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3 REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE FÉ E RAZÃO

3.1 TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

O ponto de partida para a introdução da teoria das representações sociais como uma forma característica de conhecimento foi a consideração de fenômeno, o que antes era compreendido como conceito. Tendo a preocupação sobre como o conhecimento é construído mediante a interação do indivíduo com o social e como é construída a realidade, através da comunicação. Pois,

A representação social está constantemente em nosso universo por meio de comunicações, de uma conversa, de um encontro etc. Na maioria das relações sociais estabelecidas, dos objetos extraídos ou produzidos, a comunicação está impregnada de simbolismo e das práticas que o produzem (GOMES, 2004, p.41).

Moscovici (2004, p.46) diz que: “As representações sociais devem ser vistas como uma maneira específica de compreender e comunicar o que nós já sabemos”. Sendo formas de conhecimento, as representações sociais devem ser compreendidas dentro de um contexto social, pois a experiência é determinada por convenções, por suas representações, linguagem ou cultura, contudo o indivíduo não é passivo dentro da sociedade, mas interage e tem papel ativo e autônomo no processo de construção social.

[...] as representações sociais têm sua origem nos conhecimentos, nos mitos e ritos de uma coletividade, mas os portadores dessas representações são os indivíduos. Esses as carregam, as utilizam e as transformam em suas relações face to face no dia-a-dia, na elaboração do conhecimento da vida cotidiana (GOMES, 2004, p. 41).

Moscovici confere um novo olhar ao pensamento social, transformando-o como um saber prático pelo qual as pessoas, de um determinado grupo social, organizam um modo de vida e integram a realidade com a qual elas passam a conviver.

Moscovici demonstrou que é o sujeito do cotidiano, com seus modos de pensar, seus rituais e suas representações sociais que estabelecem a conexão fundante entre a subjetividade e a objetividade dos campos históricos e sociais e definem, redefinem e desafiam o que entendemos por, e chamamos de real (JOVCHELOVITCH, 2014, p. 215).

A compreensão de mundo se dá através das relações de interatividade com o objeto do conhecimento e o objeto que poderá constituir sua realidade, identificando e lidando com os seus problemas.

O campo de aplicação das representações sociais no estudo da religião é vasto: crenças, valores, ideologias, ética, símbolos, mitos, ritos etc. e ainda na construção do conhecimento e do comportamento nos diversos campos de atuação humana: sexualidade, saúde, doença, trabalho, corpo, arte, vocação, profissão etc. (GOMES, 2004, p. 55).

A teoria das representações sociais presta-se ao pesquisador das religiões o estudo das formas do homem representar sua fé através da sua experiência religiosa e como esse conhecimento construído no seu dia-a-dia influencia o seu comportamento, visto que não cabe ao pesquisador afirmar ou negar a sua existência.

Nos últimos trinta anos, o termo representações sociais ganhou novo sentido. Hoje essa expressão designa tanto um conjunto de fenômenos sociais como a teoria sociológica construída para explicá-los, identificando vasto campo de estudos sociológicos e psicossociais capazes de incluir desde os conhecimentos mobilizados pelas pessoas comuns, na comunicação informal da vida cotidiana, até as disciplinas acadêmicas que se ocupam da Política, da Biologia, da Medicina, da Informática, da Psicologia, da Educação e da Religião (GOMES, 2004, p.38).

O estudo das representações sociais, ao dar conta do pensamento social que nasce do cotidiano, torna evidente a pluralidade e multiplicidade dos diferentes grupos de cidadãos brasileiros.

A complexidade que envolve a experiência humana entre a linguagem e a religião nos impele uma abordagem sistemática, pois:

A farta evidência e a universalidade dos usos da linguagem nas comunidades religiosas, em todas as suas dimensões (palavra oral, palavra escrita, imagens, gestos, pensamentos interiores em forma de monólogo etc.) nos confrontam com questões sobre o tipo de relação que existe entre a religião e a linguagem (NOGUEIRA, 2013, p.444).

A relação entre religião e linguagem mediada pela simbolização21 é uma expressão do fenômeno religioso.

A linguagem, por meio da representação simbólica e abstrata, é a manifestação do nosso pensamento sobre o mundo, tanto o nosso mundo subjetivo de sentimentos e desejos, como o mundo objetivo exterior a nós. Pensamento e linguagem caminham juntos e nos permitem comunicar e estabelecer diálogos com nossos semelhantes atribuindo sentido à realidade que nos cerca. “Pessoas e grupos criam representações no decurso da comunicação e da cooperação” (MOSCOVICI, 2004, p.41).

A teoria das representações sociais de Moscovici se situa na perspectiva da psicologia social e tem como objeto o acontecimento social que visa identificá-lo e conhecê-lo dentro do ambiente social.

As pesquisas sobre representações sociais demandam democracia para sua proliferação com vistas a estudar e analisar o senso comum e o pensamento social derivado do cotidiano da diversidade e pluralidade cultural.

Na teoria das representações sociais os conceitos e as ideias se desenvolvem possivelmente por meio de experiências, já que o ato de conhecer faz parte da essência do homem. Moscovici (1978) discorre que os processos fundamentais para a elaboração de uma representação social são dois: a ancoragem e a objetivação.

A ancoragem é a classificação e nomeação de alguma coisa, com o objetivo de poder falar, avaliar e comunicar sobre ela para sermos capazes de imaginar e representar o objeto antes estranho.

A objetivação é a transformação de algo abstrato em algo material. É passar do pensamento para o mundo físico. A ancoragem e a objetivação buscam tornar o não familiar

21 NOGUEIRA, 2013, p.452-453 - A simbolização – entendida aqui como a capacidade de representar o mundo de forma mediada pelo signo, fazendo com que estes signos se organizem e se remetam uns aos outros e se estruturem com relativa independência em relação ao referente.

em familiar num processo de comparação e interpretação, visando a reprodução dentre as coisas concretas.

Quem faz a mediação entre o não-familiar e o familiar são as representações sociais, criando uma realidade social quando o novo vai sendo incorporado ao universo conhecido a partir da tradição ou da realidade consensual, produzindo uma transformação das representações da realidade da vida cotidiana, isto é, para que uma nova representação social seja incorporada por determinado grupo, ela precisa relacionar-se com algum aspecto das representações existentes nele ou sofrer um longo processo de transformação. (GOMES, 2004, p. 45).