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2.2 Teorias de Satisfação no Trabalho

2.2.2 Teorias Disposicionais

Na categoria das teorias disposicionais, encontram-se as teorias que tentam explicar a Satisfação no Trabalho com base em fatores relacionados com o próprio indivíduo, ou seja, quais são as características individuais que predispõem mais os indivíduos a sentirem-se mais satisfeitos (Cunha et al., 2014).

Foi através de um estudo realizado por Staw e Ross (1985) que as abordagens disposicionais ganharam maior destaque. Estes autores concluíram que a Satisfação no Trabalho está relacionada com as características disposicionais, pois a satisfação manteve-se relativamente constante durante um período de 2 a 5 anos nos indivíduos estudados. Concluíram também que os níveis de satisfação anteriores destes indivíduos, eram um melhor preditor de satisfação do que mudanças no salário ou status social (Staw e Ross, 1985).

2.2.2.1 Afetividade Positiva e Negativa e a Satisfação no Trabalho

Para relacionar então fatores disposicionais com a Satisfação no Trabalho foi necessário encontrar uma escala que pudesse aferir esses fatores para toda a população poder ser comparada de forma igual. De entre os vários métodos existentes, a abordagem tomada por alguns autores, foi a de relacionar a Satisfação no Trabalho com a afetividade positiva (AP) e a afetividade negativa (AN) (Judge e Klinger, 2008).

A AP reflete até que ponto um indivíduo se sente alegre, entusiástico, enérgico, confiante e alerta. Sendo que, elevada AP é um estado de alta energia, concentração total e comprometimento agradável, e onde baixa AP é caracterizada por tristeza e letargia. Por outro lado AN é uma dimensão geral de aflição e comprometimento desagradável que inclui uma variedade de estados de humor aversivos, incluindo, raiva, desprezo, repugnância, culpa, medo e nervosismo, sendo que baixa AN representa um estado de calma e serenidade (Naragon e Watson, 2009; Watson, Clark e Tellegen, 1988)1.

1 Para aprofundar e entender o desenvolvimento desta medida, assim como de um método de aferição da mesma,

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Vários foram os estudos que relacionaram tanto a AP e AN com a Satisfação no Trabalho (Agho, Mueller e Price, 1993; Brief et al., 1988; Brief, Butcher e Roberson, 1995; Levin e Stokes, 1989; Necowitz e Roznowski, 1994; Watson e Slack, 1993). De 29 estudos que investigaram a relação entre AP e a Satisfação no Trabalho e de 41 que relacionaram a AN com a Satisfação no Trabalho, foi encontrada uma correlação significativa (de r=0,52 e de r=-0,40, respetivamente), após a realização de uma meta- análise (Thoresen e Judge (1997) cit. por Colbert et al., 2001). Já em 2003 após nova meta análise foi concluído por Thoresen e colegas (2003) que tanto a AP como a AN possuem uma correlação de igual valor absoluto (de r=0,34 e r=-0,34).

Verificam-se, no entanto, algumas limitações com esta abordagem. Existem mais estudos efetuados sobre a AN, e em alguns casos a AP não é de todo considerada, como por exemplo os estudos de Levin e Stokes (1989) e Necowitz e Roznowski (1994). De seguida, na literatura foi debatido se a AP e AN são ou não de facto conceitos independentes (Russell e Carroll, 1999). Há ainda a dúvida se a AP e AN não aferem pelo menos parcialmente, os níveis de felicidade e afeto experienciado ou até satisfação na vida. Por fim, a AP e a AN são apenas dois traços que são avaliados, podendo no entanto existir outros que podem ser empiricamente relevantes para a Satisfação no Trabalho (Judge, Heller e Mount, 2002).

2.2.2.2 Modelo dos Big Five e a Satisfação no Trabalho

Uma outra forma de aferir a personalidade de um individuo é o modelo dos 5 fatores ou Big Five como é também conhecido. Este descreve os aspetos mais importantes da personalidade de uma pessoa, e foi validado em várias culturas (McCrae e Costa, 1997).

Este modelo utiliza cinco fatores para caracterizar a personalidade de um indivíduo, sendo estes, a Extroversão, o Neuroticismo a Amabilidade a Conscienciosidade e a Abertura à Experiência2 (McCrae e Costa, 1997).

Judge e colegas (2002), efetuaram uma meta-análise que encontrou uma correlação conjunta para os cinco fatores de r=0,41 com a Satisfação no Trabalho, mostrando que efetivamente existe alguma relação entre os fatores disposicionais e

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a Satisfação no Trabalho. As conclusões retiradas por estes autores foram que o Neuroticismo tem a mais forte correlação com a Satisfação no Trabalho (r=-0,29), sendo que a Conscienciosidade, foi o segundo fator com a maior correlação com a Satisfação no Trabalho (r=0,26). A Extroversão também mostrou uma correlação significativa com a Satisfação no Trabalho (r=0,25), visto que pessoas mais felizes em relação à sua vida em geral, sentir-se-ão mais felizes no seu local de trabalho. Já a Amabilidade e Abertura à Experiência demonstraram correlações fracas com a Satisfação no Trabalho.

O estudo efetuado por estes autores contribuiu para a afirmação de que os fatores disposicionais exercem de facto alguma influência sobre a Satisfação no Trabalho embora não se entenda ainda de que forma se processam as relações entre estes traços e a Satisfação no Trabalho (Judge, Heller e Mount, 2002).

2.2.2.3 O Modelo das Core Self-Evaluations e a Satisfação no Trabalho

Este modelo proposto por Judge, Locke e Durham (1997) baseado na literatura já existente sobre os fatores disposicionais, tentou criar um modelo que explicasse a influência destes fatores na Satisfação no Trabalho. De acordo com estes, as Core

Self-Evaluations(CSE), ou Auto-Avaliações Nucleares, são premissas fundamentais

que os indivíduos possuem sobre si próprios e como estes se relacionam com o mundo à sua volta. Para os autores as CSE são construtos de personalidade alargados compostos por vários traços nomeadamente a Autoestima, a Autoeficácia Generalizada, o Neuroticismo e o Locus de Controlo3.

Estes fatores foram relacionados com a Satisfação no Trabalho em vários estudos. Num estudo efectuado por Judge e colegas (2000), quando reportada pelo próprio, a Satisfação no Trabalho apresentava uma correlação de r=0,41 com as CSE, e quando reportada pelo parceiro amoroso essa correlação baixava para r=0,19.

Numa meta-análise baseada em 274 correlações, entre cada um destes fatores disposicionais e a Satisfação no Trabalho, os autores concluíram que esta estava correlacionada com a Autoestima (r=0,26), com a Autoeficácia Generalizada (r=0,45), com o Locus de controlo interno (r=0,32) e com a Estabilidade emocional (r=0,24),

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sendo que esta última é o oposto do Neuroticismo. Estas em média indicaram uma correlação de r=0,32 com a Satisfação no Trabalho (Judge e Bono, 2001).

Em 2005 outro estudo encontrou uma correlação entre os 4 fatores e a Satisfação no Trabalho de r=0,38. Embora seja aceite que existe uma relação entre as CSE e a Satisfação no Trabalho, ainda não é completamente conhecida a forma como se processa conceptualmente essa relação (Judge et al., 2005).

De entre todas as abordagens disposicionais esta última, de acordo com Judge e colegas (2008) é a que possui correlações mais fortes com a Satisfação no Trabalho.