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A realidade apresentada até aqui se estende por todo o Semiárido brasileiro. Assim como ressalta Santos (2012), a Bahia é o quinto estado em extensão no país e o maior da federação quando inserido no mapa do Semiárido brasileiro. “Responde por mais de 23% do total de municípios dessa região e suas terras representam 40% de toda a área territorial, que é de 969.589,4 km ou 11% de todo o território nacional” (SANTOS, 2012, p. 73).

Na Bahia, o Semiárido é o clima de 265 dos 417 municípios baianos, de acordo com a SUDENE. Destes, 10 cidades compõem o território do Sertão do São

14 As comunidades de fundos e fechos de pasto utilizam áreas coletivas para a criação de animais,

especificamente, caprinos e ovinos, que se alimentam da vegetação nativa existente, normalmente, em áreas de caatinga preservada.

32 Francisco, localizado no norte do Estado. São elas: Campo Alegre de Lourdes, Canudos, Casa Nova, Curaçá, Juazeiro, Pilão Arcado, Remanso, Sento Sé, Sobradinho e Uauá. Juntas, somam uma área de 61.750,70 Km²15.

Figura 3

Fonte: Secretaria do Planejamento da Bahia (SEPLAN)16

Ao tratar de território, cabe aqui esclarecer a definição deste lugar que se localiza entre os Territórios de Identidade17 da Bahia, definidos geograficamente pelo

Governo do Estado, a partir de critérios como o ambiente, a economia, a sociedade, a cultura, a política, a população, sob orientações do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Governo Federal (2008)18.

Angelo Serpa (2015) lembra que o processo de identificação de territórios rurais foi deflagrado, a partir de 2003, pela Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT) do MDA, para nortear as politicas públicas para o setor agrícola nacional, especialmente aqueles ligados à agricultura familiar. O autor ressalta que, na Bahia,

15 IBGE. Instituto Nacional de Geografia e Estatística. <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 03 de

abr. 2016.

16 Disponível em < http://www.seplan.ba.gov.br/>. Acesso em 28 de ago. 2015

17 Disponível em Secretaria do Planejamento do Estado da Bahia (SEPLAN). <

http://www.seplan.ba.gov.br/>. Acesso em 28 de ago. 2015.

18 O “Territórios da Cidadania” é um programa de desenvolvimento regional sustentável e garantia de

direitos sociais voltado às regiões do país que mais precisam, com objetivo de levar o desenvolvimento econômico e universalizar os programas básicos de cidadania. Trabalha com base na integração das ações do Governo Federal e dos governos estaduais e municipais, em um plano desenvolvido em cada território, com a participação da sociedade. Disponível em http://portal.mda.gov.br/o/877095. Acesso em 25 de fev. 2017.

33 foi o Fórum Baiano da Agricultura Familiar que, em 2007, reivindicou o reconhecimento, a adoção e o estabelecimento de 26 Territórios de Identidade, em substituição às “regiões econômicas”, como diretriz básica do planejamento público estadual.

Os Territórios foram então instituídos no ano de 2010, passando a reconhecer a existência de 27 Territórios de Identidade, constituídos a partir da especificidade de cada região. A metodologia foi desenvolvida com base no sentimento de pertencimento das comunidades, através de suas representações.

O objetivo dessa divisão territorial, de acordo com a Secretaria de Planejamento do Estado (Seplan, 2016), foi identificar prioridades temáticas definidas a partir da realidade local, possibilitando o desenvolvimento equilibrado e sustentável entre as regiões. Sua metodologia foi desenvolvida com base no sentimento de pertencimento, onde as comunidades, através de suas representações, foram convidadas a opinar.

Para o Governo do Estado (Seplan, 2016), o conceito de território envolve um espaço físico, geograficamente definido, geralmente contínuo, caracterizado por critérios multidimensionais, tais como o ambiente, a economia, a sociedade, a cultura, a política e as instituições, e uma população com grupos sociais relativamente distintos, que se relacionam interna e externamente por meio de processos específicos, onde se pode distinguir um ou mais elementos que indicam identidade, coesão social, cultural e territorial.

Apesar disso, Serpa (2015) destaca a diferença entre as regionalizações culturais, que se constroem no dia a dia dos habitantes das regiões e que vão consolidando uma consciência regional como reflexo e condição de uma apropriação simbólica e material do território, e as regionalizações institucionais, resultantes da atuação do Estado, que tem como base definir estratégias de desenvolvimento regional/territorial, com o propósito de aplicar mecanismos de intervenção como subsídios, impostos, atos administrativos ou legislativos. (SERPA, 2015, p.14).

De todo modo, essa dimensão territorial institucional é importante para o processo de desenvolvimento local porque, segundo Putnam (1993), possibilita introduzir novas abordagens, em que o território não é visto apenas como espaço físico, mas como um ambiente em que exercem formas específicas de interação

34 social e tecem redes de relações e atores para a constituição de empreendimentos inovadores, fenômeno que vem sendo designado de “capital social”.

Nessa abordagem, destaca-se a consideração de um “sentimento de pertencimento” na definição territorial, levando em consideração, mais que elementos econômicos ou geográficos, as representações políticas e socioculturais. Mais que uma definição arbitrária, ou tecnoburocrática, compor um território deve levar em consideração o reconhecimento cultural.

Com apoio de Paul Little (2002), pode-se complementar territorialidade como um “esforço coletivo de um grupo social para ocupar, usar, controlar e se identificar com uma parcela específica de seu ambiente”, levando em consideração “os saberes ambientais, ideologias e identidades – coletivamente criados e historicamente situados – que um grupo social utiliza para estabelecer e manter seu território” (LITTLE, 2002, p.5). O autor pontua ainda a existência dos vínculos afetivos e culturais que se mantém com o local. Dessa forma, o território fortalece o sentimento de pertencimento e contribui para a cristalização de representações coletivas e da cultura local.

O Sertão do São Francisco, de acordo com dados de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), tem uma população total de mais de 520 mil habitantes. Destes, aproximadamente 150 mil vivem na área rural. A mesma pesquisa afirma que o número de agricultores e agricultoras familiares se aproxima de 32 mil. Destas, 2.371 famílias são assentadas de reforma agrária. A atividade que lidera a economia da região é a agropecuária, principalmente a fruticultura e criação de caprinos e ovinos.

Quadro 1 - Caracterização do Território Sertão do São Francisco – BA

Área (km²): 61.750,70

População Total (hab): 494.431

População Urbana (hab): 315.797 (63,87%)

População Rural (n. de habitantes): 178.634 (36,13%)

Número de projetos - Reforma Agrária: 98

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Número de estabelecimentos da agricultura familiar: 31.768 Pessoal ocupado na agricultura familiar: 31.768

Número de Pescadores 16.515

Fonte: IBGE 2010. Acesso em: 03 de abr. 2016

Este território tem como forte identidade os seus elementos físicos e naturais, que, inclusive, dão nome à região: uma área geográfica de clima Semiárido nas proximidades do Rio São Francisco. Outra característica que marca os municípios do território é a barragem do Sobradinho, que, construída na década de 1970, provocou forte impacto ambiental e social ao inundar as cidades de Remanso, Casa Nova, Sento Sé, Pilão Arcado e Sobradinho.

Ainda hoje esse episódio faz parte da lembrança e do cotidiano das pessoas moradoras da região e, principalmente, na vida dos pescadores e ribeirinhos, que precisaram mudar das cidades que foram inundadas para as novas cidades planejadas pela Companhia Hidroelétrica do São Francisco (CHESF), mudando todo seu modo de vida. Esse fato foi um dos motivadores para o surgimento do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)19, nos anos 70, quando o governo militar brasileiro iniciou a construção de grandes usinas em várias regiões do país. As obras possuíam diversos estudos sobre o potencial e o aproveitamento da energia elétrica, mas não considerava uma proposta de indenização adequada das famílias que viviam na beira dos rios.

Muitas dessas famílias foram expulsas de suas terras, sem ter para onde ir, passando a migrar para as cidades ou a aumentar os grupos dos sem terras. O Movimento, que é nacional, surge então com a proposta de reivindicar indenizações justas para as famílias. Em seguida, outras pautas entraram na luta do movimento, como o debate pelo direito de continuar na terra, sendo agricultores, produzindo seu próprio alimento (MAB, 2017). Em entrevista com um pescador20, que também integra o MAB:

O que mais dói no ribeirinho é que a família teve que sair da beira do rio para morar no centro da caatinga. Tivemos que aprender uma nova maneira de viver sem água de qualidade. Não é fácil para ninguém

19 Disponível em <http://www.mabnacional.org.br/>. Acesso em 03 de fev. 2017.

20 Entrevistado não foi nomeado para preservar sua identidade. Adotarei a categoria profissional do

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aprender uma nova vida. Após a gente estar instalado lá, aparece a mineração, parques eólicos, vivemos um conflito imensamente e, por isso, gera ambição, o processo de grilagem. Hoje é complicado pegar um peixe para sobreviver. Faltou estudo na barragem para ver a condição dos peixes. Muitos foram extintos porque a barragem acabou com a piracema, mudando o rio. O passivo social de onde acontece barragens é enorme. (Depoimento de Pescador A. 27 junho de 2017) Figura 4 - Barragem de Sobradinho - junho de 2017

Fonte: Acervo da autora

Figura 5 – Imagem da relatoria gráfica da reunião com pescadores atingidos por Barragem, na Colônia de Pescadores Z-026, em Sobradinho-BA21

Fonte: Acervo da autora

21 A reunião com os pescadores foi parte da programação da Caravana Agroecológica do Semiárido Baiano: no caminho das águas do São Francisco, realizada entre 26 e 30 de junho de

2017, com a participação de organizações e movimentos sociais, institutos de pesquisa, universidades, agricultores, pescadores e povos de comunidades tradicionais.

37 Diante deste imenso território, é necessário retomar o objetivo deste estudo que busca “entender de que maneira o boletim O Candeeiro contribui para o fortalecimento da cultura de convivência com o Semiárido” e, com isso, delimitar os quatro municípios onde a ação é realizada: Remanso, Campo Alegre de Lourdes, Casa Nova e Pilão Arcado.

Esses são os quatro municípios onde atua a organização não governamental, Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais (SASOP) e onde estão as experiências visibilizadas no boletim aqui estudado.

A cidade de Remanso22 tem sua fundação datada no ano de 1900, pela Lei Estadual nº 369. Em 1974, com a construção da Barragem de Sobradinho, a sede da cidade foi transferida para uma nova localidade, a Nova Remanso, construída pela Companhia Hidroelétrica do São Francisco (CHESF), distante sete quilômetros da sede velha, que seria encoberta pelas águas do lago de Sobradinho.

Informações do IBGE (2010) mostram que o município tem uma população de quase 39 mil habitantes, numa área territorial de 4.683.409 km². Com um Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (2010) de 0,579, a cidade possui 18 estabelecimentos de Saúde do Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2012, eram 7.377 pessoas matriculadas no ensino fundamental, 1.625 no ensino médio e 25.654 pessoas alfabetizadas.

Figura 6 – Ruínas de Remanso “Velho”, uma das cidades inundadas pelo Lago do Sobradinho após construção da barragem

Fonte: Acervo da autora

38 Casa Nova23 surge na primeira metade do século XIX, com a descoberta e

comercialização de sal em seu território. Oficialmente, a cidade foi criada por lei provincial de 1879, com área desmembrada de Remanso. Seu nome original foi São José do Riacho de Casa Nova.

A área total do município é de 9.657,51 km², o que o torna o quarto maior em território na Bahia, atrás de Sento Sé, com 12.871 km², Correntina com 12.242 km² e Pilão Arcado com 11.700 km². Em 2010, a cidade possuía uma população de 64.944 habitantes, 16 estabelecimentos de Saúde do SUS e um Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de 0,570. Na área da Educação, o ano de 2012 registrou 13.538 matrículas no ensino fundamental, 2.355 no ensino médio e 43.523 pessoas alfabetizadas.

Pilão Arcado24 tem uma tradição local, na qual sua denominação está ligada a uma lenda de pescadores que encontraram um pilão, com formato de uma curva em arco, em uma das margens do rio São Francisco, e passaram a utilizá-lo para pilar o sal que salgava o peixe.

A cidade, então em terras da Província de Pernambuco, foi criada em 1810, com a denominação de Vila do Pilão Arcado. A sede foi elevada à categoria de cidade em 1938. Em 1974, também devido à implantação da Barragem de Sobradinho, no rio São Francisco, Pilão Arcado foi transferida para local distante 62 km da sede velha.

A nova cidade também foi planejada e construída pelo Governo Federal, por meio da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf). Hoje, tem uma área de 11.626,635 km² e uma população residente de 32.860 pessoas. O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM 2010), de acordo com o IBGE, é de 0,506.

Pilão Arcado possui apenas um estabelecimento de saúde de SUS. Em relação a Educação, o IBGE registrou 8.155 matrículas no ensino fundamental, 1.216 matrículas no ensino médio e um total de 19.968 pessoas alfabetizadas no ano de 2012.

Campo Alegre de Lourdes25 situa-se na divisa com o Estado do Piauí. Embora esteja na área do Vale do São Francisco, fica a 120 km do rio, não é cortado por

23 Disponível em http://www.cidades.ibge.gov.br. Acesso em 14 jan. 2016. 24 Disponível em http://www.cidades.ibge.gov.br. Acesso em 14 jan. 2016. 25 Disponível em http://www.cidades.ibge.gov.br. Acesso em 14 jan. 2016.

39 nenhum curso de água permanente e ainda não possui sistema de adutora de água para a população, que está sendo construído há alguns anos. A população permanece utilizando água de poços comunitários.

Numa área territorial de 2.781,170 km², a cidade possui uma população de pouco mais de 28 mil habitantes, sendo 21.000 na área rural. A base de sua economia é a agricultura de subsistência e a pecuária de pequeno e grande porte. A cidade foi criada em 05 de julho de 1962, com território desmembrado de Remanso, quando recebeu o nome de Campo Alegre de Lourdes. O IBGE (2010) revela a existência de 11 estabelecimentos de Saúde SUS. Campo Alegre de Lourdes possuía, em 2012, 5.606 matrículas no ensino fundamental, 671 matrículas no ensino médio e 18.234 pessoas alfabetizadas.

40 2. O SASOP E A CONVIVÊNCIA COM SEMIÁRIDO

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O Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais (SASOP) nasceu em 1989, a partir do Projeto Tecnologias Alternativas (PTA), desenvolvido na década de 1980 por outra organização da sociedade civil, a Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE)26. Ele já visava resgatar o modelo de agricultura ecológica e tradicional, sem o uso de agroquímicos, valorizando a biodiversidade local e a segurança alimentar dos agricultores familiares.

Para concentrar ainda mais as ações do projeto no Semiárido baiano, a equipe que atuava localmente funda o SASOP e se desvincula da FASE, com a missão de: “contribuir para o desenvolvimento rural sustentável, a partir do fortalecimento da agricultura familiar, com base na agroecologia27, favorecendo o protagonismo e a conquista da cidadania por agricultores, agricultoras e suas organizações” (SASOP, 2010).

Seus objetivos institucionais são:

§ Promover a agricultura familiar em bases agroecológicas como modelo alternativo de desenvolvimento rural no Brasil. § Fortalecer as organizações de agricultores e agricultoras

familiares, garantindo sua autonomia e capacidade na proposição de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento rural sustentável.

§ Promover o desenvolvimento institucional do SASOP, visando consolidar sua base social e garantir maior legitimidade e credibilidade diante da opinião pública. (SASOP, 2010, p. 04).

26 A FASE foi fundada em 1961. É uma organização não governamental, sem fins lucrativos, que

atua hoje em seis estados brasileiros e tem sua sede nacional no Rio de Janeiro. Desde suas origens, esteve comprometida com o trabalho de organização e desenvolvimento local, comunitário e associativo. Disponível em: <http://fase.org.br>. Acesso em: 10 de fev.2016.

27 A Agroecologia é uma agricultura socialmente justa, economicamente viável e ecologicamente

sustentável. É também definida enquanto modo de vida de famílias agricultoras, onde as pessoas se relacionam com a natureza sempre protegendo a vida. Na Agroecologia, a agricultura é vista como um sistema vivo, inserida numa natureza rica em biodiversidade, com vários tipos de plantas, animais, microorganismos e minerais, que se relacionam entre si.

41 O trabalho da organização no Semiárido dá-se, incialmente, com apoio do Centro Luiz Nunes de Apoio a Organizações Populares28, da Comissão Pastoral da Terra e da Paróquia de Campo Alegre de Lourdes e de Remanso, desenvolvendo acompanhamento e assessoria técnica a famílias agricultoras, pautadas na agroecologia e na convivência com o Semiárido.

A intervenção se operacionaliza por meio de “Programas de Desenvolvimento Local”, em dois diferentes territórios do Estado: o Baixo Sul da Bahia, que abrange os municípios de Camamu, Igrapiúna, Ituberá, Nilo Peçanha, Taperoá, Presidente Tancredo Neves e Valença; e o Sertão do São Francisco, que envolve os municípios de Remanso, Casa Nova, Pilão Arcado e Campo Alegre de Lourdes.

A sede do SASOP fica situada em Salvador, capital baiana, e é onde se concentram as ações de desenvolvimento institucional, as quais consideram as áreas da articulação política, mobilização de recursos, formação interna, administrativo, financeiro, contábil e comunicação. Além da intervenção nas comunidades, o SASOP participa de espaços de articulação política29, redes e

conselhos de Segurança Alimentar, com o objetivo de intervir na proposição de políticas públicas e na disseminação da agroecologia.

28 Disponível em http://www.debatesculturais.com.br/educacao-popular-no-sertao-baiano-um-balanco-

de-20-anos/. Acesso em 27 de Fev. 2017.

29 Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA); Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), Articulação

de Agroecologia da Bahia (AABA); Conselhos (Nacional, Estadual e Municipais) de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEAs); Fóruns Territoriais do Sertão do São Francisco e do Baixo Sul da Bahia; Rede de Assistência Técnica e Extensão Rural do Nordeste (Rede ATER NE).

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43 Na região Semiárida, que é o foco deste estudo, o Programa é implementado em parceria com os sindicatos dos trabalhadores rurais, paróquias, associações e cooperativas, buscando a valorização e o fortalecimento das organizações de agricultores familiares, por meio de práticas agroecológicas e de convivência com o Semiárido. As atividades envolvem mulheres, homens e jovens em todas as etapas da prática agroecológica, desde o plantio até a comercialização, passando pela participação política nas organizações.

As práticas agroecológicas (SASOP, 2016) proporcionam aumento da produção e da diversidade de alimentos produzidos nos quintais e roçados, melhoria da alimentação e da saúde das famílias, geração de renda para a agricultura familiar, valorização das plantas medicinais e dos remédios caseiros, fortalecimento de grupos e associações comunitárias, valorização do trabalho e do papel das mulheres e dos jovens, conservação e aumento da biodiversidade local, diminuição das queimadas, do uso de agroquímicos e das caçadas de animais silvestres, melhoria da qualidade e do acesso à água.

Além dos parceiros estratégicos nos territórios, organizações da sociedade civil que atuam nas mesmas comunidades, o SASOP depende de recursos financeiros para manter as atividades e a equipe de funcionários. Inicialmente, a maior parte dos recursos financeiros vinham de agências de cooperação internacional, como Pão para o Mundo, Terre des Hommes Suisse, Cordaid, Actionaid e União Europeia, segundo o Plano trienal 2008-2010 (SASOP, 2008). Outra parte dos recursos vinha de projetos pontuais com governo do Estado, especialmente por meio da Companhia de Ação e Desenvolvimento Regional (CAR), e, no âmbito federal, pelo Ministério do Meio Ambiente.

Com a chegada ao governo do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, que, a partir de 2003, abriu o diálogo com as organizações não governamentais, por meio de conferências e conselhos, para formulação e controle social de políticas, passaram a ser realizadas chamadas públicas para contratação de prestação de serviços das ONGs para execução de assistência técnica nas áreas rurais.

Com isso, grande parte dos recursos do SASOP passou a ter origem, sobretudo, das chamadas públicas promovidas pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), também por

44 conta da diminuição dos apoios das agências de cooperação internacional. Essa não foi uma realidade apenas do SASOP, mas de muitas organizações sociais do país.

Com a implementação de políticas sociais por parte do Governo Federal e consequente diminuição da pobreza e da miséria, que resultou na saída do Brasil do Mapa da Fome no ano de 201430, as agências internacionais de cooperação passaram a reduzir gradativamente seus investimentos no Brasil.

Apesar do apoio do Governo Federal, sobretudo nas gestões dos ex- presidentes Luís Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, a disputa política e territorial com os grandes projetos do agronegócio e das empresas de mineração o mantiveram em vantagem no apoio governamental, em relação à agricultura familiar.