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Teoria da representação

No documento Para+entender+a+ciencia+da+informacao (páginas 91-95)

O termo “representação”, relacionado com o mun- do cognitivo, pode ser analisado e interpretado de diferentes maneiras. Trata-se de uma habilidade inata; consiste em perceber, descrever, gravar e in- terpretar uma informação. A representação é um processo em que se imbricam dois mecanismos — um, visual, e outro, mental.

A visão é capaz de captar detalhadamente as carac- terísticas, nomes e propriedades dos objetos e fa- zer uso de uma linguagem (verbal) que os denota e qualifica. Logo, representa, ou seja, conectada à central elétrica que é o cérebro, descreve e regis- tra a informação percebida pelo olho, descreve-a, identifica-a e, por último, interpreta-a.

Este processo de captar, representar e interpretar a informa- ção é simultâneo, permanente, contínuo; pressupõe um siste- ma de significação. A comunicação humana caracteriza-se pela capacidade de criar, adquirir, aprender e usar códigos constitu- ídos por signos, que são o resultado provisional de regras de codificação, as quais estabelecem correlações transitórias, pas- síveis de interpretação.

Segundo Eco (2000), “é impossível estabelecer uma semiótica da comunicação independente de uma semiótica da significa- ção”. A semiologia, cujo domínio é o fenômeno da comunica- ção, mostra que todo ato criador liga-se a um emissor e a um receptor. Da interação de ambos nasce o sentido regulado pela comunicação.

Os seres humanos vivem em um mundo de signos, que é o da cultura. De acordo com Eco (2000, p. 838), “um signo está cons- tituído sempre por um ou mais elementos de um plano de expressão disposto convencionalmente em correlação com um ou mais elementos de um plano de conteúdos”. À luz desse entedimento, signo é, pois, tudo que representa outra coisa, em algum aspecto, para alguém.

Daí o fato de ser estreita a relação entre a semiótica e a ciência da informação. Por isso o sentido só se produz quando concerne às experiências do indivíduo, à sua formação cultural e aos va- lores que vão influenciar a interpretação. Segundo Le Coadic, “a informação é um significado que é transmitido através da mensagem inscrita por meio de signos”. Este elemento de lin- guagem, e com certa intencionalidade, pode, em conseqüên- cia, constituir duas funções — a documental e a simbólica. Santaella (2000) define signo como “aquilo que sob certo aspec- to ou modo representa algo para alguém, isto é, cria na mente [de outrem] um signo equivalente, ou talvez, um signo mais

desenvolvido. O signo representa alguma coisa, seu objeto. Re- presenta esse objeto, mas não em todos os seus aspectos”. A semiótica, ciência geral dos signos, sinais e códigos, é essen- cial para a compreensão das palavras, imagens e sons. Santaella (2005) esclarece que a semiótica abarca os processos de comu- nicação, posto que não há mensagem sem signo e não há co- municação sem mensagem.

Guiraud (1974, p. 34) define signo como “um estímulo — uma substância sensível cuja imagem mental está associada a nosso espírito, à imagem de outro estímulo que esse signo tem por função evocar com o objetivo de estabelecer uma comunica- ção”. Assim, o signo tem sempre a intenção de comunicar um sentido, o que pressupõe relação convencional (motivada ou imotivada) entre o significante e o significado. Segundo este autor, o signo é de natureza iconográfica.

Eis o que é o signo para Peirce (1987, p. 274): “Qualquer coisa que determina alguma outra (seu interpretante) para referir- se a um objeto ao qual o mesmo se refere (seu objeto); desta maneira o interpretante se converte por sua vez em um signo e assim ad infinitum”. Este autor identifica três classes de signo: o ícone, o índice e o símbolo

Por sua vez, Wittigenstein (1981, p. 23) ressalta que “[…] exis- tem inúmeros usos para tudo aquilo que denominamos ‘sig- nos’, ‘palavras’, ‘proposições’, e esta multiplicidade não é algo fixo, para sempre […]” Visto que surgem novos jogos de lin- guagem, por assim dizer, outros envelhecem e são esquecidos. Barthes (1964), ao redefinir os conceitos usados pelos lingüistas, entende que a semiologia constitui uma parte da lingüística, por- que estuda as unidades significativas do discurso e, nessa medida, é essencial para se entender o funcionamento da imagem.

A análise semiótica da imagem, no que concerne à representa- ção, compreende a capacidade do ser humano de passar do processo de VER ao processo de INTERPRETAR. A repre- sentação pode ser verbal e não-verbal. Entretanto, a lógica da representação está associada fundamentalmente ao modo de ser dos indivíduos, a seu contexto cultural. A pintura rupestre, por exemplo, de um animal estava ligada a um sentido não artístico, ou estético, mas ritual, mágico.

Quando uma pessoa associa uma experiência pessoal a uma imagem gráfica, vê, nessa imagem, muitos significados, os quais não correspondem ao símbolo e ao que este significa estrita- mente, não se dá conta das características que constituem tal imagem; por isso, se diz que contemplar uma imagem gráfica se assemelha a uma leitura feita pelo grafólogo, que analisa as características de personalidade um indivíduo pela caligrafia. Ora, o significado das palavras em um texto não tem relação com as formas das letras, razão pela qual, enfatizamos, quando se trata da representação o significado do símbolo deve ser o próprio símbolo ou o que indica suas características físicas muito peculiares.

Para a ontologia, parte da filosofia que estuda o ser em geral, a representação é concebida como um problema, visto que com- preende o objeto real (aparência) e sua essência. O que nele é sensível e o que é inteligível, o que remete à teoria das idéias de Platão. Esse dualismo, porém, não é aceito pela ontologia fenomenológica, para a qual a aparência de uma coisa já é essa coisa, pois todo fenômeno é a manifestação da essência. Não existe consciência pura: toda consciência é consciência de algo. Quando se observa, por exemplo, o modelo de uma determi- nada marca de carro, a representação que se tem dele, ao identificá-lo, qualificá-lo e relacioná-lo com aspectos afetivos,

a interpretação resultante é a de que trata de um carro moder- no, confortável, de motor potente, econômico etc., e por to- dos esses motivos deve ser uma delícia viajar nele.

Ou seja, a aparência desse carro é a sua essência. Esta não é o que está por trás das características do carro. A percepção do fenômeno, isto é, do carro, é um todo no qual se dão todas as sensações que ele produz: forma ou modelo, concepção aero- dinâmica, design interno, potência do motor, recursos tecnológicos, cor etc. Sua essência não está escondida ou em- butida nesses elementos, mas é neles e com eles experimenta- da. Forma é tudo aquilo que aparece.

No documento Para+entender+a+ciencia+da+informacao (páginas 91-95)