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TEORIA EVOLUCIONÁRIA E HISTÓRICO DE CAPACIDADE

No documento Geração de Dados (páginas 40-44)

1. INTRODUÇÃO

2.2 C APACIDADE T ECNOLÓGICA

2.2.1 TEORIA EVOLUCIONÁRIA E HISTÓRICO DE CAPACIDADE

A importância das teorias evolucionárias ou neo-schumpeterianas baseiam-se na limitação das teorias com abordagem tradicional, clássica ou neoclássica onde as atividades tecnológicas ocorrem sob uma hipótese simplificada, apoiando-se na premissa de que todas as opções tecnológicas estão livremente disponíveis e conhecidas por todos, e as escolhas tem por objetivo a otimização da utilização de recursos financeiros, humanos e físicos e a tecnologia é absorvida e utilizada sem esforços e custos posteriores (LALL; TEUBALL, 1998).

A contribuição teórica proposta por Nelson e Winter (1982) diverge destes pressupostos tradicionais, reconhecendo a tecnologia como endógena, resultado de um processo acumulativo de aprendizagem, caracterizando a tecnologia como tácita e idiossincrática, ou seja, a tecnologia não pode ser facilmente codificada em fórmulas ou instruções, não pode ser facilmente ensinada, transferida ou imitada, e que, portanto, tecnologias iguais são empregadas com amplos níveis de desigualdade em termos de eficiência técnica por diferentes agentes.

A teoria evolucionista exerce grande influência sobre os estudos empíricos de mudança técnica nos países em desenvolvimento (COSTA, 2003). Seguindo nesta corrente,

Dosi (1988) comenta que as teorias evolucionistas podem explicar “a permanente existência de assimetrias entre as empresas, em termos de suas tecnologias de processo e qualidade do output”. E essas diferenças setoriais de progresso industrial, desenvolvimento econômico e tecnológico podem ser explicadas pelo papel da capacidade tecnológica (FIGUEIREDO, 2005).

Enquanto as teorias neoclássicas assumem uma separação entre a inovação e a difusão, e não levam em conta os problemas de assimilação e adaptação de tecnologias adquiridas externamente, a abordagem não-convencional enfatiza o papel central dos esforços tecnológicos locais no domínio de novas tecnologias, adaptando-as a condições locais, aperfeiçoando-as, difundindo-as dentro da economia, explorando-as através do crescimento de exportações de produtos e diferenciação, ou exportando as próprias tecnologias (LALL, 1994). Lall e Teuball (1998) afirmam que as empresas operam com conhecimento imperfeito, e precisam de tempo e esforços próprios para aprender a usar tecnologias de forma eficiente e conduzir esforços tecnológicos.

De acordo com Nelson e Winter (1982) a inovação é um processo que se desenvolve ao longo de uma trajetória, intimamente relacionada com as competências/capacidades/

habilidades das organizações. As escolhas tecnológicas realizadas anteriormente, os conhecimentos e habilidades acumulados e a adaptação ao ambiente de atuação resultam no comportamento futuro da empresa.

Considerando a natureza das teorias evolucionistas, e a importância do estudo das capacidades tecnológicas como fonte do gap tecnológico, podemos apresentar o histórico de desenvolvimento das teorias de capacidade tecnológica.

A partir dos anos 70, a pesquisa sobre tecnologia nos países em desenvolvimento abandonou a perspectiva estática, onde as decisões tecnológicas eram baseadas em aspectos objetivos como custo, disponibilidade, facilidade de acesso e aquisição, e adotou uma perspectiva dinâmica, dando início a um processo de transição que passou a enfocar processos de construção e aprofundamento das capacidades tecnológicas ao longo do tempo, comparações entre empresas e análises intersetoriais, processos de aquisição e conversão de conhecimento, aspectos organizacionais de aprendizagem tecnológica, exame da taxa e direção da mudança tecnológica (BELL, 2006; FIGUEIREDO 2001b, 2003).

Nesta corrente de pensamento, inúmeros modelos surgiram que abordam a mensuração de capacidade tecnológica. De acordo com Bell (2007), o desenvolvimento desta abordagem, bem como as principais diferenças encontradas em sua trajetória se referem a dois pontos principais:

• Primeiramente está relacionado aos componentes organizacionais e humanos das capacidades, cuja visão tradicional costuma identificá-los como as habilidades das empresas em operar, criar ou modificar a tecnologia que utilizam. Os estudos que englobam essa abordagem acabam negligenciando a incorporação das tecnologias utilizadas pela empresa, que irá diferir em cada um dos tipos de processo/atividade, e mesmo se tornar possível, conforme o nível de aprofundamento das capacidades.

• Num segundo e último momento, outra diferença encontrada no desenvolvimento destes estudos é referente ao tratamento e diferenciação de três das dimensões de capacidades. A primeira diferença aborda os diferentes níveis de capacidades, que refletem um progresso ao longo de uma trajetória partindo de capacidades relativamente não criativas ou voltadas apenas para operação da tecnologia até aquelas mais avançadas, relacionadas à inovação criativa. A segunda dimensão procura estudar as capacidades para diferentes funções tecnológicas, como processo, produto, engenharia ou redes de ligação. A terceira dimensão está direcionada para os diferentes estágios do ciclo de vida de um projeto, sobretudo àquelas capacidades necessárias às etapas de investimento e de produção.

Um dos primeiros modelos de classificação de categorias de capacidades tecnológicas em países em processo de industrialização foi criado por Hayami e Ruttan (1971) direcionado para a agricultura, focado na distinção entre capacidades dos países importadores de tecnologia nas diferentes fases do processo de transferência internacional de tecnologia.

Este enfoque deu origem a uma série de estudos pioneiros e esclarecedores sobre a criação de capacidades tecnológicas própria em empresas de países recém-industrializados.

Katz (1987) realizou um trabalho resumido sobre os estudos realizados no Programa de Pesquisa em Ciência e Tecnologia Ecla/IBD/IDRC/UNDP. Estudos sobre Brasil, Índia, México e Coréia do Sul foram resumidos em World Development (1984) do projeto de pesquisa do Banco Mundial e dirigido por Dahlman e Westphal denominado “Aquisição de capacidade tecnológica”.

Na década de 90, de acordo com Tacla (2002), surgiram novos estudos que consideram uma perspectiva ampla de capacidades tecnológicas, enfocando dimensões organizacionais e gerenciais das capacidade tecnológicas. Os estudos de Tremblay (1997, 1998) analisou a relação da capacidade tecnológica das empresas com o seu desempenho e crescimento de sua produtividade em empresas de papel e celulose do Canadá e Índia.

O modelo desenvolvido por Lall (1987, 1992) busca distinguir funções e níveis de capacidades tecnológicas. O autor desenvolveu para cada uma das categorias funcionais um conjunto de capacidades que representa os diferentes níveis e graus de complexidade, e utilizou, também, a diferenciação em estágios do ciclo de vida do projeto, através de associação de grupos de funções a estágios particulares; utilizando as três dimensões de capacidades tecnológicas. De acordo com Bell (2007) o modelo tem suas limitações, já que o autor dividiu em apenas três níveis de capacidades e estes podem não ser suficientes para abordar as complexidades de cada nível.

Deste modo, Bell e Pavitt (1995) e Hobday (1995) criaram modelos de acumulação de capacidade tecnológica, adaptados do modelo de Lall, através de uma trajetória dos níveis mais básicos de capacidade até os mais elevados, através de tipologias representando os estágios dos processos de aprendizagem e acumulação (FIGUEIREDO, 2001b). Distinguindo mais claramente as capacidades de usar ou operar tecnologias das capacidades tecnológicas para mudá-la ou criá-las, Bell e Pavitt (2005) conseguiram superar as principais limitações do modelo de Lall.

Ariffin e Bell (1999) e Ariffin (2000) estudaram as taxas de acumulação de capacidades em empresas de eletrônicos da Malásia, além de enfocar o papel dos mecanismos de aprendizagem e conversão de conhecimento (também presente em Kim (1995, 1997), com enfoque nas condições externas para determinação da aprendizagem, e em Dutrénit (2000), com foco nos processos internos). Dutrénit (2000) simplificou o modelo a fim de tratar a relação (transição) entre a construção de capacidades e o processo de criação de capacidades estratégicas nas competências centrais (LOURES, 2006).

De forma mais ampla, Figueiredo (2001a) comparou a trajetória tecnológica de duas empresas de aço brasileiras. De acordo com Loures (2006), o estudo de Figueiredo examinou

“como as características dos processos e mecanismos de aprendizagem, sobretudo os esforços internos deliberados, influenciavam na acumulação de capacidades tecnológicas ao longo do tempo e, conseqüentemente, na taxa e velocidade de aprimoramento da performance, identificou diferenças entre as empresas na taxa de movimento através dos diversos estágios e suas estratégias voltadas para aquisição e absorção de tecnologia”. Neste período, vários outros estudos foram desenvolvidos sobre a capacidade tecnológica (DAHMAN; FONSECA, 1978; DAHLMAN; WESTPHAL, 1982; FURTADO, 1994; GIRVAN; MARCELLE, 1990;

KIM, 1997a, 1998; MALERBA, 1992; MARTINS FILHO, 2003; MAXWELL, 1981;

SCOTT-KEMMIS, 1988; TIRALAP, 1990; TREMBLAY, 1994).

De acordo com Costa (2003, p. 47) a análise da “mudança tecnológica nos países em desenvolvimento segundo a abordagem da capacitação tecnológica é marcada por forte viés empírico, consolidando um conjunto bastante heterogêneo de estudos. O caráter empírico desta abordagem e a percepção de que a acumulação de capacidades tecnológicas ocorre em diferentes níveis da atividade produtiva implicaram num vasto número de definições, conceitos e classificações”. Portanto, na próxima etapa da revisão teórica serão destacados os principais conceitos, dinâmicas e modelos sobre capacidade tecnológica.

No documento Geração de Dados (páginas 40-44)

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