• Nenhum resultado encontrado

Breves considerações sobre as Rodas dos Expostos

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Breves considerações sobre as Rodas dos Expostos"

Copied!
48
0
0

Texto

(1)

■as * > : ~t. L i - S * fr > S ^ v** > -- -,*K v % **

liREVES 'CONSIDERAÇÕES

SOBIiE

• AS RODAS DOS E X P O S T O S

g* .... V > % » V A

A 5

j ^ e w c

(2)

*^W ^S£ ojíe-. ^^y^^

y^s/^s y&z^^-^.

^ L

*&*t*t»4z-"-^ . ^íOt <2*^<yù> H i ^ f e í ^ È - * * . ' - ^ ^

(3)

J|^%-y^ .*#?£/

BREVES CONSIDERAÇÕES

AS HIIS DOS EXPOSTOS

DISSERTAÇÃO INAUGURAL PARA ACTO GRANDE

SEGUIDA DE NOVE PROPOSIÇÕES APRESENTADA

Á

ESCOLA MEBiCO-GffiyRfiiCA DO PORTO

PARA SER pEFENQIDA

POB

MANOEL CAETANO DA CUNHA SOB A PRESIDÊNCIA DO EXM." SNB.

Antonio Joaquim ï>e ífloraea €alí>as

P O R T O

TVPOGRAPHIA FRANCËZA E RACIONAL

5 0 BUA DA PICABIA 5 i

(4)

ESCHOLA MEDICO-CmURGICA DO PORTO

pIRECTOR

g!) JLLM. S jgxM,0 | | N R . CONSELHEIRO ^MANOEL ||f ARIA OA ÇOOSTA JBITS

^ E C R E T Á " R I O

ij­i ^XLM, S ^ X M , ^ M R ' f^/OSE <n),OAQUlM OA J^ILY* ^MAOO

COEPO C A T H E D E A T I C O

LENTES PROPRIETÁRIOS

OS ILLM."S E EXM.01 SNBS.

1.* Cadeira—Anatomia descriptiva e

Serai João Pereira Dias Lebre. 2.a Cadeira—Physiologia . . . D r . José Carlos Lopes Junior.

3.» Cadeira — Historia natural dos

medicamentos. Materia medica. João Xavier d'Oliveira Barros. i.a Cadeira — Pathologia externa e

therapeutica externa . . lllidio Ayres Pereira do Vallo. 5.a Cadeira—Medicina operatória . Pedro Augusto Dias.

6." Cadeira — Partos, moléstias das mulheres de parto e dos re­

cem­nascidos . . . . Vaga. 7." Cadeira — Pathologia interna.

Therapeutica interna e histo­

ria medica José d'Andrade Gramaxo. 8.» Cadeira—Clinica medica . . Antonio d'Oliveira Monteiro. »■' Cadeira—Clinica cirúrgica. . Agostinho Antonio do Souto. 10.a Cadeira—Anatomia pathologica. Eduardo Pereira Pimenta.

11.» Cadeira—Medicina legal, hygie­ ne privada e publica e toxico­

logia geral Dr. José F.Ayres de Gouvèa Osório. Curso do pathologia geral. . . Antonio Joaquim de Moraes Caldas

Presidente.

LENTES JUBILADOS

t Dr. José Pereira Reis. Secção medica . , Dr­ Francisco Velloso da Cruz.

" i Conselheiro Antonio F. de Macedo f Pinto.

!

Antonio Bernardino d'Almeida. Luiz Pereira da Fonseca. Conselheiro Manoel Maria da Costa

Leite.

LENTES SUBSTITUTOS

Secção medica ­ . ! y,a8a­

• . • ' ) Vaga.

Secção cirúrgica. Uosé Joaquim da Silva Amado. j Antonio Joaquim de Moraes Caldas.

LENTES DEMONSTRADORES

(5)

r

A eschola não responde pelas douctrinas expendidas na dissertação e enunciadas nas proposições.

(6)

y * * ■ — - x M e i a s q u e r i d o s p ã e s : E i s f i n a l m e n t e c i m e n t a d o o e d i f í c i o d a m i n h a e d u c a ç ã o p r o f i s s i o n a l . N ã o foram d e t o ­ d o b a l d a d o s o s s a c r i f í c i o s q u e f i z e s t e s p o r m i n h a c a u s a , p o i s q u e j á p o s s o i r c o m o a p o s t o l o d a s a ú d e d o s p o v o s p a r a o n d e m e m a n d a r d e s . A n t e s d ' i s s o , p o r é m , J a n ç a i ­ m e a i n d a a v o s s a b e n ç ã o e a c ­ c e i t a i e s t e m e u p r i m e i r o e t a l ­ v e z u l t i m o t r a b a l h o e s c r i p t o q u e v o s o f F e r e c e O m a i s o b e d i e n t e e g r a t o f i l h o

(_yf(anûs/.

fS>. <>cr3<x

(7)

fiO ILLM.0 SNR

MMMidD ëmÈ 1D& (EITO

MEU CARÍSSIMO TIO :

Permitti, meu bom tio e amigo, que deixe aqui o seu nome exarado, como testemunho publico de quanto lhe sou obrigado e affecto.

Não me permittem as circumstancias actuaes outra forma de compensar os momentosos fa-vores que o tio me ha feito, que offerecer-lhe este meu mesquinho trabalho escripto : que se leve em conta ao menos a^j; cordialidade com que o faz o que se assigna

O mais obrigado e obediente sobrinho

(8)

A S E U PRIMO

0 REV. F. DOS SANTOS S CUNHA

MEU GENEROSO, BOM AMIGO E PRIMO :

D I S S E UM GRANDE ESPIBITO QUE NADA HA

M A I S T R I V I A L D O Q U E O N O M E D E A M I G O , E

QUE NÃO HA COISA MAIS RABA DO QUE UM AMIGO VERDADEIRO.

R A R O S SIM, MAS AINDA OS HA, E E U UFA-NO-ME D E ENCONTRAR UM EM T I .

E POR ISSO QUE TE OPFEREÇO ESTAS M I -NHAS THESES.

AcCEITA-AS, POIS, E CONSENTE QUE N ' E S T A PAGINA DO PRESENTE TRABALHO, QUE TE DEDICO, INSCREVA O TEU NOME, PORQUE F I -CARA N ' E L L A CONSIGNADA UMA RECORDAÇÃO AFFECTUOSA DO MEU RESPEITO AS TUAS VIR-TUDES, E A GRATIDÃO SINCERA PELOS FAVO-RES E CONSELHOS QUE HA MUITO ME TENS DIS-PENSADO. A D E U S ! . . .

O TEU AFFECTUOSO E GRATO PRIMO,

(9)

AOS SEUS AMIGOS

Aux... amis.. .

Mon coeur ne saurait se fermer Toujours vieux pour les reconnaître Toujours jeune pour les aimer.

LAMARTINE OUVRES COUP,

COMO PP.OVA DE AMISADE E MUITA DEDICAÇÃO

âO SEU AMIGO E COLLEGA

ANTONIO NUNES BERNARDES CARDOSO

COMO PROVA

ÏÏDcminsràe, auntpatljta e rtconljcíunento AOS SEUS CONDISCÍPULOS DO 5.» ANNO

UM ADEUS SAUDOSO

E

DE ETERNA RECORDAÇÃO Off. o auctor.

(10)

fc.

AO SEU PRESIDENTE O i l l m . " e e x m . ° s n r . A N T O N I O J O A Q U I M D E J V L O R A E S

PALDAS

Meu presado amigo e mestre : Não é por lisonja que ponho em vossas mãos este meu pobre trabalho escripto. Conheço o preito e veneração que se deve ao talento e aos mais brilhantes dotes do espirito e do coração, e não hesito em aproveitar as benéficas influen-cias de pura e verdadeira amisade. Eis porque vos offereço as linhas que pude coordenar sobre um assumpto aliás importante, e, se nada vale a offerta pelo que é, alguma cousa deve valer pela intenção que lhe presidiu.

Do mais dedicado e admirador discípulo e amigo

(11)

BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE AS RODAS

DOS EXPOSTOS

I N T R O D U C Ç Ã O » Souvons l'enfant de l'abandon ; souvons la mère de l'oubli de son nom d'mére; souvons la loi du triple re-proche d'immoralalite, d'inhumanité, d'imprevoyence!

VICTOR LEFRANC. As rodas são, a nosso ver, uma engenhosa inven-ção da caridade enrista, como lhes chama o illustre La-martine.

O christianismo, dando uma direcção nova ao eat pirito da sociedade, espalhou por todas as instituições as sementes d'uma moral sublime, a que jamais che-gara o alcance da philosophia do paganismo, e que a politica dos povos não tinha posto em acção.

A virtude da caridade derramou-se prodigiosamente sob varias formas pela face da terra, com a luz da lei nova, e não podia deixar em esquecimento os infeli-zes recemnascidos, a quem as mães desnaturadas, ou acabrunhadas pelas vergonhas do mundo, expunham na praça publica, ou atiravam á valia a titulo de qual-quer deformidade physica, pois que assim Ih'o permit-tiam as leis civis.

Animada d'esté sentimento christão nasceu pois a ideia do estabelecimento de asylos para meninos engei-tados, e isto primeiramente na Italia.

(12)

— 14 —

Cedo entrou no nosso Portugal o pensamento hu-manitário da creação de irmandades com attribuições análogas.

F . Miguel de Contreiras influenciou no animo pie-doso da regente D. Leonor a fundar uma irmandade de misericórdia, em Lisboa, que effectivamente se es-tabeleceu em 1498, e em que merecia particular men-ção a verba de soccorrer as mulheres gravidas e acu-dir aos meninos precisados. N'outras povoações do reino foram consecutivamente creadas instituições de natu-reza análoga.

O verdadeiro gérmen da roda dos expostos, po-rém, com justa razão, se attribue a S. Vicente de Pau-la, nascido em França em 1575 e fallecido em 1660.

Este raro prodigio de caridade, tendo viajado por différentes partes do mundo, estudado em Roma as instituições pias, que o elemento christão ahi havia fo-mentado e desenvolvido com particular efficacia, fun-dou, elle próprio vários hospícios e estabelecimentos hu-manitários, cujo fim era o derramamento das luzes do evangelho e a praticada genuina caridade que propalava. Voltando da sua peregrinação á pátria natal, fun-dou entre outros um hospital para cura dos alienados, e ordenou que os rapazes, que viviam vida escanda-losa, fossem recolhidos e creados de modo a virem a ser úteis cidadãos ao estado.

Animado d'esté sentimento de converter em pro-veitosos membros do estado e da familia os desvalidos e abandonados pela mesma familia, creou expressa-mente para esse fim um hospital para remédio dos en-geitados, em Pariz.

(13)

15 —

Os primeiros que a sorte lhe deu reunir, livran-do-os d'uma exposição accidental, em que muitas ve-zes eram devorados pelas feras, foram confiados a uma mulher velha, a qual os entregava acreadas, que para se livrarem de trabalhos, chegaram algumas vezes a dar a morte áquelles que os authores de seus dias aban-donavam.

Foi então que S. Vicente de Paula, no auge do fervor da sua proverbial caridade, ordenou que fossem recolhidos e creados todos quantos apparecessem, e confiou a direcção do instituto á Congregação das

fi-lhas da caridade. O Santo, que gozava da estima par-ticular de Henrique IV e do melhor conceito entre as senhoras, cuja caridade inspirava e dirigia, não teve difficuldade em arranjar da caridade publica, quarenta mil libras com que fez rosto ao grande dispêndio do seu hospício de engeitados.

Com o decorrer dos tempos estas instituições, cujo fundamento lançou S. Vicente de Paula, desenvolve-ram-se prodigiosamente, e multiplicadesenvolve-ram-se por quasi todo o orbe christão, tomando formas mais ou menos regulares e determinadas.

Não faltou ás rodas a sancção das leis, nem o favor dos municípios, os subsídios das misericórdias, a dedicação formal da caridade publica e particu-lar.

Por muito tempo foram reputadas instituições jus-tas, humanitárias harmonicas com a melhor moral e

interesse social.

No principio d'esté século, é que o espirito analy-tico e investigador, attenta a immensa mortalidade

(14)

— 16

-n'estes estabelecimentos de creação d'infancia desvali-da, e vendo que d'algum modo concorriam para a des-moralisação da sociedade, ousou pôr em duvida as vantagens apregoadas, e não faltou até quem propo-zesse a necessidade da extincção das rodas em toda a

sua plenitude.

Desde então tem-se ventilado incessantemente o momentoso trilemma de extinguir, conservar ou refor-mar as rodas dos expostos.

O mesmo empenho com que se debate esta ques-tão duplamente d'economia politica e do foro da hy-giene publica põe em relevo a sua importância capital.

Alguns escriptores francezes, aliás abalizados e de authoridade, como Cuvier, Villermé e Dupin, consi-deram as rodas como estabelecimentos perniciosos á morigeraçào dos povos, visto que, facilitando a expo-sição, dão azo á luxuria e outras paixões dissolventes da boa moralidade. Ninguém contestará, com effeito, que a mulher, tendo na roda um meio fácil de enco-brir o crime de sua deshonestidade e de suffocar o sen-timento natural de maternidade, se não resguardará com toda a energia dos impulsos da luxuria, nem se esquivará tanto ao laço das seducções.

Não obstante este lastimoso inconveniente, não fal-tam escriptores egualmente respeitáveis e authorisados que vêem na suppressão das rodas um mal ainda maior, a vergonha e vexame que podem cair sobre a mulher, que por fragilidade uma vez resvalou nos escorrega-douros da honra; vergonha que muitas vezes se es-tende a uma familia inteira, e que encontra alli meio efficaz de se cortar.

(15)

— 17 —

Para Hamel e Lamartine as rodas podem fornecer á mulher que concebeu d'amor illicito meio de se re-habilitar perante a sociedade, alem d'evitar os perigos d'uma exposição compromettedora da vida dos infeli-zes e desvalidos expostos.

Lá fora o grito d'exterminio contra as rodas pre-valeceu de modo que na Inglaterra, Suissa, Hollanda e em parte da Alie manha não existem rodas, apezar das luzes de civilisação, que fulgem n'aquelles pai-zes.

Também entre nós entrou a discussão dos prós e contras que ofFerecem as instituições das rodas. Em tractados especiaes, embora de pequenas dimensões, no parlamento, no jornalismo, teem apparecido impu-gnadores e defensores enérgicos da exposição legal. Em 1849 publicou a Sociedade Litteraria Portuense um judicioso opúsculo devido á penna do Dr. Assis, em que mais se lamentam as imperfeições no funccio-nalismo das rodas, e se estuda o modo de os remediar, do que se proclama a sua extincção. «O bem espera-se lentamente, diz elle no prefacio ; e, com o andar dos tempos, os bons conselhos e medidas acertadas não deixarão de produzir a final o desejado effeito». Em todo o caso o Dr. Assis passa por impugnador syste-matico das rodas.

Na Gazeta Medica de Lisboa de 1853 vem inserto um longo artigo do Dr. T. de Carvalho, que causou particular impressão, respectivamente á questão dos expostos. O hábil facultativo escriptor prima pelo es-pirito analytico e profundo, por um vigor de estylo pouco trivial; porém tira illação cathegorica—abaixo a

(16)

^~ 18

-roda dos expostos — de princípios que nos parecem inad-missíveis.

Não nos parece verdade que as rodas já não com-portem aperfeiçoamentos, e que tenham dado tudo quanto tinham a dar, como avança o primoroso es-criptor ; antes cremos com Jeronyino de Mello e F . A. R. de Gusmão que ha n'ellas muito a transformar e melhorar.

Nas considerações com que acompanha os seus bem elaborados relatórios, o snr. Dr. Ayres de Grou-vêa, medico do hospício de crianças do Porto, diz crer afoutamento que é possível reformar e melhorar o serviço dos expostos.

Realmente seria desaire para este século activo, emprehendedor e progressista, o desanimo completo na cura d'esta chaga que afflige a sociedade. Que o mal existe ninguém o contesta, porque existe o homem, a mulher, a fragilidade e a pobresa.

Fechar as rodas completamente aos fructos d'uma concepção illegitima seria extirpar esse mal ? não cer-tamente ; o que podia era ser occasião indirecta a um pouco d'enfreamento ás paixões e aviso d'affeiçao ma-ternal : porém tal medida não compensaria a immora-lidade do aborto praticado no silencio, ou do infanti-cídio inevitável pelos mesmos progenitores.

Pelo lado moral de nenhum modo se justifica a ex-tincção dos hospícios de engeitados; pelo lado social também podem elles trazer ao estado salutar proveito, tornando cidadãos prestantes, os que teriam de ser vi-ctiraas inevitáveis da miséria dos pães.

(17)

— 19 —

remediar nas convenientes reformas das rodas, que se não podem milagres na reparação de males hereditá-rios ou congénitos, n'uma prole enfezada ou rachitica, também fora d'ellas fora impossível o remédio.

Sem estarmos a demorar-nos em mais considera-ções, passemos uma vista geral sobre o que são as ro das, o que poderiam ser, e como taes instituições, se-gundo o espirito que lhes deu origem, se casam com a moral e interesse social dos povos.

(18)

PRIMEIRA PARTE

Desde a sua primitiva fundação, apesar de todas as transformações porque tem passado, a instit das rodas jamais satisfez cabalmente aos fins h nitarios a que se destinava. A grande despeza qu clama a sua sustentação e a dificuldade de obter pessoal d'amas, dão lugar a que n'estes estabeleci-mentos de caridade nem sempre ella seja ex* regular e proficuamente. A enorme concorrência de crianças enviadas de todos os pontos, c pela m parte enfezadas e doentes, aggravam as eircum cias do hospício, que, por mais que queira, não satisfazer ás necessidades todas dos infelizes engeit dos. Nào se dissimule, pois; este cancro da expo que afflige ar sociedade, não é susceptível de cura prosá-pia e cabal. As estatísticas geraes da mortalidade che-gam quasi a justificar o nome de casas d'infanticídio

legal, que pitorescamente se tem dado ás rodas.

Mas esta mortalidade prodigiosa nào deve de sei tanto motivo de desanimo e razão contra a institui^ das rodas, quanto estimulo para lhe estudar a causa òc casional, e incentivo para se cuidar em attenuar es; mesmo motivo. Eis porque não denegamos o ir. exercício, lastimosos contras e os maus fructos, qu-se tem colhido dos hospícios, a cuja origem presidi> tão nobre sentimento, como o de livrar os infante.,

(19)

— 22 —

desvalidos da morte inevitável, ou mais funesta crea-ção, rehabilitando ao mesmo tempo a mulher delin-quente.

Se a roda ainda não conseguiu ser o que devia, vejamos de relance o que ella é.

A miséria tem pairado sempre, mais ou menos dis-tante, sobre os hospícios destinados a receber as crian-ças abandonadas pelos seus, ou para se desobrigarem de as crear, ou para cortarem a vergonha, que lhes adviria, sabendo-se da existência d'amores illicites.

Os instinctos e sentimentos naturaes da propaga-ção da espécie não deixam de actuar incessantemente em todos ; e legitimos são certamente taes estímulos em quanto funccionam na orbita, que lhes assignalou a natureza, e o mesmo creador pareceu aconselhal-os, fazendo acompanhar de prazer estimulante os actos genésicos. Mas no homem, principalmente, nem sem-pre se circumscrevem em circulo legal.

O exagero das paixões, a exaltação da imagina-ção, e depois o meio ambiente da dissolução dos cos-tumes, em que por ventura vive, torna o homem um elemento de corrupção da sociedade a que pertence. A dissoluçÊio dos costumes, pelo desenfreamento das paixões, é uma das fontes mais fecundas da ex-posição dos infantes, pois que os progenitores são tão promptos á procreação illegitima, quanto decididos em abandonar deshumanamente os productos da illicita concepção.

Na infância dos povos ou no estado natural dos mesmos, em que não existem as formulas e conven-ções sociaes, a natureza obra n'este mesmo sentido

(20)

li— 23

-vremente, mas em compensação não reina entre elles o excesso que estraga physica e moralmente, e a prole vem ao mundo vigoi-osa, encontrando no affecto na-tural dos progenitores quanto lhe basta para garantir a primeira existência.

No meio civilisado em que se vive, rebentam ex-pontaneamente os vicios das necessidades, mais crea-das pelos homens do que pela natureza, e são esses mesmos vicios que se tentam reprimir com o rigor das leis, sendo, comtudo, impossivel exterminar o mal pela raiz.

Dizem os impugnadores dos hospícios d'infancia que esses mesmos hospibios constituem o fomento mais poderoso para a dissolução dos costumes, principal-mente pelo que toca a exercicios venéreos.

Digamos aqui de passagem que as rodas antes são a consequência, do que a causa e principio. O sedu-ctor põe mira na mulher formosa, cuida em expugnar o baluarte da sua virtude e pudicicia, só para contar mais uma conquista difficil e emborcar mais uma taça de prazer, e não porque pondere um momento que a roda ha-de acoutar um ente, que faça vir ao mundo, livrando os progenitores de mais encargos. A mulher virtuosa acontece-lhe o mesmo. Cede ás seducções do amante por uma fragilidade característica do género humano decaido, ou porque o veneno da corrupção es-palhado pelos salões, pelo theatro e pelos maus ro-mances, mais que tudo, se ia infiltrando no seu es-pirito. Para os ëeductores a roda é uma entidade des-lembrada ; para as que se deixam seduzir, a roda é quando muito, uma esperança, uma consideração, a

(21)

— 24 —

sombra d'um refugio, nunca causa componente ou in-tencional.

E a corrupção dos governos e a desmoralisação dos povos que torna necessária a roda, e não a roda que faz essa desmoralisação. Existe o remédio porque existe a doença, e não vice-versa. O que se pergunta, desde já, é se esse remédio, estará em harmonia com a gravidade da doença. Infelizmente não. A roda é um paleativo, é um refrigério insuficiente a muito mal e que possue limitado alcance respectivamente á grave doença da exposição.

A creação bem regulada do infante demanda mui-tos quesimui-tos que ao hospicio é impossivel prodigalisar.

Parece que, sendo o homem o ser mais qualificado da creação, é também o que apparece no mundo mais cheio de necessidades, a que não pode faltar, sob pena de perder a vida. É aquelle cuja infância é mais longa e trabalhosa, em que os cuidados dos pães, ou de quem os substitua, se tornam indispensáveis por mais tempo.

Qualquer outro animal vem ao mundo capaz de se abandonar a si mesmo desde os primeiros momentos da vida, ao filho do homem só passados annos.

No primeiro periodo da educação do infante o desen-volvimento plástico é a essencial necessidade, sendo mister ter sempre em conta devida 6 alcance das suas forças digestivas para que o alimento seja applicado convenientemente.

As crianças devem ser alimentadas com regulari-dade e a espaços certos, do duas em duas horas, ou de três em três, segundo tenham digerido o producto

(22)

— 25 —

da amamentação antecedente, e isto para desde logo se acostumarem á necessária regularidade.

A passagem do primeiro para o segundo anno é das phases mais melindrosas para a criança pelos

in-commodos da primeira dentição, pois que a applica-ção de alimentos, mormente de consistência, em idade menor, em que o estômago, não está apto para digerir, é altamente perigosa ás crianças.

Os primeiros alimentos, além da amamentação, de-vem ser de fácil digestão, devendo portanto começar

por leite de vacca misturado com agua panada, caldo de frango tenro e outros de natureza análoga.

Passando á applicação d'alimentos sólidos, deve principiar-se pelos lacto-feculentos, ovos quentes, ta-pioca, passando progressivamente a carnes brancas d'animaes novos.

Quanto ao tempo que deve durar a amamentação jamais deve anteceder a quinze mezes, nem

prolongar-se a mais de trinta. Da inobprolongar-servância d'estes precei-tos medicos resulta o mau estado de saúde para a crian-ça, resultado que pode exercer influencia ern todo o decurso da sua vida.

Quando a criança se dispõe para caminhar de pé muito convém regular-lhe os primeiros passos com bom systema de ensino, em harmonia com os systemas ós-seo e muscular. Ao manifestarem-se as primeiras tenta-tivas da faculdade de fallar, cumpre ensinar-lhes o bom modo de pronunciar, pois muitos vicios de má pronun-cia sào adquiridos nos primeiros tempos do balbupronun-ciar.

O estado physico reflecte se poderosamente no mo-ral, assim como o estado moral da criança se reflecte

(23)

— 26 —

no physico, sobre o qual exerce poderosa influencia. As duas educações, a do espirito pelos principios douc-trinaes, e a do corpo pelos bem regulados exercícios gymnasticos, devem correr paralellas, e completar-se uma pela outra, assim como as duas substancias phy-sica e espiritual completam a individual. Exercícios pbysicos, intellectuaes e moraes bem regulados, eis a synthèse da boa educação que a criança deve ter logo que seja capaz de movimento de locomoção e de tal ou qual decernimento de espirito.

Terá a roda meios de proporcionar estes elemen-tos áquelles de quem toma conta para os tornar em ci-dadãos úteis e prestantes á sociedade?

Ja respondemos negativamente.

As enormes sommas, que demanda a sustentação dos hospícios da infância desvalida, dão que pensar aos economistas habituados a attender demasiado a ou-tras necessidades do estado, necessidades convencio-naes ou de luxo, que deviam ser preteridas á creaçào e educação dos que devem vir a ser uma fonte de pros-peridade do mesmo estado.

A escassa remuneração, que se dá ás amas internas ou sedentárias, occasiona a difficuldade em as obter, e, quando o numero estabelecido se preenche, não é de-masiado o zelo que ellas empregam.

Muitas vezes uma ama tem a seu cargo seis oito ou mais crianças, sendo portanto impossível a ama-mentação regular e suficiente.

A experiência mostra que o melhor de tudo é ser a criança alimentada ao seio da propria mãe, e este quesito que a natureza aconselha torna-se impossível

(24)

— 27 —

na roda. Os afagos e carinhos de que precisam as crianças não os podem prodigalisar as amas, pois no perpassar incessante e rápido de varias d'ellas pelos seus cuidados não lhe ganham o amor devido, nem também as circumstancias precárias das mesmas amas dispõem muito para affectos. A insufficiencia da ama-mentação e satisfação urgente das necessidades da vida infante são, pois, uma das primeiras causas da morta-lidade.

Apesar de todas as precauções tidas com as con-dições hygienicas do edifício das rodas não é fácil sa-tisfazer a todas, pois que o contacto directo ou indi-recto de crianças eivadas postas em accumulação tor-nam naturalmente o logar infecto e perigoso até para as amas.

As crianças incapazes de se darem a amas exter-nas, por serem doentes, ficam confiadas ás amas seden-tárias, que as vão creando, como podem.

Não é raro serem lançadas á roda crianças eivadas de males contagiosos hereditários, como o virus

siphi-litico, e n'esse caso só a amamentação artificial lhes

po-de valer.

As crianças infeccionadas d'esta doença terrível e contagiosa devem ser amamentadas por cabras, pois a experiência tem mostrado resultados satisfactorios n'esta amamentação, sendo muito preferível á feita por amas faltas de robustez e de saúde suspeita.

A consideração do estado, em que as crianças che-gam á roda, é uma das melhores explicações da grande mortalidade.

(25)

_ 28 —

em face dos resultados da grande mortalidade, esque-cem certamente que muitos dos infelizes que n'ellas vão buscar asylo estão previamente condemnados á morte immediata, porque trazem do ventre materno a causa irremediável da sua vida ephemera. Confiados ao hospicio morrem ; fora d'elle conservariam a vida ? A muitas d'ellas era absolutamente impossível, e se o mal da agglomeração dizima os engeitados, a falta dos cuidados, do sustento e do agasalho ainda dizimaria mais.

E que significa muitos expostos chegarem ja mor-tos, e assim serem abandonados no hospicio?

O mal hereditário ou congénito e a miséria que os recebeu no berço tinham decidido da pobre vida, e não venham, pois, os impugnadores dos hospícios da infância desvalida tirar partido d'estes factos, que só servem para pôr em relevo as misérias que vão pelo mundo, e não tanto a inefficacia das rodas.

Realmente muitas das crianças expostas saem do ventre materno profundamente eivadas, e essas affec-ções tornam a morte inevitável. As causas principaes dos sofrimentos, com que os recemnascidos vêem ao mundo condemnados, são o resultado das angustias e affecções porque passou a mãe durante o tempo da ges-tação, e meios que empregou para dissimular a causa da sua vergonha. Os abortivos que a vergonha, a mi-séria ou a perversidade emprega com o fim de produ-zir o aniquilamento do producto da concepção, quando não chegam a matar, occasionam quasi sempre graves detrimentos ja na saúde da mãe, já na do filho.

(26)

mo-— 29 mo-—

ralmente, eivada por (doenças hereditárias, contaminada alem de tudo pelos progressos e estragos da syphilis, é que mais concorre para se atulharem as rodas, e os. míseros productos da concepção alli expostos corres-pondem exactamente no seu estado mórbido á causa que lhes deu o ser. Depois subtrahir o recemnascido ao hálito benéfico da maternidade e nío lhe prestar os soccorros que lhe são precisos é o primeiro im-pulso para a proximidade da morte.

O asylo que presta a roda não passa muitas veze8

d'uma ama para oito ou dez infantes, uma aleitação artificial ou por meio de cabras que substituem as amas, ou pelo uso de mamadeiras e alimentos escassos.

Enfadadas d'aquella vida incommodativa, algu-mas aalgu-mas chegam a dar maus tractos aos expostos. Como uma alimenta aos mesmos peitos uma porção de crianças, occasiona ás vezes contaminar os sãos com as doenças dos outros, porque não tem o cuidado pre-ciso de lavar os peitos.

A aecumulação coopera grandemente na mortali-dade que vae nas rodas. Este inconveniente só se re-moveria á custa de grandes despezas que custassem a distribuição das crianças por capacidades correspon-dentes no edifício da roda, ou fazendo por medidas preventivas obviar a affluencia d'infantes ao hospício de

modo que estivessem á larga os em numero dimi-nuto.

Distribuil-os immediatamente fora impossível, visto que os doentes se não podem dar para fora a crear em amas externas, e mesmo os que estão nos ca-sos de se entregarem nem sempre encontram via de

(27)

— 30 —

sairem immediatamente á mingua d'amas convenientes, que os levem. Acontece, pois, passarem dias na roda aggravando as circumstancias da casa de caridade e a sua jpropria nas inconveniências da agglomeração.

Os que se entregam a amas externas nem sempre são mais felizes.

Aos destinos d'ellas tficam elles ligados por sete

annos, e muitas vezes por toda a vida. Se a ama é extremamente pobre estenderá ao engeitado a sua triste e mesquinha condição. Enfraquecida pela miséria ino-culará com o leite na sua cria a fraqueza resultante da miséria.

Não é raro também que os abandonados pelos pró-prios progenitores encontrem nas amas o carinho, o amor a prosperidade de familia, que o considera como filho. Geralmente o engeitado acostuma-se desde logo a chamar mãe á ama e a tudo tracta, como se fora realmente da familia.

Da escolha de boas amas provém a felicidade dos expostos, e o credito das rodas, assim como da ne-cessidade de os entregar a todas que os querem, sem o menor exame nem syndicancia, provém a desgraço, dos engeitados e o descrédito dos hospícios tutelares d'elles até os sete annos.

A grande distancia para onde vai o maior numero dos expostos é outro grande inconveniente para os mesmos. As jornadas longas, e penosas, principal-mente nas más estações, devem ser para os infelizes do maior incommodo ; pois faltam-lhes as commodi-dades todas, vindo mensalmente á revista de distan-cia de dez léguas, ou mais.

(28)

— 31 —

Os meios, de que as pobres amas se servem para transportar as crianças, são por via de regra uma ca-nastra mal agasalhada. Estas revistas ao hospício men-salmente são para os engeitados um novo martyrio e que bem podia ser evitado.

Porque não se delega o cuidado da inspecção na junta de parochia ou em qualquer authoridade local ? A ama que percebe mensalmente 1$200 ou 800 reis poderia receber esta diminuta quantia na propria fre-guezia ou concelho sem o cansaço da jornada e sem dar á criança os graves incommodes da apresentação. Vô-se, pois, que a descentralisação do instituto das rodas é uma necessidade urgente e bem assim toda a sua reorganisação interna e externa.

Se a administração das rodas conseguir por me-lhoramentos suecessivos diminuir a exposição, preve-nindo os abortos e infanticídios, prover a creação da infância desvalida em geral, e dar-lhes educação de modo a virem a ser felizes e úteis cidadãos do estado, se a roda vier a satisfazer a estes fins proveitosos, po-der-se-ha considerar instituição util e boa.

(29)

SEGUNDA PARTE

Não temos dissimulado a gravidade d'eeta chaga social chamada exposição. Sem duvida que, por qual-quer dos lados que se olhe o problema, não se encon-tra meio de lhe dar solução cabal e satisfactoria sem que algum contra pese na balança dos prós.

Não ha senão admittir que a instituição das rodas é boa, em these, e que se não satisfizer a todos os fins é porque estamos no mundo das limitações, em que se realisam uns bens á custa do sacrifício d'outros. Se lord Brougham appellida as rodas de machinas fa-taes de corrupção e desmoralisação, como chamará ao abandono das crianças, onde os animaes as devoram ou perecem lentamente á mingua d'um seio embora emprestado que as nutra e acalente?

| Alguma esperança inspiram os melhoramentos con-quistados pelas successivas transformações e reformas porque os hospícios teem passado. A medida da in-quirição no acto da entrega do engeitado foi de bas-tante alcance pelo dique que veio pôr á enorme con-fluência de crianças que pejava a roda sem razão de ser.

Outros melhoramentos se irão realizando em har-monia com as necessidades locaes e progressos sociaes. Assim o crêem o geral dos escriptores contra a opinião do Dr. T. de Carvalho.

(30)

— 34 —

«Quando uma instituição, diz o illustre collabora-dor da Gazeta Medica de Lisboa, apezar das reformas nella introduzidas, dos melhoramentos que o tempo e a sciencia tem julgado prestantes, não preenche os fins para que foi destinada, não lhe procuramos os vicios e defeitos, para os emendar e corrigir, que é obra quasi sempre inutil, vamos ao fundo do pensamento que a criou, e acharemos então a verdadeira causa da sua improficiencia. A machina trabalhava perfeitamente com as molas que lhe pozeram, ainda trabalhou me-lhor com as que lhe addicionaram; a obra, porém, sae sempre incapaz para os usos actuaes; é pol-a de lado e fabricar outra diversa. A roda foi inventada como remédio á mortalidade das exposições na via publica, aos infanticídios e abortamentos criminosos. Cremos que como instituição já fez a seu tempo, deu o que po-dia dar, e brevemente terá de ser abolida. E pelo me-nos para esta solução que tendem os estudos moderme-nos».

Lo-o em seguida considera elle que a sua opinião, esta providencia radical, não a acceita o geral dos es-píritos em Portugal e confessa que fora mpossivel, desumano, acabar por uma vez com a instituição das

Re'almente o notável escriptor deixou-se levar na corrente das suas ideas systematica* da extincçào das rodas, e não quiz ponderar-que, embora não tenham

satisfeito a todos os fins cabalmente, teem já satisfeito a alguns, e irão satisfazendo consecutivamente a

ou-i 0N ã o se hade argumentar só com as estatísticas das

(31)

— 35 —

ridade, com as da excessiva mortalidade externa e in-terna, e com as misérias porque passam ás vezes os engeitados, senão também com as vergonhas que se teem encoberto, com as mortes inevitáveis que se teem poupado aos infelizes arrancados do seio materno, e com os cidadãos prestantes que se tem reentregado ao estado.

Vae contra a opinião geral fundada na experiên-cia, a asserção de que a roda já deu o que tinha a dar. Como outros ramos da Economia Politica e simulta-neamente da Medicina Legal deve esperar alguma coisa dos progressos da sciencia correlativa em vez de cair n'uma espécie de desespero sceptico em face das

falhas que apresenta.

Os hospícios da infância desvalida não foram crea-dos exclusivamente como remédio ás exposições na via publica, e aos infanticídios e abortos. Cremo3 que muito mais altas foram as suas aspirações. Quando a mãe desnaturada ou acabrunhada pelas misérias do mundo abandona o fructo das suas entranhas, a sociedade menos degenerada em si ou menos miserável do que a progenitora, põe em pratica as doutrinas de Christo, e diz em relação aos engeitados :—deixai que estes meninos se cheguem a mim;—façamos d'estes infeli-zes homens prestantes, que nada obstará a que venham a ser bons e úteis cidadãos do estado; são creaturas filhas de Deus, e o conhecer os que foram occasião ou instrumento de que a natureza lançou mão para ap-parecermos no mundo não passa d'incidente da vida.

Nada ha aqui d'esse sonho fatal chamado commu-nismo que quer fazer do estado o pae dos filhos da

(32)

— 3 6

-familia. A natureza prendeu os filhos aos seus pães por laços seguros que jamais se quebrarão: as rodas são para prever a casos excepcionaes do afroixamento d'esses laços, e a sociedade não poderia, ainda que quizesse, annullar de todo o que a natureza fez : nao o precisa nem o pretende, mas precisa de estar d ata-laia contra os prevaricadores das leis moraes, e repa-rar-lhes as ruinas, quando a fragilidade succumbe ao dever. Eis para o que são as rodas; prever, reprimir os abusos e remediar-lhes as consequências.

Quando o estado perfilha um innocente abandonado do seio materno, e tutela e amparo paterno, não faz xnais que o seu dever. O individuo é a vergontea o estado é o tronco, se aquella secca e se corrompe, cuide este em remediar o estrago.

Os economistas empallidecem ante as sommas que custam ao estado os asylos da infância, e não vêem

a s prodigalidades, os luxos excessivos que vao pelo

mundo á custa do mesmo estado!

Os moralistas constrangem-se ante a fragilidade succumbida, e não ponderam que essa fragilidade é um dos exercidos da natureza, embora desconcertado !

Existe o mal, 6 mister cuidar no seu remédio e não sacrificar um mal grande a outro maior ainda. Se a sociedade se compenetrar dos seus deveres rela-tivamente ao complexo dos seus membros tomados collectiva e individualmente, se a roda fôr o que deve ser em vez do que foi, ou o que, se quiserem, ainda é, 'a roda será instituto de importantes resultados e

(33)

— 37 —

á roda, é se deveria fechar os olhos e abrir os braços a todos os infantes que ahi confluíssem, sem exame nem syndincancia nenhuma da sua procedência, ou se pelo contrario só os deve acceitar, justificados os moti-vos da exposição.

Desde alguns annos que se tem optado pelo se-gundo alvitre que se vae pondo em pratica. Realmente é muito mais racional por muitas considerações.

Não temos duvida em admittir com os impugna-dores das instituições das rodas, que a facilidade ab" soluta da exposição dos productos do amor illicito ou da libertinagem constituía um incentivo e dava azo á mesma libertinagem, sendo portanto vehiculo de des-moralisação social. Se não era causa efficiente, era-o pelo menos occasional. Todos os meios de prevenção e re-pressivos devem concorrer efficazmente para atalhar simultaneamente á dissolução dos costumes e quebra da ordem moral, e também para evitar as misérias que muitas vezes resultam da exposição.

Ainda que alguns escriptores authorisados, como Reynal, opinam que todo o desenvolvimento de popu-lação é um bem e riqueza do estado, nem porisso jul-gamos admissível, em these, toda a geração e procrea-Ção illegitima, pois que na questão sujeita, por exem-plo, não vemos no exercício desbragado da exposição senão um mal para o geral dos expostos e um sobre-carregado onerozo para a sociedade. São, pois, neces-sários o emprego de meios repressivos e a vigilância da lei a tal respeito.

Como já notamos, o estado de civilisação dos po-vos favorece o desenvolvimento de paixões que, por

(34)

— 38

-mal exercidas, minam pela base a mesma civilisaçâo.

A paixão da luxuria é das que mais concorrem para o atrophiamento physico e moral das nações e tornam grave a questão de que nos occupamos. Extirpai, com-batei essa funesta paixão sob todas as suas formas ; dai recto exercicio aos sentimentos genésicos naturaes, e tereis talvez a roda como desnecessária na sociedade. Em quanto aquella reinar desenfreada, a roda é uma necessidade, porque efectivamente a roda é antes

con-sequência da desmoralisação do que causa geradora d'ella. Os sentimentos religiosos, as leis bem entendi-das, as instituições perfazem os corações, educam o espirito social e indirectamente poem a innocencia a

salvo das seducções.

Quando todos conhecessem os seus direitos e con-juntamente os seus deveres, a fragilidade humana não

atulharia os hospícios de infelizes recemnascidos que nenhuma culpa teem dos desvarios dos progenitores.

No estado das nações o matrimonio sanccionado pela religião e pelas leis civis constitue o melhor exer-cicio da moralidade. É por isso que o matrimonio deve ser aconselhado e favorecido, e punida a libertinagem, como fonte de dissolução e a primeira causa das

mi-sérias da roda.

O abandono da prole é crime contra a sociedade, contra Deus, contra a natureza, como tal deve ser pu-nido gravemente pelas leis.

Nos casos em que a mãe tem absoluta necessidade de arrancar do seio o fructo das suas entranhas e des-encarregar-se d'elle á sociedade assiste o dever de

(35)

.— 8 9

-É para isso que são as rodas e todas as institui-ções d'infância desvalida.

Ellas são como a mão caridosa da soeiedade com que encobre a vergonha d'uma fragilidade honesta, ou evita uma grande miséria que arrojaria ao tumulo a mãe e o filhinho conjunctamente.

Mas porque é que a roda não ha-de tomar conta por uma rigorosa syndicancia nos motivos da exposição e todas as circumstancias que' a acompanham ?

Que perde a mulher virtuosa que uma vez escor-regou na vida, se o seu nome ficar archivado nos li-vros do instituto, uma vez que o facto não transpire

fora do recinto, senão para casos pundonorosos ? Es-tas precauções são para os olhos da sociedade que não vê as cousas, como as devia ver.

Ninguém está livre de escorregar nos resvaladou-ros dos estímulos naturaes, e a roda não é só remédio aos resultados de taes fracassos, senão também sus-tentáculo da ordem moral das cousas. Em todo o caso os quesitos para a admissão do exposto constituem um meio repressivo e podem produzir as consequências mais efficazes na rehabilitação da mãe e do exposto. A todo o tempo a mãe poderá estreitar ao peito o fru-cto de suas entranhas, que as circumstancias eventuaes e o modo de ver social lhe haviam arrancado bem contra a sua vontade.

Em summa, todos os meios, que poderem reprimir ophenomeno da exposição sem aggravar directamente os desastres da negação das rodas, devem ser acolhi-dos como bons,

(36)

— 40 —

sua concepção legitima ou illegitima, uma vez provado que o|podia crear sem os inconvenientes da vergonha ou da miséria, deveria ser obrigada por lei a creal-o. É de notar que os pães são muitas vezes os pro-motores da exposição, porque o seu nenhum amor pela prole ^ou affecto muito inferior ao materno os leva a descartarem-se do peso da creação contra toda a relu-ctancia da parte da mãe. Algum tempo bastava o tes-temunho da mulher illudida para incriminar o sedu-ctor e fazel-o obrigar por lei a concorrer para indem-nisar a mãe e crear o filho ; hoje, porém, que pareceu pouco racional esta praxe judicial, não devera ser me-nos minuciosa e de rigor a investigação do crime pa-terno para se lhe applicar a lei correspondente. Não seria quebrantar pouco os laços da seducção, fonte de tanta immoralidade.

O rigor da lei n'esta parte bom fora que se esten-desse a todas as pessoas que sem motivo plausível coo-perassem na exposição. As rodas não são o mal ; são-no as exposições indevidas. Desenvolva-se e facilite-se a exposição legal, reprimindo ao mesmo tempo a que não tiver razão de ser, e veremos como se torna me-nos a miséria dos expostos ; porque a miséria, por singular espécie de divisão, quanto maior fôr o nu-mero mais toca a cada um.

Multas pesadas para os infractores das leis da roda enriquecerão o cofre da administração e tornarão in-ferior o numero dos crimes da exposição.

Do emprego de medidas repressivas resultam na-turalmente dous bens :

(37)

hu-— 41 hu-—

manas na paixão de luxuria e faz-se diminuir o nu-mero das exposições na roda.

O maior flagello d'estes estabelecimentos é a grande accumulação de engeitados ; porque a reunião de mui-tas crianças n'uni só recinto deve viciar o meio am-biente e dar origem a males graves e contagiosos.

Fica, por tanto, obvia a necessidade da descentra-lisação n'este ramo de serviço publico ou de caridade.

Mas por outro lado o rigor de providencias re-pressivas na acceitação de infantes na roda vem occa-sionar a exposição clandestina na rua e nos portaes.

Eis o peor escolto da miséria das crianças, que se não pode evitar completamente.

A mãe desnaturada, miserável ou envergonhada, vendo-se na impossibilidade de entregar o filho legal-mente no competente hospicio, acha n'este género de exposição meio de se descartar do fructo das suas entranhas, e sabe que por este meio indirecto conse-gue o mesmo resultado que se fosse entregal-o aber-tamente.

Para esta illegalidade e gravíssimo crime moral é que não pode haver demasiado rigor de repressão e punição.

Logo que apparecesse exposto um d'estes infelizes, dever-se-hia formar aucto de corpo de delicto e em-pregar todos os meios de descobrir a auctora d'esté attentado contra todas as leis humanas e divinas, pro-ceder a todas as possíveis investigações das pessoas cúmplices e applicar-lhcs exemplares castigos.

As medidas preventivas são no entanto sempre me-nos cruéis e não de meme-nos efficacia.

(38)

— 42 —

Uma vez estabelecidas instituições de maternidade e soccorros domiciliários, sendo bem organisadas, po-derão concorrer efficazmente para diminuir a exposi-ção e prevenir o infanticídio.

Repetimos, nenhum ramo de serviço publico re-clama mais urgentemente a descentralisação. Haja, pois, em cada concelho uma filial do hospício districtal, e sob a inspecção de pessoa competente e de reconhe^-cida probidade. Ao respectivo parocho e regedor de cada freguezia seja confiada ou imposta a missão de examinar e syndicar, como caiba no possível, os actos de gravidez e partos na sua ciroumscripção, obri-gando as mães a dar conta de seus recemnascidos, e tudo façam participar ao inspector da roda do conce-lho. A este assiste o direito de acolher o recemnas-cido ou obrigar os progenitores a creal-o segundo as circumstancias. As mães absolutamente pobres, mas ricas d'affectos de ternura para o fructo da propria concepção, de auxilio conveniente para prover as ne-cessidades da creação.

Nem isto fora sobrecarregar o fisco ou a caridade publica. Oxalá que todas as despezas fossem também

applicadas como esta.

Nas freguezias ruraes encontram-se amas mais con-venientes pela saúde e robustez. A estas devem ser entregues os infantes, sob a vigilância sempre da ins-pecção geral e particular, e as remunerações devem ser convidativas, a fim de que nem só as mulheres da ultima miséria concorram a buscar engeitados. Sendo o infante creado na propria localidade poderá aconte-cer que a propria mãe o não chegue a perder de vista

(39)

— 43 —

e protecção e que por debaixo de mão seja verdadeira mãe do coração.

Um filho de amor illicito, que creado pelos proge-nitores faria a deshonra da família abastada, circu-lará como engeitado, quando por um rigoroso segredo entre a paternidade e a direcção da roda hajam silen-ciosas relações, e o pae seja quem pague as despezas

da creação.

A fim de decidir se a roda deve acolher o infante ou obrigar os pães a creal-o, deveria haver, como em Inglaterra houve, um jury de homens probos, annexo ao hospício, ou jury composto mesmo de senhoras de reconhecida virtude.

Nas cidades, principalmente, são de maior alcance benéfico, quer visto pelo lado social, quer da carida-de, os asylos de creação diária, que são conhecidos por creches. As mães pobres vão ahi depositar seus fi-lhos, onde encontram amamentação, e quem os livre d'accidentés a que ficariam sujeitos d'outro modo, e occupam-se nos seus trabalhos, onde ganham os ne-cessários meios da propria substencia ou de outros fi-lhos mais crescidos. As mães servem a sociedade, tra-balhando para a mesma sociedade, e esta favorece as

mães que d'outro modo nem ganhariam para si nem para a prole.

O que mais é, as mães, descarregando-se diaria-mente do trabalho da creação, não deixam de ser mães pelos affectos maternaes, e manteem-se assim na ver-dadeira ordem moral.

(40)

TERCEIRA PARTE

A efficacia da instituição das rodas torna-se ainda mais palpável perante os interesses sociaes e moraes. A sociedade considera-se como uma grande fami-lia que visa a bens geraes e emprega meios communs. É por isso que lhe assiste o dever e o direito de re-mover os empecilhos e buscar meios aquedados para conseguir esse bem.

A pratica dos preceitos da hygiene constitue a sua primeira lei salus populi suprema lex; e também é certo que a questão hygienica e social das rodas, que se debate, é da maior importância.

Ouçamos como se exprime um arrojado orador francez, M. Nicolas, fallando d'estas instituições. (*)

«Realmente, diz elle, a roda é d'algum modo um mal, mas um mal necessário para evitar outros males

maiores, o que o torna na realidade um bem. Por a roda se previne a morte do infante, a mãe do crime e a sociedade do escândalo. Supprimil-a não é supprimir o mal, é fazel-o refluir ao interior do corpo. Veja-se o que se passa pelo mundo. Nos paizes, onde a instituição das rodas não tem sido acceite, nem por isso é menor a despeza que se faz com os infantes. Em Inglaterra, por exemplo, é enorme a somma

ab-(*) Migne Dictionaire d'économie charitative — infants trou-vés—.

(41)

_ 46 —

sorvida pelo pauperismo para a verba da creação dos infantes, e a estatística dos infanticídios não deixa de ser desanimadora.

A roda e sua perspectiva não determina o desre-gramento de que o exposto é fructo e victima. Não é eUa que faz a vergonha das sociedades ; mas os cos-tumes ; pois que, em ultima analyse, a vergonha não passa d'uma homenagem tributada aos costumes pú-blicos. É tanto mais feroz e inexorável quanto os cos-tumes são mais puros. É averiguado pelas estatísticas dos paizes que nas províncias, onde ha menos infan-tes illegitimos, são aquellas em que ha realmente mais infanticídios e exposições. Isto concebe-se e deve ser tomado em grande conta.

Uma consideração mais geral além d'outras nos impressiona, e é que os infantes lançados á roda, uma vez salvos da morte, são salvos d'uma educação per-versa, que sustentando n'elles o vicio de que são fru-cto, dando continuo escândalo, os consagra á desgraça, ao crime, á revolta contra uma sociedade de que são inimigos naturaes, e a que recambiam as maldições

jqae d'ella tem recebido.»

Se a abundância da população constitue um ele-mento da riqueza d'um paiz, mais razão ha ainda para se ampliar ou ramificar a instituição das rodas, pois, debaixo d'esté ponto de vista, tem n'ellas a sociedade um viveiro, um seminário fecundo de cidadãos para o estado e braços para aa industrias. Com effeito a gran-deza e importância das nações não se mede tanto pela vastidão do território, como pelo numero dos seus

ha-bitantes.

(42)

— 47 —

Da existência de muitas actividades e bom exer-cício de seu desenvolvimento nasce a prosperidade dos povos, assim como a rarefacção dos indivíduos pela emigração ou qualquer outro motivo se considera ra-zão de pobreza nacional.

Quando se tractava d'extinguir os conventos no meio da revolução da idêa ou das revoluções politicas, dava-se como razão ponderosa d'esta extincção o se-rem obstáculo á regular propagação da espécie, e com esta mesma razão condemnam os economistas o celi-bato do clero d'hoje.

Vê-se, pois, que as rodas não são contrarias aos in-teresses sociaes, como as teem pintado. Se custam som-mas enormes a ponto de amedrontar os economistas, essa verba é talvez das que teem applicação mais ra-cional. O que se desperdiça do thesouro com loucas ostentações de luxos públicos e particulares seria me-lhor applicado em crear e educar milhares d'infelizes, que mais tarde deviam vir a ser cidadãos prestantes e proveitosos do estado a que pertencem.

Ha quem anteponha o bem estar dos adultos á creaçào de crianças desvalidas, e proponha que o que se consome na manutenção das rodas seja antes dispen-dido em seccar pântanos e outras obras salutares do publico. Tal procedimento, porém,.sendo anti-econo-mico pelas razões dadas, é sobre tudo immoral. Que culpa tem o infeliz recem-nascido de se achar no mundo e ter urgentes necessidades a cumprir para vingar a vida?

A sociedade que desattender aos infelizes, procu-rando nos riscos e nos infanticidios d'elles um freio

(43)

— 48 —

de exemplo aos progenitores illegaes, é uma mons-truosidade. Assim o alcança a recta razão e o ensina a religião do martyr do Golgotha. Jesus affagava as criancinhas, e á turba que se antepunha exclamava : deixai os meninos chegarem-se a mim, sinite párvulos

ad me venire.

Os asylos de infância desvalida são, pois, um meio efficaz de reparar e remediar misérias do presente, e preparar o futuro da sociedade, conservando e desen-volvendo actividades que d'outro modo se perderiam. N'este ponto o interesse social casa-se com as prescri-ções da moral ; tois que a moral é o sentimento e rea. lisaçâo do bem, e o bem realisa-se grandemente n'es-sas instituições, uma vez que sejam rectamente exer» cidas. Senão satisfazem plenamente ao seu fim, nem por isso devem ser reputadas anti-sociaes.

E de notar que os impugnadores das rodas com-batem menos a instituição em si, do que a sua má administração, e principalmente os resultados de hu-mana fragilidade, cuja causa attribuem ás rodas.

O Dr. T. de Carvalho, um dos mais accerrimos adversários d'estas instituições, exprime-se do seguinte modo.

«A mulher não se defende, e busca na roda o veu para occultar a sua deshonestidade ; o homem multi-plica insidias para satisfazer os seus desejos impru-dentes. Da seducção á deshonestidade, e da deshones-tidade ao vicio publico e asqueroso não vae mais que um passo ; a fraqueza, o exemplo, a miséria obrigam, arrastam a dal-o j a roda encubriu a primeira queda, provocou a segunda, desculpou as outras, e todas, foi

(44)

— 49 —

rasgando e abrindo,as bordas do abysmo, atirando a final a innocente ,dos primeiros dias para as fauces do grande monstro da prostituição. »

Parece,.,pois, entender o illustre collaborador da Gazeta. Medica de Lisboa que a roda é a causa de, toda a. desmoralisação, da luxuria, e^ue, fechada ella, a mulher se tornaria recatada e virtuosa, o se-ductor, ça,sto,,e.prudente, e se fechariam também as portas aos, abysmos da, prostituição. Infelizmente não aconteceria assim. A desmoralisação lavra no seio da sociedade debaixo de todas as formas de que é capaz, e não é só na paixão da luxuria que ella se manifesta. Já o. dissemos : a roda não é tanto causa, como neces-sidade d'uma consequência ; é remédio muito ou pouco efficaz e não causa da doença social da corrupção. Se a paixão da luxuria campêa desenfreada por toda a, parte, á porque os sentimentos moraes e religiosos têem | affrouxado, e porque os brilhos d'uma civilisa-ção falsa são peqres em resultados do que o estado na-tural e,selvático dos povos.

f,Na.;infancia,dos povos os. actos genésicos ou de

prppagação da espécie eonsideram-se como virtude, e a esterilidade, era vista com maus olhos pelos circum-stantes ;,,nq estado,actual das civilisações é mister res-peitar, as ç/mvenções sociaes, sob pena de anarehia, desenvoltura e retrocedi mento.

A./civilisação hodierna não pôde ver u.m. mal na bem regulada e<Jucação da infância, seja qual fôr a ,sua,,procedência, porque, esta é uma fonte de popula-ção e, por tanto de riqueza publica.

,,J?em„,sabemos que a roda com uma só volta fatal

(45)

_ m

-a

rampe os Idçôs sà^ráâbs 'que " P1* óíi PÃ e à * * KUtji

e priva o engeftalo de CÎOhhécè'f 8â virtudes da fàMέ lia experimentar o ha'îito beneficio Aa íi.âtértiidádéj à protecção e áihòaí­o fia pà'te'r'rMàdè nos prifhéíróe pe­ ridòs da vida; mas o que áe llk­rle fàzer, éë mâb'po­ derosas dírcuinstáriciaá vierem ^bftga^à'c^ss&çaO d'é8­> tes bens ?

TamBem a pèrdà dos ' p á é fies ■primeiros témpíra dá vida e um mal gfôhae ) toas éstk pèrdá % irrepa­ rável : omfante perdeu, !Òcrtfib o engeitâdo, bsmimOs dós áffectòs patérnaës.

É fácil de ponderar qúfe n'este mdndò dàs contin­ gências nao faltam moléstias, privações, males de toda a espécie que afligem a hriinanidade.

O que podemos é buscar méiòs de os àlliviar, quanto em nós ësteja, ë jamais desientranharrhos­nos em lamentações contra a menos effié&cía dó remédio.

Assim na instituição:das rodas; a exposição é uma

doença moral ; ellas são um remedlò moral.

Nos paizes, onde as rodas ■diminuíram OU acaba*­ ram, acabou por 'ventura à deshohestidade, a seduc­ ção e a desmóralisação em'todas as suas fornias he­ diondas? Nada ha que authorise a áffirmãtiva.

É natural, é provável que os'tnéíos indirectos5pata

obstar á gravidaçao'tenham sido grandemente empre­ gados, a despeito do bem estar de saúde dos proge­ nitores; que o aborto e o infanticídio tenhafuíiccio­ nado nas trevas do silencio, "e mais qne tudo nlúitá misérias e tenha tragado na choup.­ma do pobre 4ue furta sem poder uma migalha de pào á propria bocca paia dar a umas creânças enfesadas e rachiticas pela fome.

(46)

— 51 —

Os impugnadores systematicos da instituição das rodas forjam á vontade quantas estatísticas querem, cujo resultado é dizer ao mundo que a sociedade fica descarregada das rodas sem augmento d'abortos e in-fanticídios, porém os dados de taes estatísticas teem menos de positivo, do que as misérias que vão pelo mundo e que desconhecem a caridade publica e par-ticular.

E examente d'estas misérias que o estado tem res-tricta obrigação de cuidar, e as rodas são íem duvida o meio mais conveniente. A exposição é um mal, mas que a roda minora e que pôde converter n'um bem. Imagine-se que se fecham as rodas inopinadamente, que aconteceria ? A mãe desnaturada ou miserável ex-poria, como até ahi, o producto da sua concepção na praça publica, importando-se pouco que as feras o de-vorassem ou tomasse conta d'elle a caridade particu-lar. Alguma vez aconteceria, com effeito, que alguma pessoa caridosa o tomasse com propósito de o crear, educar e fazel-o mesmo feliz ; mas de certo ficaria as mais das vezes exposto por muito tempo até ser vi-ctima da deshumanidade dos pães e da sociedade, e dando um espectáculo digno de canibaes. O hospicio dos infantes desvalidos é n'este caso a mão direita da caridade publica estendida aos infelizes para bem d'es-tes e bem seu posteriormente.

A instituição das rodas é finalmente harmonica com os interesses sociaes e prescripções da moral ; não vae, como dizem, roubar aos recemnascidos a pater-nidade, antes vae d'algum modo supprir as obriga-ções que os progenitores postergaram.

(47)

PROPOSIÇÕES

A n a t o m i a — Entre as cellulas animaes e

vege-taes ha perfeita identidade.

P n y a i o l o g i a — A cellula é o primeiro

appare-lho do organismo.

m a t e r i a medica — A strychnina e o curara não

são substancias antagonistas.

P a t h o l o g i a geral — A herança pathologica e

physiologica é um facto incontestável.

m e d i c i n a operatória — Achamos preferível a

reunião pelo methodo mixto nas feridas consecutivas

ás grandes operações.

P a t h o l o g i a i n t e r n a — Na congestão cerebral

a sangria além d'inutil é ás vezes prejudicial.

Anatomia-pathologica — As neoplasias

can-crosas offerecem structura e textura tão distinctas que facilmente se extremam não só dos tecidos normaes, mas ainda dos pathologicos.

P a r t o s — Deve banir-se do quadro obstétrico a

operação cezariana.

H y g i e n e — A instituição das rodas é proveitosa

(48)

Approvada Pode imprimir-se

C A L D A S . ° C O N S E L H F I R O I U R K C T O K ,

Referências

Documentos relacionados

5 “A Teoria Pura do Direito é uma teoria do Direito positivo – do Direito positivo em geral, não de uma ordem jurídica especial” (KELSEN, Teoria pura do direito, p..

Nossos parâmetros de rating levam em consideração o potencial de valorização da ação, do mercado, aqui refletido pelo Índice Bovespa, e um prêmio, adotado neste caso como a taxa

MATRÍCULA nº 4.540 do 1º CRI de Piracicaba/SP: 01 (UMA) GLEBA DE TERRAS, situada no imóvel denominado “Algodoal”, contendo a área de 53.982,00m², desta cidade, que assim

Este equipo genera, usa e irradia energía de radiofrecuencia, y si no se instala y se usa de acuerdo con las instrucciones, puede causar interferencias perjudiciales en

De modo geral os resultados do presente estudo evidenciam que os professores possuem algumas concepções incompatíveis sobre as interações CTS, entre as quais se destaca a

O Conselho Deliberativo da CELOS decidiu pela aplicação dos novos valores das Contribuições Extraordinárias para o déficit 2016 do Plano Misto e deliberou também sobre o reajuste

Este era um estágio para o qual tinha grandes expetativas, não só pelo interesse que desenvolvi ao longo do curso pelas especialidades cirúrgicas por onde

No primeiro livro, o público infantojuvenil é rapidamente cativado pela história de um jovem brux- inho que teve seus pais terrivelmente executados pelo personagem antagonista,