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Apesar do aumento do interesse nas terapias alternativas, os investigadores da universidade norte-americana de Yale (Johnson et. al. 2018) garantem que trocar a quimioterapia e a cirurgia por plantas medicinais, vitaminas ou uma dieta alternativa no tratamento de um cancro, tem um efeito comprovado: aumenta mais de duas vezes a probabilidade de morte, pode ler-se no artigo do semanário Expresso (Arreigoso, 2017). “Atrasar ou recuar o tratamento oncológico convencional – quimioterapia, radioterapia, cirurgia e/ou hormonoterapia – pode ter implicações sérias na sobrevivência dos doentes com cancro”, afirmam os autores. O risco de morrer é de 2.2, duas vezes superior, nos tumores frequentes para os doentes que só recorrem a terapêuticas não convencionais.

Em Portugal, médicos e terapeutas não convencionais subscrevem os resultados norte- americanos, com 840 doentes com cancros com potencial de cura, sem metáteses. “A diferença na expectativa de vida é impressionante. A dimensão do grupo de doentes que opta somente pela terapêutica alternativa é desconhecida no nosso país, mas quando chegam para tratamento convencional, frequentemente esgotaram as expectativas de cura”, explica Luís Costa, investigador do Instituto de Medicina Molecular de Lisboa e diretor de Oncologia do Centro Hospitalar de Lisboa Norte. “A utilização de vários tipos de tratamentos como métodos complementares é frequente”, afirma o coordenador do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas, Nuno Miranda. A complementaridade é a palavra de ordem dos terapeutas não convencionais. “Jamais deverá ser insinuada a utilização exclusiva da terapêutica não convencional no tratamento do cancro, muito menos como alternativa à abordagem convencional”, alerta Miguel Fernandes, presidente da União das Medicinas Naturais. Além do calculo sobre o risco de não resistir à doença, é analisada também a sobrevivência durante cinco anos. Estavam vivos 54,7% dos doentes que escolheram uma abordagem não cientifica e 78,3% dos que optaram por tratar-se numa unidade hospitalar. “As diferenças de sobrevivência são suficientemente amplas para conferirem confiança à conclusão de que as pessoas submetidas a tratamento convencional vivem mais tempo; um resultado que está de acordo com a razão teórica: é mais eficaz tratar do que não tratar”, salienta o diretor clínico do IPO-Lisboa, João Oliveira.

24 Mas a incapacidade de as técnicas não cientificas curarem o cancro não as coloca totalmente de parte. “Alguns destes tratamentos podem ser complementares, como a meditação, o yoga ou as técnicas de relaxamento, e melhoram a tolerância psicológica à doença e aos restantes tratamentos”, diz o oncologista Nuno Miranda. O terapeuta Miguel Fernandes concorda: “A medicina de base natural pode ser um forte aliado na promoção da cura, na recuperação, no controlo dos efeitos secundários, no fortalecimento mental e gestão do stress ou até mesmo no conforto quando o que resta são os cuidados paliativos.”

João Beles, autor do livro “A Natureza a Curar a Natureza”, dá outros exemplos. “Existem muitos estudos a comprovar os maiores benefícios da medicina complementar. Algumas plantas medicinais são as mais estudadas e utilizadas nos doentes oncológicos, como os aloes, o ginseng, o gengibre ou o açafrão-da-índia.” E adianta: “Muitas vezes temos de convencer os doentes que somente a naturopatia ou a medicina tradicional chinesa não são suficientes.”

Contudo, existe um contraponto: Isabel Abreu, assessor da direção clínica do IPO-Porto, reconhece que “algumas práticas terão bons resultados se adjuvantes”, mas é preciso “discutir o assunto para que os doentes o façam na posse de toda a informação”. Afinal, nada é inócuo. “Temos um estudo feito pela Faculdade de Farmácia de Coimbra onde tentamos encontrar os efeitos da associação da quimioterapia com os produtos ditos naturais, como chás ou xaropes e onde identificamos que não só potenciam os efeitos secundários como alteram a sua eficácia”, revela a presidente do Colégio de Oncologia Clínica da Ordem dos Médicos, Helena Gervásio.

“É muito importante que seja dado a conhecer ao doente o que podemos alcançar com os tratamentos convencionais e, se a cura é um objetivo possível, o doente deve compreender que a utilização simultânea de outros tratamentos que desconhecemos pode interferir”, defende Luís Costa. “Infelizmente, conheci doentes que optaram por se deslocar a outros países para tratamento com células dendríticas. É possível cativar os doentes para tratamentos muito dispendiosos, sem qualquer evidência de eficácia até ao momento e com uma aparência de oferta tecnológica avançada (pseudociência). De todas as vezes que solicitei, nunca recebi um relatório escrito por parte do centro que realizou esta medicina alternativa...!”

Johnson et al (2018) revela que são os mais jovens, informados e com mais instrução que optam pelos tratamentos não científicos. “Em situações de desespero as pessoas tentam milagres”, explica o responsável da Associação de Luta Contra o Cancro do Pulmão, António Araújo. Há ainda a capacidade de pagar os tratamentos, o receio dos

25 efeitos secundários ou a falta de abertura dos médicos.

Tabela 1.3 Técnicas complementares mais procuradas e motivações para tratamentos não científicos

Fonte: Adaptado de Expresso 2017

Luís Costa acrescenta à lista de motivações para o tratamento não convencional “a necessidade de preenchimento do espaço da esperança na cura”. António Pereira, diretor clínico da Fundação Champalimaud, afirma que “as terapêuticas alternativas surgem quando as portas se fecham”. E explica: “É comum nas sociedades intelectuais sofisticadas, as pessoas que conhecem bem o calvário da quimioterapia optarem por alternativas mesmo sabendo que morrem mais cedo.”

Neste artigo, o Expresso apresenta ainda algumas das técnicas alternativas ou complementares mais procuradas e as motivações dos doentes oncológicos para tratamentos não científicos.

1.5. Ciclo de Vida do Turismo Médico - A relação entre a participação

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