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CAPÍTULO 2: A CRIMINALIDADE RACIONAL

2.1 Teorias não-econômicas de criminalidade

2.1.4 Teoria do aprendizado social

Essa teoria também é conhecida como a da Associação Diferencial, e segundo tal abordagem, o crime é aprendido. Sutherland (1942, apud Cerqueira e Lobão, 2003), o pioneiro nessa abordagem, analisa que os jovens, principalmente, determinam suas atitudes a partir de suas experiências favoráveis ou desfavoráveis ao conflito. Assim, tais determinações seriam apreendidas no convívio social; família, amigos, escola, vizinhos, entre outros.

Os efeitos decorrentes da interação desses atores são indiretos, cujas influências seriam captadas pela variável latente “determinação favorável ao crime (DEF)”, uma vez que essa variável não pode ser mensurada diretamente e, sim, resulta da conjugação de uma série de variáveis. Dentre as variáveis mensuradas normalmente utilizadas para captar essa variável latente. DEF estão: grau de supervisão familiar; intensidade de coesão nos grupos de amizades; existência de amigos que foram, em algum momento, pegos pela polícia; percepção dos jovens acerca de outros jovens na vizinhança que se envolvem em problemas; e se o jovem mora com os dois pais”91.

Silva, Pinheiro e Eufrásio (2006), em relação a teoria da associação diferencial, apresentaram os principais fatores que influenciam negativamente os jovens, em situações de conflito, a cometer crimes, são eles: a existência de parentes ou amigos presos ou com problemas com a polícia, estrutura familiar degradada, convívio em focos de tensão social e problemas na vida profissional.

Baseando-se na teoria da associação diferencial, a qual apresenta a importância das influências sociais no comportamento humano em relação a situações de conflito, concluímos que a gestão de segurança pública, adaptada sobre os três princípios defendidos (criação de representantes de segurança, encontros periódicos, patrulhamento de contato), é capaz de tornar-se forte mantedora da ordem diminuindo a criminalidade e a formação criminosa, (p. 02).

Considerando que a teoria do aprendizado social ou da associação diferencial discorre sobre o aprendizado do crime, onde o indivíduo sofre influência do meio social onde vive, desenvolveu-se o modelo de policiamento orientado a prevenção

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Cerqueira e Lobão (2003, p. 8). Ainda no artigo dos autores, Matsueda (1982) é citado como o principal autor que buscou elementos empíricos para atestar a teoria da associação diferencial, a partir de 1.140 entrevistas individuais.

do crime com base na comunidade, chamado policiamento comunitário. Devido a importância de tal tema e, ainda, sendo discutido atualmente em várias academias de polícias como uma nova abordagem de gestão em segurança pública, será apresentado um breve relato sobre policiamento comunitário92.

Polícia Comunitária93

A tese central do policiamento comunitário94 é que o público deve exercer um papel mais ativo e coordenado na obtenção da segurança. “A polícia não consegue arcar sozinha com a responsabilidade, e, sozinho, nem mesmo o sistema de justiça criminal pode fazer isso” (Skolnick e Bayley, 2002, p. 18).

Para os autores, as técnicas de policiamento comunitário somente deveram apresentar efeitos positivos se houver um distanciamento das práticas operacionais passadas, e quando essa nova gestão de polícia refletir uma nova realidade estratégica, ou seja, somente apresentará resultados satisfatórios se for aceito que existe a necessidade de mudança na polícia tradicional e uma forma de gestão é bem-vinda. O policiamento comunitário é estruturado por quatro elementos, descritos abaixo:

a) Prevenção do crime baseada na comunidade: como o policial convive diariamente com a violência e a sensação de impotência diante da gravidade dos conflitos sociais, acaba tornando-se cético e insensível aos problemas alheios. Muitas pessoas costumam evitar contato com policias temendo serem vistos como informantes ou até suspeitos de algum fato. Os indivíduos ficam com a idéia que a

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A Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) ministra cursos regulares (Curso Nacional de Promotor de Polícia Comunitária) aos operadores de segurança pública de todo o território nacional, em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e Ministério da Justiça.

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“É uma filosofia e estratégia organizacional que proporciona uma nova parceria entre a população e a polícia. Baseia-se na premissa de que tanto a polícia quanto a comunidade devem trabalhar juntas para identificar, priorizar e resolver problemas contemporâneos tais como crime, drogas, medo do crime, desordens físicas e morais, e em geral a decadência do bairro, com o objetivo de melhorar a qualidade geral da vida na área.” (Trojanowicz, 1994, apud SENASP, 2007, p. 39).

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Sobre a diferença entre polícia comunitária e policiamento comunitário temos: “A idéia central da Polícia Comunitária reside na possibilidade de propiciar uma aproximação dos profissionais de segurança junto à comunidade onde atua, como um médico, um advogado local; ou um comerciante da esquina; enfim, dar uma característica humana ao profissional de polícia, e não apenas um número de telefone ou uma instalação física referencial. Para isto realiza um amplo trabalho sistemático, planejado e detalhado. Já o Policiamento Comunitário é uma maneira inovadora e mais poderosa de concentrar as energias e os talentos do departamento policial na direção das condições que freqüentemente dão origem ao crime e a repetidas chamadas por auxílio local” (Ibid, p. 39); sobre policiamento comunitário o material da SENASP citou Wadman (1994).

polícia está mais interessada em apresentar produtividade, ou seja, cumprir metas (prisões, multas, ocorrências) e não estão focadas em seus problemas. Essa ausência de cooperação possibilita o surgimento ou agravamento de sérios conflitos violentos. O policiamento comunitário pode vir a reverter esse quadro, pois aproxima o cidadão do policial, e possibilita que o mesmo tenha uma percepção mais realista do contexto social. Manter constantemente o contato com a comunidade e não apenas em horários difíceis é a grande diferença entre o policiamento tradicional e o comunitário.

b) Reorientação das atividades de patrulhamento: a patrulha policial deve empenhar-se em conhecer a comunidade, tornar-se visível aos olhos da comunidade. Ao invés de patrulhamento motorizado, pequenos postos descentralizados onde recebem denúncias, respondem a solicitações de serviço, prestam informações e aconselhamento, ou seja, desenvolvem contatos pessoais. As rondas não devem focar apenas locais tidos como de “risco”, mas a patrulha deve estar presente em todos os lugares da comunidade.

c) Aumento da responsabilização da polícia: o policial comunitário deve estar preparado para ouvir a população, mesmo quando essa conversa não for agradável. Pode acontecer de a comunidade falar a respeito do policial enquanto indivíduo. Segundo Neto (2000), o policial comunitário deve ficar mais atento a seus atos, pois, em primeiro lugar, o policial desenvolve um senso de responsabilidade pelas pessoas e por seus problemas, muitas vezes pessoais; em segundo lugar, o policial deve estar atento a seu comportamento diário, pois o controle sobre o indivíduo policial será muito mais elevado; e, em terceiro lugar, o policial tende a perder seu anonimato e com isso reduz a impunidade.

d) Descentralização do comando: os policiais devem ter a capacidade de pensar por si só e de traduzir as ordens gerais em palavras e atitudes apropriadas. Segue a tese do small is beautiful95, ou seja, quanto menores os locais, e quantos

mais policiamento comunitário houver, melhor ele será.

A teoria ora analisada defende que o comportamento humano seja desenvolvido pelas experiências em situações de conflito, onde a comunidade exerce um papel fundamental. A polícia comunitária com o foco na comunidade é

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Faz-se uma referência à Escola de Harvard que defende a concorrência nos mercados como um fim em si mesma, a qual o poder econômico deve ser evitado. Maiores informações podem ser encontradas em BAGNOLI, Vicente. Introdução ao Direito da Concorrência. São Paulo: Singular, 2005. 286p.

uma forma de gestão em segurança pública onde o patrulhamento de contato é um dos principais princípios e com isso influenciando positivamente as pessoas dos arredores em suas rotinas além do aspecto estritamente policial. A seguir será brevemente analisada a teoria que tenta explicar por que algumas pessoas se abstêm de cometer delitos.

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