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Teoria das vantagens absolutas de Adam Smith

4. Revisão da bibliografia

4.2 Teorias do Comércio Internacional

4.2.1 Teoria das vantagens absolutas de Adam Smith

Adam Smith, na sua celebre obra “A Riqueza das Nações”, publicada em 1776 identifica a teoria da vantagem absoluta. Apesar de a teoria ter evoluído pouco desde 1776, nomeadamente devido ao predomínio da teoria das vantagens comparativas, ela até agora é mencionada em praticamente todas as publicações sobre comércio internacional por ser o ponto de partida para teorias mais desenvolvidas e aperfeiçoadas (Santos, 2013).

A teoria da vantagem absoluta refere que um país tem vantagem absoluta na produção de um bem sempre que for mais eficaz do que o outro país a fabricá-lo (Gonçalves, 2015).

Ao utilizarmos a teoria no comércio internacional, um dos requisitos essenciais para existir comércio internacional entre dois países seria a presença de um bem em que a produção obtivesse uma vantagem absoluta do país exportador no qual os requisitos de produção seriam mais benéficas do que as do país para no qual pretendiam exportar. Adam Smith confiava no livre comércio onde os dois países beneficiavam com o comércio internacional e para existir comércio terá que ser constantemente com o apoio da teoria das vantagens absolutas (Gonçalves, 2015).

25 Smith acreditava que a eficiência com que os bens eram produzidos variava de país para país e que a partir da respetiva especialização e liberalização dos mercados surgiriam oportunidades de comércio entre nações que beneficiariam os consumidores de ambos os países (Ferreira, 2009).

Em vez de se concentrar apenas nas exportações, Smith argumentou que era benéfico para os países especializarem-se na produção dos bens em que desfrutavam de eficiência produtiva. As mercadorias poderiam ser exportadas em troca de outros bens produzidos de forma mais eficiente num outro lugar. O resultado seria um aumento global da produção de todos os países (Ferreira, 2009).

Segundo Smith, se não conseguissem lucros, não alcançaria algum estímulo por parte do país em questão. Nesse caso, cada país foca-se e especializa-se no produto/bem que melhor produz, isto seria, se o país X tem melhores condições para gerar limões (resultante das condições do clima favorável) e o país Y tem melhores condições para produzir telemóveis (por possuírem mão-de-obra económica, ou por estímulos fiscais à tecnologia), então o país X produzirá limões não só para satisfazer o mercado interno mas ainda para satisfazer as necessidades do mercado Y. Contudo, o país Y gerará telemóveis para o seu próprio mercado e para o país X. Quer o país X quer o país Y beneficiarão visto que cada país vai empregar os seus recursos da melhor forma, como também, alcançarão ambos os produtos (Ferreira, 2009).

A vantagem absoluta de um país na produção de um bem resulta de uma maior produtividade, ou seja, da utilização de uma menor quantidade de insumo para produzir esse bem enfrentando menores custos. Smith postulou que nem sempre é necessário que um país obtenha excedentes de comércio externo para que as trocas comerciais internacionais sejam vantajosas, e que as trocas voluntárias entre países podem beneficiar todos os envolvidos na operação (Coutinho et al., 2005).

Dessa forma, cada país deve-se concentrar na produção dos bens que lhe oferecem vantagem absoluta. Aquilo que exceder o consumo interno do bem produzido deveria ser exportado, e a receita equivalente ser utilizada para importar os bens produzidos em outro país (Coutinho et al., 2005).

A teoria da Vantagem Absoluta possibilitou a Adam Smith soltar a regra do jogo de soma-zero que até ao momento guiou bastantes países a optar por padrões protecionistas. A

26 norma do jogo de soma-zero defendia que o proveito de um país era equivalente à perda do outro país (Santos, 2013).

Em seguida, encontra-se uma tabela (tabela 2) com a demonstração da teoria da vantagem absoluta:

Horas de trabalho necessárias para

criar uma unidade: País A País B

Calças 5 2

Camisolas 2 4

Tabela 2 - Exemplo da Vantagem absoluta, parte 1

Fonte: “As Vantagens Comparativas das Exportações Portuguesas: Um Caso Prático” Ivo Luís dos

Santos, 2013, p.18

Analisando a tabela 2 verifica-se que o país A tem vantagem absoluta na produção de camisolas e que o país B tem vantagem absoluta na produção de calças. Consideremos uma nova situação em que cada país tem 40 trabalhadores, destes, 20 estão ligados à produção de calças e os outros 20 à produção de camisolas. A tabela 3 que se segue indica os outputs alcançados por cada hora de trabalho na situação suprarreferida.

País A País B Total das unidades

Calças 4 10 14

Camisolas 10 5 15

Tabela 3 - Exemplo de Vantagem Absoluta, parte 2

Fonte: “As Vantagens Comparativas das Exportações Portuguesas: Um Caso Prático” Ivo Luís dos

Santos, 2013, p.19

Consegue-se verificar que neste cenário (tabela 3), sem comércio e sem especialização, o país A produziria para o mercado interno 4 calças e 10 camisolas enquanto o país B produziria 10 calças e 5 camisolas. Presumindo agora outro cenário diferente, em que cada país particularizar-se-ia no produto que tem vantagem absoluta, ou seja, o país A coloca os seus 40 trabalhadores na produção de camisolas enquanto no país B coloca os seus 40 trabalhadores na produção de calças (Santos, 2013). Na tabela 4 a seguir, apresentam-se as produções consequentes deste terceiro cenário suposto e segundo o autor Santos (2013).

27 País A País B Total das Unidades

Calças 0 20 20

Camisolas 20 0 20

Tabela 4 - Exemplo de Vantagem Absoluta, parte 3

Fonte: “As Vantagens Comparativas das Exportações Portuguesas: Um Caso Prático” Ivo Luís dos

Santos, 2013, p.19

Em análise à tabela 4 verifica-se que a produção integral de calças e de camisolas aumentou para 20 unidades em cada país, quando antes eram de 14 e 15 unidades no total. Atualmente, o país A conseguirá exportar algumas das camisolas que produziu e conseguirá em permuta calças que o país B gerou. Nesta circunstância conduzirá a um crescimento do bem-estar nos dois países, uma vez que ambos os países conseguirão adquirir mais calças/camisolas através da especialização e das trocas comerciais com o exterior do que se colocassem os fatores produtivos para ambos os produtos (Santos, 2013) num âmbito de mercado interno.

Em síntese, a especialização da produção, nos produtos para os quais os países têm uma vantagem absoluta, e respetivas trocas comerciais possibilita a ambos os países afetar recursos de modo mais eficaz e conduz a um crescimento da riqueza do país respetivo. O resultado seria o aumento da produção, da riqueza das nações e do bem-estar mundial, como um todo (Oliveira, 2007) tal como defendia Adam Smith.

A teoria da vantagem absoluta de Adam Smith tem a sua inconstância identificada a partir do instante em que julga que cada país inevitavelmente usufrui de um determinado produto no qual exibe uma vantagem absoluta, o que pode não ser certo. Adam Smith foi incapaz de esclarecer como é que um país que não tenha vantagens absolutas aguentaria participar no comércio internacional (Santos, 2013).

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