• Nenhum resultado encontrado

De acordo com Demsetz (1968), a teoria do monopólio natural teve sua origem nos anos 60, sendo sua base duas declarações da teoria econômica.

A primeira, declarada feita por Samuelson (1964, p. 461):

Persistindo a redução de custos para a empresa, ela poderá expandir seus negócios para torna-se uma parte significativa do mercado. Ficaríamos (1) com um único monopolista; (2) com alguns grandes vendedores que juntos dominam a indústria... (3) com algum tipo de imperfeição da concorrência que, em qualquer forma estável ou em relação a uma série de guerra de preço intermitentes, representa uma mudança significativa no modelo dos economistas da “competição perfeita” em que nenhuma empresa tem qualquer controle sobre o preço da indústria.

Em relação à segunda, Alchian e Allen (1964, p. 412) afirmam que:

Se um produto é produzido em condições de custo...[seria] significa menor custo médio por unidade, [...] apenas uma empresa poderia sobreviver; existindo duas empresas, uma poderia expandir-se para reduzir os preços de venda e, assim eliminar a outra. Tendo em vista a impossibilidade de mais de uma empresa ser rentável, duas é demais. Mas existindo apenas uma, que compete definir, por um período, preços acima dos custos. Ou os recursos são desperdiçados por causa da presença de muitos na indústria, ou existe apenas uma empresa, que será capaz de cobrar preços de monopólio.

O monopólio natural ocorre em um ambiente onde há dificuldade de se estabelecer concorrência em virtude de fatores como necessidade de altos investimentos, por exemplo. Seguindo essa linha de raciocínio, Figueiredo (2014, p. 117) afirma que “Monopólio Natural é aquele decorrente da impossibilidade física da mesma atividade econômica por parte de mais de um agente”. Ainda segundo o autor, o monopólio natural pode decorrer do direito de exploração.

Segundo Farrer (apud SHARKEY, 1982, p. 15), uma indústria enquadra-se no regime monopolista quando apresenta as seguintes características:

a) Vender um produto essencial;

b) Ocupar uma localização favorável para produzir; c) Vender um produto de difícil estocagem;

d) Beneficiar-se de economias de escala; e) Obrigação de fornecimento.

O monopólio natural pode ser regulado ou não. O que diferencia os monopólios é a política de preço praticada. No monopólio regulado, ocorre um limite no preço praticado, sem que exista necessariamente uma escassez.

Segundo Krugman e Wells (2015, p. 338):

Um limite de preço no caso do monopólio não precisa criar escassez; na ausência de um teto para o preço, o monopolista cobraria um preço superior ao seu custo marginal de produção. Mesmo forçado a cobrar um preço mais baixo, desde que esse preço esteja acima do custo marginal e o monopolista pelo menos iguale custo e receita para o produto total, o monopolista ainda tem um incentivo para produzir a quantidadede demandada àquele preço.

Na Figura 3, é possível avaliar o comportamento dos preços em um monópolio natural em dois cenários: (a) um não regulado e (b) um regulado.

Figura 3 – Monopólio natural não regulado e monopólio regulado

Para os dois cenários existe uma curva de demanda (D) e uma curva de receita marginal (MR) associada a ela. O custo total é constituído de duas partes, fixo e variável. Partindo do princípio de que a empresa incorra em uma proporção constante do produto, as curvas do custo seriam, o custo variável (MC) e custo total médio (ATC). A curva do custo total tem inclinação para baixo, refletindo a relação quantidade produzida e custo fixo. Quanto maior a quantidade produzida, menor será o custo fixo por unidade.

O gráfico do painel (a) demonstra um cenário monopolista sem regulação. A empresa produz uma quantidade (Qm), cobrando um preço (Pm). Observa-se que o preço é superior ao custo total médio (ATC), logo a empresa gera um lucro. Nesse cenário, o monopolista não estaria disposto a produzir se o preço praticado o levasse a gerar prejuízo.

O gráfico mostrado no painel (b) demonstra um cenário onde o regulador fixa um preço no nível mais baixo possível, onde a curva total médio (ATC) cruza a curva da demanda (D). Com um preço mais baixo, a empresa perde dinheiro. Logo, o preço (Pr*) nesse cenário é melhor preço regulado. Para atender a exigência do regulador, a quantidade produzida para atingir o preço (Pr*) será a quantidade demandada (Qr*). Em um cenário regulado, o resultado será um maior ganho para os consumidores e a sociedade.

Nesse sentido, as atividades econômicas desenvolvidas pelo poder público, onde não é possível estabelecer uma concorrência, configuram-se como monopólio natural. Dessa forma, serviços de água, energia elétrica, telefonia, são exemplos de monopólios naturais (FERGUSON 1980).

Nessa perspectiva, surge um dilema necessário de avaliação, se o Estado deve ser um prestador do serviço ou se deveria exercer o papel de regulador dos serviços públicos.

Nos Estados Unidos, durante o processo de regulamentação, uma pauta nas discussões era se os serviços públicos, sendo explorados na condição de monopólio natural, deveriam ou não ser submetidos à regulamentação do Estado. O resultado foi que, serviços essenciais para a população que se configurassem como um monopólio deveriam ser regulamentados pelo governo para que se evitasse a exploração do usuários pelos prestadores dos seviços (JOHNSON et al., 1996).

A presença de um monopólio provoca “falhas de mercado” em virtude de não se conseguir que todos os mercados voltados para bens e serviços sejam organizados sob forma de concorrência perfeita; por essa razão justifica-se a necessidade do papel do regulador (JOHNSON et al., 1996).

As falhas de mercados são elencadas, de acordo com Araújo (2005, p .72), como sendo: “informações imperfeitas, indivisibilidade, externalidade, comportamento colusivo ou não otimizante dos agentes [...]”.

Nesse cenário, onde os interesses do monopolista podem coincidir com os interesses da sociedade, se faz necessário que o impacto dessas “falhas de mercado” sejam amenizados com a presença de um agente regulador que possa estabelecer o equilíbrio entre os agentes econômicos e a sociedade.