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6. TESTES DE AVALIAÇÃO DA CONDIÇÃO FÍSICA

6.2 Testes de esforço em meio laboratorial

Os testes em passadeira rolante, realizados no meio laboratorial, permitem o controlo preciso das condições ambientais de temperatura, velocidade e humidade relativa do ar, assim como da velocidade, inclinação e tipo de superfície a utilizar, conseguindo uma uniformização não exequível em pista. Neste contexto é possível interferir na temperatura e humidade relativa existentes no laboratório, criando condições semelhantes às que ocorrem naturalmente no exterior. A superfície é geralmente de borracha, e embora seja mais rígida que a utilizada em prova, não apresenta irregularidades e permite o trabalho com inclinação. Esta inclinação permite reduzir substancialmente a pressão exercida sobre os membros anteriores durante o esforço, diminuindo o risco de lesão. Importa salientar que quando se utilizam inclinações acentuadas, superiores a 5º, existe um aumento da redistribuição do peso para os membros posteriores, exercendo-se uma força excessiva que pode levar ao desenvolvimento lesões de tendões ou ligamentos nestes membros (Marlin & Nankervis, 2002).

Durante o exercício em passadeira rolante é ainda possível efectuar a medição dos parâmetros cardio-respiratórios, com o recurso a um cateter venoso para recolha de amostras de sangue e a uma máscara facial para a medição dos gases ventilados (ergoespirometria), permitindo por exemplo determinar o RER (Marlin & Nankervis, 2002). O VO2máx, referido anteriormente como um dos parâmetros mais fiáveis para a determinação da capacidade aeróbia dos cavalos, é passível de ser medido em condições laboratoriais, utilizando também a máscara facial (Figura 15).

Para que os valores obtidos durante o teste possam ser extrapoláveis para as condições em terreno exterior, torna-se importante realizar um período de adaptação dos cavalos à passadeira rolante e à máscara facial. Esta adaptação pode-se prolongar por 4 a 6 semanas até que se consigam suprimir os efeitos do stress laboratorial na FC, na concentração de lactato e nos gases ventilados e ainda que o cavalo adquira andamentos relativamente estáveis (Marlin & Nankervis, 2002).

Embora se procure reproduzir todas as variáveis ambientais, nos testes em laboratório, diferentes estudos apontam para uma redução da FC e das concentrações de lactato obtidas nestes testes, quando comparados com os testes realizados em pista (Gottlieb-Vedi, Lindholm, 1997; Oldruitetenborgh-Oostterbaan & Barneveld, 1995). Possivelmente esta situação encontra-se relacionada com um aumento do comprimento e uma diminuição da frequência das passadas dos cavalos, que se verificam durante os testes em laboratório, e devido à relação existente entre a FC e os andamentos (Evans, 2004). Por outro lado, poderá também ser fruto da realização de um menor esforço no deslocamento em passadeira rolante, quando comparado com o deslocamento em pista, à mesma velocidade e com a presença de um cavaleiro. Para compensar esta situação, pode-se conferir uma inclinação de 3,5% à superfície da passadeira, o que causa uma aproximação das FC obtidas em laboratório com aquelas verificadas em pista (Marlin & Nankervis, 2002).

Figura 15 – Medição do VO2máx em passadeira rolante

6.2.1 Tipos de testes de esforço realizados em meio laboratorial

Existem diferentes tipos de testes laboratoriais dependendo dos diferentes objectivos. Desta forma poderá realizar-se um teste de esforço com intensidade progressiva sem paragens e com avaliação das vias aéreas por endoscopia para investigar uma diminuição do desempenho associada à presença de um ruído respiratório em esforço. Mais frequentemente realizam-se testes com exercícios em séries intervaladas e de intensidades crescentes, quando se pretende avaliar alterações metabólicas em que devam ser atingidos os níveis máximos de lactato ou em que se esgotem as reservas de glicogénio. O recurso a estes testes permite controlar diversos parâmetros fisiológicos, dos quais se destacam a capacidade ventilatória, a concentração de O2 e CO2 no ar ventilado e no sangue, o Ht, a frequência e o débito cardíacos, a pressão sanguínea arterial, a concentração de lactato no sangue, a temperatura corporal e a taxa de sudorese (Marlin & Nankervis, 2002).

A avaliação do desempenho individual em passadeira rolante pode ser realizada de diferentes formas. A tolerância ao exercício de intensidade progressiva até se atingirem valores próximos da velocidade máxima, com determinação do tempo que decorre até ao início da fadiga, permite uma boa avaliação em animais que compitam em média distância (2400 m). A determinação do VO2máx e a FCmáx, juntamente com a velocidade em que a FCmáx é atingida (VFCmáx) constituem bons indicadores de avaliação da performance em disciplinas essencialmente aeróbias (Marlin & Nankervis, 2002).

Salienta-se ainda a medição das concentrações de lactato sanguíneo durante o esforço ou do VLa4. Neste contexto, os seus valores mais baixos verificam-se em animais com reduzida capacidade aeróbia, ou maior apetência para a produção de energia anaeróbia, como os cavalos naturalmente sprinters. Por outro lado, os valores mais elevados do VLa4 verificam- se geralmente em animais de raides. Os cavalos de CCE podem encontrar-se numa situação intermédia e os cavalos de competições de saltos têm uma tendência para valores de VLa4 mais reduzidos, consequentemente à grande componente anaeróbia da modalidade que praticam (Marlin & Nankervis, 2002).

Embora ainda não exista um protocolo infalível de avaliação da condição física, a execução de testes de esforço com medição dos parâmetros mais adequados a cada modalidade constitui uma ferramenta praticamente indispensável para os treinadores e para os cavaleiros. Assim todas as informações obtidas com os testes possibilitam um melhor conhecimento do cavalo e a realização de um melhor planeamento de treino e de maneio para que este atleta de alta competição obtenha o máximo rendimento durante um maior período possível.

ESTUDO