• Nenhum resultado encontrado

4.5 FORMAS DE COLETA DE DADOS

4.5.3 Teste dos Seis Desenhos

O T6D é um teste projetivo não estruturado. Testes projetivos são testes usados para investigar aspectos psicológicos ou estados emocionais projetados a partir de um estímulo do avaliador (desenho, narrativa ou estórias...) a fim de observar-se o conteúdo inconsciente projetado ou transferido para o material executado. Estes “pressupõem a existência de padrões motivacionais básicos e profundos e esses padrões mostram-se no modo como respondemos aos estímulos perceptivos”. Esta projeção mostra uma dinâmica holística da personalidade, onde os elementos se interagem e a pessoa expressa a fantasia interior em uma atividade construtiva e interpretativa (FORMIGA, MELLO, 2000; COSTA, 2002; FRIEDMAN, SCHUSTACK, 2004).

O T6D é um instrumento de análise psicodiagnóstica utilizado para a leitura da dinâmica da personalidade, avaliando a relação entre produção gráfica e interioridade psíquica do executor. No teste, o sujeito expressa graficamente o tema dos seis desenhos, em ordem: 1)

árvore; 2) personagem do mesmo sexo; 3) personagem do sexo oposto; 4) família de origem; 5) situação atual e 6) situação futura; expressando-os livremente, seguindo a própria fantasia (MENEGHETTI, 2012b). “As linguagens por meio das quais se podem identificar uma pessoa são muitas. Pelo modo como o indivíduo fala ou escreve podemos conhecer os modos da relação objetal (relação mundana ou interpessoal) da sua infância, da sua situação atual e, em perspectiva, também daquela futura” (MENEGHETTI, 2012b, p. 313). Deste modo, com o teste pode-se colher a dinâmica prevalente no indivíduo, que podem ser duas: a) estado de abertura a mudança em autorrealização (indica bem estar, autonomia e criatividade); e b) estado em autossabotagem (indica frustração, estagnação e regressão) (MENEGHETTI, 2010a).

De acordo com os pressupostos da construção deste instrumento de análise psicodiagnóstico, no homem se verificam duas dinâmicas:

a) Estado de abertura à mudança em autorrealização: a autorrealização é uma tendência natural do ser humano. O núcleo instintual tem como função a preservação e o crescimento do indivíduo, portanto a individuação tende ao constante crescimento. “O indivíduo é uma unidade de ação que tem uma identidade e que, da unidade de si mesmo, entra em abertura de tensões evolutivas e realizadoras” (MENEGHETTI, 2010a, p. 224). Para tanto, torna-se necessária a flexibilidade do Eu em identificar as informações do núcleo instintual e metabolizar o ambiente de forma apropriada e funcional a sua realização. A relativização dos estereótipos psicológicos determina a flexibilidade do Eu, tendo como resultado: bem-estar, autonomia e criatividade (MENEGHETTI, 2010a).

b) Estado em autossabotagem: é o resultado do efeito desorganizador dos estereótipos psicológicos fixos, os quais formalizam o sujeito em uma convicção absoluta, em um Eu rígido, privando-o da própria potencialidade. Uma parte da personalidade é o produto de particulares experiências da infância, das quais, posteriormente, são apreendidas modalidades comportamentais e emocionais condicionantes das experiências sucessivas. Estas modalidades são denominadas estereótipos psicológicos que, por hábito, se tornam fixos. A falta de resposta às novidades dos estímulos advindos do ambiente determina um estado constante de frustração, que por sua vez gera a necessidade de compensação (MENEGHETTI, 2010a).

No aspecto da autossabotagem pode-se identificar uma modalidade derivada da infância, em que o adulto mãe é reconhecido pela criança como sendo aquele que, enquanto pequeno e ainda incapaz de manter-se vivo, é dependente para sobreviver, como também é

considerado a maior referência afetiva ou ainda, “banco afetivo” (MENEGHETTI, 2005a, 2010a).

Quando crianças, alguns aprendem que, se sofrem, são maltratados ou têm doenças, recebem maior atenção e consideração. Aprenderam que, por meio do estar mal podem chantagear a ajuda vantajosa dos outros. Portanto, neste caso, é um continuar, na vida adulta, a sofrer para serem considerados primeiros na piedade e

na importância (MENEGHETTI, 2009, p. 98).

O autor ainda acrescenta que o problema é que, posteriormente, na vida adulta, o sujeito transfere para outras situações a busca da gratificação daquele antigo “banco afetivo”, direcionando-se a um estilo de vida que desemboca em escolhas existenciais errôneas, hábitos e doenças com “efeito de carência e depressão” (MENEGHETTI, 2009).

Cabe salientar que “o método projetivo não se propõe apenas em se deter em medidas dos traços ou a quantificação, mas em compreender o sujeito - o que faz e não faz, a forma como faz, quando e por que” (FORMIGA, MELLO, 2000, p. 15). Portanto, a interpretação dos desenhos não é uma quantificação de dados observáveis, mas a compreensão de seus significados simbólicos (GOTTSFRITZ, ALVES, 2010). Também Pereira (2001, p. 21) salienta que, “o dado qualitativo é uma forma de quantificação do evento qualitativo que normatiza e confere um caráter objetivo à sua observação”. Continua argumentando que, embora não quantificável, “o dado qualitativo é uma representação simbólica atribuída a uma manifestação de um evento qualitativo”. Assim sendo, este dado possibilita ao pesquisador colher o universo de informações muito mais completas e ricas daquelas que expressam apenas os dados quantitativos.

O princípio básico para a interpretação da espontaneidade gráfica centrada sobre os seis conjuntos simbólicos consiste em verificar quanto e como a identidade intencional do sujeito, isto é, a dinâmica projetada é ou não funcional e útil no contexto biossocial (MENEGHETTI, 2012b, p. 31). Em outras palavras, se a dinâmica de personalidade encontra- se em estado de autorrealização ou em estado de autossabotagem.

A análise dos desenhos é feita isoladamente e em conjunto com todos os desenhos, levando-se em conta a interrelação de todos os aspectos, pois se considera que a análise de traços isolados não permite uma interpretação conclusiva. Segundo Meneghetti (2010a, p. 306), “no T6D evidencia-se o prospecto geral de um ser humano em sentido psicodinâmico. É um teste que o próprio sujeito constrói, portanto indica a sua grafologia psíquica”. No T6D pode-se compreender a atitude existencial de fundo do sujeito, sua situação no aqui e agora, como pensa sobre si e como a realidade é, isto é, analisa a situação de atualidade do sujeito (MENEGHETTI, 2012b).

O conjunto dos seis desenhos reflete a totalidade de ação existencial do sujeito. O desenho da árvore representa a situação psicobiológica individual, isto é, a situação holística do indivíduo no contexto ambiental, exprimindo a intenção e a situação em ação do sujeito. Os desenhos do homem e da mulher indicam a atitude e percepção sobre si mesmo e sobre os outros. No desenho da família de origem, identifica-se a dinâmica atual do grupo familiar, portanto, as interações prevalentes e a posição do sujeito nessas interrelações. O desenho da situação atual reflete o estado, predominantemente positivo ou negativo, que o sujeito vive no momento atual. No desenho da situação futura são representadas as ambições, os ideais ou situação próxima às quais o sujeito aspira. Esta assinala a direção da ambição existencial do sujeito, suas referências de valor, e indiretamente, dá a indicação de onde ele está orientando- se energeticamente e a estrada que consente a atuação do seu potencial (MENEGHETTI, 2012b).

O T6D, por ser um teste projetivo não estruturado, adquire caráter subjetivo e dependente da interpretação do técnico capacitado a colher e entender a direção da dinâmica do sujeito. Mesmo se entendendo que a análise é realizada de forma dinâmica, avaliando o conjunto de toda a sequência de desenhos, para esta pesquisa é priorizada a atenção especial no desenho da árvore, situação atual e situação futura. Cabe salientar, segundo Meneghetti (2012b), que a sequência e realização de todos os desenhos é importante no sentido de preparar a exposição dos conteúdos inconscientes. Para atingir o objetivo desta pesquisa foram definidas as seguintes categorias de análise, tendo como referência os pressupostos de Meneghetti (2012b) (APÊNDICE C):

1. proporção entre o desenho e o espaço da folha (desenho da árvore); 2. posição do desenho na folha (desenho da árvore);

3. proporção entre tronco, copa e base de sustentação no desenho da árvore (presença da terra em contato com a base do tronco);

4. particulares que complementam o habitat (desenho da árvore);

5. hierarquia de importância de ação na situação existencial atual (análise do desenho da situação atual comparada com o desenho da árvore);

6. direção de valor da ambição existencial (análise do desenho da situação futura);

7. intenção de empenho para o crescimento (análise do desenho de situação atual comparada como desenho de situação futura).

Da análise dinâmica subjetiva do T6D, guiando-se pelas sete categorias acima, foi utilizado o seguinte critério para determinar o estado dinâmico da personalidade dos participantes: a) para cinco ou mais itens na letra ‘A’ (Abertura à mudança) foi considerado abertura à mudança o que significa uma tendência à autorrealização; b) Para três ou mais itens na letra ‘B’(Autossabotagem) definiu-se a tendência para a autossabotagem. A conclusão da análise qualitativa foi convertida em variável quantitativa expressando a predominância da dinâmica de personalidade do grupo analisado (APÊNDICE D).

Os dados coletados foram sistematizados no quadro síntese de análise e avaliação do T6D (APÊNDICE E), estabelecendo-se as relações de análise indutiva, baseado nas categorias, formalizando lógicas dedutivas, ou seja, determinando a dinâmica prevalente de cada um dos sujeitos da amostra. Assim, este quadro teve o objetivo de facilitar a análise e conduzir às conclusões acerca da compreensão da dinâmica holística da personalidade dos indivíduos analisados.

A confiabilidade do teste é assegurada quando dois ou mais avaliadores, com preparação e domínio no teste T6D, em referência a um mesmo desenho ou série de desenhos indicam resultados concordantes (MENEGHETTI, 2012b). Nesta pesquisa, após realizada a fase de aplicação do teste, a análise foi realizada por dois examinadores independentes, técnicos com domínio na interpretação do T6D pela experiência e formação, visando alcançar o adequado índice de concordância.

Documentos relacionados