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Segundo Weisgerber (1962 apud Horst, 2011)25, tudo e todos estão envolvidos por uma lógica natural. No caso dos seres humanos, aplica-se o termo parentesco, no qual todos os indivíduos têm lugar através da relação com os demais, podendo ser identificado e diferenciado. Quanto à origem do parentesco, Bourguignon (1989 apud Horst, 2011)26 destaca que os sistemas de parentesco são uma criação humana, porém seus fundamentos já existiam entre os primatas.

Ghasarian (1996) destaca que ligadas ao parentesco, estão as estruturas sociais e o funcionamento das sociedades tradicionais, visto que a organização do parentesco coincide com a

25 WEISGERBER, Leo. Grundzüge der inhaltbezogenen Grammatik. Düsseldorf:3. Auflage. Pädagogischer Verlag Schwann, 1962.

26 BOURGUIGNON, André. L’Homme Imprévu. Histoire Naturelle de l`Homme. Paris: Presses universitaires de France. 1989.

organização econômica, política e social. Para o autor, em todas as sociedades humanas os indivíduos recebem os primeiros elementos de seu estatuto e da sua identidade social através do parentesco. Uma pessoa sem parentes não tem posição social. Batalha (1995) também ressalta que as relações de parentesco são a principal forma de organização social.

Conforme Horst (2011), na sociedade os indivíduos precisam constituir grupos de cooperação e estes normalmente são constituídos com base no parentesco, que origina ajuda mútua e gera apoio e segurança. O parentesco foi de grande importância nas sociedades tradicionais, mas continua sendo importante no que se refere aos sentimentos. A separação entre parentes e não- parentes é fundamental para diferenciar uns dos outros.

Lange & Kuchinke (1989 apud Horst, 2011)27 comentam que, a partir do crescente desenvolvimento das cidades e grande mobilidade dos integrantes da família, a definição de parentesco ultrapassou os limites da casa e por isso passou a receber diferentes nomeações. Batalha (1995) complementa, afirmando que as diferenças nas designações e relações de parentesco correspondem às diferenças nos direitos e deveres dos indivíduos que constituem o núcleo doméstico.

Sobre a terminologia e os sistemas de parentesco, para Ghasarian (1996) a terminologia é uma verdadeira linguagem que classifica os parentes em categorias e subcategorias. Ao aprender os termos de parentesco, a criança aprende a comportar-se de uma maneira apropriada relativamente às pessoas a quem esses termos se aplicam. O termo de parentesco é, na prática, uma etiqueta sobre a qual se pode apor um comportamento.

Batalha (1995) e Ghasarian (1996) destacam que nem toda relação de parentesco é biológica. Dessa forma, Batalha (1995) classifica o parentesco como resultado da conjugação de dois princípios: afinidade e consaguinidade. O primeiro refere-se a relação de parentesco entre dois grupos distintos através do casamento, quando a relação se estabelece também entre os grupos aos quais os indivíduos pertencem. O segundo é a relação pela filiação sanguínea, da qual resulta a descendência, estabelecida por relações que se estendem por mais de duas gerações. Galvão (2006) identifica parentes consanguíneos como indivíduos ligados pelo sangue, descendentes do mesmo ancestral ou participantes da mesma árvore genealógica.

27 LANGE, Heinrich & KUCHINKE, Kurt. Lehrbuch des Erbrechts. München: C. H: Beck’sche Verlagsbuchhandlung, 1989.

Geckeler (1973 apud Horst, 2011)28, assim como Ghasarian (1996), ao considerarem o tipo de parentesco, deparam-se com o parentesco sanguíneo e por aliança. O primeiro grupo envolve laços sanguíneos, mesmo que distantes, e o segundo é a relação pelo casamento, quando o integrante de uma família origina um novo grupo de parentes.

Geckeler (1973 apud Horst, 2011) define os termos de parentesco de acordo com alguns critérios: tipo, geração, gênero, idade e lateralidade. Ele destaca as relações possíveis entre parentes em: sanguíneos, das quais surgem os seguintes termos: pai, mãe, irmão, irmã, neto, neta, avô, avó, tio, tia, primo, prima, sobrinho, sobrinha, bisneto, bisneta, bisavô e bisavó. Também podemos ter: padrasto, madrasta, enteado e enteada; e por aliança, a partir do casamento.

O casamento, que é a união de duas pessoas por laços matrimoniais de cunho civil ou religioso, é conhecido como parentesco por aliança, que faz com que os contraentes aumentem a sua parentela. Ainda segundo Geckeler (1973), pelo critério da aliança surge um número ainda maior de relações e os termos: marido, mulher, filho, filha, sogro, sogra, cunhado, cunhada, genro e nora.

Conforme Horst (2011), a partir da proibição do incesto, em 3000 a.C., surgiu uma nova ordem (Lévi-Strauss, 1982), pois, com a exogamia, os grupos humanos passaram a se relacionar, deixando de lado as relações naturais da consanguinidade e adotando as relações culturais da aliança. O casamento no Brasil, conforme o Código Civil Brasileiro29, é monogâmico e até 2013 somente podia realizar-se entre um homem e uma mulher. A partir de então, entrou em vigor a Resolução n. 175/2013 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) permitindo o casamento entre casais do mesmo sexo. Isso deve-se a ampliação do conceito atual de família.

Segundo Lobo (2005, p. 91) são famílias “saídas de uniões sucessivas e que integram pais,

filhos, padrastos, enteados, avós, irmãos, meio-irmãos.” Com o passar dos tempos, conforme Horst (2011), as uniões consensuais estão tomando o lugar do casamento oficial tendo como causas a praticidade e a liberdade, o que fez surgir um número significativo de famílias do tipo recomposta. Todos os tipos de famílias recompostas partilham dinâmicas e características estruturais específicas e únicas, diferenciando-as dos outros tipos de configurações familiares.

Lobo (2005) divide a família recomposta em dois grupos: simples e complexa. Uma família recomposta simples é quando um casal, casado ou não, vive no mínimo com uma criança nascida de

28GECKELER, Horst. Strukturelle Semantik des Französischen. Tübingen: Max Niemeyer Verlag, 1973.

29 Código Civil Brasileiro. Disponível em : http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm, acessado em 05/06/2017.

uma união precedente de pelo menos um dos cônjuges. No entanto, uma estrutura mais complexa é aquela em que tanto o homem como a mulher foram casados anteriormente, ambos foram pais e trouxeram consigo as crianças para a nova família.

Desse tipo de relacionamento surgem os termos padrasto e madrasta, adulto cujo companheiro(a) tem pelo menos uma criança de uma relação anterior. E também enteado e enteada, indivíduo cujo pai ou mãe, ou ambos, vivem com um(a) parceiro(a) que não é o seu pai ou a sua mãe biológicos.

Goldschmidt (2004) acrescenta a categoria de parentes espirituais, que são os padrinhos, madrinhas, afilhados e compadres, relações que se dão no momento do batismo e da confirmação.

Segundo Ghasarian (1996), o padrinho e a madrinha são o homem e a mulher escolhidos pelos pais biológicos, que seguram na criança durante a cerimônia do batismo cristão. Posteriormente, eles têm o dever de tomar conta da criança, em caso de morte dos pais naturais. Assim, com o batismo, geram-se dois sistemas de relações, do apadrinhamento e do compadrio.

Fukui (1979 apud Horst, 2011, p. 30)30 ressalta que:

a escolha dos parentes espirituais está relacionada com o estreitamento das relações, por um lado, dentro da própria família, como por exemplo, com o cunhado ou primos; mas também com os vizinhos, uma vez que estes, pela proximidade de residência, podem passar a ter contatos mais frequentes em virtude deste laço espiritual que surge entre eles, por ocasião do batismo.

Com base nas definições e explicações expostas neste tópico, optamos por estudar as atitudes linguísticas, nos contextos desta pesquisa, a partir dos termos de parentesco, devido a força que estes exercem sobre os indivíduos. São termos utilizados com bastante frequência e referem-se a organização da sociedade na qual estamos inseridos. Desta forma, supomos que é um grupo de variantes do qual os informantes terão maior facilidade em tratar por se sentirem familiarizados.

30 FUKIU, Lia Freitas Garcia. Sertão e bairro rural: parentesco e família entre sitiantes tradicionais. São Paulo: Ática, 1979.

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