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2.6. As questões de interpretação teórica

2.6.1. Teoria da legitimidade

A teoria da legitimidade tornou-se uma das teorias mais citadas na área de contabilidade social e ambiental (Khan et al., 2013) para “explicar a prática da divulgação de responsabilidade social”, tendo sido adotada por muitos autores (por exemplo, Guthrie & Parker (1989), Craig Deegan & Gordon (1996), Craig Deegan & Rankin (1996), O'Donovan (1999)). Esta é uma teoria que, quando aplicada em relatórios sociais e ambientais, é muito simples, pois as empresas têm que estar em conformidade com a sociedade e serem transparentes na divulgação dos relatórios. sociedade é quem lhes confere legitimidade, por isso parece ser a base teórica mais utilizada na tentativa de explicar as políticas de divulgação social e ambiental das empresas (Craig Deegan et al., 2002). Contudo, para muitos investigadores, esta teoria não oferece qualquer visão real sobre as divulga- ções voluntárias de empresas. A teoria da legitimidade é utilizada para explicar como as divulga- ções corporativas podem ser usadas pela administração para alterar as perceções da comunidade sobre as empresas que divulgam. Assim, os meios de comunicação podem moldar as perceções da comunidade sobre determinadas questões, pois a teoria da legitimidade fornece argumentos consistentes com a visão de que as empresas também podem afetar a perceção da comunidade através das suas práticas de divulgação (Craig Deegan et al., 2002).

A teoria da legitimidade baseia-se na noção de contrato social e no pressuposto que os gestores adotam estratégias de divulgação que mostram como a organização está a tentar cumprir com as expectativas da sociedade onde está inserida (Craig Deegan et al., 2002). O contrato social (M.R. Mathews, 1993) é um acordo implícito entre uma organização e a sociedade (Shocker & Sethi, 1974). Contudo, a sociedade fornece empresas com posição legal e autoridade própria para usar recursos naturais e contratar trabalhadores (M.R. Mathews, 1993).

A teoria da legitimidade implica que a gestão de topo de uma organização seja responsável por realizar as práticas sociais necessárias, e tem o dever de divulgar de acordo com as partes inte- ressadas (Khan et al., 2013). Por sua vez, a gestão usa os meios de comunicação para divulgação, tal como o relatório anual, para dissipar o que consideram ser as preocupações da comunidade (Lindblom (1994), citado em Craig Deegan (2002)). As divulgações podem ser feitas para mostrar

que a organização está em conformidade com as expectativas da comunidade ou, alternativa- mente, elas podem ser feitas para alterar essas expectativas (O’Donovan, 2002).

As organizações existem na medida em que a sociedade, em particular, as considera como legíti- mas e neste caso é a sociedade quem concede à organização o estado de legitimidade (Craig Deegan, 2002). Pode definir-se legitimidade como “uma perceção generalizada ou suposição de que as ações de uma entidade são desejáveis, próprias ou apropriadas dentro de um sistema socialmente construído de normas, valores, crenças e definições” (tradução livre) (Suchman, 1995). Considera-se existir legitimidade quando os sistemas de valores da entidade parecem ser congruentes com o sistema de valores do sistema social (Lindblom (1994), citado em Craig Deegan (2002)). Assim, do ponto de vista teórico, deve notar se que a concentração sobre a teoria da legitimidade serve como uma explicação para o aumento de divulgações ambientais. No en- tanto, isto não invalida a possibilidade de que outras teorias sociais tenham poder para explicar a problemática da divulgação (M. Branco & Rodrigues, 2006).

Patty & Penn (2011) apresentam uma teoria formal de legitimidade em situações de escolha co- letiva. Uma escolha política é considerada legítima se o processo pelo qual a escolha final foi determinada é consistente com algum princípio que pode ser usado para classificar as potenciais escolhas políticas.

A teoria da legitimidade postula que as organizações devem operar ao longo dos tempos dentro dos limites e normas das respetivas sociedades. As organizações têm de ser responsáveis e atuar consoante as mudanças das normas e limites da sociedade que devem estar em conformidade com os termos deste “contrato” que não são estáticos (Brown, 2012).

O interesse pela teoria da legitimidade tem crescido desde meados da década de 90. Esta divul- gação voluntária tem sido alvo de interesse por parte dos académicos para compreender as moti- vações que levam as empresas a comunicar. Uma das motivações pode ser o desejo de legitimar as operações no seio da organização. A teoria da legitimidade carece de aperfeiçoamento, visto ainda se encontrar em fase de desenvolvimento (Craig Deegan, 2002).

De acordo com M. C. Branco & Rodrigues (2008), as empresas ao aderirem às expetativas das partes interessadas, agindo de forma socialmente responsável em suas atividades empresariais, estão a utilizar um instrumento de legitimidade. M. C. Branco & Rodrigues (2007) referem que a visão clássica é justificada com base em argumentos da teoria económica neoclássica usando

conceitos de mercado livre e eficiência económica. Como os proprietários das empresas são os

vez que o papel das empresas é produzir riqueza, o cumprir com os objetivos socialmente respon- sáveis pode prejudicar o desempenho financeiro.

De acordo com esta corrente de pensamento, o papel de responsabilidade social pertence a outras organizações como o Estado. As empresas e os gestores não estão preparados para realizar esse papel porque é o Estado quem sabe como gerir os recursos destinados à responsabilidade social. Além disso, muitas vezes as empresas não têm meios monetários suficientes para desenvolver esse tipo de tarefas (M. C. Branco & Rodrigues, 2007).

A legitimidade consegue-se com uma maior transparência no interior das empresas, isto é, para

que a divulgação seja legítima tem que existir um comportamento ético dentro das empresas, pois

são as pessoas que produzem os relatórios de sustentabilidade de acordo com as suas crenças e valores. Torna-se assim necessário que as organizações invistam na melhoria do comportamento ético dos seus colaboradores.

M. C. Branco (2006) diz que o nível de legitimidade é suscetível de variar de empresa para em- presa. O argumento de visibilidade social utilizada pela teoria da legitimidade é diferente das outras teorias económicas. As empresas particulares que operam em indústrias, ou que são mais visíveis perante as partes interessadas e ainda as que dependem do apoio político e social, irão exigir um maior nível de legitimidade. Por exemplo, no caso de empresas que atuem em setores ambientais socialmente sensíveis, ser-lhes-á exigido um maior nível de legitimidade uma vez que estão mais expostas à pressão de grupos de ativistas sociais que procuram um comportamento socialmente responsável. As empresas socialmente visíveis respondem a estas questões através de várias es- tratégias de legitimação, que podem incluir RSC, para gerir a sua imagem e reduzir a sua exposição ao ambiente político e social (M. C. Branco, 2006).