A efficacia da instituição das rodas torna-se ainda mais palpável perante os interesses sociaes e moraes. A sociedade considera-se como uma grande fami- lia que visa a bens geraes e emprega meios communs. É por isso que lhe assiste o dever e o direito de re- mover os empecilhos e buscar meios aquedados para conseguir esse bem.
A pratica dos preceitos da hygiene constitue a sua primeira lei salus populi suprema lex; e também é certo que a questão hygienica e social das rodas, que se debate, é da maior importância.
Ouçamos como se exprime um arrojado orador francez, M. Nicolas, fallando d'estas instituições. (*)
«Realmente, diz elle, a roda é d'algum modo um mal, mas um mal necessário para evitar outros males
maiores, o que o torna na realidade um bem. Por a roda se previne a morte do infante, a mãe do crime e a sociedade do escândalo. Supprimil-a não é supprimir o mal, é fazel-o refluir ao interior do corpo. Veja-se o que se passa pelo mundo. Nos paizes, onde a instituição das rodas não tem sido acceite, nem por isso é menor a despeza que se faz com os infantes. Em Inglaterra, por exemplo, é enorme a somma ab-
(*) Migne Dictionaire d'économie charitative — infants trou- vés—.
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sorvida pelo pauperismo para a verba da creação dos infantes, e a estatística dos infanticídios não deixa de ser desanimadora.
A roda e sua perspectiva não determina o desre- gramento de que o exposto é fructo e victima. Não é eUa que faz a vergonha das sociedades ; mas os cos- tumes ; pois que, em ultima analyse, a vergonha não passa d'uma homenagem tributada aos costumes pú- blicos. É tanto mais feroz e inexorável quanto os cos- tumes são mais puros. É averiguado pelas estatísticas dos paizes que nas províncias, onde ha menos infan- tes illegitimos, são aquellas em que ha realmente mais infanticídios e exposições. Isto concebe-se e deve ser tomado em grande conta.
Uma consideração mais geral além d'outras nos impressiona, e é que os infantes lançados á roda, uma vez salvos da morte, são salvos d'uma educação per- versa, que sustentando n'elles o vicio de que são fru- cto, dando continuo escândalo, os consagra á desgraça, ao crime, á revolta contra uma sociedade de que são inimigos naturaes, e a que recambiam as maldições
jqae d'ella tem recebido.»
Se a abundância da população constitue um ele- mento da riqueza d'um paiz, mais razão ha ainda para se ampliar ou ramificar a instituição das rodas, pois, debaixo d'esté ponto de vista, tem n'ellas a sociedade um viveiro, um seminário fecundo de cidadãos para o estado e braços para aa industrias. Com effeito a gran- deza e importância das nações não se mede tanto pela vastidão do território, como pelo numero dos seus ha-
bitantes.
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Da existência de muitas actividades e bom exer- cício de seu desenvolvimento nasce a prosperidade dos povos, assim como a rarefacção dos indivíduos pela emigração ou qualquer outro motivo se considera ra- zão de pobreza nacional.
Quando se tractava d'extinguir os conventos no meio da revolução da idêa ou das revoluções politicas, dava-se como razão ponderosa d'esta extincção o se- rem obstáculo á regular propagação da espécie, e com esta mesma razão condemnam os economistas o celi- bato do clero d'hoje.
Vê-se, pois, que as rodas não são contrarias aos in- teresses sociaes, como as teem pintado. Se custam som- mas enormes a ponto de amedrontar os economistas, essa verba é talvez das que teem applicação mais ra- cional. O que se desperdiça do thesouro com loucas ostentações de luxos públicos e particulares seria me- lhor applicado em crear e educar milhares d'infelizes, que mais tarde deviam vir a ser cidadãos prestantes e proveitosos do estado a que pertencem.
Ha quem anteponha o bem estar dos adultos á creaçào de crianças desvalidas, e proponha que o que se consome na manutenção das rodas seja antes dispen- dido em seccar pântanos e outras obras salutares do publico. Tal procedimento, porém,.sendo anti-econo- mico pelas razões dadas, é sobre tudo immoral. Que culpa tem o infeliz recem-nascido de se achar no mundo e ter urgentes necessidades a cumprir para vingar a vida?
A sociedade que desattender aos infelizes, procu- rando nos riscos e nos infanticidios d'elles um freio
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de exemplo aos progenitores illegaes, é uma mons- truosidade. Assim o alcança a recta razão e o ensina a religião do martyr do Golgotha. Jesus affagava as criancinhas, e á turba que se antepunha exclamava : deixai os meninos chegarem-se a mim, sinite párvulos
ad me venire.
Os asylos de infância desvalida são, pois, um meio efficaz de reparar e remediar misérias do presente, e preparar o futuro da sociedade, conservando e desen- volvendo actividades que d'outro modo se perderiam. N'este ponto o interesse social casa-se com as prescri- ções da moral ; tois que a moral é o sentimento e rea. lisaçâo do bem, e o bem realisa-se grandemente n'es- sas instituições, uma vez que sejam rectamente exer» cidas. Senão satisfazem plenamente ao seu fim, nem por isso devem ser reputadas anti-sociaes.
E de notar que os impugnadores das rodas com- batem menos a instituição em si, do que a sua má administração, e principalmente os resultados de hu- mana fragilidade, cuja causa attribuem ás rodas.
O Dr. T. de Carvalho, um dos mais accerrimos adversários d'estas instituições, exprime-se do seguinte modo.
«A mulher não se defende, e busca na roda o veu para occultar a sua deshonestidade ; o homem multi- plica insidias para satisfazer os seus desejos impru- dentes. Da seducção á deshonestidade, e da deshones- tidade ao vicio publico e asqueroso não vae mais que um passo ; a fraqueza, o exemplo, a miséria obrigam, arrastam a dal-o j a roda encubriu a primeira queda, provocou a segunda, desculpou as outras, e todas, foi
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rasgando e abrindo,as bordas do abysmo, atirando a final a innocente ,dos primeiros dias para as fauces do grande monstro da prostituição. »
Parece,.,pois, entender o illustre collaborador da Gazeta. Medica de Lisboa que a roda é a causa de, toda a. desmoralisação, da luxuria, e^ue, fechada ella, a mulher se tornaria recatada e virtuosa, o se- ductor, ça,sto,,e.prudente, e se fechariam também as portas aos, abysmos da, prostituição. Infelizmente não aconteceria assim. A desmoralisação lavra no seio da sociedade debaixo de todas as formas de que é capaz, e não é só na paixão da luxuria que ella se manifesta. Já o. dissemos : a roda não é tanto causa, como neces- sidade d'uma consequência ; é remédio muito ou pouco efficaz e não causa da doença social da corrupção. Se a paixão da luxuria campêa desenfreada por toda a, parte, á porque os sentimentos moraes e religiosos têem | affrouxado, e porque os brilhos d'uma civilisa- ção falsa são peqres em resultados do que o estado na- tural e,selvático dos povos.
f,Na.;infancia,dos povos os. actos genésicos ou de
prppagação da espécie eonsideram-se como virtude, e a esterilidade, era vista com maus olhos pelos circum- stantes ;,,nq estado,actual das civilisações é mister res- peitar, as ç/mvenções sociaes, sob pena de anarehia, desenvoltura e retrocedi mento.
A./civilisação hodierna não pôde ver u.m. mal na bem regulada e<Jucação da infância, seja qual fôr a ,sua,,procedência, porque, esta é uma fonte de popula- ção e, por tanto de riqueza publica.
,,J?em„,sabemos que a roda com uma só volta fatal
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rampe os Idçôs sà^ráâbs 'que " P1* óíi PÃ e à * * KUtji
e priva o engeftalo de CÎOhhécè'f 8â virtudes da fàMÎ lia experimentar o ha'îito beneficio Aa íi.âtértiidádéj à protecção e áihòaío fia pà'te'r'rMàdè nos prifhéíróe pe ridòs da vida; mas o que áe llkrle fàzer, éë mâb'po derosas dírcuinstáriciaá vierem ^bftga^à'c^ss&çaO d'é8> tes bens ?
TamBem a pèrdà dos ' p á é fies ■primeiros témpíra dá vida e um mal gfôhae ) toas éstk pèrdá % irrepa rável : omfante perdeu, !Òcrtfib o engeitâdo, bsmimOs dós áffectòs patérnaës.
É fácil de ponderar qúfe n'este mdndò dàs contin gências nao faltam moléstias, privações, males de toda a espécie que afligem a hriinanidade.
O que podemos é buscar méiòs de os àlliviar, quanto em nós ësteja, ë jamais desientranharrhosnos em lamentações contra a menos effié&cía dó remédio.
Assim na instituição:das rodas; a exposição é uma
doença moral ; ellas são um remedlò moral.
Nos paizes, onde as rodas ■diminuíram OU acaba* ram, acabou por 'ventura à deshohestidade, a seduc ção e a desmóralisação em'todas as suas fornias he diondas? Nada ha que authorise a áffirmãtiva.
É natural, é provável que os'tnéíos indirectos5pata
obstar á gravidaçao'tenham sido grandemente empre gados, a despeito do bem estar de saúde dos proge nitores; que o aborto e o infanticídio tenhafuíiccio nado nas trevas do silencio, "e mais qne tudo nlúitá misérias e tenha tragado na choup.ma do pobre 4ue furta sem poder uma migalha de pào á propria bocca paia dar a umas creânças enfesadas e rachiticas pela fome.
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Os impugnadores systematicos da instituição das rodas forjam á vontade quantas estatísticas querem, cujo resultado é dizer ao mundo que a sociedade fica descarregada das rodas sem augmento d'abortos e in- fanticídios, porém os dados de taes estatísticas teem menos de positivo, do que as misérias que vão pelo mundo e que desconhecem a caridade publica e par- ticular.
E examente d'estas misérias que o estado tem res- tricta obrigação de cuidar, e as rodas são íem duvida o meio mais conveniente. A exposição é um mal, mas que a roda minora e que pôde converter n'um bem. Imagine-se que se fecham as rodas inopinadamente, que aconteceria ? A mãe desnaturada ou miserável ex- poria, como até ahi, o producto da sua concepção na praça publica, importando-se pouco que as feras o de- vorassem ou tomasse conta d'elle a caridade particu- lar. Alguma vez aconteceria, com effeito, que alguma pessoa caridosa o tomasse com propósito de o crear, educar e fazel-o mesmo feliz ; mas de certo ficaria as mais das vezes exposto por muito tempo até ser vi- ctima da deshumanidade dos pães e da sociedade, e dando um espectáculo digno de canibaes. O hospicio dos infantes desvalidos é n'este caso a mão direita da caridade publica estendida aos infelizes para bem d'es- tes e bem seu posteriormente.
A instituição das rodas é finalmente harmonica com os interesses sociaes e prescripções da moral ; não vae, como dizem, roubar aos recemnascidos a pater- nidade, antes vae d'algum modo supprir as obriga- ções que os progenitores postergaram.
PROPOSIÇÕES
A n a t o m i a — Entre as cellulas animaes e vege-
taes ha perfeita identidade.
P n y a i o l o g i a — A cellula é o primeiro appare-
lho do organismo.
m a t e r i a medica — A strychnina e o curara não
são substancias antagonistas.
P a t h o l o g i a geral — A herança pathologica e
physiologica é um facto incontestável.
m e d i c i n a operatória — Achamos preferível a
reunião pelo methodo mixto nas feridas consecutivas
ás grandes operações.
P a t h o l o g i a i n t e r n a — Na congestão cerebral
a sangria além d'inutil é ás vezes prejudicial.
Anatomia-pathologica — As neoplasias can-
crosas offerecem structura e textura tão distinctas que facilmente se extremam não só dos tecidos normaes, mas ainda dos pathologicos.
P a r t o s — Deve banir-se do quadro obstétrico a
operação cezariana.
H y g i e n e — A instituição das rodas é proveitosa
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