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5. Resultados e discussão

5.1. Testemunha

Na figura 8 são apresentados os teores de fósforo inorgânico (Pi) (mg kg-1) obtidos

para as profundidades estudadas (0-2, 2-5 e 5-15 cm) no tratamento testemunha, no qual não foi realizada aplicação de material orgânico (T0).

Figura 8. Teor de P inorgânico (Pi) (mg kg-1) no tratamento

testemunha (T0), para as diferentes profundidades estudadas.

Os resultados obtidos evidenciam diferenças significativas (p<0,05) entre as camadas estudadas, com o Pi a revelar um aumento dos respetivos teores com a

profundidade (figura 8), com os valores a variarem entre os 330 e 420 mg P kg-1.

A mobilidade do P no solo depende da forma química, da natureza química e mineralógica do solo e do ambiente físico e biológico do solo (Stewart & Tiessen 1987; McBride 1994). Assim, neste caso particular, o aumento dos teores de Pi

com a profundidade poderá estar associado a uma maior atividade microbiana nas camadas superficiais do solo (Guimarães et al., 2016), em resultado das melhores condições físico-químicas (Graft et al., 2008), a qual promove maiores taxas de mineralização da matéria orgânica e o consequente aumento de formação de Pi.

Associado à maior disponibilidade de Pi as condições físicas do solo, relacionadas

com a textura grosseira do solo estudado (quadro 2), poderão ainda facilitar a mobilidade do P, devido a uma menor capacidade de retenção de P, associada aos baixos teores de argila (88,8 g kg-1), promovendo a respetiva acumulação e

aumento dos valores com a profundidade, tal como Machado & Souza (2012) observaram. Fatores químicos, relacionados com a reação do solo, poderão

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 0-2 cm 2-5 cm 5-15 cm mg P k g -1

também exercer um efeito sinérgico na medida em que, para os valores de pH do solo (quadro 2), as formas químicas de P no solo apresentam elevada solubilidade (Horta & Torrent, 2010) facilitando a mobilidade deste elemento em profundidade. Para o fósforo extraível (Pext), obtido para os métodos de natureza química e troca

aniónica estudados, os resultados obtidos no tratamento testemunha revelaram-se dependentes da profundidade mas, também, do tipo de metodologia usada na respetiva avaliação (figura 9).

Figura 9. Teor de P extraível (Pext) (mg kg-1) no tratamento testemunha

(T0), para os métodos de extração química (CaCl2 0,01 M, Olsen, Egner-

Riehm) e troca iónica (MTA) nas profundidades estudadas. (letra minúscula ou maiúscula iguais, por profundidade ou método de extração estudado, respetivamente, não diferem significativamente pelo teste de Tukey, para um nível de probabilidade de 0,05).

De uma maneira geral, nas metodologias estudadas, os resultados obtidos revelam um aumento dos teores de Pext com a profundidade, refletindo a tendência

observada no caso do Pi (figura 8). Este aumento de Pext com a profundidade foi

mais notado no caso das MTA, nos quais os respetivos valores apresentaram diferenças significativas entre as profundidades estudadas (figura 9). Apesar dos aumentos do teor de Pext com a profundidade, no caso dos métodos CaCl2 0,01M e

Olsen os teores de Pext revelaram apenas diferenças significativas entre as camadas

0-2 e 2-5 cm, enquanto para o Egner-Riehm, entre as camadas 2-5 e 5-15 cm. Os resultados observados no método CaCl2 0,01M, indicador do fator intensidade

restantes métodos Olsen, Egner-Riehm e MTA, os resultados parecem refletir melhor os aumentos de Pi observados (figura 8), ainda que com as quantidades de

Pext a dependerem do tipo de método aplicado. Como indicadores do fator

quantidade (Q), definido como a reserva de P no solo em equilíbrio com o P em solução (Coutinho, 1989), os resultados obtidos evidenciam que parte significativa de Pi se encontra distribuída pela fração sólida do solo. Esta tendência reflete o

comportamento típico do P no solo, em que uma parte significativa se encontra distribuído pelas diferentes fases sólidas (matéria orgânica, argilas, óxidos de ferro e alumínio), em equilíbrio com as formas solúveis em solução, consoante a sua maior ou menor labilidade, traduzindo o fator capacidade do solo (Horta & Torrent, 2010). Por outro lado, os aumentos observados poderão resultar da distribuição das fases sólidas em profundidade, em consequência das características físicas do solo estudado. Apesar da homogeneização inicial do solo, o arrastamento de partículas mais finas e leves de matéria orgânica e minerais de argila durante o período do ensaio, facilitada pela textura grosseira do solo (quadro 2), poderá ter induzido variações dos respetivos teores ao longo do perfil do solo, refletindo assim os aumentos dos teores de Pi e Pext observados.

Deste modo, traduzindo esta tendência, como indicador do P lábil em solução, a solução de CaCl2 0,01 M foi a metodologia que extraiu menores quantidades de P,

as quais se revelaram significativamente mais reduzidas que as registadas nas restantes metodologias, em todas as profundidades estudadas (figura 9). Estes resultados estão relacionados com o baixo poder extrativo desta solução, extraindo apenas o fósforo solúvel e disponível na solução do solo, representativo do fator intensidade do P no solo (Coutinho, 1989). Arrobas (1986) refere que a solução de CaCl2 0,01 M tem como objetivo manter constante a força iónica da solução,

sendo a concentração de 0,01 M usada, um valor aproximado da solução do solo para condições reais à capacidade de campo em zonas temperadas, a qual é normalmente dominada pelo ião cálcio.

Por sua vez, os métodos Olsen pH 8,5 e MTA revelaram um comportamento aproximado, não registando diferenças significativas entre os respetivos valores de Pext obtidos para as diferentes profundidades estudadas (figura 9). Estes resultados

parecem traduzir a existência de uma certa similitude ou equivalência entre estes dois métodos relativamente à capacidade extrativa de P, também observada por

Fernandes et al. (1999), ainda que em termos do respetivo significado biológico, os resultados dos respetivos métodos possam apresentar diferenças, tal como observados por Coutinho et al. (1996) e Fernandes & Coutinho (1996).

No método Egner-Riehm os teores de Pext apresentaram-se mais elevados que nos

restantes métodos estudados, com as diferenças estatísticas em relação aos restantes métodos indicadores do fator Q, Olsen pH 8,5 e MTA, a variarem com a profundidade analisada (figura 9). As maiores quantidades de Pext observadas no

método Egner-Riehm em relação aos restantes métodos poderão ser explicadas pelos efeitos de solubilização, devido à presença do ácido acético, ou de complexação do ião lactato, que promovem a extração de maiores quantidades de P associadas ao cálcio e ferro, respetivamente (Arrobas, 1996). A maior capacidade extrativa deste método neste solo poderá induzir a uma menor seletividade extrativa facto que poderá explicar, igualmente, a inexistência de diferenças estatísticas entre as quantidades de Pext nas primeiras camadas, ao

contrário do observado nas restantes metodologias (figura 9).

5.2. Fósforo inorgânico (P

i

)

Os teores de fósforo inorgânico (Pi) (mg kg-1) nos tratamentos e profundidades

estudadas são apresentados na figura 10. Os resultados evidenciam aumentos de Pi

nos tratamentos com adição de matéria orgânica (CB, CBA, FL, FLA) comparativamente ao tratamento testemunha (TEST), com as diferenças a revelarem-se dependentes da profundidade estudada.

Na camada mais superficial (0-2 cm), apenas os tratamentos com a fração líquida de chorume, não acidificado (FL) e acidificado (FLA), revelaram aumentos significativos de Pi em relação à TEST, com valores na ordem dos 53 e 105 mg P

por kg de terra fina de solo, respetivamente. Nos tratamentos com chorume bruto, os aumentos de Pi observados não ultrapassaram os 5 mg P kg-1 para o tratamento

Figura 10. Teor de P inorgânico (Pi) (mg kg-1) nos tratamentos e

profundidades estudadas. (para a mesma profundidade, letras iguais entre o tratamento sem (TEST) e com adição de chorume (CB, CBA, FL, FLA), não diferem significativamente pelo teste de Tukey, para um nível de probabilidade de 0,05).

Para a camada entre os 2 e 5 cm de profundidade, todos os tratamentos com adição de matéria orgânica promoveram aumentos significativos (p<0,05) de Pi em

relação ao tratamento testemunha (TEST). Nesta camada, os resultados evidenciaram uma tendência similar à observada para a camada mais superficial, entre os 0 e 2 cm, com os tratamentos com fração líquida a registar os aumentos mais elevados, com valores de 107 mg P kg-1 para a FLA e 69 mg P kg-1 para a

FL. Nos tratamentos com chorume bruto, CB e CBA, os acréscimos observados em relação à testemunha revelaram-se equiparáveis, com valores de Pi na ordem

dos 28 e 33 mg P kg-1, respetivamente.

Na camada 5-15 cm manteve-se a tendência observada para a camada sobrejacente (2-5 cm), com os tratamentos com chorume a promover aumentos significativos dos teores de Pi em relação ao tratamento sem adição de chorume (figura 10). Da

mesma forma que a camada 2-5 cm, na camada 5-15 cm os tratamentos com fração líquida promoveram maiores acréscimos que o chorume bruto. No caso da fração líquida, os acréscimos registados foram na ordem dos 79 mg P kg-1, para a

FL, e 105 mg P kg-1, para a FLA, enquanto para o chorume bruto, os valores

observados revelaram-se mais modestos com acréscimos de 30 mg P kg-1, para o

CB, e 57 mg P kg-1, para o CBA.

Os aumentos de Pi registados para todos os tratamentos com adição de chorume

em relação ao tratamento testemunha estão relacionados com a maior representatividade da fração de P mais disponível (P lábil) nos diferentes

0 100 200 300 400 500 600 0-2 cm 2-5 cm 5-15 cm Pi ( m g kg -1) TEST BS BSA FLA FLAS a a a b b a b b b b a b b b b

materiais, acidificados e não acidificados, tal como Roboredo et al. (2012) observaram. A possível eluviação de partículas orgânicas em profundidade, potenciado pelas características físicas do solo (quadro 2), e a respetiva transformação das primeiras através dos processos de mineralização, facilitada pelas características químicas iniciais dos resíduos orgânicos (quadro 3), terão exercido um efeito significativo na distribuição vertical dos teores de P no solo, resultado igualmente observado por Tate & Salcedo (1988), com outro tipo de materiais orgânicos.

Este efeito foi mais notado no caso da fração líquida do que no chorume bruto para todas as profundidades estudadas (figura 10). Este facto poderá ser explicado, por um lado, pelos menores teores de matéria seca da fração líquida em relação ao chorume bruto (quadro 3), e menor viscosidade do primeiro em relação ao segundo resíduo orgânico (Fangueiro et al., 2005), fatores que terão facilitado uma maior percolação pelos espaços vazios do solo. Por outro lado, os menores valores da razão WOSC:WOSN da fração líquida comparativamente ao chorume bruto (quadro 3) terão promovido maiores taxas de decomposição e mineralização (Mazzarino et al., 1993), permitindo uma maior disponibilidade de Pi através dos

respetivos processos biológicos e, deste modo, uma maior estratificação dos teores de P em profundidade.

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