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PARTE III – Arte e agência: alguns elementos para comparação

GLOSSÁRIO

3. Termos Wauja Família/Língua Aruak

Akatupaitsapai: quem cuida do doente, geralmente um parente consangüíneo co-residente, e quem na maioria das vezes contrata o yakapá para o doente.

Amunaw: “nobre”, “chefe”.

Amunaw-iyajo: verdadeiro chefe, ou seja, um homem que gosta de festas, que deve cuidar da transmissão do conhecimento sobre as mesmas, bem como manter alto o ânimo do grupo quanto à participação em rituais.

Apapaatai: seres prototípicos da alteridade.

Apapaatai iyajo: monstros que predam o corpo e a alma de suas vítimas a um só tempo, diferente dos apapaatai-‘roupa’ (ou simplesmente apapaatai), que são antes raptores de almas humanas, e não predadores no sentido estrito do termo.

Apapaatai Iyãu: maior ritual “intratribal” wauja. Esse ritual se mostra particular por associar – cênica, musicológica e cosmologicamente – máscaras e flautas (podendo haver rituais de flautas sem máscaras e vice-versa). Tal ritual ocorre com freqüência irregular e segundo motivações terapêuticas.

Apapatutápa: categoria que corresponde aos apapaatai dos Yawalapíti (Viveiros de Castro, 1977).

Arakuni: personagem mítico, que ao se transformar numa cobra monstruosa e gigantesca, criou parte dos grafismos wauja.

Atanakumalu: uma das filhas de Kwamutõ, mãe de Kamo e Kejo.

Iyãu: “gente”, ou seja, seres despidos das “roupas” animais ou monstruosas que normalmente os ocultam.

Iyãu opotalá: feitiço também manipulado por ixana wekeho, mas que atua fora do corpo das vítimas. Os iyãu opotalá são figuras antropomorfas ou zoomorfas em miniatura. A semelhança entre o feitiço e a vítima é substancial e não visual. Esses feitiços são uma extensão material de uma intenção que pode ser espalhada à vontade, o que demonstra uma dispersão espacial da

pessoa do feiticeiro; tratando-se da sua distribuição em “outras pessoas”, que ele é capaz de produzir e espalhar. O poder do iyãu opotalá abrange as imediações em que ele se encontra fisicamente – seu poder não é, portanto, metafísico ou místico.

Ixana: feitiço.

Ixana wekeho: feiticeiro.

Ixanaki: feitiçaria

-iyajo: um dos quatro afixos-modificadores dos conceitos-base, que explicita o regime das transformações na natureza das coisas e seres. Na escala contínuo-gradativa em que os afixos são distribuídos, -iyajo é utilizado para estados de “excesso”, “superioridade”, “ferocidade”, “veracidade”.

Iyakanãu: apapaatai que adoeceram o yakapá (xamã), os quais lhe conferem, por meio da doação de uma substância específica (yalawo) e do auxílio como guias e intérpretes, poderes terapêuticos capazes de, a partir de uma seqüência de intervenções, retirar as flechinhas de feitiço do corpo do doente, de interpretar os sonhos deste, de identificar os apapaatai que raptaram sua alma e de resgatá-la.

Iwejekui: tipo de alma-do-morto, que corresponde a um “vulto” ou “espectro do morto”.

Kamãi: morto; doente em estado grave.

Kamo: um dos gêmeos filhos de Atanakumalu, neto de Kwamutõ, criador dos humanos.

Kaumai: segundo o mito, se refere à festa realizada pelos gêmeos Kamo e Kejo para celebrar a mãe morta; consiste, atualmente, no ritual inter-aldeão celebrado em homenagem aos amunaw (“nobres”/chefes) recém-falecidos.

Kawoká: apapaatai protetor.

Kawoká-mona: aqueles que apresentam para o doente os apapaatai que raptaram sua(s) alma(s)

Kejo: um dos gêmeos filhos de Atanakumalu, irmão de Kamo e neto de Kwamutõ.

-kumã: um dos quatro afixos-modificadores dos conceitos-base, que explicita o regime das transformações na natureza das coisas e seres. Na escala contínuo-gradativa em que os afixos se distribuem, apresenta estados de “invisibilidade”, “alteridade”, “espiritualização”, “potência xamânica”, “prototipia”. No caso da categoria apapaatai, o sufixo –kumã indica

Kwamutõ: velho solitário, filho da união entre o Morcego e o Jatobá, que envia suas filhas para se casar com Onça para se livrar da morte. Uma das filhas, Atanakumalu, foi morta grávida pela sogra. Nasceram dois gêmeos, Kamo e Kejo.

-malu: um dos quatro afixos-modificadores dos conceitos-base, que explicita o regime das transformações na natureza das coisas e seres. Na escala contínuo-gradativa em que os afixos são distribuídos, apresenta estados de “insuficiência”, “falsidade”, “incapacidade”; se aproximando do afixo –mona, pode demonstrar estados de “visibilidade”, “aparência”, “corporalidade”, “atualização”. No caso da categoria apapaatai, o sufixo -malu e –mona indicam

corporificação/atualização.

Mapitsai: outro tipo de interação com os apapaatai via alma. É uma experiência de revelação imediata dos sentidos da alma para os sentidos do corpo; é uma visão presente, imediata, porque alma e corpo não estão separados por estados oníricos ou por patologia crônica. Acontece quando a pessoa está acordada e plenamente consciente e é marcado pelo imediatismo na transmissão dos sentidos da alma para o corpo.

Metsepui: tabaco.

-mona: um dos quatro afixos-modificadores dos conceitos-base, que explicita o regime das transformações na natureza das coisas e seres. Na escala contínuo-gradativa em que os afixos são distribuídos, apresenta, assim como –malu, de “visibilidade”, “aparência”, “corporalidade”, “atualização”. No caso da categoria apapaatai, o sufixo -malu e –mona indicam

corporificação/atualização.

Monapitisi: corpo.

Nãi: roupa (máscara wauja).

Nakai wekeho: “dono” ritual.

Ogana: desenho.

Ojutai ogamawato: literalmente “algo refletido no olho”, melhor traduzido como “alma no (do) olho” ou, simplesmente, “alma-olho”.

Opotalapitsi: imagem.

Otowonai: na máscara de apapaatai, consiste a “roupa para a cabeça”, que geralmente compreende a paakai (peça que cobre o rosto); a pisi (saia); a puti (calça); e a owana (manga).

Owana: manga da máscara/“roupa” de apapaatai.

Pisi: saia da máscara/“roupa” de apapaatai.

Pitsi: “feixe” ou “forma”.

Piyulaga: nome da aldeia Wauja na qual Barcelos Neto (2004) realizou presenciou o Apapaatai

Iyãu em julho de 2000.

Potalapitisi: imagem.

Pukaká: “sem umbigo”, corpo que não foi feito conforme os mesmos processos e/ou substâncias com os quais são feitos os corpos wauja.

Pukay: ritual xamânico poderoso realizado quando um doente não recobra sua saúde. Seu objetivo é recuperar a alma in loco, ou seja, na área próxima ao seu rapto. Entre os Wauja, o

Pukay é um ritual secreto e absolutamente vetado aos não-xamãs. É um ritual que se encerra em si mesmo, não se estendendo a novas relações rituais e sociais, como é o caso do ritual de trazer

apapaatai.

Putakanaku wekeho: chefe do “conselho dos amunaw”

Puti: calça da máscara/“roupa” de apapaatai.

Tuneke: passeio com apapaatai.

Tupaki: contra-feitiço, uma violência legalmente praticada contra o feiticeiro, que pode dar o veredicto final numa situação de suspeita de feitiçaria. É a forma sancionada pela pureza e pelo resguardo da pureza. Assim como, o iyau opotalá, funciona com uma atuação espacialmente limitada.

Upapitsi: alma.

Upeke: cópia; no campo semântico da relação corpo-alma pode ser melhor entendido como “duplo”. Como vimos, o rapto da alma consiste em “copiar” a alma a partir do contato direto do raptor com o corpo da vítima.

Upete: pagamentos (referidos, aqui, como pagamentos rituais).

Wekeho: “dono”. Por exemplo, nakai wekeho é o termo empregado para “dono ritual”.

Witsixu: condição em que a alma se torna apreensível aos apapaatai, que conseguem vê-la e tocá-la.

Witsixuki: estado decorrente de um desejo alimentar não satisfeito imediatamente ou, raramente, de um desejo intenso e insatisfeito de ter relações sexuais. Não é um estado corporal, e sim um estado da alma. A questão centra-se mais na relação entre ver e desejar e menos na relação entre

pensar e desejar, isto é, é o desejo pelo que se vê, e não pelo que se imagina, que, em primeira instância, funda essa categoria.

Yakapá: xamã visionário-divinatório.

Yakula: “sombra”; um dos tipos de alma-imagem.

Yalawo: uma sustância de yerupoho-apapaatai, que contém potência xamânica, ou melhor, que ativa capacidades de cura. A posse da yalawo é o que diferencia um xamã de um não-xamã. A

yalawo lembra ao xamã sua condição de proximidade ontológica com os apapaatai. Ela segue o mesmo princípio da “roupa”: ambas cumprem funções corporais, a primeira interior e a segunda exterior ao corpo. Essa substância é ativada por meio da ingestão da fumaça do tabaco – por sua associação a tal substância, o tabaco assume uma posição de excelência.

Yamurikumã: forma ritual.

Yanaiki: o grafismo ou sistema gráfico wauja; também inclui as cores.

Yatamaki: xamanismo.

Yerupoho: seres de atributos muito diversificados – podem ser antropomorfos ou zooantropomorfos, inteligentes e destemidos, débeis e medrosos, grandes chefes, grandes músicos, e assim por diante. “O que a maioria dos yerupoho tem em comum é alguma potência

xamânica, manifestada de modo bastante desigual entre eles. É por meio da sua potência xamânica que os yerupoho entram em contato com os humanos, raptam as almas destes e

‘negociam’ a sua devolução com os xamãs humanos” (Barcelos Neto, 2004: 54). Como conta o mito, os yerupoho que vestiram “roupas” ou que foram atingidos pelo sol viraram apapaatai.

Yetulaga naku: motivo gráfico composto pela forma visual de dois arcos em elipse dispostos lateralmente, com as aberturas voltadas para o exterior.