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TEORIA DAS R ELAÇÕES I NTERPESSOAIS DE H ILDEGRAD P EPLAU

Fase 10: Apanhando os estilhaços A família faz o seu luto e abre-se um caminho para restaurar algum balanço na sua vida desenvolvendo-se um processo, a que podemos chamar de ―ver a

1.6. A R ELAÇÃO DE AJUDA

1.7.2. TEORIA DAS R ELAÇÕES I NTERPESSOAIS DE H ILDEGRAD P EPLAU

A Teoria das Relações Interpessoais, desenvolvida por Hildegrad Peplau em 1952, apoia-se nas correntes dinâmicas e psicossociais e descreve os cuidados de enfermagem como um processo interpessoal terapêutico entre o enfermeiro e a pessoa.

De acordo com a teoria de Peplau (1992), a relação enfermeiro-cliente é a base sobre a qual se estabelece a enfermagem psiquiátrica. É uma relação na qual ambos os intervenientes se reconhecem e identificam o Outro como ser único e importante e da qual resulta uma aprendizagem bilateral. Para que o processo de enfermagem possa ser educativo e terapêutico, o enfermeiro e o cliente devem-se conhecer e respeitar mutuamente, como pessoas iguais, mas com as suas diferenças e procurar e partilhar a solução do problema como objectivo comum.

Este processo permite um entrosamento entre enfermeiro e cliente onde é possível fazer com que ele a e sua família possam desenvolver mudança comportamental e amadurecimento frente aos problemas da doença.

Para Peplau (1992: 5), a enfermagem é ―uma relação humana entre uma pessoa que está doente, ou necessitada de serviços de saúde, e uma enfermeira com uma formação especializada para reconhecer e responder à necessidade de ajuda‖ e tem como foco ajudar as pessoas e a comunidade a produzir mudanças que influenciam de forma positiva a sua saúde.

54 Os objectivos devem ser estabelecidos de comum acordo entre os clientes e o enfermeiro para que os resultados sejam produtivos para ambos os intervenientes. Os cuidados de enfermagem ocorrem dentro dessa relação, que se estabelece em quatro fases: Orientação, Identificação, Aprofundamento e Resolução; sendo todas estas fases estão sobrepostas, interrelacionadas e que não tem um limite.

1. Orientação: ―O doente tem uma necessidade sentida e procura ajuda profissional e a enfermeira ajuda-o a reconhecer e compreender o seu problema e a determinar a sua necessidade de ajuda‖. 2. Identificação: ―O doente identifica-se com quem o pode ajudar e a enfermeira permite a exploração de sentimentos para ajudar o doente a passar pela doença como uma experiência que reorienta os sentimentos, fortalece as forças positivas da personalidade e fornece a satisfação necessária.

3. Exploração: ―O doente tenta retirar toda a valia do que lhe é oferecido através da relação. A enfermeira pode projetar novos objetivos a atingir através do esforço pessoal e de deslocações do poder da enfermeira para o doente, à medida que o doente retarda a gratificação para atingir os objetivos recém-propostos‖.

4. Resolução: ―O doente coloca gradualmente de parte objetivos antigos e adota novos. Este é um processo no qual o doente se liberta da identificação com a enfermeira‖

Segundo Peplau, a pessoa é um organismo vivo, num estado de equilíbrio instável, que luta para atingir um estado de equilíbrio perfeito que não atinge senão na morte. A pessoa é um ser biopsicossocial em constante dinamismo, capacitado para interiorizar a sua situação, nomeadamente transformando a ansiedade em energia positiva (Peplau, 1992).

Os cuidados de Enfermagem são capazes de influenciar a maturidade do indivíduo, pois promovem o desenvolvimento da sua personalidade para a construção de uma vida criativa, construtiva e produtiva para o indivíduo e para a comunidade (Peplau, 1992). Ainda para esta autora a pessoa é única, detentora de inúmeras capacidades e estratégias de aprendizagem e capaz de mudar num sentido positivo.

A comunicação com o outro ajuda o próprio a considerar e a clarificar a sua perceção da realidade e a compreender o outro. Isto envolve um conhecimento/consciência da comunicação verbal e não- verbal utilizada e o significado subjacente a essas comunicações.

55 É uma das responsabilidades do enfermeiro reconhecer esses fatores e influenciar as comunicações do utente de maneira a contribuir para modos saudáveis de pensamento. A comunicação clara e de suporte é um elemento chave no desenvolvimento da pessoa.

No Modelo de Peplau (1992), Comunicação é ―a linguagem medeia o pensamento‖. Pode-se aceder e modificar o pensamento de uma pessoa através de comunicação com outra pessoa significativa. Neste sentido, a autora defende o papel único dos enfermeiros de saúde mental e psiquiatria pois são aqueles que são capazes de conseguir integrar de forma apropriada a abordagem das necessidades físicas e psíquicas num mesmo plano terapêutico, fornecendo educação para a saúde, coordenando os cuidados, supervisionando outras ajudas domiciliárias de saúde e integrando a família e outros elementos significativos nos sistemas de apoio à pessoa.

A saúde é definida como ―uma palavra simbólica que implica o movimento, em relação ao futuro, da personalidade e de outros processos humanos em curso na direção de uma vida criativa, construtiva, produtiva, pessoal e comunitária‖ (Peplau, 1992). A energia humana, derivada de inevitáveis experiências de ansiedade, pode ser transformada para a promoção da saúde ou para comportamentos debilitativos ou de regressão. Os comportamentos de promoção da saúde, tal como foi sugerido por Peplau, são aqueles que facilitam a satisfação de necessidades, autoconsciência e reconhecimento da importância das experiências de vida, incluindo a doença. A saúde ocorre quando a tensão, originada por necessidades não satisfeitas ou tarefas de desenvolvimento não cumpridas, é dirigida em direcção a objectivos mais maduros.

O grau de saúde do indivíduo está relacionado com a experiência de ansiedade e com a capacidade de transformar essa ansiedade em comportamentos produtivos e assintomáticos. A saúde é então basicamente assente na manutenção de níveis reduzidos de ansiedade.

Neste modelo, é considerado também o conceito de ambiente. Este está relacionado, primeiramente, com os fatores externos que são considerados essenciais para o desenvolvimento humano. Peplau apresenta as situações interpessoais como microcosmos ambientais onde a saúde pode ser promovida. Interações entre a pessoa e família, utente e enfermeiro são exemplos deste ―ambiente‖ interpessoal.

Peplau (1992), identificou vários sub-papéis relativos ao papel do enfermeiro, de que relevamos o de ―estranho‖, ―pessoa de recurso‖, ―professor‖, ―líder‖, ―substituto‖ e ―conselheiro‖.

Estranho - coincide com a fase de identificação, quando ambos são estranhos na relação e a enfermeira aceita o doente como pessoa, sem emitir julgamentos;

56 Pessoa de recurso - fornece respostas específicas às questões;

Professor- o enfermeiro transporta o conceito de aprendizagem através das técnicas psicoterapêuticas. Implica a capacidade de identificar as necessidades de enfermagem e fornecer ao cliente as informações que este necessita ou solicita como meio para melhorar a sua condição de saúde;

Líder - permite e estimula que o cliente seja um participante activo na elaboração dos planos de cuidados de enfermagem para ele propostos, e que este é o meio para atingir uma liderança democrática;

Substituto - em que as formas de estar e os comportamentos da enfermeira criam modelações de sentimento no doente que reativam os sentimentos gerados numa relação anterior e a enfermeira ajuda o doente a ver as diferenças;

Conselheiro - o enfermeiro valoriza técnicas interpessoais como forma de ajudar os clientes a adaptarem-se às mudanças e dificuldades do seu quotidiano. ―O aconselhamento em enfermagem passa por auxiliar o paciente a entender o que se passa consigo na sua situação actual, para que essa experiência possa ser integrada em outras experiências em vez de ser dissociada‖ (Peplau, 1992: 64). Este sub-papel é o principal do enfermeiro de saúde mental e psiquiátrica.