• Nenhum resultado encontrado

3.3 Pontos de Tensão

3.3.4 Tensão: Produção Comercial e Produção Independente

O modelo de produção comercial, geralmente baseado na produção industrial, estaria em contraponto com a produção independente ou produção denominada “amadora” em que não há um vínculo deste tipo de produção com uma atividade econômica considerada forte, onde o produtor depende da atividade para o sustento constituída como principal atividade. Mas esta estaria atrelada a uma produção de subsistência, conhecida também como criação de fundo de quintal. Portanto, são utilizados pelos entrevistados como sinônimos para se referir à produção independente às categorias de produção amadora, fundo de quintal e hobbie.

Com a produção de fundo de quintal identificada como uma parte presente difundida na cultura de algumas famílias catarinenses, ela mereceria uma atenção especial por representar um risco em função do modelo de produção. “Existe uma parte dessa situação, que são aquelas criações de fundo de quintal, que o pessoal às vezes não tem muito cuidado, que é um hobbie, não é atividade econômica principal, que ainda representa uma preocupação.” (SFA/SC). Por outro lado, a produção comercial é vista de

maneira satisfatória na implementação das medidas: “a agricultura profissional... Esse pessoal, na minha opinião, até aonde a gente tem visto aí, já está ciente do problema, está realmente adotando as medidas preconizadas pelo governo.” (SFA/SC). Adiante o entrevistado reitera o risco no âmbito da produção que ele considera uma prática análoga a um hobbie, pois “essa criação por hobbie de subsistência, é o cidadão que tem lá um galinheiro com 4, 5 poedeiras, um galo e tal, e ao invés de ter esses animais confinados ou presos numa área... Essa é uma situação de um certo risco.”(SFA/SC). Com isso, o membro do CESAVI estabelece uma comparação entre os dos tipos de produção aonde estaria presente o maior risco por parte da criação “amadora”, uma vez que eles não estariam adotando as medias, o que não estaria acontecendo com a produção comercial.

QUADRO 8: Modelo de Produção Comercial e Independente

Tipo de Produção Medidas Adotadas Fator de Risco Local Produção

Comercial

Adotada pela maioria

Menor Região Sul

Produção Independente

Não adotada pela maioria

Maior Região de

São Paulo Fonte: Elaboração própria

De acordo com um dos entrevistados, a maior parte da produção independente estaria localizada na região de São Paulo, aonde não existiria um comprometimento da questão da bio segurança da mesma forma da criação comercial pelo fato de ser uma atividade em que o produtor não possui uma relação de dependência para com avicultura.

“Tu pega uma região que nem São Paulo. São Paulo predomina muito independente. Independente, às vezes, às vezes, ele não esta muito ligado nessas coisas. Por que? Ele é sozinho. ‘Eu vou estar aqui, e esse aqui é o eu galpão.’ Se der qualquer coisa. ‘Eu, ah, eu vou fazer outro negócio lá. Ou até eu tenho outra atividade.’ Agora, pega o sul, por exemplo, as empresas aqui, a atividade delas é aquilo ali. Então tem mais pressão, tem mais determinação em cima de acatar essas medidas de sanidade”. (Udesc).

O não comprometimento de alguns setores de criação de aves com relação às medidas preventivas, por estar baseado ao tipo de relação que o produtor estabelece com a própria atividade, desencadeia em um fator de risco maior. E com na região Sul prevalece a produção comercial, esta relação se inverte, sendo considerado um fator de risco menor pelo fato de estarem sendo adotadas as medidas.

A idéia de erradicar a produção independente é totalmente descartada, sendo inerente à atividade enquanto uma prática disseminada na sociedade. “Aves de fundo de quintal. São aves que tem aí. Não tem como você proibir o cara de criar aves na casa dele, não tem como proibir. ‘Olha, só pode criar ave em galpão industrial’. Tá, quer dizer, então não tem como...” (Udesc). Desta maneira, seria necessário conviver com este tipo de produção, não sendo cogitada nenhuma medida considerada “radical”, como por exemplo, o extermínio das produções paralelas à produção comercial, no caso da referida independente. No entanto, ela representa uma situação adversa para um dos membros do CESAVI, pois,

“Eu consideraria da minha parte como uma dificuldade, essa situação, das aves que não são criadas em escala comercial, e isso é uma coisa que o controle é bastante complicada nesse momento... desses pequenos produtores, chacreiros, pessoal que, agricultor de fim de semana, que mora na cidade e tem lá umas galinhas e aquela coisa toda. Enfim, é uma situação que eu considero assim também um pouco adversa, nesse sentido da avicultura. Mas a gente tem que conviver com isso também...” (SFA/SC).

Com a dificuldade em se trabalhar no estabelecimento das medidas, a produção independente resulta em um entrave. Com a erradicação da produção independente fora da agenda, a necessidade da convivência com este tipo de produção é ressaltada pelos membros do comitê.

Uma das alternativas cogitadas por um dos entrevistados é que poderiam ser desenvolvidas metodologias para reduzir a criação independente, através da substituição o produto gerado pela própria atividade independente, indenizando estes criadores na forma de compensação destes produtos.

“De repente surge alguma idéia, alguma metodologia aí, que dê para você reorganizar completamente. Por exemplo, as agroindústrias. O que é que fazem? Aquele vizinho ali, que tem um terreninho, ‘mata as suas galinhas que nós te damos ovos e galinha para você consumir’. Essa é uma atitude das agroindústrias, em geral as empresas que trabalham com avicultura. Para você não criar nós vamos fornecer ovos e galinha para o teu consumo. ‘Não produz lá mas eu vou te fornecer aqui’. Só pegar e dizer o negócio: não crie! Fica mais complicado um pouco.” (Udesc).

Esta situação hipotética poderia ser desenvolvida como uma forma de agir na minimização da área de risco, uma vez que este tipo de criação é percebida enquanto potencialmente geradora de risco.

Com a evidencia no fator de risco por parte da produção da atividade independente, ela merece ser incorporada às medidas preventivas, não podendo ser confundida com falta de comprometimento presente na criação de fundo de quintal, mas alterando estas práticas na incorporação da bio seguridade.

“Criar galinha atualmente, assim pela importância que tem a avicultura nesse país, criar galinha já não é aquela coisa de, lá fundo de quintal, tem que ter compromisso com o todo. Então, porque eu trabalho muito com bio seguridade. E isso é para mim a bandeira mais importante, a avicultura tem que ser tratada como um todo. Entendeu, nós não podemos brincar de criar...” (Embrapa).

Trazendo ambos os tipos de produção para as práticas de bio segurança, todo tipo de criação teria que abrigar tais práticas independentemente do modelo de criação que estão sendo adotadas pelos criadores de aves, uma vez que as medidas preventivas requerem um empenho de toda avicultura, não podendo estar restrita somente exclusivamente a um setor restrito.