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Tempo necessário e tempo disponível

No documento Lições do Rio Grande - Volume 2 (páginas 125-127)

3. Organização do Referencial Curricular

3.3 Tempo necessário e tempo disponível

A lógica de organização curricular apre- sentada impõe uma questão: quanto tempo deveria ser dedicado a cada tema estrutura- dor nos diferentes ciclos escolares? A resposta mais simples seria: o tempo necessário para que o aluno aprenda. Mas isso nem sempre é fácil de precisar, ainda mais em uma disci- plina que lida com tanta diversidade de co- nhecimento em tão pouco tempo disponível.

Nesta linha de raciocínio, é importante perceber que a coerência de uma proposta também é medida pela adequação entre as intencionalidades educativas declaradas e o tempo previsto para atingir esse objetivo. Por exemplo, não dá para afirmar em um plano de estudo que a Educação Física busca fazer os alunos conhecerem e apreciarem a plura-

lidade das práticas corporais sistematizadas, compreendendo suas características e a di- versidade de significados a elas atribuídos, se

90% das aulas da 5ª série do ensino funda-

Práticas corporativas expressivas Práticas corporais junto à natureza Atividades

aquáticas corporais ePráticas sociedade Práticas corporais e saúdde Lutas Jogo motor Ginástica Esporte 5ª e 6ª 7ª e 8ª 1º 2º e 3º 50% 44% 44% 40% 18% 10% 12% 16% 10% 8% 10% 10% 12% 12% 10% 10% 12% 6% 6% 6% 6% 8% 10% 6% 6% 8% 10% Quadro 1

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mental ao 3° ano do ensino médio são dedi- cados à prática de dois ou três esportes. Essa situação mostra uma clara incompatibilidade entre o objetivo de ensino traçado e o tempo previsto para aprender o que foi formulado, já que aí nesse exemplo nem mesmo a diver- sidade interna ao próprio mundo esportivo poderia ser contemplada.

Para evitar tal desproporcionalidade, o Referencial estipula um percentual de tem- po a ser dedicado para cada um dos temas. Para tanto, toma como referência o conjunto de princípios orientadores e os critérios da progressão curricular descritos anteriormen- te, bem como as experiências desenvolvidas em algumas escolas da rede pública estadu- al que, desde 2003, trabalham na perspec- tiva teórico-metodológica que sustenta esta proposta. No Quadro 1 consta o percentu- al previsto para cada tema estruturador nos diferentes ciclos escolares, esquematizando uma relação, sempre tensa, entre “o tempo necessário e o disponível”.

Estabelecer os percentuais de cada tema estruturador ao longo dos ciclos escolares é uma forma de articular o conjunto de conhe- cimentos da disciplina com os objetivos edu- cacionais a ela atribuídos. Além disso, põe em pauta uma questão fundamental: o peso ou a importância que os diferentes temas tratados pela Educação Física (traduzido em tempo dedicado para desenvolvê-los) deve ter na disciplina como um todo e em cada ciclo escolar em particular.

Neste sentido, é necessário que cada es- cola explicite, em seu plano de estudo, o tempo previsto para os diferentes temas es- truturadores da disciplina, buscando harmo- nizar o processo de seleção dos saberes para cada ano escolar com as intencionalidades pedagógicas previstas pela instituição educa- cional. Esquemas como o exposto no Qua- dro 1 têm-se mostrado, em experiências de planejamento coletivo, desencadeadores de produtivas discussões sobre o que ensinar na Educação Física.

Entre os diversos esclarecimentos neces- sários para uma melhor interpretação do

quadro, três se destacam. Primeiramente, os tempos previstos para cada tema estrutura- dor não se desdobram, necessariamente, em unidades didáticas separadas. Como já foi afirmado anteriormente, não se deve con- fundir a esquematização gráfica da distribui- ção do tempo curricular com a forma como são planejadas e desenvolvidas as aulas. Por exemplo, o tempo previsto para as Práticas

corporais e sociedade e as Práticas corporais e saúde no efetivo desenvolvimento das aulas

pode ser articulado ao desenvolvimento de outros temas estruturadores.

Em segundo lugar, os percentuais apon- tados no Referencial não são fixos, e sim, orientadores da distribuição do tempo dis- ponível para tratar os temas estruturadores em cada escola. O plano de estudo da disci- plina, em consonância com o plano político pedagógico da escola, poderá prever pro- porções diferentes de tempo para cada tema estruturador. Entretanto, é importante frisar que os percentuais não deverão variar muito, pois isso traria dificuldades para o desenvol- vimento das diversas competências a serem aprendidas pelos alunos nas aulas de Edu- cação Física, especialmente se eles vierem a trocar de escola. A recomendação é de que o tempo dedicado ao tema esporte, apesar de ser um dos conteúdos mais tradicionais da Educação Física, não exceda o previsto no quadro acima. Por conseguinte, o plano de estudo das escolas não deveria prever menos tempo do que o estipulado pelo Referencial para os outros temas estruturadores (e talvez ainda seja pouco tempo).

Por último, é importante compreender os temas estruturadores como manifestações da cultura corporal de movimento a serem estudadas e não como um meio para o de- senvolvimento de outros conteúdos. Este tipo de confusão é bastante comum, por exem- plo, em relação ao jogo motor. O jogo como conteúdo é uma manifestação da cultura corporal de movimento com características que o diferenciam do esporte. Tais caracterís- ticas demandam uma tematização específica (jogos populares, jogos tradicionais) dentro

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de um determinado ano escolar, pois só assim os alunos poderão compreender as peculia- ridades desta prática corporal. Isto não quer dizer que os jogos não possam ser usados como ferramenta auxiliar no ensino de ou- tros conteúdos. Um caso típico da utilização do jogo como ferramenta é o famoso jogo dos “10 passes”, que funciona como uma estraté- gia para se ensinar retenção coletiva da posse de bola em diferentes esportes de invasão. É importante frisar que o jogo dos “10 passes”, enquanto atividade mediadora, pode ser subs- tituído por outro quando o objetivo para o qual foi escolhido não é alcançado. Já quando o jogo assume o caráter de conteúdo, e não de ferramenta, ele deve ser entendido como parte do Patrimônio Cultural Intangível ou Imaterial

da Humanidade (UNESCO, 2009), e como tal

deve ser estudado pelos alunos. É, portanto, um conhecimento com valor em si, um conteú- do que necessita de tempo específico para ser estudado.

7 Há outros formatos e suportes possíveis para organizar um documento com as mesmas características deste, por exemplo, o hipertexto. Experiências

desenvolvidas com esse recurso na disciplina de Currículo e Planejamento em Educação Física, da Universidade Regional do Noroeste do Estado de Rio Grande do Sul (Unijuí), mostram que esse tipo de suporte oportuniza arranjos interessantes na exposição do plano de estudo, bem como gera processos interativos de modificação e o arquivamento de experiências didáticas vinculadas aos diferentes temas estruturadores.

4. Mapas de competências

No documento Lições do Rio Grande - Volume 2 (páginas 125-127)