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A teoria das representações sociais, é uma teoria do conhecimento que pretende, entre outros objetivos, examinar como se formam os conhecimentos, como pensamos, com que pensamos e a partir do que pensamos. Esta teoria concebe o pensar e a linguagem como capturados no senso comum, no discurso cotidiano. (GUARESCHI,2007)

Segundo Jovchelovitch (2000) a teoria das representações sociais, ao longo das últimas duas décadas, tem recebido uma atenção crescente dentro da Psicologia Social. O surgimento desta teoria se deu através dos estudos de Serge Moscovici sobre as representações da psicanálise, na França.

O estudo de Moscovici, sobre as representações sociais, foi uma contribuição para a sociologia do conhecimento. Ele estava interessado em observar o que acontece quando um novo corpo de conhecimento, como a psicanálise, se espalha dentro de uma população. Ele coletou amostragens do conhecimento, das opiniões e das atitudes das pessoas, com respeito à psicanálise e aos psicanalistas (FARR,1995).

O termo representações sociais designa tanto um conjunto de fenômenos quanto o conceito que os engloba, e a teoria construída para explicá-los, constituindo um vasto campo de estudos psicossociológicos, embora uma definição clara do termo “representações sociais” nunca tenha sido uma preocupação de Moscovici.(SÁ, 1993).

Para Guareschi(2007) a teoria das Representações Sociais concebe o pensar e a linguagem como capturados no senso comum, no discurso cotidiano. Em contraste com a prática científica, que procura chegar ao conhecimento científico, o pensamento do senso comum chega a Representações Sociais de fenômenos naturais e sociais. Enquanto a ciência procura pela verdade através do poder da racionalidade individual, as Representações Sociais procuram a verdade através da confiança, do crédito baseado nas crenças, no conhecimento comum e através do poder da racionalidade dialógica. As Representações Sociais não provêm de raciocínios, ou de processos de informação, mas estão baseadas no passado, na cultura na tradição e na linguagem.

Moscovici buscou em Durkheim os conceitos de representações individuais e de representações coletivas a partir dos quais, cunhou o termo representações sociais. Ele acreditava que em uma sociedade moderna como a de hoje, caracterizada pelo pluralismo e pela rapidez com que ocorrem as transformações econômicas e culturais o objeto de estudo mais adequado seriam as representações sociais, já que para Moscovici as representações coletivas eram um objeto de estudo mais adequado para sociedades menos complexas.

A teoria das representações sociais de Moscovici se constituiu como uma importante crítica sobre a natureza individualizante da maior parte da pesquisa em Psicologia Social na América do Norte (FARR, 1995).

O campo de estudo das representações sociais surgiu de uma crítica aos modelos que reduziam a participação do sujeito, tanto na produção autônoma da história quanto da consideração de sua capacidade criativa através de função simbólica complexa (SOUZA FILHO, 1993).

Para Spink(1995) ao enfocar as representações sociais, a Psicologia Social busca entender as marcas sociais do cognitivo e as condições cognitivas do funcionamento ideológico. Ao se pensar as representações como uma forma de conhecimento prático, busca-se entender o seu papel na instituição de uma realidade consensual e sua função sócio-coginitiva de integração da novidade e de orientação das comunicações e das condutas.

Jodelet(1989) apud Sá(1993) propõe uma definição que é amplamente aceita entre os estudiosos das representações sociais, definindo-as como uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, tendo uma visão prática e concorrendo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social.

As representações sociais são um conjunto de saberes e práticas que constituem e ocupam um espaço vital e simbólico, no qual nos movemos, pensamos, falamos e somos levados a agir. Desta forma é impossível pensar, falar e agir sem que por trás haja como pressuposto elementos como a cultura, crenças, valores e são esses elementos os quais designamos como representações sociais. (GUARESCHI, 2007). Elas são evocadas em todos os locais e ocasiões em que as pessoas se encontram e se comunicam: no supermercado, na fila do banco, na refeição em família, na escola, na igreja, em um botequim; elas estão presentes em todas as situações.(SÁ, 1993)

É consenso entre os pesquisadores das representações sociais que, enquanto produtos sociais, as representações sociais, têm sempre que ser remetidas ao contexto em que foram produzidas, para desta forma se compreender as construções que dele emana e as transformações que estas acarretam.(SPINK, 1993).

“Inseridas na história e na cultura, as Representações Sociais se manifestam nos discursos públicos e no pensar social sobre fenômenos, que tocam de maneiras fundamentais as realidades sociais, como a realidade política, ecológica ou ligada à saúde.”(GUARESCHI,2007,p. 33)

As representações não são criadas por um indivíduo isoladamente. Elas, uma vez criadas, adquirem vida própria, circulam, se encontram, se atraem, se repelem e dão oportunidade para o nascimento de novas representações, enquanto as velhas morrem. (MOSCOVICI, 2003)

No processo de formação das Representações Sociais ocorrem dois processos distintos, a ancoragem e a objetivação.

“ A objetivação e a ancoragem são as formas específicas em que as representações sociais estabelecem mediações, trazendo para um nível quase material a produção simbólica de uma comunidade e dando conta concreticidade das representações na vida social”.(JOVCHELOVITCH, 1994, p. 81)

A ancoragem é um processo que transforma algo estranho e perturbador, que nos intriga, em nosso sistema particular de categorias e o compara com um paradigma que nós pensávamos ser apropriado. (MOSCOVICI, 2003) Ela consiste na integração cognitiva do objeto representado; seja ele idéias, acontecimentos, pessoas, relações, etc, a um sistema de pensamento social preexistente e nas transformações implicadas (JODELET, 1984 apud SÁ, 1993). As representações já existentes pode funcionar como um sistema de acolhimento de novas representações, sendo este processo o responsável pelo enraizamento destas nova representações.( SÁ, 1993)

“ Ancorar é, pois, classificar e dar nome a alguma coisa. Coisas que não são classificadas e que não possuem nome são estranhas, não existentes e ao mesmo

tempo ameaçadoras. Nós experimentamos uma resistência, um distanciamento, quando não somos capazes de avaliar algo, de descrevê-lo a nós mesmos ou a outras pessoas”. (MOSCOVICI, 2003, p. 62)

Já a objetivação consiste em transformar algo abstrato, em algo quase concreto, ou seja, transferir algo que esteja na mente em algo que exista no mundo físico. Segundo Jodelet(1984) apud Sá(1995) a objetivação consiste em uma operação imaginante e estruturante pela qual se dá uma forma ou figura específica ao conhecimento acerca do objeto, tornando-o concreto. Segundo Sá(1995) o resultado da objetivação pode ser ilustrado em uma pesquisa sobre a representação do corpo, em que o corpo feminino é caracterizado como o tabernáculo sagrado da vida. Essa imagem do útero como um tabernáculo, traz idéias muito enraizadas em preceitos de origem religiosa, como a interdição moralista e visão do sexo como algo voltado somente à reprodução.

As representações sociais se manifestam em palavras e condutas e se institucionalizam. Desta forma, elas devem ser analisadas a partir compreensão das estruturas e dos comportamentos sociais.(MINAYO,2002)

Moscovici(1984) apud Sá (1993) considera que existem nas sociedades contemporâneas duas classes distintas de universos de pensamento: os universos consensuais e os universos reificados. Nos universos reificados é que se produzem e circulam as ciências e o pensamento científico com toda a sua erudição e rigor metodológico. Já os universos consensuais correspondem às atividades intelectuais da interação cotidiana pelas quais são produzidas as representações sociais. As teorias do senso comum, aí elaboradas, não possuem limites especializados e obedecem a uma lógica natural. Ambos os universos, o reificado e o consensual atuam simultâneamente para moldar a nossa realidade. Nas sociedades modernas o novo emerge primeiro nos universos reificados da ciência e das profissões especializadas e penetra nos universos consensuais através da exposição destes novos conhecimentos, introduzindo a não familiaridade e a estranheza na sociedade mais ampla.

A realidade social, entendida pela teoria das representações sociais, é criada apenas quando o novo ou não familiar vem a ser incorporado nos universos consen- suais, universos estes aonde operam os processos pelos quais o estranho e desconhecido se torna familiar e socialmente conhecido. Esse processo ocorre sob o

peso da tradição e da memória, o que não quer dizer que não ocorra a criação de novos elementos que modifiquem esta realidade consensual. (SÁ, 1993)

A forma mais comum de se acessar as representações sociais é através das técnicas verbais. O acervo de pesquisas que se utilizaram destas técnicas nos permitem realizar comparações entre as técnicas verbais utilizadas por diferentes pesquisadores, existindo entre estes grande predileção pela utilização de entrevistas semi-estruturadas. (SPINK, 1993)

As entrevistas semi-estruturadas são um instrumento de coleta de dados muito utilizado em pesquisas envolvendo as representações sociais. A utilização desta ferramenta juntamente com a contextualização social e histórica da sociedade em que este indivíduo está inserido, obriga o pesquisador a trabalhar com poucos sujeitos, já que a análise do discurso em totalidade é demorada. Dentro desta situação os sujeitos entrevistados, desde que contextualizados, podem ser considerados sujeitos “genéricos”, que tem o poder de representar o grupo no indivíduo (SPINK, 1993).

No Brasil, uma país de complexas e múltiplas realidades socioculturais, o estudo das representações sociais permitem à psicologia social uma rica aproximação com diversos grupos que, à margem da sociedade nunca são escutados.(CASTRO, 1993).

Portanto, nesta pesquisa, utilizaremos o discurso das lideranças que entrevistamos, para através dele, termos acesso aos elementos pertinentes aos objetivos desta pesquisa, já que. como nos coloca Spink(1993): “ Dar voz ao entrevistado, evitando impor categorias do pesquisador, permite eliciar um rico material, especialmente quando este é referido às práticas sociais relevantes ao objeto da investigação e às condições de produção das representações em pauta.”