• Nenhum resultado encontrado

2.3 Concepções e Teorias Básicas Sobre Valores Humanos

2.3.3 A Teoria Motivacional de Schwartz

O modelo de Schwartz foi desenvolvido gradativamente (Schwartz, 1992, 1994, 2005b; Schwartz & Bilsky, 1987; Schwartz & Bilsky, 1990) através de uma interação entre a teoria e a realidade observada. A ideia principal do autor abordava a existência de um conjunto de motivações universais que originam os diversos valores nas diferentes culturas. Schwartz postulou então 10 tipos motivacionais de valores, envolvendo assim um agrupamento de valores que puderam ser identificados nas diversas culturas estudadas. Esses tipos motivacionais, por sua

vez, tendem a ser gerais devido a sua bagagem multicultural e oferecem uma composição dinâmica de relações de congruência e de conflito. Os 10 tipos motivacionais são os seguintes: Autodeterminação, Estimulação, Hedonismo, Realização, Poder, Segurança, Conforto, Tradição, Benevolência e Universalismo (TAMAYO; PORTO, 2009; GOUVEIA et al., 2001).

Quadro 4: Tipos Motivacionais de Schwartz (1992)

TIPOS METAS INTERESS ES

Hedonismo Prazer e gratificação sensual para si mesmo Individuais Realização Sucesso pessoal obtido por meio de uma demonstração de competência Individuais Poder Controle sobre pessoas e recursos, prestígio Individuais Autodeterminação Independência de pensamento, ação e opção Individuais Estimulação Excitação, novidade, mudança, desafio. Individuais Conformidade Controle de impulsos e ações que podem violar normas

sociais ou prejudicar aos outros Coletivos Tradição Respeito e aceitação dos ideais e costumes da sociedade Coletivos Benevolência Promoção do bem-estar das pessoas íntimas Coletivos

Segurança Integridade pessoal, estabilidade da sociedade, do

relacionamento e de si mesmo. Mistos Universalismo Tolerância, compreensão e promoção do bem-estar de todos

e da natureza. Mistos

Fonte: Adaptado de Tamayo (2005).

Esse modelo permite uma associação de valores e motivações, transformando a estrutura de valores na estrutura da motivação humana. O modelo permite ainda uma estrutura circular, representando a dinâmica das relações de compatibilidade e incompatibilidade entre os tipos motivacionais (TAMAYO; PORTO, 2009).

Com isso, Schwartz e Boehnke (2004) afirmam que a característica mais importante da teoria é a estrutura de relações dinâmicas entre os 10 valores que se explicita. Ela postula que as ações expressivas de qualquer valor têm conseq uências práticas, psicológica e social que podem entrar em conflito ou ser compatível com a busca de outros valores.

Em sua pesquisa anterior, Schwartz (1992) já havia identificado a compatibilidade dos seguintes tipos de valores: poder-realização, realização-hedonismo, hedonismo-estimulação, estimulação-autodeterminação, autodeterminação-universalismo, universalismo-benevolência, tradição-conformidade, conformidade-segurança, segurança-poder. Já os tipos de valores de conflitos esperados são: Autodeterminação e estimulação versus conformidade, tradição e segurança; Universalismo e benevolência versus realização e poder; Hedonismo versus conformidade e tradição; Espiritualidade versus hedonismo, poder e realização. O valor

“Espiritualidade” não aparece na estrutura, porém foi identificado pelo autor como um valor localizado entre benevolência, universalismo e tradição, apesar de não se encaixar em nenhum desses. Contudo, as diferentes concepções de espiritualidade estão mais próximas de um desses três tipos de valor.

O que distancia um valor do outro é o tipo de objetivo motivacional que ele expressa, esclarecendo que um valor corresponde a um determinado tipo de valor motivacional quando os comportamentos por aquele gerados contribuem para o cumprimento do objetivo central deste (SCHWARTZ, 1992).

Figura 2: Relações entre os Valores Motivacionais

Fonte: Almeida e Sobral (2009, p. 109).

Dessa forma,

“Tipos de valores adjacentes são postulados para serem mais compatíveis. O aumento da

distância em torno da forma c ircula r ind ica compatib ilidade decrescente e maior conflito. Tipos de valores que emerge m e m direções opostas a partir da origem são postulados para um maior conflito” (Schwartz, 1992, p. 14).

A figura 2 apresenta ainda que os 10 tipos motivacionais integram-se em duas dimensões bipolares: “Abertura à mudança” versus “Conservação” e “Autotranscendência” versus

“Autopromoção”. Essas quatro categorias constituem as motivações mais gerais que justificam a adesão e a realização de determinados valores motivacionais.

No eixo “abertura à mudança” versus “conservação” os valores são distribuídos de acordo com a inclinação que o indivíduo tem para a independência de pensamento e abertura à mudança ou, o oposto, para a preferência pela estabilidade e preservação do estado de coisas. No eixo “autopromoção” versus “autotranscendência”, enfatiza-se a concretização de valores que envolvem o bem-estar e o desenvolvimento individual ou orientados para o bem-estar e a harmonia coletiva. Essa oposição teórica entre as dimensões é justificada pela estrutura dinâmica de valores onde Schwartz recomenda que, por exemplo, a busca da autopromoção implique decisões, escolhas e comportamentos que comprometem o reforço simultâneo da autotranscendência. (SCHWARTZ; SAGIV, 1995).

Almeida e Sobral (2009) relatam que Schwartz (1992) desenvolveu a escala denominada de Schwartz value survey (SVS) a fim de testar empiricamente a sua teoria, na qual o respondente deve atribuir um grau de importância a cada um dos 57 valores específicos como princípios orientadores da sua vida. Para tanto, Schwartz inclui alguns dos valores utilizados por Rokeach, dentre outros oriundos de outras abordagens, no intuito de reunir as contribuições mais expressivas dos autores mais relevantes da área. Nesse sentido, Schwartz (2005b, p. 21) apud Tamayo e Porto (2009), afirma que “o que proponho aqui é uma teoria unificadora para o campo da motivação humana, uma maneira de organizar as diversas necessidades, motivos e objetivos propostos em outras teorias”.

Contudo, Schwartz et al (2001) afirma m que há uma desvantagem do SVS que consiste no nível de abstração que o entrevistado possa ter. Por esse motivo, não se deve utilizar o SVS em amostras intelectualmente heterogêneas. Nesse sentido, Schwartz desenvolveu outra medida para investigar valores: o perfil de valores pessoais – PVQ (Portrait Values Questionnaire).

Bilsky (2009) acrescenta que o PVQ é um instrumento que permite ao respondente se comparar com outras pessoas de mesmo sexo. Para tanto, são utilizadas afirmações comportamentais que ressaltam cada vez uma orientação de valor individual proposta pela teoria de Schwartz. Para esta comparação, os respondentes utilizam uma escala de seis graus, estendendo-se de “Parece-se muito comigo” a “Não se parece nada comigo”.

“O modelo teórico do PVQ exige não somente encontrar os tipos motivacionais

propostos, mas ta mbé m a sua adequada localização espacial de forma a garantir a continuidade motivacional entre e les e entre os próprios valores que os compõem, be m

Das várias versões do PVQ, as mais recentes compreendem 40 (versão regular) e 21 (versão breve) itens, respectivamente. Ultimamente, vários estudos internacionais têm aplicado esse instrumento (BILSKY, 2009).