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Testes de Robustez da Regressão

5 METODOLOGIA

5.2 Testes de Robustez da Regressão

Como pontuado por Chappell (1982), a descontinuidade no ponto de corte da variável de tratamento pode ser motivada por um conjunto de variáveis omitidas que afetam tanto a vitória do candidato quanto a distribuição de contratos. Portanto, a relação capturada pelo modelo entre vitória e valor de contratos está sujeita a

inúmeros efeitos exógenos não contemplados na regressão por questão de variáveis omitidas. Deste modo, o coeficiente significativo encontrado considerando o total da amostra não necessariamente estabelece uma relação causal entre vitória e contratos.

Como observado por Imbens e Lemieux (2008), uma possível preocupação está na influência dos pontos longe do ponto de corte sobre a descontinuidade encontrada. Ao analisar a tabela 6 é possível notar que quando o intervalo é reduzido para 25% o valor gerado em contratos pela vitória eleitoral se mantém no mesmo patamar, mas ocorre uma pequena redução na significância do coeficiente. Já na observação do intervalo de 10% existe uma pequena variação do valor gerado pela vitória, mas a significância estatística deixa de existir. Na seqüência, o intervalo foi reduzido para o nível de 5% e o movimento notado anteriormente se mantém com baixa redução da relevância da vitória e queda da significância. E por fim, com um intervalo de 2%, a variável possui significância estatística próxima de zero e ocorre drástica queda da relevância econômica da vitória. Portanto, considerando toda a amostra, os resultados são significantes até o nível de 25% de restrição do intervalo de margem de votos.

Os mesmos resultados foram encontrados para os grupos de coalizão e partido do governo. Esse processo de perda de significância ocorre devido ao aumento natural de dispersão dos dados. Com a redução do intervalo de dados, a amostra passa a ter poucas observações e passa a obter uma conclusão menos precisa. Já quando observado os resultados para os grupos de ramo de atividade, o ramo comércio de destaca por se manter significante até a restrição de 10% do intervalo de margem percentual de votos.

Outro teste de robustez que foi aplicado foi verificar se existe descontinuidade para os valores de contratos adquiridos pelos demais candidatos da coligação. Para cada candidato e sua respectiva margem percentual de votos, atribuiu-se a soma do valor dos contratos da coligação menos o valor dos contratos do candidato. Uma descontinuidade nesse teste indicaria que o efeito entre margem e valor de contratos ocorre independente do candidato, ou seja, o candidato não influenciou no valor dos

contratos após eleito. A Figura 7 apresenta que não foi identificada uma descontinuidade para esse teste.

7 CONCLUSÕES

Este trabalho utilizou uma base de oito estados nas eleições de 2006 e analisou a influência dos deputados estaduais sobre os gastos diretos do governo. Para medir esse efeito foi estudada a relação entre a vitória nas urnas e o valor dos contratos destinados para as empresas que contribuíram na campanha.

A partir da avaliação das características exógenas ao resultado das eleições foi possível identificar a relação causal entre vitória eleitoral de deputados estaduais e gastos diretos do governo. Portanto, agregou-se os dados de oito estados brasileiros para expandir a discussão da influência do Legislativo sobre os gastos públicos. A principal contribuição está em identificar e quantificar a influência dos deputados estaduais sobre os contratos governamentais.

Além da identificação da influência dos deputados sobre o Executivo, foi observado um efeito significativo no grupo de candidatos pertencentes a partidos de coalizão e partidos do governo. Esse resultado indica que o Executivo utiliza os gastos diretos como instrumento de manutenção da base aliada nas Assembléias Legislativas Estaduais. Para os candidatos fora da coalizão do governo o efeito não foi identificado, sugerindo que para esse caso sejam utilizadas emendas para liberação de recursos.

No teste da relação vitória e contratos por ramos de atividade dos doadores, o efeito foi encontrado nos ramos serviços públicos, indústria e comércio. Contudo, a imposição da redução do intervalo de margem de votos trouxe diminuição da significância dos coeficientes encontrados. Tal fato é explicado pela diminuição dos registros restantes depois de aplicada a restrição de intervalo.

Finalmente, é importante mencionar as limitações do trabalho. A amostra analisada possui apenas os registros oficiais de contribuições de campanha e parte do financiamento dos candidatos não está presente nas bases do TSE por meio da prática de recebimentos não declarados, conhecida como “caixa dois” (Gingerich,

2010). Outra limitação é a diferença de períodos dos contratos entre os estados, o que inviabiliza uma análise dividida por estados.

Como sugestão para trabalhos futuros, recomenda-se que seja realizada uma pesquisa ampliada sobre os ramos dos doadores. Por exemplo, investigando as possíveis causas da alta significância do ramo comércio. Outra sugestão seria fazer uma análise similar indicando se existem diferenças entre os departamentos públicos como saúde, transporte, educação, entre outros.

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