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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 INTRODUÇÃO

2.2 TEORIA DE SISTEMAS

O entendimento sobre a Teoria de Sistemas para este trabalho justifica-se por possuir uma ampla aplicação de seus conceitos nos estudos sobre organizações e projetos, além de ter influências na origem da teoria da complexidade. Esse tópico dedica-se a abordar alguns conceitos a respeito dessa teoria.

As mudanças ocorridas na sociedade após as revoluções Industrial e Francesa motivaram o surgimento de duas correntes de pensamento sociológicas que procuravam explicar os fenômenos sociais e naturais. Trata-se da dialética e da teoria funcionalista. Esta última apresenta grande influência nas teorias sistêmicas.

O funcionalismo defende a idéia de que a sociedade está constituída por subsistemas (estruturas) que operam (funcionam) de modo interdependente. Cada um dos componentes do sistema desempenha papéis que visam contribuir para estabilidade e ordem social, por isso tal abordagem ou teoria é chamada de funcionalismo- estrutural. Estes componentes atuam por interação, tendo capacidade de adaptação para enfrentar os imprevistos e as exigências de mudanças que surgem.

Sob a influência dessas idéias, Parsons (1964) desenvolveu sua teoria sistêmica. Os comentaristas de Parsons dividem sua obra em três fases. Na primeira fase, Parsons parte de uma discussão com o utilitarismo no intuito de evidenciar que interesses instrumentais não sustentam a ordem social, mas sim a possibilidade de formação de consensos apoiados em normas válidas. Dessa forma, desenvolve um conceito voluntarista da ação social e um conceito normativista da ordem. Essa fase tem como marco a publicação de “A estrutura da ação social”, de 1937.

Parsons (1964) realçou a atividade humana como geradora do processo social. Ele passou a ver a estrutura social integrada em cada unidade, em cada elemento, em cada ação social. Assim, cada ação passa a ter um duplo sentido, um individual e outro social. Ela ganha reflexividade, que opera em processos de socialização do indivíduo e realimenta a estrutura social, confirmando-a ou negando-a. Parsons (1964) enfatizou que se tratava de um circuito regulador entre estrutura e ação, e chamou este modelo de “sociocibernético”. Ação e estrutura se realimentam.

Parsons vê o indivíduo concebido como um membro da sociedade que realimenta a sua organização quando toma suas próprias decisões, para ela e em nome dela. As estruturas interiorizadas nessa sua ação o compelem a aceitar a orientação comum da sociedade, em nome da qual age e à qual se auto-adapta, dando a sua ação um significado social. A cada desvio, a cada desequilíbrio, corresponde uma ação compensadora (STOCKINGER, 2003, p.39).

A segunda fase da obra de Parsons apresenta como característica uma maior preocupação com a interação, com a emergência do estrutural-funcionalismo e com a teoria de sistemas, cuja obra de referência é “O sistema social”, publicada em 1951. Parsons argumentou que o processo fundamental que caracteriza tanto sociedades quanto organismos biológicos é a “homeostase”, o que significa o processo de manutenção de um estado estável ou em equilíbrio. As partes podiam ser compreendidas apenas em relação a um todo em “estado ideal” de equilíbrio.

E a terceira fase seria a do aprofundamento do modelo sistêmico no paradigma das quatro funções (Adaptação, Cumprimento de metas, Integração e Latência - AGIL), em que Parsons (1974) substitui a teoria da ação pelo funcionalismo sistêmico.

No modelo AGIL, Adaptação (Adaptation) significa que a estrutura do sistema deve se adaptar as condições situacionais; Cumprimento de metas (Goal-attainment) são as convergências das 36

metas dos subsistemas para que a meta do sistema seja alcançada, objetivo comum; Integração (Integration) dos diferentes componentes dos sistemas, coordenados e inter-relacionados; e Latência (Latency) é o equilíbrio, os componentes devem ter ciência das suas particularidades, por meio das normas do sistema, para que os próprios não entrem em conflito (RODRÍGUEZ; ARNOLD, 1991). Esse modelo resulta em uma interpretação que retira o ator do ato unidade. O sistema deixa de atuar e passa a funcionar.

Outro autor que se baseia no funcionalismo para desenvolver sua teoria de sistemas é Niklas Luhmann (1995). A obra de Luhmann parte da Teoria dos Sistemas de Talcott Parsons, mas busca também na termodinâmica (física), na biogenética, na neo-cibernética, na teoria da informação e na abordagem de sistemas complexos, fundamentos para sua teoria de sistemas.

Luhmann (1995) acredita que os elementos básicos dos sistemas sociais são as comunicações. Neves e Samios (1997), interpretando Luhmann, afirmam que a incerteza dupla existente entre os dois lados prestes a se comunicar implica no problema da complexidade. Complexidade é entendida por Luhmann como o conjunto das múltiplas possibilidades de vivência e de ações que o mundo engloba.

Em Luhmann (1995), o limiar da complexidade propriamente dita está definido pelo nível a partir do qual nenhum elemento pode entrar em relação com todos os outros. A complexidade suscita um problema operacional. O sistema precisa funcionar, precisa ser capaz de realizar um conjunto de operações que o mantenham como sistema diferenciado em relação ao ambiente. Essas operações não podem ser em número ilimitado. Portanto, a complexidade do sistema precisa ser limitada também, embora não numa dimensão fixa. Isso significa, em primeiro lugar, que as unidades de funcionamento de sistemas são operações (e não ações) e que todo sistema depende de operações orientadas para manter a complexidade em níveis manejáveis (COHN, 1998).

Dessa maneira, Luhmann (1995) defende a idéia na qual a partir da formação de sistemas sociais, ocorre uma captação e uma redução dessa complexidade, pois se dá uma seleção de possibilidades, negando outras, mas sem excluí-las definitivamente, permanecendo como oportunidades. Luhmann (1995) advoga, ainda, que para reduzir a complexidade é necessária uma formulação de um instrumento de redução de complexidade e propõe uma teoria da sociedade complexa.

Nesse sentido, de acordo com Queiroz (2003), o sociólogo Luhmann inclui um novo paradigma à teoria dos sistemas: a concepção de sistema como sistema autopoiético. A autopoiésis passa a ser o eixo 37

central da teoria luhmanniana e tem como referência metodológica os trabalhos dos biólogos chilenos Humberto Maturana e Francisco Varela. Autopoiése é a união de dois termos: “auto” que se refere ao próprio objeto e “poiese” que diz respeito à reprodução/criação, assim significa auto-reprodução.

A teoria de sistemas de Luhmann (1995) considera os sistemas sociais autopoiéticos, auto-referentes e operacionalmente fechados, ou seja, são capazes de elaborar a partir deles mesmos suas estruturas e os elementos de que se compõem (NEVES; SAMIOS, 1997, p.15 e 16).

Em Luhmann, de acordo com Neves e Neves (2006), as diferentes características como sentido, auto-referência, autopoiésis, fechamento operacional, com a monopolização de um tipo de operação próprio, a comunicação, levam um sistema social (da sociedade) a construir sua própria complexidade estrutural e assim organizar sua própria autopoiésis, tratada como complexidade organizada, ou seja, a complexidade do sistema.

O fato da complexidade interna do sistema ser menor do que a complexidade do mundo faz com que o sistema tenha que conviver constantemente com ruídos caóticos, já que a complexidade do mundo não pode ser abarcada em sua totalidade. A capacidade humana não dá conta da apreensão da complexidade, considerando todos os possíveis acontecimentos e todas as circunstâncias no mundo. E é neste ponto que os sistemas sociais assumem a sua função. Eles assumem a tarefa de redução de complexidade. Sistemas sociais, para Luhmann (1990), intervêm entre a extrema complexidade do mundo e a limitada capacidade do homem em trabalhar a complexidade (NEVES; NEVES, 2006).

O pensamento de Luhmann (1995) a respeito da complexidade do mundo remete ao paradigma da complexidade, e a teoria da complexidade pode apresentar importante contribuição para estudos de organizações complexas por dispor de esquemas apropriados à representação de sistemas que convivem com a dialógica de partes distintas - unidas pelas interações.