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CAPÍTULO 1 – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1.1.6. Teoria e Desenvolvimento Curricular

a origem do currículo como campo de estudo e investigação não é fruto de um interesse meramente académico mas de uma preocupação social e política por tratar e resolver necessidades e problemas educativos; é uma conveniência administrativa e não uma necessidade intelectual (p. 21).

Do ponto de vista histórico, o campo curricular sempre foi propósito de atenção e isso desde que surgiram os primeiros escritos sobre educação. Contudo, devido em certo modo, à pressão que a sociedade industrial foi desempenhando sobre a necessidade de a escolarização cumprir finalidades bem explícitas, o campo especializado de conhecimento educativo remonta ao século XIX. Desta forma, o termo currículo inicia no vocabulário educacional a partir do momento em que a escolarização é transformada numa atividade organizada, em função de interesses sociais, culturais, económicos e políticos (Pacheco, 2007).

É relevante questionarmo-nos sobre que estatuto ocupam os estudos sobre currículo na matriz dos grupos disciplinares das Ciências da Educação? Para responder a esta questão é importante ter por base uma análise da natureza e âmbito tanto da educação como do currículo. Assim, se a educação é de natureza prática e de âmbito multifacetado, o currículo também é de natureza prática, enquanto mecanismo de escolarização, que existe em função de um sistema educativo. Segundo Kemmis (1988, citado por Pacheco, 2007), “um terreno prático, socialmente construído, historicamente formado” (p. 23). Este autor concebe a ideia de que a prática do currículo é um processo de representação, formação e transformação da vida social que deve ser entendido como um todo.

A relação teoria-prática representa um problema que está sempre presente nas teorias humanas e sociais, sendo necessária a sua resolução para que se dê a emergência de um novo campo disciplinar. No caso do currículo, o objeto de estudo é de natureza prática, porque está relacionado com a resolução de problemas educativos. O objeto da identidade conceptual da Teoria e Desenvolvimento Curricular engloba os estudos sobre o currículo com a metodologia inerente às Ciências Sociais e Humanas, dentro do ramo de conhecimento da Educação ou das Ciências da Educação (Pacheco, 2007).

É de notar que é o conhecimento curricular que estabelece uma relação estreita e racional entre o projeto socioeducativo e o projeto didático. Compreende-se, assim, que o conhecimento curricular se constitui num corpo disciplinar próprio (teoria e desenvolvimento curricular), situando-se no campo teórico e prático do conhecimento

A nossa posição é que a Teoria e Desenvolvimento Curricular engloba os aspectos reflexivos e de ordem valorativa, oriundos da Filosofia da Educação, que analisam as decisões curriculares de projecto; abrange os trabalhos no âmbito da inovação pedagógica, que estudam os aspectos relativos à elaboração e construção de programas, e a sua difusão, implementação e adopção; e, finalmente, os aspectos explicativos e prescritivos de aplicação no quadro escolar, no tocante às questões do planeamento do Processo Ensino-Aprendizagem pelos professores (p. 24).

A Didática é uma disciplina que elucida sobre os processos de ensino-aprendizagem para propor a sua realização consequente com as finalidades educativas, cujo objeto é constituído pela inter-relação que se organiza entre um professor, um aluno e um saber, num determinado contexto escolar e num dado momento. O ato didático corresponde ao currículo em ação a partir dos seus elementos substantivos: planificação, objetivos, conteúdos, atividades, recursos (e materiais) e avaliação. É possível analisar a relação da Didática com o Currículo, como uma questão de sentido histórico e como uma questão de sentido académico.

O termo Desenvolvimento Curricular é utilizado para se manifestar uma prática, dinâmica e complexa, que se processa em vários momentos e em diferentes fases, de forma a compor um conjunto estruturado, integrando quatro componentes primordiais: justificação teórica, elaboração/planeamento, operacionalização e avaliação (Pacheco, 2007).

Em síntese desta temática da Teoria e Desenvolvimento Curricular, é possível concluir que para além de investigar origens é fundamental descrever também a natureza do pensamento científico curricular. Desta forma, é possível considerar uma teoria e uma práxis relativamente a uma realidade que se objetiva racionalizar e explicar e que, em oposição à Sociologia da Educação ou à Psicologia da Educação, não deriva de disciplinas afins, visto que tem o seu foco nos problemas que são especificamente educativos.

Segundo Gimeno (1992, citado por Pacheco, 2007),

reforça que o currículo tem um carácter prático e nitidamente educativo, não dependendo de uma disciplina concreta, tão-só da própria realidade que o define: solução de problemas práticos, relacionados com intervenções na realidade (política, administrativa, escolar, didática) e em relação aos quais se podem lançar discussões e interrogações, desde que previamente haja uma intervenção (p. 26).

Desta forma, é possível compreender que a Teoria e Desenvolvimento Curricular expõe uma dupla abordagem no que se refere às áreas de conhecimento educativo: por um

lado, a discussão das habilidades/competências de análise curricular (exigidas tanto aos professores como aos especialistas curriculares). Por outro lado, a tomada de decisões didáticas (ou seja, as decisões que o formador tem de tomar perante uma situação de ensino e aprendizagem pré-ativas, interativas e pós-ativas. Assim, o objeto de estudo da Teoria e Desenvolvimento Curricular incorpora três dimensões primordiais, tais como: teorias curriculares (técnica, prática e crítica); fundamentos ou bases para o planeamento curricular ao nível da análise da sociedade, do aluno, da cultura e da ideologia; contextos de decisão curricular (político/administrativo, de gestão e de realização). Fala-se de Didática Geral neste último nível de decisão curricular (Pacheco, 2007).