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4.1 TERRITÓRIOS DA CIDADANIA

4.1.1 Território da Cidadania do Meio Oeste Contestado

O TC-Meio Oeste Contestado foi formado a partir da área de municípios elencados que tinham predisposição para participar desse programa público e federal, os PTC, possuem uma história de desenvolvimento que nos remete à disputas de terras e interesses. De

acordo com o PTDRS (2006), a região do Meio Oeste Contestado, desde o século XIX, tem em seu modelo de gestão o patriarcalismo. Toda a região, por muito tempo, sofreu com disputas de terra e riquezas naturais, tanto externas como internas, e culminou no predomínio da ordem delegada pelos coronéis e mandatários que possuíam força institucional do governo da época. As pessoas pobres, caboclos e brasileiros sem posses, eram obrigadas à submissão de suas vidas aos interesses particulares dos fazendeiros (PTDRS, 2006).

Na região do Contestado, tanto antes quanto após a guerra, o interesse do capital externo predominou com intensidade, e empresários industriais norte-americanos, europeus e do Rio Grande do Sul, optaram pela inclusão de imigrantes italianos e alemães em sua maioria, e que posteriormente ocuparam as terras que até então não estavam legalizadas. O povo caboclo e indígena que vivia na região teve seu espaço mais uma vez corrompido, travando uma contínua luta, que até hoje é fonte de debate e polêmica. Mesmo após a dissolução da guerra do Contestado, a terra continuou na mão dos latifundiários, agora com foco agropecuário, e do interesse privado, tornando o ciclo da exclusão da força produtiva vital para o desenvolvimento proposto (PTDRS, 2006).

De acordo com Filippim, Rossetto e Rossetto (2010), a região é caracterizada pela produção familiar e rural e em meados do século XX, conseguiu um grande crescimento econômico, com a produção de trigo e a industrialização de suas máquinas. Contudo, a partir de uma nova política de modernização agrícola, nos anos 1960, houve um declínio na produção do trigo, abrindo portas para o surgimento de novos negócios agroindustriais. A principal fonte de renda destes pequenos e médios agricultores remanescentes era a suinocultura e a produção de banha.

Na década de 80, uma praga chamada "peste suína africana" desestabilizou mais uma vez a produção familiar da região. Uma grande mudança ocorre nesse mercado, e nos anos seguintes, conglomerados internacionais de produtos alimentares entram na região, utilizando da integração produtor rural e indústria como marca registrada do desenvolvimento local. Essa atividade manteve o pequeno produtor ativo, contudo trouxe uma grande gama de dejetos poluidores ao meio ambiente da região (FILIPPIM, ROSSETTO e ROSSETTO, 2010).

A agroindústria continua sendo o “carro chefe” da economia da região, entretanto a dependência que o pequeno produtor tem da grande agroindústria, tanto na criação de empregos quanto para geração de receitas públicas, está esgotando a possibilidade de integrar novos atores à economia regional.

Filippim, Rossetto e Rossetto (2010) afirmam que pela decadência atual da agroindústria, muitos jovens estão saindo de suas cidades, e se deslocando para outros centros com mais oportunidades e que, consequentemente, o poder político popular regional, está decrescendo e em um lugar onde o ativismo social e político sempre foi presente, a necessidade de novas formas desenvolvimentistas tornou-se essencial.

O estado de Santa Catarina conta com dois Territórios da Cidadania, o Meio Oeste Contestado e o Planalto Norte e mais seis territórios rurais que são Alto Uruguai, Planalto Catarinense, Serra Catarinense, Alto Vale do Itajaí, Alto Vale do Rio do Peixe e do Oeste Catarinense (SIT, 2013). Ainda há outros pré-territorios em estudo para implantação, como no caso do território Sul Catarinense. Os TC de Santa Catarina congregam ao total 43 municípios, 602.492 pessoas, sendo 158.304 provenientes da zona rural. Nos dois territórios residem 2.675 famílias assentadas, 26.858 agricultores familiares, 28 famílias de pescadores e há 6 reservas indígenas (MDA, 2012).

As atividades dentro dos Territórios da Cidadania, independente dos estados onde estejam, estão voltadas para a melhoria dos IDHs, e principalmente articulando políticas públicas visando que as atividades econômicas de cada região e população possam gerar renda e consequente qualidade de vida. Podemos ver a divisão que foi feita para o estado de Santa Catarina com os territórios com maior numero de aspectos que atendem aos critérios dos PTC.

Figura 9 - Meio Oeste Contestado (1) e Planalto Norte (2)

Fonte: Adaptada de MDA (2012).

O foco do trabalho trata das ações especificamente desenvolvidas dentro do Território do Meio Oeste Contestado, porém um entendimento sobre o Território do Planalto Norte serve de ponto comparativo. No estado de Santa Catarina, dentro dos PTC, os IDHs estão entre 0,696 e 0,866 (TM, 2010). Em 2009 com a transformação da política pública institucional regional, o Território da Cidadania do Meio Oeste Contestado, que havia sido denominado de Chapecózinho em seus primórdios, denominação essa repudiada pelo colegiado territorial, aderiu à cultura do Contestado, iniciando uma proposta dinâmica na região (PTDRS, 2006). Os números que seguem, remetem aos critérios que foram decisivos para a escolha de adesão do Meio Oeste Contestado ao PTC.

Quadro 5- Números do Território Território da Cidadania Meio Oeste Contestado Planalto Norte Total População Total 253.090 349.402 602.492 População Rural 74.832 83.472 157.304 Agricultores familiares 14.252 12.606 26.858 Famílias Assentadas 2.209 466 2.675 Famílias de Pescadores 21 7 28 Comunidades Quilombolas 0 0 0 Terras Indígenas 4 2 6

Fonte: Adaptado de MDA (2012).

A coordenadora da AMMOC, Associação dos Municípios do Meio Oeste Contestado, que administra a pasta de projetos sociais da instituição, trabalha muitos anos dentro do recorte geográfico dos territórios, e tem vasta experiência com os acontecimentos e transformações que levaram a região a atender os critérios do PTC, coloca que

Nós fomos o primeiro território a ser constituído [em SC] teve vários critérios para se tornar Territórios da Cidadania. Um dos primeiros eram [incidência de] assentamentos, índios, quilombolas e agricultura familiar. A região da AMMOC, os que mais pesaram em nosso caso foi a existência de assentamentos, agricultura familiar intensa e o trabalho do IDH, nossa região não é pobre, mas tem uns municípios carentes, né. Assim foi embasada a escolha [...] dentro disso o Território da Cidadania é visto em vários aspectos, não só o rural, depende do urbano, da saúde, da educação [...] (AMMOC).

O Território do Meio Oeste Contestado conta atualmente com 29 municípios, todos com uma ampla gama de características sociais. De acordo com o PTDRS (2006, p.8) o "território reafirma as raízes culturais e econômicas do recorte onde se encontra". Fazem parte os municípios de Erval Velho, Xaxim, Passos Maia, Ipuaçu, Coronel Martins, Faxinal dos Guedes, São Domingos, Vargem Bonita, Lajeado Grande, Catanduvas, Ouro Verde, Luzerna, Abelardo Luz, Água Doce, Entre Rios, Ouro, Ponte Serrada, Bom Jesus, Capinzal, Galvão, Herval d’Oeste, Ibicaré, Joaçaba, Jupiá, Lacerdópolis, Marema, Treze Tílias, Vargeão e Xanxerê.

Dentro das propostas para o desenvolvimento deste território, por questões culturais e econômicas, o agronegócio é uma das “chaves” para realizar a inclusão de famílias agricultoras e de assentamentos. A inclusão é um fator de extrema importância para a Gestão Social, e que pode trazer resultados como autonomia e participação. Entretanto, mesmo sendo consenso que esta via de apoio à atividades produtivas, seja ideal para o TC em questão, o último relatório de cooperação técnica emitido pelo Ministério da Integração (MIN), mostra que o território está fragilizado, e necessita de aprimoramento nas discussões do colegiado, para o fortalecimento da Gestão Social (IICA, 2011). As possíveis causas, retratadas principalmente pelos diferentes recorte geográficos no qual o governo e as esferas de poder trabalham, serão tratadas a seguir.