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3.3 Pontos de Tensão

3.3.2 Tensão: integrados e não integrados

Um dos pontos de tensão que tem gerado uma série de problemas na implementação de algumas medidas refere-se à questão da integração. De acordo com a maior parte dos depoimentos, os produtores integrados as Agroindústrias estariam preparados e adotando as medidas. Por um lado, isso ocorre uma vez que a iniciativa do Plano tem sido das próprias Agroindústrias como visto anteriormente. No entanto, os produtores de aves que não estão integrados não estariam comprometidos na aplicação das medidas assim como os produtores integrados. Como ressalta um dos membros do comitê:

“nós ainda temos produções que são precárias... Entre o meio avícola, está muito bem disseminado, as pessoas conhecem estão envolvidas, comprometidas, assim até a gente pode dizer que mudou bastante nesses anos todos, o comprometimento do setor avícola nessas situações. Agora, por exemplo, a gente não tem um controle de outras associações, de outras entidades, elas não tem um conhecimento necessário. Por exemplo, nós proibimos visitas nos integrados, nós não permitimos que nenhum representante estrangeiro chegue as nossas propriedades. E as vezes a gente fica sabendo que tem prefeituras, tem coisas

que, acabam tendo, visitantes, como aconteceu esses dias em Chapecó, da África, e que foram visitar propriedades rurais, e a gente sabe que isso é um risco, que as pessoas são, representam um risco para nós. Então, nem todos tem essa informação clara, e também dos riscos que representam.” (Acav).

Desta maneira, fica evidenciado como os produtores integrados estariam mais suscetíveis com relação à efetiva adoção das medidas, o que não ocorreria com os produtores não integrados, que não estariam concretizando na prática algumas normas básicas preconizadas.

A opção de ser ou não integrado por parte dos avicultores é análoga a um investimento qualquer, sendo a segurança entendida enquanto um fator fundamental na questão da Influenza Aviária. “A poupança, é a que dá menos risco. Se aplicar na bolsa, você vai ter uma lucratividade maior, mas o risco é muito maior.” (Faesc). A seguir o entrevistado afirma que a integração “é uma coisa mais segura. Sempre dá. Nunca perde. Sempre tem alguma receita.” (Faesc). No caso dos produtores não integrados, um dos pontos que caracteriza a sua lucratividade é a plena possibilidade dela ser obtida, considerando a maior liberdade da escolha na compra dos pintinhos, da ração e como no produto final ele também desfruta desta mesma liberdade para a venda. Por outro lado, os não integrados estariam mais suscetíveis às variações do mercado, sendo que a lucratividade, o risco no mercado e os prejuízos com uma possível presença de H5N1, acompanham esta lógica.

QUADRO 6: Aspectos da produção

Modelo Lucratividade para o avicultor Risco no Mercado Em um possível contágio de Influenza Aviária

Integrado Menor Menor Mais protegido

Não Integrado Maior Maior Menos protegido

Fonte: Elaboração própria

Quando remetido aos integrados, essa lógica se inverte, pois se a lucratividade é menor, a proteção que ele a princípio conseguiria seria maior. No caso de uma enfermidade o integrado estaria recebendo uma determinada quantia mesmo não produzindo: “se um dia vier à enfermidade e tal vai ser. Por exemplo, se você vai ter que ficar com um lote por um período, mais tempo vazio, a empresa paga para ele para ficar aquele período, mais tempo

vazio... ele recebe um x para ficar parado”. (Faesc) Como um todo, a lucratividade e os prejuízos podem ser sintetizados enquanto “os prejuízos são divididos, os lucros também, nessa parte.” (Faesc). Com um maior detalhamento em um possível surto de Inlfuenza Aviária, a situação é descrita da seguinte forma:

“O menor prejuízo que a agroindústria teria, é mandar eliminar um lote. Perante uma possibilidade de um prejuízo econômico. Aqui, no sistema integrado, lá de fora, eu comprei a ração, eu comprei o pintinho, hoje eu tenho um contrato para vender o frango para você. Então nesse sentido que eu falo. Se você não tem uma verticalização da cadeia, alguém desse outro processo vai assumir o prejuízo. E aí eu te pergunto: quem vai querer assumir? Por isso que o sistema brasileiro, por vezes parece ser um monopólio, mas ele é protegido.” (Sindicarne).

Neste depoimento o entrevistado estabelece uma comparação entre os dois modelos, de integração e não integração, assumindo de que maneira as Agroindústrias agiriam frente a um possível surto, estando o produtor avícola com garantias de não ter sua atividade econômica abalada em função de uma crise desencadeada por uma epidemia, o que não ocorreria no caso dele não estar integrado, ficando desamparado assumindo os prejuízos em sua totalidade.

Em outro depoimento o caso de um problema sanitário para o caso de um não integrado seria mais grave. “Se der qualquer problema sanitário, ele vai, não vai poder exercer mais essa atividade. (Udesc). Com isso, a atividade poderia estar comprometida em função de um surto de Influenza Aviária, inviabilizando a atividade econômica.

O descontentamento por parte de alguns avicultores com relação a alguns aspectos da integração aparecem no seguinte depoimento:

“por exemplo, a integração. Até que surgiram umas discussões à um tempo atrás. ‘Ah a integração é bom para a industria’. Sem dúvida que é bom para a indústria, se não, não colocaria isso aí. Agora, é bom para o integrado? Claro que é bom. Tem filas de gente querendo se integrar. Então também é bom. Por que? Numa pequena área o cara põem um galpão e tira um sustento razoável dali, que na atividade agrícola dificilmente tiraria. (Udesc).

O início do depoimento mostra de que maneira alguns avicultores estariam descontentes, considerando que a maior parte da lucratividade ficaria com as Agroindústrias. Todavia, na seqüência da resposta, o entrevistado remete ao outro lado da integração, demonstrando como a integração é interessante do ponto de vista do avicultor.