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Teoria Fundamentada apoiada nas vertentes interpretativa e construtivista de Kathy Charmaz

3.3 Análise dos dados

3.3.1 Teoria Fundamentada apoiada nas vertentes interpretativa e construtivista de Kathy Charmaz

A busca por uma Teoria Fundamentada está apoiada em duas tradições de teoria, observadas no âmbito das ciências sociais: a tradição Positivista da teoria e a tradição Interpretativa da teoria (CHARMAZ, 2006). Estas tradições são diferenciadas entre si e levantam questionamentos entre pesquisadores da Teoria Fundamentada quanto as suas divergências. Porém, não signica que a construção de uma Teoria Fundamentada seja mais correta ao se apoiar em uma ou em outra tradição, podendo, inclusive, ter inspirações de ambas as tradições ao mesmo tempo, conforme explica Charmaz (2006). Contudo, é preciso esclarecer suas diferenças e apoiar-se na que mais se adéqua aos dados e à forma como foram adquiridos para a construção de uma Teoria Fundamentada.

Charmaz (2006) esclarece as diferenças entre ambas as tradições e faz relação das mesmas com os principais autores da Teoria Fundamentada: Glaser (1978, 1992, 1998, 2003), Straus e Corbin (1998). Na Teoria Positivista, a teoria é tratada como um enun- ciado entre conceitos abstratos que abrangem uma diversidade de observações empíricas e que exercem uma considerável inuência, isto porque ela busca as causas, favorece as explicações deterministas e enfatiza a generalidade e a universalidade. (CHARMAZ, 2006). Sendo assim, segundo Charmaz (2006), as teorias positivistas consistem em um conjunto de proposições inter-relacionadas que: (i) tratam conceitos como variáveis; (ii) especica as relações entre os conceitos; (iii) explica a antever essas relações; (iv) sistematiza o conhecimento; (v) verica as relações teóricas através de testes de hipóteses; e (vi) gera hipóteses para a pesquisa.

Por outro lado, na Teoria Interpretativa, é enfatizada a compreensão e não a explica- ção. É considerada como sendo abstrata e interpretativa, ou seja, exige uma compreensão imaginativa do fenômeno e pressupõe realidades múltiplas e emergentes, indeterminação, a verdade como algo provisório e a vida social como processo (CHARMAZ, 2006). Dessa forma, segundo Charmaz (2006), a teoria interpretativa visa: (i) atender o fenômeno estu- dado em termos abstratos; (ii) articular alegações teóricas relativas ao escopo, à profun- didade, ao poder e a relevância; (iii) reconhecer a subjetividade o papel da negociação, do diálogo e do entendimento; e (iv) induzir uma interpretação imaginativa.

Diante do que aborda Charmaz (2006), a Teoria Fundamentada, vista como teoria, possui ambas as inclinações positivistas e interpretativas, armando que Glaser (1978, 1992, 1998, 2003) possui forte inclinação positivista, enquanto que Strauss e Corbin (1998), mesmo tendo algumas inclinações positivistas, também reconhecem as perspectivas inter- pretativas (CHARMAZ, 2006). Dessa forma, o uso do Método Comparativo Constante de Glaser e Strauss (2009), possuem ambas as vertentes. Porém, com mais ênfase interpreta- tiva que positivista, pois: Glaser, possui uma compreensão interpretativa menos clara em relação a sua postura positivista, embora trate as categorias emergentes como resultados automáticos (interpretativos) advindos do uso dos métodos comparativos para o desen- volvimento analítico da teoria (CHARMAZ, 2006); Straus, por sua vez, ver a teoria como algo mais abstrato e explicativo, observando o uso que uma pessoa faz das palavras para construir imagens mentais dos objetos, dos eventos e das experiências (CHARMAZ, 2006). Assim, Charmaz (2006) possui uma visão interpretativa com preferência pela prática da teorização, armando que a contribuição dos métodos da Teoria Fundamentada con- siste no oferecimento de diretrizes à prática teórica interpretativa e não no provimento de um esquema para produzir resultados teóricos. (CHARMAZ, 2006).

Ao longo das suas pesquisas, Charmaz promoveu inúmeras discussões entre pesqui- sadores que fazem uso da Teoria Fundamentada e arma que as críticas por parte dos colegas que a usam, advêm de uma postura mantida por diversos autores entre as tradições vistas anteriormente: positivista e interpretativa. Assim, a mesma argumenta a distinção de duas vertentes da Teoria Fundamentada com base nessas distintas tradições: a Teoria Fundamentada Construtivista (TFC) e Objetivista (TFO). A primeira é parte integrante da tradição interpretativa, enquanto que segunda deriva do positivismo.

A TFC estabelece a prioridade nos fenômenos do estudo e vê tanto os dados como a análise como tendo sido gerados a partir de experiências compartilhadas e das relações com os participantes. (CHARMAZ, 2006). Desse modo, a abordagem construtivista reconhece que a teoria resultante é uma interpretação que depende da percepção do pesquisador e que pesquisadores diferentes podem obter ideias semelhantes, mesmo se apresentando teoricamente de maneiras distintas (CHARMAZ, 2006).

Já a TFO, por se situar na tradição positivista, considera os dados como verdadeiros em si mesmos, sem considerar os processos da produção desses dados. (CHARMAZ, 2006). Assim, de acordo com Charmaz (2006), a postura objetivista suprime o contexto social e a inuência do pesquisador na forma como os dados amergem.

a teoria construtivista de Kathy Charmaz. Neste trabalho, mesmo seguindo o processo de codicação pelo Método Comparativo Constante defendido, inicialmente, por Glaser e Strauss (2009), o processo de análise se baseia no método construtivista de Charmaz (2006), onde a mesma apoia o Método seguido por Glaser e Strauss (2009).

Em sua teoria, Charmaz reúne e interpreta os signicados implícitos que formam as categorias por meio de armações que fazem referências a um conjunto de signicados e experiências. Assim, a autora leva em consideração a atitude dos participantes, reunindo ações e emoções declaradas, e dando interpretação aos enunciados e as atitudes dos parti- cipantes (CHARMAZ, 2006). A autora defende que o pesquisador é livre para desenvolver estratégias metodológicas e analíticas para descobrir os signicados e as ações relevantes. Coerente com a vertente construtivista, a visão dos dados é um elemento componente da interpretação de Carmaz, sendo de caráter mais intuitivo e impressionista, onde a análise resulta do envolvimento do pesquisador em cada fase do processo de pesquisa e análise (CHARMAZ, 2006). No decorrer da análise, especica-se as condições, encontra-se as relações conceituais e projeta-se as consequências, combinando-as na narrativa da teo- ria (CHARMAZ, 2006). Dessa forma, a Teoria Fundamentada surge por meio da derivação dos dados chegando às abstrações, vinculando-as, ao mesmo tempo, aos dados (CHARMAZ, 2006). Conforme Charmaz (2006), esse processo signica estudar o especíco e o geral, percebendo o que existe de novo neles, e então explorar as suas conexões com questões mais amplas ou criar novas questões mais amplas em sua totalidade.

4 Resultados

Este capítulo apresenta os resultados dos estudos empíricos realizados em ambas as fases deste trabalho. Para cada tema que emergiu durante a análise das entrevistas, foram selecionados trechos transcritos que representam o tema citado, sendo estes advindos das diferentes perspectivas dos diferentes atores, expondo a opinião única e exclusiva deles. Estes participantes são identicados usando [P#], onde # consiste em um identicador único para o entrevistado. Informações sobre os mesmos podem ser vistas nas Tabelas 3 e 5 do Capítulo 3.

4.1 Motivação

4.1.1 QP.1 - Quais são as motivações e objetivos de desenvolve-