula não visam a uma escola com qualidade por seis horas, mas visam a que a cidade inteira dê um salto educacional. No Governo do Presidente Lula, os Cieps receberam o nome de Escola Ideal. Não se trata de uma escola individual, mas de uma escola em sentido global, ou seja, do conjunto de todas as escolas de uma cidade [...]. Em contrapartida os Governos estaduais se comprometeriam com a capacitação dos professores, diretores e funcionários e a melhora na remuneração dos docentes. E os Governos municipais ficariam responsáveis pela eliminação do analfabetismo, combate à prostituição e ao trabalho infantil, manutenção de todas as crianças na escola e melhora do salário do